A DESCOLONIZAÇÃO DOS CORPOS COMO POTÊNCIA DE EXPRESSIVIDADE

  • Autor
  • Morgana Fernandes Martins
  • Resumo
  • O modo como o colonialismo determinou a visão sobre o corpo é  marcada pelo patriarcado e pelo racismo. Essa condição orquestrada e  arbitrariamente imposta desde a invasão dos europeus em território latino  americano inscreve no corpo, até os dias atuais, lugares de hierarquia e de  poder. O corpo subalternizado, mediado pela condição colonial, é um corpo  encarcerado, aprisionado em contextos que o conduzem para a fuga de sua  identidade e potência de sua expressividade. Um corpo desconectado das suas  relações com a natureza e a cultura é um corpo sem voz operante e, muitas  vezes, vítima e reprodutor das opressões da estrutura dominante. O  silenciamento colonial é o silenciamento do extermínio, onde corpos são  dizimados de maneira física e simbólica, através do atentado contra o próprio  corpo e do epistemicídio de saberes culturais não hegemônicos. 

    Diante deste panorama, esta investigação propõe reconhecimento e  estímulo das potencialidades expressivas do corpo por meio de processos de descolonização. O ponto inicial dessa pesquisa consiste na busca por matérias teóricos que dialogam com o tema e propõem direcionamentos para a  composição de sua proposta. Este estudo se fundamenta nas pesquisas de  Wanderson Flor do Nascimento e o conceito da Bioética de Intervenção, que  sugere politizar o modo de lidar com os conflitos biotecnocientíficos, sociais,  ambientais e sanitários, inseridos na realidade latino-americana. Colabora com  esta investigação, também, a obra de Zeca Ligiéro, Corpo a Corpo, 2011, através das reflexões sobre o Cantar-Dançar-Batucar nas performances  brasileiras e na ideia de ritual como expressividade dos corpos. Conceitos de  Leda Maria Martins como Oralitura, referente à performance da oralidade, Corpo-tela, a corporeidade sob diversos prismas e Encruzilhada, o lugar do  trânsito e cruzos na produção de conhecimento, também sustentam base  dessa investigação. Além desses autores e suas respectivas produções, o  conceito de Educação Libertadora de Paulo Freire colabora com a mediação do  diálogo entre as etapas deste processo investigativo. 

    Em um segundo momento, será realizada uma pesquisa de territórios onde os corpos se expressam através de suas relações com a natureza e a  cultura por meio de ritos, festividades e tradições vivenciadas em seu contexto.  O conhecimento sobe as práticas existentes nestes territórios conduzirá a reflexão sobre os corpos que os habitam e como eles expressam suas  identidades culturais libertas da manipulação colonial. A abrangência e os  locais de pesquisas desses territórios serão definidos no decorrer da segunda  etapa deste estudo. 

    De maneira concomitante, a reflexão se estende para a compreensão do  corpo que cria e produz arte e quais são os fundamentos de suas  manifestações expressivas. Diante de um contexto colonial e opressor é  necessário o questionamento sobre as produções artísticas e se essas, de  diversas formas, alimentam discursos da estrutura dominante, consciente ou  inconscientemente. O estudo sobre territórios de manifestações culturais não  dominantes pode servir de material de reflexão sobre o fazer artístico e a forma  como seus processos podem valorizar a diversidade cultural de maneira  desierarquizadora. 

    Para além do campo das artes, é perceptível a urgência pela busca por  saberes plurais, que identificam a importância do conhecimento que habita os  corpos. No âmbito acadêmico ainda persiste a ideia de que conhecimentos se  legitimam apenas na sua forma escrita e que saberes originados por meio da  oralidade e corporeidade são colocados em segundo plano. Esse modo de  operação silencia um campo infinito de saberes que são transmitidos através de canções, contos, danças, rituais e carregam consigo um conteúdo universal  fundamental para o reconhecimento de identidades plurais. 

     

    Na lógica colonial, o corpo está pré-destinado a lugares demandados  pela estrutura de poder e a prática da descolonização vem para quebrar com  essa imposição. Uma sociedade que não hierarquiza corpos e seus saberes  opera na coexistência. Territórios não colonizados propõem alternativas para  os corpos e esses podem transitar por diversos lugares em busca de  acolhimento de saberes e experiências. Quanto maior a diversidade da  vivência do sujeito, menor o risco de hierarquização dos corpos, pois neles se  reconhecerá valores próprios de sua cultura e suas contribuições para a  sociedade. A potência da expressividade do corpo só é alcançada na libertação  de seu silenciamento e a arte pode ser uma ferramenta eficaz para essa  prática. 

  • Palavras-chave
  • Descolonização, Corpo, Expressividade, Diversidade
  • Área Temática
  • ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas
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O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.

Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.

No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.

Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:

O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.

O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.

O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.

O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.

O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências. 

O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.

Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.

Boa leitura!

  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
  • ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval
  • ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação
  • ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão
  • ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas
  • ST 06 - Design, artesanato e tecnologia

3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo

Comissão Organizadora

Docentes

Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte

 

Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade

Comissão Científica

Alicia Romero - UNESA

Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar

André Monte Pereira Dias

Bárbara Boaventura Friaça

Cassia Mousinho de Figueiredo

Charles Leite - UFPE

Denise Loyla Silva

Flávio Glória Caminada Sabrá

Gabriela Sousa Ribeiro

Heloisa Helena de Oliveira Santos

Jaqueline Gomes de Jesus

Lívia de Meira Lima Paiva

Lucivania Filomeno Ponte

Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES

Vanessa Santos Ximenes

 

Reitor

Raphael Barreto Almada

Pró-reitora de Extensão

Ana Luisa Lima

Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo

Marcio Franklin de Oliveira

Diretora de Ensino

Rosi Marina Rezende

Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br