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A Desdualização da Alfabetização: Um Mergulho na Alfabetização Integral
De 6 até 9 de Novembro de 2024
Ao longo da história, a alfabetização em nosso país foi frequentemente confinada a dualidades: analítico versus sintético, construtivismo versus método tradicional, global versus fônico. Cada método se apresentava como a única via de acesso ao universo letrado, desconsiderando a riqueza de caminhos que conduzem à aprendizagem.
Na prática, contudo, a alfabetização ocorre de maneira fluida e dinâmica. Embora comece pelas letras e envolva a reciclagem neural das partes das letras, como demonstram as recentes pesquisas em neurociência cognitiva da leitura (Dehaene, 2012), rapidamente integramos essas letras aos fonemas, sílabas, morfemas e aos diversos gêneros e tipos textuais. Tudo isso está ancorado no universo das palavras, que são as unidades mínimas de significado da língua. É como se a criança, ao se alfabetizar, explorasse um caleidoscópio, descobrindo a cada giro novas formas e cores que se complementam e se transformam.
A alfabetização integral, em sua essência, transcende a dicotomia artificial que a confinou por tanto tempo ao reino do "ou isto ou aquilo". Como nos ensina Cecília Meireles em seu poema (Meireles, 1964), a criança não precisa escolher entre a chuva e o sol; ela merece a plenitude de ambos, a riqueza de nuances que compõem a experiência da leitura e da escrita.
A desdualização da alfabetização não nega a importância de cada método ou abordagem. Pelo contrário, reconhece o valor de cada um como peças de um quebra-cabeça maior. É a união dessas perspectivas, em um diálogo profícuo e respeitoso das diferenças, que permite construir um processo de alfabetização rico, significativo e inclusivo. Esse processo não é uma fórmula mágica ou limitante, mas uma construção contínua e dinâmica. É um compromisso com a escuta atenta, o diálogo respeitoso e a valorização tanto da ciência quanto da riqueza humana na diversidade.
Nesse contexto, a desdualização da alfabetização é um movimento que busca superar as dicotomias tradicionais e construir um processo de alfabetização mais completo, dialógico e inclusivo. Ao valorizar a diversidade, a integração e a colaboração, essa perspectiva contribui para a formação de leitores críticos e autônomos. É um processo contínuo de construção e reconstrução, que se fortalece com a pesquisa, a troca de experiências e a construção cooperativa de saberes, sempre visando o avanço contínuo da prática pedagógica, reconfigurada a cada encontro singular entre professor e aluno (Naschold, 2017).
Para visualizar a alfabetização de forma integral, é fundamental que o ensino da língua materna integre as evidências das lições da experiência que a educação, uma das ciências mais antigas, nos proporcionou ao longo do tempo. Dentre essas antigas lições, está a consideração prioritária, tanto na formação dos professores alfabetizadores quanto na sua prática, da necessária conexão com a vida e a realidade das crianças, suas famílias e comunidades, através de uma pedagogia emancipadora que nos projete nos rumos da democracia (Freire, 2014). Em um mundo pós-pandemia, é urgente e inadiável humanizar nossas ações de ensino, pois apenas assim evitaremos um retrocesso à barbárie. Essa humanização é crucial para assegurar uma convivência verdadeiramente humana e fraterna neste extraordinário planeta.
Por tudo isso, a 10ª Jornada Internacional de Alfabetização acolhe como tema para 2024 a “Desdualização da Alfabetização: um mergulho na Alfabetização Integral”. Já é hora de trilharmos esse caminho!
Referências
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura. Porto Alegre: Penso, 2012.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo, Editora Paz e Terra, 2014.
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Ilustrações de Maria Bonomi. São Paulo: Giroflé, 1964.
NASCHOLD, Angela Chuvas. O enigma: por que as crianças não aprendiam a ler? Natal: EdUFRN, 2017.
6 de novembro de 2024, 00h00 até 9 de novembro de 2024, 00h00
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