“O mieloma múltiplo é um tipo de câncer que, infelizmente no Brasil, tem subdiagnóstico ou diagnóstico tardio. Estima-se que há uma incidência em torno de 50 a 60 mil casos, mas tratamos cerca de 10 mil, em razão de grande parte dos pacientes ter uma análise muito tardia, ou mesmo não ter”, destaca o hematologista Fernando Vieira Pericole de Souza, responsável pelo laboratório de Mieloma e Gamopatias da Universidade Estadual de Campinas.

Embora pouco conhecido pela própria comunidade médica e pela sociedade em geral, é o segundo câncer hematológico mais comum. “Se pegarmos o total de cânceres, o mieloma representa entre 1% e 2%, não deveria ser tão desprezível. No entanto, as leucemias – que são mais raras - tornaram-se mais conhecidas que o próprio mieloma”, compara o médico.

Os principais sinais e sintomas da doença são problemas ósseos, baixas taxas sanguíneas, nível de cálcio no sangue aumentado, enfraquecimento dos ossos da coluna vertebral, fraqueza e dormência nos nervos, confusão, tontura e sintomas de um acidente vascular cerebral, problemas renais e infecções.

Souza ressalta que uma parte significante dos profissionais não consegue interligar os sinais e sintomas dos pacientes, o que dificulta o processo de detecção da doença. “São sintomas vagos, como cansaço, fraqueza, anemia, alteração renal, dor óssea, principalmente, na região da bacia e lombar e, às vezes, urina espumosa porque o câncer gera uma perda de proteína que dá esse aspecto”, reforça.

“O fato de a doença ser pouco conhecida dificulta o diagnóstico por parte dos médicos generalistas, além disso, como já explicado, os sintomas são inespecíficos, como a dor óssea. Quantos pacientes não têm dor lombar por outros motivos? Ou seja, além de rara, os sintomas dificultam o diagnóstico”, acrescenta o hematologista do Instituto Hemomed Oncologia e Hematologia, Milton Aranha.

  

Exames
Os principais exames laboratoriais para diagnóstico são hemograma, bioquímica sanguínea, exame de urina, eletroforese de proteínas, cadeias leves livres e microglobulina beta-2. “Um exame simples de sangue e a eletroforese de proteínas séricas, que é uma análise de urina para medir a quantidade total de imunoglobulina no sangue e diagnosticar qualquer anormalidade, já fornecem muitas informações sobre a doença. Há novos exames que ainda podem ser feitos, mas esses simples estão disponíveis no Sistema Único de Saúde, são baratos e dão o diagnóstico em 95% dos casos”, explica Souza.

O exame confirmatório é geralmente feito por um hematologista, porque o tipo de câncer se propaga nos ossos. Mas o caminho do paciente com o mieloma costuma ser longo. O hematologista da Unicamp informa que ele passa em média por até cinco especialistas para chegar a um diagnóstico final. “Muitas vezes o caminho começa no ortopedista, por conta de uma fratura; no nefrologista, pela piora da função renal; ou no clínico geral, para investigar uma anemia sem causa aparente.”

Por isso, segundo ele, a campanha de conscientização da Associação Paulista de Medicina é importante no sentido de levar informação e conhecimento aos médicos e à população sobre a doença, de forma a aumentar a detecção dos sinais e sintomas no estágio inicial.

“Infelizmente, observamos na prática muitos pacientes que já chegam com complicações graves, porque há um diagnóstico tardio. A doença ainda na fase assintomática percorre um longo caminho até causar danos aparentes ao corpo. Se o paciente tiver o diagnóstico mais precoce, sem dúvida alguma o cuidado, as complicações e até o desfecho final de tratamento são totalmente diferentes”, resume o hematologista.

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