XI EPHIS - 2023

15 de maio de 2023, 00h00 até 19 de maio de 2023, 00h00

Informações

“Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!”. As palavras ditas em discurso no Congresso pelo recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva são simbólicas acerca da participação do passado e do futuro no presente. O ciclo ditatorial na América Latina, entre as décadas de 1960 e 1980, produziu feridas que não se calaram totalmente, de modo que a existência de tensões entre ministérios, figuras públicas na constante rememoração da ditadura mostra que os usos que fazemos do passado dependem de diferentes vertentes, que procuram se sobrepor uma às outras. Discussão semelhante sobre o modo como as disputas em torno da chamada “brasilidade” geram dilaceradas disputas sobre o que se compreende como passado, presente e futuro, nos chegam de movimentos sociais organizados. A efetivação da lei de cotas raciais, por exemplo, é fruto de um debate nacional sobre o passado: a manutenção de políticas afirmativas mostra um espaço de posicionamentos sobre a identidade, o passado e, também, as expectativas para o futuro.
Diante disso, o XI EPHIS tem como objetivo refletir sobre as disputas presentes nas narrativas que constituem a história - tanto em sua escrita, quanto em sua constituição e divulgação -, sobretudo em virtude da nostalgia e suas concepções: sua definição, seus sentimentos derradeiros, a idealização dos passados e a formação - e os desafios em si inscritos - de identidades. Por conta desse viés, a identidade visual que circula nesta edição é uma aquarela, cuja água assume uma forma de contorno e de espontaneidade. A dialética das cores, que disputam espaço entre si, mostra a polaridade de elementos que interagem, formando uma síntese: o pensamento inventivo, em um ícone genuíno, traz a aquarela a um processo metalinguístico e de autorreflexão, a partir de uma linguagem poética.
O fundo identitário das questões referenciadas está vinculado à noção de consciência histórica, que procura compreender as comunicações entre identidade pessoal e coletiva, a memória e, enfim, tentativas de intervir no mundo. Disso são derivadas reflexões interessantes sobre a divulgação do conhecimento histórico, a presença do passado, o condicionamento do futuro pelas soluções presentes, a relação entre o tempo e a imagem que produzimos de nós mesmos etc. Os últimos anos não foram convidativos à crença num futuro otimista, e a nostalgia, embora sempre tenha sido coextensiva, se mostrou mais latente. Dentre muitas definições, esse termo pode revelar uma nova compreensão do tempo, contrário à noção de progresso e que, portanto, relativiza a crença na história, como se o conhecimento sobre ela não determinasse o caráter progressista do sujeito - o que não retira inteiramente seu caráter prospectivo. Assim como há narrativas em disputa na própria escrita do conhecimento histórico, a concepção de nostalgia se coloca em um espaço de conflitos que, caso não seja alvo de reflexões e críticas, permite apropriações perigosas do passado, confundindo-o como o lar imaginado e verdadeiro - mas o que é ser verdadeiro? A nostalgia como uma restauração da tradição procura defender uma verdade que se aparenta absoluta, mas enquanto fruto da saudade e dos sentimentos mais humanos, é preciso questioná-la como algo que se acentuou na modernidade. Nessa perspectiva, quais seriam os desafios éticos em conceber temporalidades distintas e reivindicar espaços, assim como encontrar a coletividade na memória individual?
Esta, constituída em grande parte pela história própria, em conexão à coletiva, é um lugar em que agentes sociais entram em combate constantemente e, dessa forma, o ensino de história também se integra às narrativas em disputa e às dinâmicas das identidades - com suas implicações e exigências. Docentes da área, então, são intelectuais capazes de identificar formas de articulação das experiências individuais com os conteúdos escolares e, com isso, assessorar a compreensão do tempo e da identidade. Cabe refletirmos, assim, acerca das funções delegadas ao ensino de história ao longo de sua historicidade e, também, seus impactos na constituição da própria disciplina. A nostalgia, como retomada de um passado idealizado, seria um objeto de estudo ideal - se colocada em debate nas escolas - que nos permitisse entender como o passado é interpretado a serviço de um futuro almejado? Seria pretensioso não pensar que a história pode intervir no futuro?
Justamente por reconhecer a impossibilidade de se retornar ao passado tal qual ele foi que se narra uma relação entre passado e presente: é a partir da desfamiliarização e, ao mesmo tempo, da saudade, que o passado retira sua vitalidade e pode se mostrar presente. A nostalgia se baseia na separação entre o passado e o presente, nos moldes ocidentais. A história, por um lado, só se configurou como disciplina por conta disso: o sujeito do presente fala do passado de forma autocentrada, mas a própria existência da história dos dias atuais questiona a tensão entre passado e presente, colocando em voga que o próprio presente é um tempo passível de historicização. O que pode se abrir como uma possibilidade quando o passado não se torna presságio à luz do presente, mas sim uma energia potencial? Até que ponto a nostalgia, no ofício historiográfico, pode ser símbolo de vitalidade ou, então, um veneno?
A historiografia do século XIX, muito marcada pela noção de progresso, frequentemente concebeu a nostalgia como um prejuízo à promessa de um futuro próspero. Se agarrar ao passado impediria aos cidadãos seguir em frente, assim como a idealização de um passado e sua representação na historiografia colocaria a realidade em um estágio de hostilidade. A exportação de tais concepções vindas da consciência histórica ao mundo não-ocidentalizado, por exemplo, pode procurar absolutizar o passado histórico, no sentido de inviabilizar concepções abertas sobre a sua definição, ou inferioriza brutalmente civilizações que dependem de narrativas mitológicas para a constituição de seus entornos culturais. Criticar a ideia da “História” em si mesma, bem como refletir sobre a historicidade do trabalho do historiador, é essencial para que se perceba a violência que marcou a constituição disciplinar da história no mundo ocidental, sobretudo a partir de sua instrumentalização pelos Estados-nações da modernidade.
O EPHIS, tradicionalmente, é um evento organizado por discentes da graduação e dos programas de pós-graduação da UFMG, que procura fomentar diálogos entre pesquisadores de todos os níveis. Assim, espera-se que a XI edição possa contribuir com a manutenção da produção, divulgação e troca de conhecimentos e experiências. A comissão organizadora se coloca à disposição nos seus meios de comunicação, inclusive no site do evento. Nos encontramos em um futuro próximo.

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