Até que ponto máscaras de proteção individual podem ser entendidas como objetos de moda? Será que o simples fato delas poderem ser estampadas com mensagens específicas ou serem vendidas por marcas consagradas do mundo da moda transformam este objeto, normalmente vinculado à saúde e ao ambiente hospitalar, em um objeto de moda, ou seja, um objeto orientado pela valorização da expressão individual, pela distinção social e pela efemeridade característica do fenômeno social da moda? E o que mais pode ser identificado e percebido sobre a relação do objeto de moda e a nossa sociedade a partir da análise deste objeto, aparentemente pragmático e funcional, que foi inserido no nosso cotidiano por uma contingência de saúde pública que é a máscara de proteção individual? Com o quadro de pandemia instalado no mundo por conta da contaminação pelo SARS-CoV-2, novas posturas e ações começaram a ser necessárias. Novos padrões de consumo, novas formas de vestir, novas formas de estudo, novas relações de trabalho, novas relações sociais, novas configurações de espaço, novas formas de relação com o espaço urbano começaram a se estabelecer, algumas por imposições exigidas pelos cuidados com a interação social e com a higienização de ambientes e objetos, outras por transformações aparentemente espontâneas como resultado de mudanças no cotidiano da sociedade. O espaço social e externo do trabalho se misturou com o espaço íntimo do lar e da família. A forma de consumir alimentos, bebidas, roupas e outros objetos se alterou. O comércio virtual cresceu. Empresas que antes tinham seu principal foco no atendimento presencial precisaram se adequar aos meios digitais e virtuais para conseguir continuar atendendo seus clientes. Objetos que antes pareciam imprescindíveis, ganharam outros significados e valores. Ao mesmo tempo, sair de casa passou a envolver novos hábitos, procedimentos, condutas e objetos. Sapatos que estiveram na rua passavam a ficar fora de casa, roupas e objetos que estiveram na rua precisavam ser lavados ou isolados, álcool gel, bolsas plásticas para colocar o celular e protegê-lo, máscaras de proteção individual nos mais diversos modelos. Surgiram tutoriais de como confeccionar máscaras em casa, anúncios dos mais diversos modelos de máscaras, alguns vinculados a marcas legitimadas como grandes marcas de moda. Com isso, debates, embates, discussões nas redes sociais também surgiram sobre o papel da moda neste processo. Questionamentos sobre se a máscara de proteção individual seria ou não um objeto de moda, se fazia sentido a relação entre este objeto e uma marca de moda legitimada e consagrada, alterando seu valor por conta do valor simbólico vinculado a ela. Por outro lado, postagens em redes sociais também defendiam o papel social da moda ao produzir máscaras para aqueles em maior fragilidade social, ou por viabilizar uma atividade remunerada a uma população desempregada. Mas será que isto pode ser entendido como atividade do campo da moda? Ou como objeto do campo da moda? Ou será que este objeto ocupa uma posição simbólica distinta exatamente por se aproximar do mundo objetivo e pragmático dos objetos funcionais? E será, por outro lado, que, como qualquer outro objeto da cultura material, as máscaras de proteção individual também são meios de distinção social? Talvez possamos pensar que este objeto traz à tona as mesmas questões, noções e conflitos presentes no campo da moda. Este trabalho se propõem a analisar as questões e noções características do campo de produção dos objetos de vestuário vinculados à noção de moda a partir de um objeto que passou a ser inserido no contexto atual, analisando a constituição da noção de objeto de moda e a dicotomia entre um objeto de expressão individual ou de distinção social e um objeto pragmático vinculado ao universo hospitalar, levando em consideração as transformações sociais provocadas pela situação pontual da pandemia. Para isso, partimos de uma análise de reportagens sobre mudanças no comportamento social neste período, de postagens em redes sociais relacionadas ao tema, de anúncios e postagens relacionadas a máscaras de proteção individual e outros objetos relacionados às mudanças de posturas provocadas pela pandemia. Para fundamentar esta análise, utilizamos como referencial teórico a obra de Pierre Bourdieu que estuda a constituição de noções e valores dentro de um campo de produção de objetos da cultura material, além de trabalhos sobre a conceituação do fenômeno moda como os textos de Gilles Lipovetsky, Georg Simmel, Roland Barthes, Diana Crane e Lars Svendsen.
O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.
Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.
No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.
Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:
O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.
O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.
O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.
O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.
O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências.
O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.
Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.
Boa leitura!
3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo
Comissão Organizadora
Docentes
Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte
Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade
Comissão Científica
Alicia Romero - UNESA
Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar
André Monte Pereira Dias
Bárbara Boaventura Friaça
Cassia Mousinho de Figueiredo
Charles Leite - UFPE
Denise Loyla Silva
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Heloisa Helena de Oliveira Santos
Jaqueline Gomes de Jesus
Lívia de Meira Lima Paiva
Lucivania Filomeno Ponte
Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES
Vanessa Santos Ximenes
Reitor
Raphael Barreto Almada
Pró-reitora de Extensão
Ana Luisa Lima
Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo
Marcio Franklin de Oliveira
Diretora de Ensino
Rosi Marina Rezende
Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br