Sessão de comunicação oral 4: A mulher na literatura: paisagem e representação
SESSÃO DE COMUNICAÇÃO 4 – A MULHER NA LITERATURA: PAISAGEM E REPRESENTAÇÃO
MOSAICO LÍQUIDO: A CIDADE NAS OBRAS DE TEOLINDA GERSÃO E CLARICE LISPECTOR
Júlia Garcia
Andreia Castro
Resumo: Teolinda Gersão, em “Cidade de Ulisses”, e Clarice Lispector, em “A Hora da Estrela”, narram travessias pelo espaço urbano em que a geografia externa e interna se perpassam, se fundem e se confundem, contando espaços de afeto, de reflexão e de epifania não exatamente para sobrepor descrições e fatos, mas expandir o olhar sobre as relações, as interações entre as pessoas na cidade e com a cidade. No livro de Teolinda, o leitor é convidado a montar um mosaico de impressões, de sentimentos, de sensações, de mitos, de fatos históricos, de canções, de imagem e de literatura para compor um mosaico apaixonado da paisagem de Lisboa. Já a obra de Clarice Lispector mostra que no mosaico de toda cidade grande há peças que nunca se encaixam. Através de Macabéa, uma datilógrafa alagoana que se muda para o Rio de Janeiro, o romance comprova que a Cidade Maravilhosa também pode ser muito perigosa e cruel. Utilizando os conceitos de topofobia e topofilia do geógrafo chinês Yi-Fu Tuan, as ideias de viajante, turista e errante de Eduardo Marandola, e a fenomenologia de Collot e Merleau-Ponty, o trabalho visa retratar as sensações, experiências, percepções e análises dos personagens dentro do contexto da cidade.
Palavras-chave: Fenomenologia. Literatura Comparada. Estudos de paisagem. Clarice Lispector. Teolinda Gersão.
GOLGONA ANGHEL NA LISBOA COTIDIANA: PAISAGEM E IRONIA
Julieny Souza do Nascimento
Resumo: Este estudo tem como objetivo descrever e analisar a figuração da paisagem urbana na obra ainda pouco extensa da poeta contemporânea Golgona Anghel, radicada em Lisboa, Portugal. Com base no estudo Poética e Filosofia da Paisagem (2013) de Michel Collot, que compreende a paisagem como um fenômeno resultante da interação entre o mundo externo, a percepção do sujeito e a representação pela linguagem, foram examinados o contexto sócio-poético em que Golgona Anghel se insere e poemas presentes em seus livros “Vim porque me pagavam” (2011), “Como uma flor de plástico na montra de um talho” (2013) e “Nadar na piscina dos pequenos” (2017). Uma vez iniciado o processo de investigação científica, constatou-se preliminarmente, nessa poética, um discurso lírico atento à vida urbana lisboeta e às tensões sociais, econômicas, políticas e existenciais que permeiam a sociedade ocidental do século XXI. Ao se caracterizar como uma lírica cotidiana, a poesia de Golgona Anghel apresenta em sua matéria-emoção (tomamos noção de Michel Collot, em outro estudo) um olhar crítico, irônico, mesmo sarcástico, que se vale de convenções formais e de conteúdo as quais são progressivamente deslocadas pelo sujeito lírico em confronto com diferentes tradições. O estudo analítico para o presente trabalho vale-se sobretudo das obras ensaísticas “Poética e Filosofia da Paisagem” (COLLOT, 2013), “Matéria-Emoção” (COLLOT, 2018), e “A Invenção da Paisagem” (CAUQUELIN, 2011). Este trabalho é realizado no âmbito do Projeto de Pesquisa Paisagens Luso-Brasileiras em Movimento: Rio de Janeiro e Lisboa, sob orientação da Profª. Drª. Ida Alves (UFF - RGPL, FAPERJ).
Palavras-chave: Poesia Portuguesa Contemporânea. Golgona Anghel. Paisagem Urbana. Ironia.
O POSICIONAMENTO ESPERADO DA MULHER NO FIM DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX NO CONTO O CASO DE RUTH, DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA, E NO ROMANCE LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR
Mariana Oliveira Brito
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo, dentro de uma perspectiva comparativista, analisar como a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) e o escritor José de Alencar (1829- 1877) representam em suas obras “O caso de Ruth” (Ânsia eterna, 1902) e “Lucíola” (1862), conto e romance respectivamente, a posição da mulher na estrutura patriarcal da sociedade do fim do século XIX e início do século XX. Os dois autores trazem em suas obras protagonistas femininas dissonantes, que são apresentadas como transgressoras dentro daquela sociedade, pelo fato de fugirem dos padrões morais da época. O objetivo da escrita desse trabalho é demonstrar as consequências sofridas pelas mulheres que fugiam dos padrões estabelecidos e as artimanhas narrativas dos escritores no intuito de criticar uma sociedade que pregava uma falsa moral vigente. Esta pesquisa faz parte de um projeto maior, intitulado “Literatura de autoria feminina: memória, esquecimento e repertórios de exclusão”, realizado na Universidade Federal Fluminense e coordenado pela professora Dra. Anna Faedrich, do qual participo.
Palavras-chave: Mulher. Sociedade patriarcal. Júlia Lopes de Almeida. José de Alencar.
NAS VOZES FIRMES DE FIRMINA: A FORÇA HUMANIZADORA DA NARRATIVA PRESENTE EM ÚRSULA
Patricia Silva de Souza
Yago Monteiro Moreira
Resumo: Para o presente trabalho, selecionamos como objeto de pesquisa o livro “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis. Abordamos uma das possibilidades de interpretação da obra, na qual analisaremos os personagens Preta Suzana e Tulio e suas implicações para o pensamento pós-colonial. Mostrando traços que distinguem o que se diz e o que se faz, Firmina nos promove uma narrativa repleta de dualidades, comparando muitas vezes de forma irônica o discurso bíblico com a realidade atroz da época. Pelas vozes dos personagens analisados, Firmina quebra o paradigma imposto pela literatura eurocentrizada do século XIX: o negro que carece de uma alma e/ou a ausência de características que humanize esse ser. Para desenvolver a nossa proposta, usamos como base teórica os autores Eliane Marques (2018), bell hooks (1994), Grada Kilomba (2016) e Achille Mbembe (2014). Focamos, especificamente, nas experiências e vivências da personagem Suzana, desde o país em que nasceu até o Brasil. Sobre o personagem Tulio, observamos as nuances de suas ações enquanto homem que já nasceu na condição de escravo e sua percepção acerca do mundo por estar inserido nesse cenário. Graças ao espaço de fala concedido a Preta Suzana, através da sua própria ótica, nos mostra uma nova narrativa, um novo conceito de África, no qual o continente é abordado para além dos estereótipos negativos, revelando o quão cruel foi o processo de colonização e a tentativa de desumanizar os africanos escravizados. Já através da presença de Tulio, buscamos trazer à tona a discussão sobre a construção da idealização de liberdade, mediante ao processo de alforria durante o Brasil Colônia. Por fim, analisamos a elaboração feita por Firmina dos Reis ao apresentar figuras negras por um viés que os dignificam — ainda que na condição de escravizados. Logo, entendemos que a presença destes personagens é uma reivindicação às pessoas que foram afetadas pelo processo de colonização, uma vez que Preta Suzana e Tulio ressaltam a importância de se resgatar tanto origem quanto história como forma de subverter a proposta de coisificação imposta pelos colonizadores.
Palavras-chave: Literatura. Afro-brasileira. África. Pós-colonialidade.