A VI Edição do Colóquio Internacional de Diálogos Sul-Sul vem com novidades. Nesse ano, ele vai se realizar pela primeira vez em um território de povos indígenas: o território do Povo Tembé Tenetehar da Terra Indígena do Alto Rio Guamá (TIARG) – Aldeia Zawara Uhu, localizado no Município de Santa Luzia do Pará/Brasil. Esse evento vai ocorrer no período de 29 e 30 de novembro a 01 de dezembro de 2023, de forma híbrida (presencial e online). E tem como tema central: "Território, Saúde, Cultura e Educação na Perspectiva dos Povos Amazônidas". Assim, pedimos licença aos povos originários e tradicionais das Amazônias para realizar mais essa edição do Colóquio Internacional de Diálogos Sul-Sul em território amazônico ancestral.

Nessa VI edição do colóquio, o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da Universidade do Estado do Pará (UEPA), em articulação e parceria com outras universidades públicas e instituições do poder público e com os movimentos sociais: indígenas, negros/quilombolas, riberinhos, camponeses, e de mulheres, vem ampliando e fortalecendo a rede Sul-Sul de diálogos para a promoção de mais um colóquio, agora, tendo como palco anfitrião a Aldeia Zawara Uhu da Terra Indígena Alto Rio Guamá. Isso marca um processo de relação e de diálogo entre universidade e esses povos e movimentos sociais das Amazônias como um relevante caminho a ser trilhado de aprendizado partilhado e reciproco, a fim de enfrentar e superar a lógica hegemônica eurocêntrica de universidade, de ciência e de pesquisa que concebe esses sujeitos e seus territórios como meros “objetos de pesquisa”. A universidade tem uma importante responsabilidade pública, social, mas precisa dialogar com esses povos sob uma outra perspectiva: decolonial e intercultural.

Nestes termos, após um período desafiador de pandemia e de um governo no Brasil, marcadamente autoritário, que contribuiu tanto para recrudescer essa crise sanitária, quanto a crise democrática, social, ambiental, desmontando e negando direitos socioambientais e socioterritoriais, afetando sobretudo as classes e grupos sociais subalternizados, em particular os povos e comunidades tradicionais das Amazônias. Não obstante os conflitos na região amazônica sejam históricos, contudo, no governo populista de extrema direita de Bolsonaro, esse foi um contexto de “incendiar” a Amazônia em diversos sentidos. Se uma frente ampla democrática, liderada pela esquerda, foi vitoriosa no Brasil, dando uma importante guinada em defesa da democracia e de assumir compromissos com temas caros para o país, para a América Latina e para mundo (como a crise climática), os desafios continuam postos para inscrever os caminhos de civilização para a humanidade e povos das amazônias, as universidades, a ciência, a educação têm papel crucial nesse tecer urgente do presente e futuro!

No Brasil a Terra Indígena do Alto Rio Guamá (TIARG) se localiza no Nordeste do Estado do Pará, entre a margem direita do Rio Guamá e a margem esquerda do Rio Gurupi, no limite com o Estado do Maranhão. A TIARG abrange o território dos municípios paraenses de Nova Esperança do Piriá, Paragominas e Santa Luzia do Pará; e fazendo fronteira com os municípios de Garrafão do Norte, Capitão Poço e Cachoeira do Piriá. O Território da TIARG abrange 279.892 mil hectares, com aproximadamente 1.727 indígenas da família linguística Tupi-Guarani, pertencentes aos povos Guajá, Ka’apor e Tembé. Diferente dos Guajá e Ka’apor, que utilizam o mesmo termo para designar o povo e a língua, a língua dos Tembé é denominada Tenetehar.

A Ramada é o principal centro cultural e político de reunião entre os indígenas Tembé onde se encontram para as festas, rituais, cerimoniais e assembleias. As lideranças e a comunidade realizam diariamente reuniões na Ramada para debater e decidir os melhores caminhos para que a aldeia viva em harmonia interna, tanto em relação às temáticas dos saberes tradicionais, da língua, do território, dos rituais e do cotidiano. As questões externas como a melhoria da infraestrutura da aldeia, acesso aos serviços públicos de educação, de saúde, de transporte, do conhecimento da sociedade envolvente e de relação interétnicos com os não indígenas, ao ser cobrado por algum cargo ocupado na aldeia ou que afete a comunidade ou a participação dos rituais Tenetehar são discutidas na Ramada.

Na Ramada acontece a principal expressão dos saberes culturais e educacionais Tembé é a Festa do Ritual do Mingau e do Moqueado Tenetehar que é a passagem dos adolescentes à vida adulta guerreira comunitária, por meio das narrativas mitológicas oralizadas, das espiritualidades, das cantorias, das danças, dos grafismos corporais e das alimentações sagradas. O rito reafirma os saberes filosóficos e educacionais da memória ancestral em geração através dos anciões no fortalecimento e resistência Tembé, ao desvelar um sujeito para o bem viver, que protege a Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG).

Na VI edição do Colóquio Internacional Diálogos Sul-Sul, teremos alguns aspectos na organização do evento, a começar pelo espaço: contaremos com duas plenárias, que na linguagem indígena Tembé Tenetehar, chamaremos de “Ramadas”, onde acontecerão as atividades de diálogos (mesas e círculos de conversações). Outra “Ramada" será o espaço de alojamento e convivência. Os círculos de conversação acontecerão nas “Ramadas” seguido de socialização das discussões e diálogo com a mesa de conversação. Os momentos artístico-culturais acontecerão no decorrer do evento com a participação dos povos, comunidades tradicionais e movimentos sociais populares, seja nos intervalos, seja nos momentos específicos.

Data do evento

29 de novembro de 2023, 15h00 até 1 de dezembro de 2023, 22h00

LOCAL DO EVENTO

Alto Rio Guamá - Aldeia Zawara Uhu, Santa Luzia do Pará - Pará

Transmissão online via www.youtube.com