O cinema é tomado como campo de pesquisa com a infância, pela via da imersão fílmica com o longa-metragem Onde fica a casa do meu amigo?, filme iraniano que marca um momento de mudança econômica, social, cultural e política da Revolução Iraniana de 1979. A partir da potencialidade das imagens em tocarem o real, a proposta de imersão atencional nas imagens cinematográficas se deu com base na etnocartografia de tela, um método-processo de não-apreensão das imagens, mas de pouso em elementos cinematográficos, relações, narrativas que saltam ao pesquisador em exposição repetida ao seu campo de pesquisa, gestando uma outra atenção e trato com as imagens. Com o objetivo de produzir reflexões e sensibilidades a partir da investigação das imagens e narrativas do filme, destacou-se a multiplicidade de um devir-criança quando confrontada em sua condição de alteridade extrema, adensando uma dupla estrangeiridade ao se considerar a infância iraniana que se apresenta no filme. Junto a autores Georges Didi-Huberman, Walter Kohan, Gilles Deleuze, Frédèric Grós e Jorge Larrosa, buscou-se fazer emergir a subversão que a infância produz através do que é afirmado menor em si: sua abertura emocional e suas desobediências, em especial ao olhar para sua produção em países descentralizados, do Sul global. Nessa infância como experiência limite, apostou-se na potencialidade da linguagem cinematográfica, ali onde as imagens infantes fazem emergir outros modos de experenciar o mundo, onde se tem a produção de uma abertura com a infância. O pensamento que se faz com o devir-criança, buscou desnaturalizar, rachar um dado governo da infância, questionando o que se entende dessas infâncias, de sua condição limite (do humano, da linguagem). Na aposta do cinema como um campo de pesquisa múltiplo, a tecitura cinematográfica-conceitual com Ahmad fez emergir outros modos de experienciar o mundo, a infância, o fazer-pesquisa que se apresenta aqui.

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