Mieloma múltiplo: como manter a qualidade de vida
O mieloma múltiplo caracteriza-se por expansão clonal plasmocitária na medula óssea e produção de imunoglobulina monoclonal, promovendo progressivamente fraturas patológicas, insuficiência renal, supressão da hematopoiética, infecções e anemia – associados à fraqueza e febre – e perda de peso.
Com o diagnóstico feito, a partir dos sinais, sintomas e exames clínicos, como é realizado o tratamento e quais os cuidados necessários para o paciente enfrentar o câncer da melhor maneira possível, com um prolongamento de sobrevida sem a doença?
A hematologista e assessora médica do Grupo Fleury de Medicina Diagnóstica Maria de Lourdes Chaffaille explica que o estágio evolutivo da doença e a genética do indivíduo são os principais pontos que devem ser levados em consideração para definir o tratamento mais adequado. “De modo geral, a terapia é adaptada às situações para que se tenha mais sucesso. Por exemplo, qual é o objetivo do tratamento no indivíduo? Primeiro, diminuir a massa e a infiltração tumoral para que haja menos manifestação da doença por um bom tempo, já que ela não é curável.”
O câncer progride ao longo de várias etapas (baixo risco, risco intermediário ou alto risco), incidindo preferencialmente em idosos. Em termos numéricos, 2/3 das pessoas com mieloma múltiplo diagnosticado possuem acima de 60 anos, sendo que 1/3 tem menos de 60 anos. “É uma doença mais comum em idosos. No entanto, isso não significa que não possa ocorrer em indivíduos mais jovens”, reforça Maria de Lourdes.
A médica esclarece que, de modo geral, a quimioterapia seguida de autotransplante de medula óssea são os primeiros recursos terapêuticos adotados por especialistas. No entanto, conforme a situação do indivíduo e os critérios de prognóstico da doença, poderão ser prescritos tratamentos mais adequados.
“Agora, se o indivíduo é mais idoso e já tem comprometimento em suas funções orgânicas e morbidades pode, eventualmente, não aguentar um tratamento mais agressivo e transplantes subsequentes. Em casos específicos, ponderam-se a idade cronológica, as funções cognitivas e a capacidade de autogerir a condição de vida, para que os efeitos colaterais não afetem mais do que a própria doença”, informa a hematologista.
Casos assintomáticos e sintomáticos
Quando o paciente apresenta um aumento de proteínas monoclonais no sangue, conhecidas como gamopatia monoclonal, o quadro deve ser investigado para que não haja acometimento em outros órgãos. No entanto, esse caso assintomático da doença não requer um tratamento específico, apenas um acompanhamento médico.
“Apesar de sabermos desse processo evolutivo, o indivíduo pode ser diagnosticado em outros momentos mais avançados, e essa neoplasia maligna não tem cura. Conseguimos apenas uma remissão completa através do tratamento adotado”, esclarece a especialista, que também é docente aposentada da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).
A comunidade médica indica de três a oito ciclos de quimioterapia sistêmica e autotransplante de medula óssea, além de drogas para sustentar o tratamento. Conforme reforça Maria de Lourdes: “O indivíduo que não tem condições por uma série de outras morbidades e fragilidades não será submetido ao transplante, receberá quimioterapia mais branda para tentar diminuir a massa tumoral.”
Ela ainda acrescenta que mesmo com a doença residual não detectável, o paciente tem 50% de probabilidade de o câncer voltar em um média de três anos, por exemplo. “É uma perspectiva de que o mieloma múltiplo não é curável.”
Cuidados
Embora não haja cura para a doença, isso não impossibilita o indivíduo de exercer suas atividades laborais. A hematologista reitera que o paciente precisa ser orientado sobre o tratamento e os cuidados elementares para ter melhor condição de vida, como evitar atividades físicas que possam causar fraturas/lesões ósseas. “Como ele apresenta aumento do cálcio ou reabsorção óssea, a segunda orientação é manter-se bem hidratado.”
Para evitar infecções cutâneas fúngicas, bacterianas e virais, nessa situação de imunodeficiência do paciente, é recomendado evitar a exposição a indivíduos com doenças habituais e ter as vacinações em dia.
A pandemia do novo coronavírus (COVID-19), que assola o mundo atual, é um fator perigoso a todos os pacientes com doenças crônicas e submetidos ao tratamento quimioterápico. Desta forma, a médica reforça ainda mais o resguardo, para não complicar o quadro evolutivo do câncer.
Expectativa
“Décadas atrás, não tínhamos uma terapia eficaz para diminuir a evolução do mieloma, muitos pacientes vinham a óbito. Hoje, já conseguimos diagnosticar mais precocemente e oferecer alternativas terapêuticas mais adequadas, alcançando um prolongamento da sobrevida”, celebra.
O próximo passo, segundo a especialista, é encontrar a cura da doença. “No entanto, comparando com os nossos antepassados, esse paciente tem qualidade de vida muito melhor. Isso é o resultado do avanço da Medicina e da descoberta de novos medicamentos”, conclui.
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