Imagens que se movem em narrativas

  • Autor
  • Ana Adelaide Lyra Porto Balthar
  • Co-autores
  • Jackeline Valente
  • Resumo
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                Esse texto relata a experiência de uma das ações do projeto de extensão e pesquisa Narrativas Visuais da Baixada, cujo o propósito é construir um mapa afetivo da Baixada Fluminense através de suas narrativas, suas histórias e memórias, inventadas ou lembradas.

                Vivemos uma pandemia causada pelo Covid 19 que tem espraiamento de contágio muito alto e nos impõe uma vida social restrita. O início do projeto se deu no sexto mês do distanciamento social iniciado em Março de 2020.

                Neste contexto de incertezas, obtivemos aprovação no edital de fomento para pesquisa e extensão do IFRJ que inclui o financiamento de uma bolsa para estudante. Um presente e um desafio uma vez que a pesquisa se nutre de encontros presenciais com oficinas gráficas, como por exemplo a oficina de xilogravura. Estas oficinas tem função disparadora de conversas, acionam memórias, promovem encontros e trocas capazes de gerar material para elaboração de uma cartografia afetiva da Baixada e se materializa em publicações artesanais. Dito isto nos perguntamos: como realizar estas ações de modo remoto?

                A escrita é tentativa de responder esta pergunta. Neste relato trazemos reflexões sobre nosso atual modo de operar:  o virtual.  Conhecer um pouco da história da tecnologia de comunicação atual, sua ancestralidade, de modo lúdico e divertido foi uma opção para lidarmos com a relação que temos com estas tecnologias, mas precisamente a internet.

                A ideia de uma publicação artesanal realizada de maneira remota como alternativa ao encontro presencial fez com que nossos estudos se direcionassem para as pesquisas óticas do século XIX que desenvolveram técnicas para animar uma imagem. Muitos aparatos óticos, ou brinquedos óticos, de fins do século XIX investigaram como capturar o movimento e envolveram procedimentos artesanais para reproduzir e animar estas imagens. Na sua maioria, as imagens com a ilusão de movimento produzidas por estes aparatos reproduziam ações, contavam um acontecimento.

                Através de nossas pesquisas, desenvolvemos uma proposta de oficina com forte relação entre a tecnologia usada hoje - as lives são imagem em movimento em tempo “real” - e os estudos sobre animação, ou reprodução do movimento. Assim, nos encontros virtuais decidimos empregar uma tecnologia obsoleta para ser utilizada como meio de criar narrativas visuais. Dentre os brinquedos óticos da época (séc. XIX) escolhemos o Folioscópio, mais conhecido como Flipbook: uma sequência de desenhos reproduzindo o movimento no formato de um pequeno livro, e ao ser folheado cria-se a impressão de movimento.

                O processo de elaboração da oficina ocorreu com trocas, conversas e pesquisas. Algumas questões direcionaram o desenvolvimento da oficina: seria algo como um passo a passo do procedimento? Como agregar outros sentidos à atividade?  Com essas perguntas, ao longo de reuniões virtuais, discutimos como abordar uma ação prática, construir o flipbook, de modo virtual. Um primeiro recurso foi a necessidade de constar na apresentação da oficina uma breve história das imagens em movimento, seus desdobramentos e sua relação com a rede mundial de comunicação - a internet. Outro recurso foi fazermos um vídeo demonstrativo da técnica do flipbook. Foi criado um vídeo dinâmico em diálogo com a linguagem da internet, que provocasse o interesse dos participantes e ao mesmo tempo não fosse uma atividade muito longa nem cansativa. O vídeo consta de duas partes: a) o início com um breve histórico da técnica;  b) uma demonstração de como fazer seu flipbook. Somado a isso preparamos uma projeção de slides com imagens de outros brinquedos óticos e as primeiras máquinas cinematográficas: Kinetoscópio de Edison e o Cinematógrafo dos irmãos Lumière.

                A oficina foi apresentada ao vivo no canal do youtube durante a  3ª Semana Acadêmica e a 3ª Semana de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa do IFRJ. Soubemos, pelos comentários no chat do canal virtual, que houve participantes que se arriscaram a criar narrativas em seus flipbook. Ailton Krenak nos diz que: “sempre podemos contar mais uma história. Nesse contar estaremos adiando o fim.”[1] O interesse e a adesão à nossa proposta nos faz acreditar que a experiência de participar da oficina tem o sentido de adiar o fim do mundo como nos ensinou Krenak. O fim ao qual o autor se refere está relacionado ao modo como opera a sociedade capitalista com a insistente repetição para nos fazer desistir de nossos próprios sonhos. A oficina é um convite a nossa capacidade de resiliência, de continuarmos a sonhar e empurrar o fim mais para frente.

     

    Palavra-chave: arte, remoto, narrativas, afeto, Baixada Fluminense

     

    [1] KRENAK, Ailton. Ideias Para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo. Editora Companhia das Letras. 2019. p.27.

     

  • Palavras-chave
  • arte, remoto, narrativas, afeto, Baixada Fluminense
  • Área Temática
  • ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão
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O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.

Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.

No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.

Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:

O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.

O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.

O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.

O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.

O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências. 

O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.

Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.

Boa leitura!

  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
  • ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval
  • ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação
  • ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão
  • ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas
  • ST 06 - Design, artesanato e tecnologia

3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo

Comissão Organizadora

Docentes

Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte

 

Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade

Comissão Científica

Alicia Romero - UNESA

Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar

André Monte Pereira Dias

Bárbara Boaventura Friaça

Cassia Mousinho de Figueiredo

Charles Leite - UFPE

Denise Loyla Silva

Flávio Glória Caminada Sabrá

Gabriela Sousa Ribeiro

Heloisa Helena de Oliveira Santos

Jaqueline Gomes de Jesus

Lívia de Meira Lima Paiva

Lucivania Filomeno Ponte

Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES

Vanessa Santos Ximenes

 

Reitor

Raphael Barreto Almada

Pró-reitora de Extensão

Ana Luisa Lima

Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo

Marcio Franklin de Oliveira

Diretora de Ensino

Rosi Marina Rezende

Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br