EIXOS TEMÁTICOS

EIXO 1 – URBANIZAÇÃO E CIDADES: DINÂMICAS E TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Provocado pelo tema geral da décima edição do evento, o Grupo de Trabalho de Geografia Urbana, fundamentado em um viés crítico da Geografia, reflete sobre o avanço do capital na produção do espaço urbano na Bahia, o que requer uma perspectiva escalar em relação às dinâmicas mais amplas do Brasil e da América Latina. A reestruturação econômica (Soja, 1993), iniciada na década de 1970, intensificou rupturas sociais, econômicas e culturais, transformando profundamente as dinâmicas urbanas, tanto na escala intraurbana quanto interurbana. Essas mudanças estruturais tiveram como base o neoliberalismo, primeiro como doutrina econômica (Harvey, 2011) e, posteriormente, convertido em racionalidade (Dardot & Laval, 2016), moldando a forma dos sujeitos sociais de perceber, ser e estar no mundo, ao regular as práticas dos citadinos e do poder público, enraizando-se, inclusive, nas subjetividades populares (Gago, 2018). Essa razão neoliberal se expressa como uma tecnologia de administração de territórios, populações e recursos naturais, ordenada, também, por uma lógica de supremacia branca (Mbembe, 2018). Na conjuntura latino-americana, o processo de urbanização passou por uma modernização tardia, incompleta e híbrida ao longo do século XX, sem assimilar integralmente os valores modernos (Martins, 2000), resultando em espaços e práticas representativos do circuito inferior da economia urbana (Santos, 1979) e em processos de favelização das periferias. As imensas desigualdades socioespaciais, herdeiras do passado colonial escravista, acentuam-se no contexto neoliberal do final do século XX, desafiando a imaginação geográfica a refletir sobre uma nova organização do espaço urbano (Lindón, 2006), marcada pelo aprofundamento da desigualdade e da diferenciação (Chetry, 2014), que historicamente caracterizam a cidade latino-americana, sobretudo no caso de países como o Brasil, periferia do capitalismo. As formas urbanas que emergem desse processo derivam de uma trajetória social, econômica, étnico-racial, política e cultural, na qual a diferenciação e a desigualdade são latentes em sua dimensão constitutiva. De fato, há uma combinação e continuidade de processos iniciados com a industrialização fordista e aprofundados no neoliberalismo, com singularidades no modo de produzir e, portanto, de compreender a cidade contemporânea, exigindo um novo referencial teórico-conceitual e metodológico. Tal compreensão, requer um esforço na articulação entre as causas e condições atuais do processo de urbanização e as formas espaciais resultantes, ainda que essas mesmas formas sejam, dialeticamente, também um ponto de partida. Nesse sentido, o GT propõe um debate comparativo e crítico sobre a urbanização baiana, articulada com os contextos nacional e latino-americano, destacando tanto os desafios impostos pelo capital quanto as formas de resistência. Serão bem-vindas propostas que abordem cidades de diferentes níveis hierárquicos na escala da rede urbana e que resultem de pesquisas (concluídas e/ou em andamento). Os trabalhos podem tratar, dentre outros, dos seguintes temas sugeridos: i. Financeirização e produção do espaço urbano, analisando as práticas dos agentes imobiliários, a especulação fundiária, planejamento urbano, o consumo e o papel do Estado; ii. Reestruturação produtiva, periferias e territorialização do capital, considerando a expansão territorial urbana, a execução de grandes projetos e implementação de produtos imobiliários (habitats, shopping centers, centros logísticos, de distribuição e etc.), infraestrutura, dinâmicas periféricas e impactos urbano-regionais; iii. Periferização, gentrificação, fragmentação, consumo e lógicas econômicas das cidades, refletindo sobre novas relações de centralidade, condição urbana periférica, fenômeno turístico, requalificação e a insegurança urbana; iv. Racismo, periferias e segregação socioespacial, abordando a necropolítica, desigualdades raciais no acesso e uso do espaço citadino, racismo ambiental e urbanização periférica; v. Movimentos socioespaciais/socioterritoriais e direito à cidade, destacando lutas por moradia, regularização fundiária, resistência à privatização do espaço, enfrentamento ao neoliberalismo e questões de violência e segurança pública. As propostas não se restringem a esses tópicos, sendo consideradas outras contribuições que dialoguem com a ementa do GT.

EIXO 2 - GEOGRAFIA AGRÁRIA, MUNDO RURAL E A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAMPO

O mundo rural sofreu profundas transformações com o avanço do processo de “modernização” do campo, a partir da segunda metade do século XX. Um processo que foi impulsionado pela industrialização da agricultura e que se complexifica nos tempos atuais da financeirização. Tal processo, não somente alterou a relação campo-cidade e a dinâmica da produção do espaço agrário, mas também aprofundou as suas contradições e conflitos. Novas formas de apropriação privada dos bens naturais, de grilagem e de usurpação das terras públicas se juntam a questões históricas ainda não resolvidas no campo, como a concentração fundiária e a precarização do trabalho (por vezes, em condições análogas ao trabalho escravo). A produção de commodities avança sobre os territórios da produção e reprodução da vida dos povos e comunidades do campo, das águas e das florestas. Comunidades Indígenas, de Fundo e Fecho de Pasto, Quilombolas, Pescadoras e Pescadores, Marisqueiras, Geraizeiros(as) Posseiros e todas as formas de expressão do campesinato, em sua unidade e diversidade, têm suas terras e territórios ameaçados pelo avanço das diversas frentes do capital: especulação imobiliária, empreendimentos turísticos imobiliários, grandes projetos de infraestrutura, parques eólicos e solares, mineração, monocultivos, celulose, entre outros. O discurso do “agro” como impulsionador do desenvolvimento e do progresso se impõe, enquanto se observa a destruição da natureza, por meio de queimadas e desmatamentos dos Domínios Morfoclimáticos Amazônicos, da Caatinga, do Cerrado, dos Mares de Morro, das Pradarias e das Araucárias e a produção de commotidies e alimentos com veneno. Ao mesmo tempo, insurge uma diversidade de lutas e resistências camponesas e de produção da vida por meio das pautas da Reforma Agrária, Soberania Alimentar, Agroecologia, Educação do Campo, Feminismo Camponês, Justiça Climática, dentre outras. Nesse contexto, o GT de Agrária da AGB – Santa Inês convida a todas e todos que pesquisam o Mundo Rural, a Relação Campo-Cidade, a Questão Agrária, o Agrohidromineronegócio, Transição Energética, Povos e Comunidades Tradicionais, Organizações e Movimentos Sociais Rurais, Reforma Agrária, Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional, Agroecologia, Agricultura Familiar Camponesa, Segurança Hídrica, Justiça Climática e diversas formas de lutas e resistências populares, violências e conflitos territoriais no campo, a contribuir com seus trabalhos neste espaço de diálogo.

EIXO 3 - HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E GEOGRAFIA HISTÓRICA DA BAHIA

Este eixo temático abarca proposições que contemplem perspectivas sobre os processos históricos e sociais que fundamentaram a institucionalização da Geografia em escala global, bem como as particularidades da Geografia brasileira e baiana. Isso pode ocorrer a partir de uma análise de sua formação e consolidação como pensamento autônomo, das contradições e complementaridades entre conhecimento científico, conhecimentos geográficos, saberes populares e saberes marginais, assim como pelas possibilidades de interação com outros campos do conhecimento, como na relação entre Geografia e o pensamento social brasileiro. Serão também abordadas questões relacionadas à institucionalização da Geografia, à Geografia escolar e universitária, aos discursos oficiais, às sociedades geográficas e às entidades públicas e privadas. A Geografia, como a conhecemos, sempre envolve uma questão de conhecimento, e os modos pelos quais conhecemos e aprendemos a Geografia estão ligados a processos históricos de colonialismo, exploração e conquista. Nesse sentido, o GT propõe, ainda, discutir as ausências históricas na formação do Pensamento Geográfico. Serão consideradas propostas que apresentem reflexões sobre as diferentes perspectivas epistemológicas, formulações e debates teóricos sobre o pensamento e o espaço, além de proposições metodológicas que envolvam a Teoria Social e a Ciência Geográfica. Também serão bem-vindos trabalhos sobre a Geografia histórica baiana, a atuação da AGB na Geografia da Bahia, o processo de formação territorial e a história territorial do estado.

EIXO 4 - EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E ENSINO DE GEOGRAFIA

O eixo tem como objetivo refletir questões teóricas e práticas relacionadas as possíveis distinções e relações entre noções de Educação Geográfica e Ensino de Geografia. Pesquisa relacionadas à Educação Geográfica na Educação Básica, na Educação Básica Técnica e no Ensino Superior, bem como na Formação inicial e continuada de professores no Estado da Bahia. Desse modo, buscará tratar de questões relacionadas as políticas educacionais que influenciam diretamente na criação de currículos e bases curriculares que interferem na prática dos docentes de geografia, expressas na Base Nacional Comum Curricular - BNCC, no Documento Curricular Referencial da Bahia – DCRB. Tratará também de reflexões sobre à precarização das relações de trabalho, os desafios do Novo Ensino Médio e a Educação Geográfica e o Ensino de Geografia em relação às mudanças neoliberais da educação brasileira. Além disso, o eixo receberá propostas que abordem as diferentes modalidades de ensino, metodologias e linguagens/análise de dispositivos didáticos no ensino-aprendizagem da Geografia; geotecnologias aplicadas ao ensino; Estágio Supervisionado, projetos de iniciação à docência e suas experiências no contexto da Geografia.

EIXO 5 - GEOGRAFIA DA FOME, ALIMENTAR E DA SAÚDE

O eixo temático abarca temas variados como a fome e suas especificidades do contexto brasileiro e baiano; a produção do espaço social alimentar no desenvolvimento capitalista; Sistema Nacional da Segurança Alimentar, hábitos alimentares dos diferentes grupos humanos ligados a determinadas áreas geográficas; espaços geográficos de troca e comercialização que valorizem alimentos saudáveis e comida de verdade; sistema alimentar contra hegemônico; abordagens sobre culinária, gastronomia e culturas alimentares; ativismos alimentares e repertórios de ações coletivas: agroecologia, vegetarianismos, veganismos; justiça alimentar e culturas alimentares digitais análise espacial da insegurança alimentar e nutricional na saúde da população; fatores determinantes ao risco à saúde e/ou bem estar social e ambiental; impactos das alterações climáticas na saúde e qualidade de vida; entre outros.

EIXO 6 - GEOGRAFIAS NEGRAS E GEOGRAFIAS FEMINISTAS

O processo diaspórico dos povos africanos para o Brasil foi historicamente marcado pela violência colonial, fator determinante para a configuração das desigualdades socioespaciais e da violência que incide sobre os territórios negros, como destaca Alex Ratts. Na Bahia, cuja população é predominantemente negra e feminina (SEI, 2020), as lutas contra as injustiças estruturais permanecem como um legado histórico, manifestando-se na negação de direitos fundamentais e nas múltiplas formas de violência, heranças do passado colonial e da persistente colonialidade. Nesse contexto, emergem práticas de resistência e rupturas que se expressam por meio de saberes, relações e modos de existência que desafiam a lógica do sistema capitalista e do modelo cristão, patriarcal e heteronormativo. As geografias negras e feministas assumem um papel central na construção de novas perspectivas teórico-metodológicas no campo da ciência geográfica, uma vez que a análise dos territórios deve incorporar as dinâmicas emergentes da realidade social. Assim, a concepção de uma geografia do real, conforme postulada por Rafael Sanzio dos Anjos, aliada à articulação entre espaço, raça, gênero e classe, como preconizado por Antonia Garcia, revela-se imprescindível para compreender e transformar as estruturas que sustentam as desigualdades socioespaciais. O Espaço de Diálogo e Prática (EDP) Geografias Negras e Geografias Feministas propõe-se a valorizar produções científicas que contribuam para instrumentalizar sujeitos contemporâneos na resistência às injustiças socioespaciais, estruturadas e reproduzidas pelo racismo, pela violência de gênero e pela opressão sexual. Configurando-se como um espaço de interlocução acadêmica, o EDP fomenta o compartilhamento de experiências, a troca de saberes e a apresentação de pesquisas em andamento ou concluídas pela comunidade geográfica, ancorando-se em epistemologias, trajetórias e corporeidades de sujeitos individuais e coletivos em suas distintas espacialidades e territorialidades. Dessa forma, o eixo Geografias Negras e Geografias Feministas alinha-se ao compromisso firmado nacionalmente pelo Manifesto Geo-grafias Negras (2019), reafirmando a centralidade dessas perspectivas na produção do conhecimento geográfico crítico e emancipatório.

EIXO 7 - A GEOGRAFIA ECONÔMICA, A GEOPOLÍTICA E A GEOGRAFIA POLÍTICA NO PRIMEIRO QUARTO DO SÉCULO XXI

Eixo dedicado à investigação/reflexão de questões dentro do âmbito disciplinar e temático da Geografia Econômica, da Geografia Política e da Geopolítica, com ênfase nos processos de ocupação, apropriação, expropriação, produção/reprodução de espaços, promovidos por agentes econômicos e políticos organizados/inseridos em diversas escalas, no contexto da crise e reestruturação do capital, nestas primeiras décadas do século XXI. No plano mundial e/ou supranacional, abrange estudos sobre os rearranjos geoeconômicos e geopolíticos que vem se desdobrando da aguçada competição entre potências hegemônicas e emergentes, a redefinição e/ou reafirmação de alianças e blocos, bem como o exame do papel de determinados Estados nacionais nesse cenário marcado pelo aprofundamento das desigualdades, acirramento e multiplicação de conflitos e precarização das condições sociais de existência em diversas regiões do mundo, com um foco particular para a inserção da América Latina e do Brasil neste panorama. O eixo contempla ainda a análise das estratégias de gestão do território e o amplo espectro de conflitos socioterritoriais e socioambientais engendrados pelas ações dos agentes do capital e do(s) Estado(s), seus desdobramentos e impactos em diferentes recortes espaciais, notadamente no território baiano, com especial atenção para o avanço de grandes projetos nos setores de infraestrutura, mineração, energia, agroindústria, entre outros.

EIXO 8 - CULTURA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO

A cultura está intimamente ligada ao conjunto de práticas “savoir-faire ou know hows”, conjunto de regras, normas e valores, conjunto de atitudes e costumes, sistema de representações e de significados que envolve valores materiais e imateriais.  A Geografia Cultura com a renovação das ciências humanas e, mormente com a Geografia passou nas últimas décadas do século XX e XXI à pesquisarem as manifestações culturais nas paisagens, nos lugares, nas regiões e nos territórios vividos, percebido e imaginados no espaço geográfico. Com base nestas pesquisas geográficas passa-se a valorizar na geográfica acadêmica às manifestações culturas nas religiões, nas práticas turísticas, nas identidades e nos modos de vida rurais e urbanos. Também se encarregou de pesquisar os patrimônios materiais e imateriais, as memorias individuais e coletivas dos lugares, bem como, suas múltiplas representações socioculturais. Desse modo, almeja-se que esse espaço de diálogo possa oportunizar aos participantes ricos debates relativos à visibilidade das pesquisas em Geografias Culturais. Também evidenciar os saberes, os fazeres nas práticas e representações socioculturais em suas múltiplas espacialidades. E, nelas os conflitos, as (re)existências anticolonialistas nos territórios de identidades.

EIXO 9 - GEOGRAFIA FÍSICA E MEIO AMBIENTE

No contexto político e social em que vivemos hoje, uma análise geográfica, sistêmica, integrada, sobre o meio físico, o biótico e o humano e social, é cada mais necessária para compreendermos as implicações e inter-relações das múltiplas faces dos problemas ambientais atuais. As relações de mercado cada vez mais marcam e enviesam a análise ambiental, minimizando ou menosprezando as relações socioambientais e culturais, subestimando a interdependência ecológica, e humano-ecológica, em favor de uma relação servil ao econômico e financeiro. A sinergia de impactos de grandes projetos, minerais, agrícolas, industriais, eólicos, solares, nos solos, águas, atmosfera e comunidades, cada vez mais se sobrepõem às necessidades humanas e ambientais de um ambiente minimamente saudável para sustentar nossa rica sociobiodiversidade. Um “desenvolvimento sustentável”, que cada vez menos se sustenta. Questões ambientais se multiplicam, se tornam mais complexas, aumentando a necessidade da análise geográfica, territorial, social e política. Mudanças climáticas, desertificação, adaptações e resiliências. Descarbonização do modelo energético, “nova indústria”, transição verde. Preservação, conservação, o papel das unidades de conservação e do planejamento ambiental participativo. O humano, a economia e a ecologia humana. O direito ao meio ambiente e o direito do meio. Estes são apenas alguns dos temas abordados. Dessa forma, o espaço de diálogo proposto visa não apenas a compreensão aprofundada das dinâmicas ambientais, mas também a proposição de caminhos metodológicos e estratégicos que subsidiem a formulação de políticas públicas ambientalmente equitativas e socialmente inclusivas.

EIXO 10 - CARTOGRAFIA E REPRESENTAÇÕES DE MUNDO

Este eixo temático abarca discussões cartográficas de caráter teórico e/ou empírico, com ênfase nos fundamentos conceituais da cartografia e em suas interrelações com as categorias de análise geográfica. A cartografia, enquanto linguagem e instrumento de poder, não apenas representa o espaço geográfico, mas também participa ativamente da produção de realidades ao construir, reforçar ou contestar narrativas espaciais. Assim, as representações cartográficas vão além de meros registros técnicos, constituindo-se como elementos fundamentais na produção e na reprodução dos territórios.

Serão contempladas investigações sobre educação cartográfica, cartografia escolar, cartografia e arte, geotecnologias/geoprocessamento, mapeamento participativo, cartografia social e análises geoespaciais. O eixo busca reunir pesquisas desenvolvidas no âmbito da sociedade civil e das esferas governamentais, tanto em instituições públicas quanto privadas, abrangendo a atuação de pesquisadores vinculados a escolas, institutos, universidades, organizações não governamentais, movimentos sociais e entidades siandicais. Dessa forma, propõe-se um espaço de debate interdisciplinar e crítico sobre o papel da cartografia na construção de diferentes representações do mundo e seus impactos na produção do espaço.