II COLÓQUIO AFROFUTURISTA

ATENÇÃO! A transmissão será pelo canal: https://www.youtube.com/watch?v=7uxOrWSIJD4

TECNOLOGIAS AFRODIASPÓRICAS E O FUTURO DA HUMANIDADE

Hotep!

Asè ò!

Haveria algum lugar, nessa imensa Via Láctea ou fora dela, em que as pessoas pretas consigam viver dignamente, sem a sensação eminente de que sua morte (física, psicológica, emocional, social) é só uma questão de tempo? É possível para essas pessoas, dentro do atual cenário de distopias, Necropolítica, racismo, pandemia e encarceramento em massa, alçar alternativas coletivas e projetar-se, positivamente, para o futuro? Talvez as pessoas, principalmente as pessoas pretas, não param para refletir sobre essas questões. Ora por ser algo agonizante, ao tempo em que reflete o cenário de uma guerra racial de alta intensidade1 contra elas, ora pela ausência de conhecimento acerca da sua real história e de como, em algum momento da vida sapiens, foram protagonistas do próprio destino.

Refletindo essas questões, o Afrofuturismo se apresenta como uma projeção (no sentido de projeto), e projetos visam futuros. Futuros negros. Narrativas futuristas que contemplem toda as subjetividades da população negra no mundo. Entretanto, como essa possibilidade se dá? Através da ciência e da tecnologia, da ficção e da educação, formal e não formal. E então pode ser que a resposta surpreenda mais que a pergunta.

A terminologia “Afrofuturismo”, surgiu nos anos 90 por Mark Dery, crítico cultural branco norte-americano. Ele usou esse conceito para problematizar a invisibilidade de artistas negros e negras no cinema e na ficção científica nos EUA. Em seu artigo, intitulado Black to the future, ele entrevista dois escritores negros e os indaga sobre a pouca visibilidade que os afro-americanos tinham dentro do campo da ficção científica, citando que seria de estrema necessidade a produção dos intelectuais negros dentro desse campo. O conceito foi sendo reelaborado e hoje ele não se limita apenas à produção ficcional afro-americana, mas ao pensamento negro africano e diaspórico em escala global (ou, para usar um termo afrofuturista, intergaláctico). Um exemplo de produção na perspectiva do Afrofuturismo foi a mostra organizada pela pensadora e professora Kênia Freitas em São Paulo, no ano de 2015, intitulada: Afrofuturismo: Cinema e música em uma diáspora intergaláctica.

A necessidade de novas narrativas especulativas sobre um futuro possível para a população negra urge pela forma racialmente perversa como essas pessoas eram “representadas” pelas produções cinematográficas da época, conforme aponta a narrativa a seguir:

Uma piada antiga dizia que os negros dos filmes de ficção científica dos anos de 1950 a 1990, geralmente, tinham um final sombrio. O homem negro que salvava o dia na versão original de A Noite dos Mortos-Vivos era morto por policiais que gostavam de apertar o gatilho. O homem negro que aterrissava com Charlton Heston no Planeta dos Macacos original logo foi capturado e posto em um museu. Um cientista negro, afoito em excesso, quase provoca o fim do mundo em O Exterminador do Futuro 2. Por vezes, o personagem negro nesses filmes aparecia como alguém silencioso e místico ou, talvez, como uma bruxa médica sinistra. De todo modo, era bastante claro que, nas representações artísticas do futuro da cultura pop, pessoas negras realmente não importavam (WOMACK, 2015, P. 28).

Embora tenha surgido enquanto conceito somente na década de 1990, os elementos simbólicos que caracterizam o Afrofuturismo já estavam presentes na ficção científica desde o século XIX, como evidencia o romance Imperio in Imperium, de Sutton E. Griggs (RANGEL, 2016) e na década 1920, como também é percebido no conto The commet, escrito por W.E.B Du Bois, o qual utiliza elementos pós apocalípticos e inicia um debate racial sobre as “linhas de cor”. Há registros também dos elementos da estética afrofuturista na música negra estadunidense na década de 1970, com os artistas Sun Rá e George Clinton, que são notórios no cenário musical dessa época.

Cientes da necessidade urgente, no que tange a sobrevivência do Povo Preto no futuro, nós, o Coletivo de Inteligência Afrofuturista (CIA), o Campus XVII (UNEB) e o PET Afirmação (UFRB), te convidamos para refletirmos juntos sobre o Afrofuturismo, Educação, Pandemias e Eventos pós Apocalípticos, no segundo Colóquio Afrofuturista da Bahia. O evento acontecerá nos dia 22, 23 e 24 de Julho de 2020. Será virtual, com transmissão pelo canal https://www.youtube.com/user/ufrb. Segue lá!

Aguardamos sua confirmação!

Equipe organizadora.

1 Sobre essa questão, sugiro a leitura do texto: Chacinas, massacres e terrorismo racial na Bahia, disponível em: https://ponte.org/chacinas-massacres-e-terrorismo-racial-na-bahia/ . Acesso em 20/10/2019.

DICA DA ORGANIZAÇÃO:

Afrofuturismo e suas traduções

O afrofuturismo, movimento estético, narrativo e filosófico da afrodiáspora, foi assim nomeado em um texto de Mark Dery (1993), no qual o autor conversa com Samuel R. Delany (escritor de ficção especulativa), Greg Tate (crítico musical) e Tricia Rose (Professora da Universidade de Brown). O termo foi mais elaborado e discutido, em seguida, por Alondra Nelson (2002). No entanto, mais cedo no século XX (1950 – 1980), expoentes como Sun Ra, Lee “Scratch” Perry e George Clinton, mesclando música, cosmologia e ancestralidade, já delineavam o futurismo negro como uma declaração política, reivindicando tempos, narrações e representações. Esse movimento, que já ganhou outras vertentes e nomenclaturas (africanfuturism, jujufuturism, ancestrofuturismo), fabula o passado negro, reimagina sua condição presente e projeta futuros, a partir da ficção científica e especulativa, do realismo fantástico e de cosmologias não europeias, traçando laços entre literatura, música, performance, artes visuais e tecnologia.
Segundo Achille Mbembe (2016), os afrofuturistas se opõem abertamente ao humanismo ocidental que, para definir o "humano" delegou a certos seres, entidades, a posição de "não-humano", de objeto ou ferramenta. Para ele, o modo como os indivíduos não-brancos foram, e são, tratados já determinou um lugar de experiência prototípica para as elocubrações afro sobre as conjunções entre humano e objeto e tudo que está além do humano. Vemos, então, o devir filosófico negro se desenhar na especulação do futuro do presente provocador afrofuturista.
Considerando tal contexto estético e suas possibilidades de tradução, a presente edição da Belas Infiéis, com o intuito de aumentar a difusão das correntes estéticas afrofuturistas, convida os interessados no tema a contribuir com textos que tratem de sua tradução, nas mais diversas modalidades.

Buscamos artigos ou ensaios que tratem dos seguintes temas:
- tradução / versão de textos afrofuturistas;
- afrofuturismo e suas premissas como uma abordagem teórica possível para a tradução;
- adaptações ou releituras de obras afrofuturistas;
- panoramas sobre as traduções de textos afrofuturistas;

Além de:
- resenhas sobre obras afrofuturistas traduzidas;
- entrevistas com tradutores ou autores;
- traduções literárias sobre essa temática;
- artigos traduzidos que versem sobre essa temática.

*Traduções comentadas devem ser enviadas para a seção artigos e obedecer a seus critérios.

Prazo para envio de contribuições: 13 de setembro de 2020

Organizadoras:
Profa. Dra. Fernanda Alencar Pereira (UnB)
Dra. Kênia Cardoso Vilaça de Freitas (pós-doutoranda, Unesp)
Profa. Dra. Aza Njeri / Viviane Mendes de Moraes (UFRJ)

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Data do evento

22 de julho de 2020, 19h00 até 24 de julho de 2020, 21h00

LOCAL DO EVENTO

Evento Online
Link: https://www.youtube.com/watch?v=IeJ4BxtpivY