Compreender uma coisa, ou conceito, implica a necessita-se de conceitos bem familiares e bem conhecidos para que, a partir deles, se possa entender algo desconhecido. A essência do processo de aprendizagem significativa é que as idéias expressas simbolicamente devem ser relacionadas às informações previamente adquiridas pelo aluno através de uma relação não arbitrária e substantiva (não literal). Contudo, como os temas de Mecânica Quântica estão muito afastados de nosso senso comum e, na maioria das vezes, não se pode mais utilizar conceitos que são familiares. Tal fato inviabiliza o ato de compreender conforme descrito anteriormente, gerando um sentimento de ausência de realidade. Dito de outra forma, em Mecânica Quântica, pode-se passar a impressão que toda explicação e descrição envolvidas nessas teorias são apenas artifícios matemáticos desprovidos de realidade. Na ausência de um referente real, direto, acreditamos que a compreensão dos conceitos quânticos deve começar com uma reflexão epistemológica. Em particular acreditamos que a epistemologia de Mário Bunge vem a ser neste caso, a mais indicada para tornar plausível o processo de compreensão de teorias com alto grau de ausência de subsunçores. Segundo Mário Bunge, as três “entidades” necessárias para tal são: objeto-modelo, teoria geral e modelo teórico. Um objeto-modelo é uma representação de um objeto, ora perceptível, ora imperceptível, sempre esquemático e, ao menos em parte, convencional. Ao inserirmos um objeto-modelo em uma teoria geral, criamos um modelo teórico que, segundo Bunge pode ser definido como um sistema hipotético-dedutivo que concerne a um objeto-modelo, que é, por sua vez, uma representação conceitual esquemática de uma coisa ou de uma situação real ou suposta como tal. Neste mini-curso veremos na prática como se pode contextualizar, via epistemologia de Mário Bunge, sistemas quânticos que para muitos estudantes não passam de matemática desprovida de realidade sem nenhum significado físico. Resolveremos n-elétrons harmonicamente interagentes (n = 2 até 10) confinados em um poço parabólico e faremos uma reflexão epistemológica acerca dos resultados no intuito de torná-lo compreensível.

Autor: JOSE FRANCISCO DOS SANTOS