O limitado conhecimento do panorama geral da saúde de minorias sexuais e de gênero, primariamente devido aos estudos sobre HIV/AIDS, oportunizou a investigação das experiências, efeitos de estigmas interseccionalizados e discriminações estrutural e interpessoal, fatores esses com impacto significativo nos comportamentos relacionados à saúde mental, saúde social e saúde física em geral. Entretanto, estudar a saúde dessa população exclusivamente pelas lentes do HIV/AIDS negligencia outros aspectos da saúde e humanidade daquelas minorias. Ademais, o foco tem sido em homens atraídos sexualmente por homens e mulheres trans/travestis, menos sendo conhecido quanto a particularidades de mulheres atraídas sexualmente por mulheres, pessoas bissexuais, homens trans e pessoas intersexo, entre outros grupos sociais não-hegemônicos categorizados por sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.
Objetivo: O presente trabalho visa a sintetizar resultados alcançados em investigação, desenvolvida em parceria com colegas pesquisadores da Duke University (EUA) e publicada em diferentes artigos científicos, sobre a saúde mental, a partir das vidas e experiências, de minorias sexuais e de gênero em seis países: Brasil, El Salvador, Cambodia, Índia, Quênia e Vietnã. Estudou-se o efeito de políticas locais, nacionais e internacionais e práticas de cuidado em saúde relativas a: estigma, discriminação, depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e suicidalidade (ideação, planejamento e tentativa de suicídio).
Métodos e técnicas utilizados: Aplicamos questionários, realizamos grupos focais e testamos hipóteses tanto quanto buscamos identificar áreas para potenciais fortalecimentos das intervenções em cada contexto nacional, eventualmente comparando as realidades das diferentes culturas.
Resultados e principais conclusões obtidas: Alcançou-se uma amostra de duzentos e trinta e dois sujeitos (N=232), excedendo-se a meta inicial (N=200). Foram identificados altos níveis de estigma, discriminação e abuso, com variações na origem e intensidade por país, associados a isolamento social substancial e falta de apoio social. Os dados da Índia tiveram de ser analisados isoladamente, dado que o pesquisador local somente coletou dados referentes às Hijra (mulheres trans/travestis).
Em termos de saúde mental, a sintomatologia por grupo identitário e país indicou:
Em depressão, 100% dos sujeitos do Quênia apresentaram sintomas, em todos os grupos sociais; no Brasil, os grupos mais afetados foram os das pessoas bissexuais e homens atraídos por outros homens (60%); em El Salvador, 75% das mulheres atraídas por mulheres compuseram o grupo mais afetado; no Vietnã e no Cambodia, os homens trans (64% e 50%), respectivamente.
Quanto à ansiedade, o Quênia apresentou 100% de sintomatologia para homens trans, 92% para mulheres trans/travestis e 80% para mulheres atraídas por mulheres; no Brasil, 89% dos homens trans demonstraram transtorno de ansiedade generalizada, 82% das mulheres trans/travestis e 80% das pessoas bissexuais; em El Salvador e no Vietnã, o valor mais alto de ansiedade foi entre os homens trans (30% e 41%, respectivamente); no Cambodia, 50% dos homens trans demonstraram ansiedade.
No que concerne ao transtorno de estresse pós-traumático, o Brasil apresentou o mais alto indicador no mundo, de 89% para homens trans, seguido de 41% para mulheres trans/travestis e 40% para pessoas bissexuais.
Os dados de ideação suicida alcançaram 100% das mulheres atraídas por mulheres no Cambodia, e no Quênia, 100% dos homens trans, 89% das mulheres atraídas por mulheres e 69% dos homens atraídos por homens. No Brasil 60% dos homens atraídos por homens e pessoas bissexuais apresentaram a sintomatologia.
Especificamente na índia, 60.9% das Hijra já planejaram se matar, sendo que 52,2% efetivamente tentaram.
Como propostas de políticas públicas em saúde mental propõe-se a criação de centros de atendimento em situações de crise, com aconselhamento, tratamento efetivo dos sintomas de desesperança e depressão e enfrentamento a comportamentos de risco, além de intervenções com foco nas famílias, para aumentar o apoio familiar e reduzir a vitimização; disponibilização de linhas telefônicas e atendimento online de apoio; e o desenvolvimento de uma rede de conselheiras/os populares treinadas/os em oferecer primeiros socorros em saúde mental e navegação em situações de crise.
O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.
Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.
No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.
Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:
O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.
O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.
O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.
O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.
O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências.
O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.
Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.
Boa leitura!
3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo
Comissão Organizadora
Docentes
Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte
Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade
Comissão Científica
Alicia Romero - UNESA
Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar
André Monte Pereira Dias
Bárbara Boaventura Friaça
Cassia Mousinho de Figueiredo
Charles Leite - UFPE
Denise Loyla Silva
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Heloisa Helena de Oliveira Santos
Jaqueline Gomes de Jesus
Lívia de Meira Lima Paiva
Lucivania Filomeno Ponte
Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES
Vanessa Santos Ximenes
Reitor
Raphael Barreto Almada
Pró-reitora de Extensão
Ana Luisa Lima
Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo
Marcio Franklin de Oliveira
Diretora de Ensino
Rosi Marina Rezende
Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br