LUGAR DE RECONSTRUÇÃO, INVENÇÃO, RENOVAÇÃO

  • Autor
  • Herika Cristina Cordeiro da Silva
  • Resumo
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    Foi numa atividade da disciplina Identidade, Cultura e Memória Coletiva da Baixada Fluminense, requerida em 19 de Agosto de 2019, na turma do 1º período, do Curso Técnico em Artesanato – Campus IFRJ de Belford Roxo, que meu relato ganhou corpo, voz e se localizou em um dado território muito além do inicialmente proposto pedagogicamente... O grande barato proporcionado pela atividade pedagógica bem específica, talvez, cuja premissa despretensiosamente talvez fosse apenas a demonstração de mais uma forma de expressão cultural, identitária, linguística ou algo do tipo... mas foi além do desafio de descreve-lo propriamente dito, uma construção difícil e ao mesmo tempo libertadora pessoalmente falando.

    Trata se do Texto Ritos Corporais entre os Nacirema (Horace Miner, 1976) e posteriormente; aplicado texto complementar; O Cidadão norte-americano; do antropólogo Ralph Linton.

    A atividade solicitada preconizava a leitura do texto Ritos Corporais entre os Nacirema, cabia grifarmos os termos e ou palavras mais importantes no mesmo, assim como os costumes (cultura), cerimônia etc para então confeccionarmos um texto análogo, seguindo os “padrões e vocabulário” empregados no texto, porem discorrendo e relatando a rotina e os ritos do cotidiano familiar de cada aluna representada na classe, dentro de um fim de semana, observando e apontando as respectivas práticas, hierarquia (membros), comportamento, rituais do grupo familiar. Cujo o cerne da proposta era entender a cultura e território do outro nos seus próprios termos, sem medi-la por comparação a nossa... (relativismo cultural).

    Ao exercitar essa prática e na medida em que ia escrevendo e precisava aplicar nomes “codificados”  (não fosse desta forma, provavelmente não conseguiria produzir e conduzir o texto encaminhado) para as ações e para os membros da casa e todo o ritual observado; fui me adentrando e entregando ao que escrevia, fui invadida por um misto de sensações que antes não me dava conta... pois não conseguiria jamais falar do que eu estava sentindo e vivenciando, não fosse de tal forma... A escrita exerceu um poder curativo, libertador e de autoconhecimento, que, nem mesmo tinha vivenciado em divãs com psicoterapia... parece que o exercício de sala havia sido premeditado para me tirar o peso das angústias, do desconforto, silêncio e lugar de inércia adquiridos e absorvidos no relacionamento conjugal que de certa forma opressor, embora muito sútil... a sensação de alivio, auto conhecimento... por que não dizer lugar de protagonismo... empoderamento... ainda estão em processo, naturalmente... mas foi o suficiente pra despertar em mim um olhar mais auto cuidadoso, para me impor com menos receio do que o outro poderia achar e ou julgar e vice versa... reconhecer as limitações e reconsiderar novas possibilidades Fisicamente; foi uma tonelada que tirei do peso das costas... consigo falar não.. dizer o motivo pelo qual não quero fazer algo e ou me posicionar frente a alguma coisa... Emocional e psicologicamente; afirmo que trouxe um bem estar e grande amadurecimento... independentemente se irão concordar comigo e ou não...é o ponto de vista, sujeito a discordâncias porem que jamais falte o respeito sob o olhar do outro... As circunstâncias poderiam ser outras não fosse esse tempo e lugar de reencontro, renovo, reinvenção e auto conhecimento, promovidos pela atividade pedagógica...

    Em suma; discorrer de forma codificada e inusitada acerca da minha rotina e cotidiano familiar, permitiu identificar pontos vulneráveis e delicados que antes já não eram mais vistos e ou tinham a devida atenção. Permitiu enxergar um pouco sob o lugar do outro, igualmente. Mesmo que ainda não se tenha constituído um espaço de diálogo e tampouco constante; não ocorre a mesma ”submissão”, silêncio e inércia de antes... os sapos não são engolidos só por que existe aquele que se reconhece provedor ou porque paga as contas e é o macho alfa... A atividade ajudou a olhar o meu lugar de pessoa, mãe e tudo o mais que carrego na bagagem e nas múltiplas facetas adormecidas pela inércia, decepção e ou descrença... Contribuiu para que eu tivesse uma postura diferente; de valorização pessoal...Me encorajou a falar o que penso, quando não concordo com algo, a me colocar e posicionar, sem esperar entendimento do outro lado...buscando dentro do possível e de forma respeitosa tanto quanto possível. Ampliou o horizonte e as perspectivas futuras dentro e fora do relacionamento. Reaprendendo o compasso da minha vida que é única e a caminhada que embora turbulenta, é ainda pior quando não nos posicionamos frente as circunstâncias e ou adversidades. Foi um exercício para crescimento e edificação de vida.

     

  • Palavras-chave
  • Direitos humanos; Culturas e identidades; Gênero.
  • Área Temática
  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
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O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.

Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.

No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.

Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:

O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.

O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.

O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.

O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.

O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências. 

O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.

Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.

Boa leitura!

  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
  • ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval
  • ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação
  • ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão
  • ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas
  • ST 06 - Design, artesanato e tecnologia

3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo

Comissão Organizadora

Docentes

Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte

 

Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade

Comissão Científica

Alicia Romero - UNESA

Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar

André Monte Pereira Dias

Bárbara Boaventura Friaça

Cassia Mousinho de Figueiredo

Charles Leite - UFPE

Denise Loyla Silva

Flávio Glória Caminada Sabrá

Gabriela Sousa Ribeiro

Heloisa Helena de Oliveira Santos

Jaqueline Gomes de Jesus

Lívia de Meira Lima Paiva

Lucivania Filomeno Ponte

Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES

Vanessa Santos Ximenes

 

Reitor

Raphael Barreto Almada

Pró-reitora de Extensão

Ana Luisa Lima

Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo

Marcio Franklin de Oliveira

Diretora de Ensino

Rosi Marina Rezende

Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br