Ministrante: Acauam Silvério de Oliveira

As chamadas estéticas periféricas (black music, rap, funk, etc.) surgem no cenário musical brasileiro trazendo para seu interior um proceder ético e estético radical de onde emergem sujeitos, temas e formas que seriam responsáveis por ressignificar diversos dos códigos por meio dos quais parcela significativa da música popular aprendeu a se reconhecer - seja por meio de processos de neutralização de aspectos até então tido como fundamentais, revelando condicionamentos ideológicos mais profundos, seja por meio da potencialização de forças que permaneciam latentes.

A partir de um contexto social absolutamente adverso, mas munido com as armas próprias à cultura hip hop e a sabedoria ancestral do movimento negro atualizada na caminhada dos novos sujeitos marginais, a periferia foi capaz de viabilizar a existência de um conjunto de obras dotadas de grande qualidade artística, radicalidade política e posicionamento crítico sem concessões, algo que só iremos encontrar na melhor produção intelectual do país. O feito torna-se ainda mais impressionante ao considerarmos que, pelas possibilidades reais que o país oferece à população negra e pelo modo como se organizam suas instituições – espécie de ‘campo de extermínio a céu aberto’, na imagem precisa do Facção Central - um fenômeno como esse jamais deveria existir.

Trata-se, pois de um verdadeiro acontecimento, no sentido filosófico do termo: um evento que modifica as coordenadas pelas quais a música popular brasileira tradicionalmente se reconhece, ressignificando todo o tecido sociocultural ao conferir materialidade a uma voz, a rigor, impossível dentro dos padrões discursivos existentes. Avesso negro do mesmo lugar.

A partir de um conjunto amplo de perspectivas e temporalidades diversas, o curso pretende recuperar algo da radicalidade desse acontecimento cujos efeitos se fazem sentir, real e virtualmente, em múltiplas direções. Que novas vozes são essas e como dotam a si mesmas de materialidade? Quais possibilidades emergem no presente a partir da originalidade de sua articulação estética? Quais são seus principais desafios, ontem e hoje? Como sua emergência instaura novas possibilidades de inserção no futuro e o que fazer para viabilizar (ou perder de vez) seu potencial utópico? Esse conjunto radical de mudanças e possibilidades outras de formas de ser implica também em reconhecer aquilo que no passado luminosamente se ocultava à vista de todos, ou seja, nos saberes inscritos na radicalidade negra da existência, de cuja negação depende, em grande medida, a consolidação do Brasil enquanto nação – sua finalidade e seu fim.

Ao longo das aulas serão apresentados conceitos teóricos e aspectos históricos, além da análise de músicas, clipes e materiais audiovisuais diversos.

Aula I: MPB e a crise da civilização brasileira

- Fim da canção ou fim da nação?

- Música, resistência e mercado

- Mas, afinal, existe MPB?

Aula II. A fúria negra do rap nacional

- Hip hop, cultura de rua

- A emergência do sujeito periférico

- Nova escola, velhos desafios

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