Não obstante a persistência do vínculo entre memória e tempo, quando se trata de examinar a memória da cultura, as linhas sincrônicas se embaralham e a dimensão pancrônica espacial-
contínua torna ineficiente qualquer alinhamento sintagmático. Para examinar esse desvio epistemológico poderíamos redirecionar o pensamento para a epígrafe que anuncia o presente encontro, bem
como o texto de sua chamada, pleno de metáforas espaciais sustentadas por distintas “paisagens sonoras”. Contudo, o que se propõe neste trabalho é a análise de uma lei semiótica da memória tal como formulada por Iúri Lótman. Segundo seu entendimento, aquilo que passa com o tempo não é aniquilado mas sim conservado e a dinâmica da cultura se encarrega de revisitar constantemente seu patrimônio e monumentos. Embora esse funcionamento seja confundido com memória, Lótman entende que o papel da memória não é funcionar como depósito. O traço marcante de sua constituição é o seu funcionamento de atualização de modelos ou paradigmas relegados ao esquecimento graças à dinâmica de seus códigos culturais. Isto porque cair no esquecimento não significa deixar de existir mas deixar de produzir sentidos por falta, muitas vezes, de códigos adequados. Nesse sentido, a memória da cultura opera no sentido de intensificar a produção de códigos capazes de traduzir,atualizar e gerar novos mecanismos de sentidos. No limite, se trata de gerar novas informações – tais como os códigos processados em circuitos eletrônicos digitais na cultura contemporânea.

Mediação: Mônica Nunes

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