SESSÃO DE COMUNICAÇÃO 3 – TEORIA E TRADUÇÃO DA LITERATURA

 

O ZOO É POLÍTICO: O DESLOCAMENTO ANIMAL-HUMANO NAS NARRATIVAS BREVES DE FRANZ KAFKA

 

Giulia Castro Pavão

 

Resumo: Diante das recorrentes figuras animais presentes nas pequenas narrativas de Franz Kafka, somos desafiados a interpretar os múltiplos sentidos de sua representação como alteridade animal e seus possíveis efeitos estéticos – e éticos. Para além das tradicionais tópicas metafóricas, simbólicas ou alegóricas, a investigação de poéticas modernas da animalidade revela-se como uma via privilegiada para refletir sobre preocupações de ordem ecológica que têm afetado a sociedade contemporânea. Tendo como premissa a tomada de consciência mais efetiva dos problemas ético-políticos que envolvem as espécies coabitantes, pretende-se examinar o modo como o horizonte ficcional kafkiano engendra e coloca em questão os limites e os fluxos entre o humano e o não humano. Com base em reflexões de Jacques Derrida e de Walter Benjamin sobre as obras de Kafka, bem como sobre a animalidade e a tradução, pretende-se discutir como esse impasse pode ser capaz de ressignificar, a partir da textualidade ficcional, a relação humano-animal, concebendo um novo trato da animalidade. Será investigado, ainda, em que medida precisamente o confronto entre obra original/traduzida pode fazer despontar ambivalências da representação animal, a partir de uma seleção de narrativas breves, dentre as quais, “A Construção” (Der Bau), “Um Relatório para a Academia” (Bericht für eine Akademie), “Um Cruzamento” (Eine Kreuzung) e “O Abutre” (Der Geier). As contribuições teóricas e críticas desta tese abrangem também perspectivas do pós-humanismo e dos Estudos Animais, por operarem descentramentos de gênero, espécie e papéis sociais, dentre outras pautas da interseccionalidade. Este projeto vincula-se ao Grupo de Pesquisa Viagens: entre literaturas e culturas, sob orientação da professora Susana Kampff Lages.

Palavras-chave: Literatura. Franz Kafka. Estudos animais. Tradução literária.

 

 

TRADUÇÃO COMENTADA DO POEMA "GIRL SOUP" DE SAWAKO NAKYASU

 

Thauane Cristine Cardoso de Souza

 

Resumo: O presente trabalho apresenta a nossa tradução comentada do poema “Girl Soup”, escrito em inglês pela tradutora e poeta japonesa, Sawako Nakayasu, a fim de refletir sobre as influências e impactos que circundam o texto tanto de partida, quanto de chegada. A escolha do objeto em análise se deve às suas inúmeras camadas quando posto em comparação ao traduzido, sejam diferenças culturais, sejam linguísticas, uma vez que há diversidade entre as línguas. Isto provoca, por sua vez, uma leitura participativa e realça ainda mais as discussões com relação à fidelidade, à possibilidade e à traduzibilidade poética. Nesse sentido, serão analisadas teorias de tradução poética a partir da perspectiva de Jakobson (1975), Octavio Paz (2009), Campos (2004) e Britto (2012). O trabalho inicialmente foi proposto em uma atividade da disciplina de Introdução aos Estudos da Tradução, oferecida pela professora Carolina Paganine no segundo semestre de 2019. A partir disso, o poema “Girl Soup” foi escolhido por ter como tema o mundo feminino em analogia a uma sopa cheia de meninas, levando-nos a refletir sobre temas feministas. A finalidade do projeto em questão é demonstrar teoricamente situações que aparentemente não têm solução e como, de formas variadas, podemos contorná-las, com apoio de teorias da tradução propostas pelos teóricos anteriormente citados, tendo como principal norte uma tradução que atendesse a uma adaptação para a cultura de chegada. Por isso, desde o início, a tarefa foi adaptar os termos coloquiais do poema original, pois tínhamos como objetivo provocar no leitor uma experiência semelhante na leitura e no  estranhamento do texto, reconhecendo as expressões cotidianas e se incluindo na problemática apresentada.

Palavras-chave: Tradução poética. Fidelidade. Domesticação. Sawako Nakayasu.

 

 

PELA HONRA DA FIDELIDADE: NOVA SHE-RA E OUTRAS TRADUÇÕES

 

Júlia Alves Santana

 

Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar as duas versões dos desenhos animados She-ra considerando o tempo em que cada produção foi feita e seus diferentes objetivos. Olhando as duas versões como traduções: uma como uma adaptação de He-man para o público feminino, a outra como outra versão da primeira. Baseando-se em teorias da tradução de Arrojo (2007) e sobre estudos de gênero, busca-se refletir sobre questões relacionadas a gênero e sexualidade nessas animações e pensar um pouco sobre a questão da fidelidade de uma adaptação. No ano de 2018, a Netflix produziu e disponibilizou o desenho She-ra e as princesas do poder. Como uma nova versão do desenho She-ra, a princesa do poder, a produção possui aspectos que o diferenciam já nos primeiros episódios do texto-base. Este trabalho pretende, então, debater sobre as representações de gênero e de personagens LGBT+ na animação observando as duas produções e como as diferentes épocas nas quais foram criadas e seus objetivos podem ser impactantes na obra. A personagem She-ra mantém sua essência nas duas produções. O desenho consiste numa humana normal chamada Adora que, ao empunhar sua espada mágica e falar as palavras mágicas “Pela honra de Grayskull”, se torna a super-heroína She-ra, dotada de habilidades mágicas como super-força e resistência. Com seu poder, She-ra se une à resistência contra a Horda do mal. Uma diferença marcante é que não existe He-man no universo da nova She-ra e, portanto, ela nasce mais livre do que a antiga. Sem o referencial de “irmã do He-man”, a nova She-ra é por si só e passa a dividir seu protagonismo não mais com o homem que veio antes, mas com suas amigas princesas. Essa mudança é perceptível no título e também nas diferentes representações de personagens femininas e, mais adiante na série, representações LGBT+. Utilizando She-ra como objeto principal, espera-se compreender um pouco mais sobre fidelidade em adaptações e diferentes posições para a inserção de grupos minoritários em novas traduções como a pequena sereia interpretada por Halle Bailey no Live-Action anunciado da disney ou a Sininho por Yara Shahidi no novo filme do Peter Pan.

Palavras-chave: Adaptação. Tradução. She-ra.

 

 

RELEMBRAR O PASSADO E PROJETAR UM FUTURO: AS DISTOPIAS NO TEMPO PRESENTE

 

Inês de Souza Oliveira

 

Resumo: O presente trabalho pretende elaborar considerações a respeito do fenômeno cultural do apreço pelas distopias nos tempos atuais. Neste momento do capitalismo, em que as mudanças climáticas impõem uma reflexão aprofundada sobre o futuro da humanidade, faz-se necessário pensar como a arte tem retratado esse tema e que respostas essas representações são capazes de provocar na sociedade de hoje. Parte-se de uma análise do porquê de tal tipo de narrativa ter chamado tanta atenção, e de qual tipo de relação a projeção de um futuro distópico pode estabelecer com o passado e com a história. Apesar de seu aparente engajamento ao explorar os trágicos rumos possíveis para a humanidade dentro do capitalismo, é possível perguntar se essas narrativas produzem realmente um efeito questionador ou se, contraditoriamente, nos acostumam com a ideia de fim do mundo e contribuem para a ideia de que não existe alternativa ou possibilidade de mudança dentro do sistema econômico atual. Para estruturar esse primeiro momento da análise, os autores contemporâneos Mark Fisher, Susan Buck-Morss e Yuval Noah Harari compõem os referenciais teóricos abordados. Em um segundo momento, faz-se importante questionar qual atitude podemos ter frente a esse movimento projetivo, e a importância de elaborar o passado a fim de poder pensar em um futuro para a humanidade que não tenha a conotação catastrófica geralmente apresentada pelas distopias. A partir da série Years And Years, produzida pela BBC lançada em 2019, analisaremos a relação que o futuro narrado na série pode estabelecer com a história da Europa, em especial os campos de concentração nazistas, descritos no livro-testemunho do escritor judeu-italiano Primo Levi. Com base no pensamento de Walter Benjamin e de Jeanne Marie Gagnebin, uma importante estudiosa da obra do autor, trataremos do conceito de História e a sua importante implicação para as pessoas presentes. Assim, o trabalho pretende uma articulação entre os movimentos de pensar o passado e elaborar possíveis futuros, na esperança de que congregando esses movimentos se possa projetar um destino não tão distópico para a humanidade.

Palavras-chave: Distopias. Séries. Literatura. História.

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