RABALHOS RECEBIDOS E APROVADOS NO EVENTO 19º ENCONTRO INTERNACIONAL DE MúSICA E MíDIA: VIDA DE ARTISTA

 

O quão nuas artistas precisam ficar para serem compreendidas pelo público?: uma análise do álbum “I love” do grupo feminino “(G)I-dle".

Ana Júlia Olivier Rocha

 

Por meio desse trabalho, pretendo analisar o álbum “I Love” do grupo feminino de “k-pop” “(G)I-dle" e toda a produção midiática referente a ele. Nessa análise pretendo abordar temas relacionados a performance que uma artista precisa realizar para se tornar um ídolo, o quanto ela precisa mostrar de seu verdadeiro “eu” e o quanto deve oprimir para ser amada e aceita pelo seu público. Além disso, por meio das letras de duas músicas do álbum: “Change” e “Nxde”, irei analisar a visão das artistas do grupo em relação a fama, o vazio, o amor e a nudez performática, muitas vezes exigida pelo público. No caso da indústria do “k-pop” essa exigência vem muito atrelada ao desejo do público por grupos femininos e masculinos que realizem o “conceito sexy”, que de certa forma serve em sua base apenas para objetificar o ídolo ao prazer de seu público. Uma situação muito semelhante ao que ocorreu com Marilyn Monroe durante toda sua carreira. Além dessa semelhança da vivência como um ídolo, Marilyn Monroe tem uma presença semiótica forte no conceito desse álbum. Em relação a isso irei comentar sobre sua imortalidade e como ela ficou gravada no imaginário popular como sendo um objeto mercadológico e não uma pessoa, assim como muitos ídolos são compreendidos até hoje. Em relação a música “Nxde”, irei abordar a relação de amor e ódio de ídolo e seu público apresentada em sua letra e como esse relacionamento se configura na realidade tendo como exemplo os casos reais que aconteceram na vida de Marilyn Monroe e de Seo Soo-jin (ex-membro do “(G)I-dle"). Em relação ao fim do relacionamento entre Seo Soo-jin e seu público, irei argumentar como acredito existir um sentimento de tristeza e ansiedade nas integrantes atuais do grupo relacionado ao acontecimento de sua ex-colega na música “Change”. Na música elas falam sobre a tristeza, vazio e ansiedade que vem junto com a fama e o constante medo de cometerem algum erro que as leve a cair e sensação de que não terá ninguém para as segurar assim como aconteceu com Seo Soo-jin.

 

Referências

TRIFOSO, Cece. An Examination of Women’s Rights in South Korea: From “New Women” to Female Idols. 2022. 56 p. Tese (Bacharel em Artes) - Dominican University of California, São Rafael, 2022; ALBERTO, Thiago Pereira. MEDEIROS, Fernanda de Faria. “As loiras preferem os homens?”: uma análise sobre performances, aproximações e distanciamento entre Marilyn Monroe e Madonna. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 41º, 2018, Joinville. Anais. Joinville: Intercom, 2018, p. 1-15; LEE, Sooah. Idol: Ideal Display, Outright Loss. 1ª edição. Nova Iorque: Pratt Institute, 2021; PALUDO, Ticiano. Mitologia musical: estrelas, ídolos e celebridades vivos em eternidades. 1ª edição. Curitiba: Appris Editora, 2017; e (G)I-DLE. I Love. Intérpretes: Jeon So-yeon Palavras-chave: Perfomance, persona, ídolo, k-pop, marylin monroe, star system, fama.

 

A MÚSICA-TEATRO E SEUS DESVIOS NA PEÇA SEPT CRIMES DE L’AMOUR DE GEORGES APERGHIS

JOSINALDO GOMES BATISTA

 

"Em que medida o artista tem controle sobre suas formas criativas e sua atuação profissional?" A partir da noção de Desvio de Pierre Sarrazac e Walter Benjamin, busca-se analisar quais tipos destes desvios estão presentes na música Sept crimes de l’amour, uma peça do gênero Música-teatro, do compositor Georges Aperghis. Sept crimes de l’amour é uma peça emblemática concluída em 1979, portanto, três anos após este compositor ter fundado o “Atelier Théatre et Musique”(ATEM). Através do ATEM, Aperghis tornou possível a renovação de sua prática composicional recorrendo a atores e músicos para criação de suas produções. No campo da música, modelos metodológicos de trabalho em colaboração no processo de composição não é algo novo. Não estou tratando aqui de gêneros musicais que já nascem mestiços ou impuros, como é o caso da ópera onde se assiste um entrecruzamento de linguagens como a música, o teatro, a dança e a literatura. Este gênero como outros, por natureza, já se utilizam de processos colaborativos, mas com a devida diferença de que cada uma dessas linguagens se apresenta compartimentada, na maioria das vezes, com cada profissional deste campo responsável por uma destas artes. O processo criativo de Aperghis nesta composição se organizou de maneira colaborativa, uma espécie de desvio no ato de criação, tendo como uma das suas primeiras ações a constituição de equipe de colaboradores capazes de trabalhar regularmente como grupo personalizado. A presente comunicação visa discutir sobre alguns dos desvios estruturais, sejam eles cênicos ou dramatúrgicos, e sua possível relação com os desvios metodológicos criativos da obra em questão.

 

Referências

 

CUNHA, Ive de Santana. O desvio do método: linguagem e história no pensamento de Walter Benjamin. 2006. Dissertação (Mestrado em Filosofia). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

OTTOMANO, Vincenzina C. Theatre as problem: modern drama and its influence in Ligeti, Pousseur and Berio. ADLINGTON, Robert. In: New Music Theatre in Europe: Transformations between 1955-1975. New York: Routledge, 2019.

SALZMAN, Eric; DÉSI, Thomas. The new Music Theater: seeing the voice, hearing the body. Londres: Oxford University Press, 2008.

SARRAZAC, Jean-Pierre (Org.). Léxico do drama moderno e contemporâneo. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2012.

SERALE, Daniel. Reciclar e colar: os papéis do compositor e do intérprete na criação colaborativa. Belo Horizonte, 2012, n.25,p.107-111.

 

 

 

Palavras-chave: Música-teatro, Desvio, Composição, Processo colaborativo

 

Maysa compositora e a construção de si mesma       

Rodrigo Vicente Rodrigues

 

Dentre as cantoras da “era do rádio”, poucas são tão facilmente evocadas e lembradas em diferentes nichos como Maysa. Para isso, concorrem para formar sua imagem atual o fato de ter adentrado a tradicional Família Matarazzo, a atuação de seu filho como importante peça dentro da TV Globo e a minissérie que retratou (ainda que de forma romantizada) a sua vida, Maysa - quando fala o coração, de 2008, além de algumas biografias que vieram a público no mesmo período, fruto do recrudescimento do interesse despertado pela artista. Salientamos o fato de, diferentemente de outras artistas de meados do século XX, Maysa ter sido uma mulher compositora, lançando-se no mercado fonográfico já com canções cujas letras eram suas. Assim, desde sua estreia, estava colocado como pano de fundo o modo como ela criava sua imagem pública a partir dos textos das músicas, parte fundamental da canção, conforme salienta Tatit (2022), além de criar uma voz lírica muito coesa e que convergia, junto a outras canções que lhe foram dadas a gravar, com sua própria vida pessoal. Aqui, propomos olhar de forma panorâmica como as letras de Maysa, juntamente à sua atuação como cantora, o modo como se davam suas performances e sua persona vocal concorreram para criar uma imagem extremamente forte da artista, numa negociação entre a conjuntura musical em que atuou e o que ela externalizava de si. Para isso, serão analisadas as letras de sua autoria dos quatro “Convites para ouvir Maysa”, álbuns iniciais da cantora, de fins da década de 1950, em cotejo com sua biografia, sobretudo com as informações fornecidas por Lira Neto (2007). Como a construção de Maysa enquanto figura pública e artista se dá inicial e majoritariamente a partir da canção das mídias (VALENTE, 2003), abordaremos também o movimento de fazer convergir aquilo que a artista queria mostrar/construir de si e as estruturas já existentes. Nesse sentido, salientamos que sua projeção como cantora se deu num momento de grande força do samba-canção, conforme demonstrou Zuza Homem de Mello (2017), e de canções com verve “abolerada”; ademais, falaremos brevemente de sua negociação com a bossa nova.

 

Referências

 

MELLO, Zuza Homem de. Copacabana: a trajetória do samba-canção (1929-1958). São Paulo: Sesc/Editora 34, 2017.

NETO, Lira. Maysa: só numa multidão de amores. São Paulo: Editora Globo, 2007.

TATIT, Luiz. O século da canção. 3ª ed. São Paulo: Ateliê editorial, 2022.

VALENTE, Heloísa de A. Duarte. As vozes da canção da mídia. São Paulo: Via Lettera/ FAPESP, 2003.

Palavras-chave: Maysa, canção das mídias, mulheres artistas, cantoras do rádio, mulheres compositoras.

 

«É preciso informalizar os concertos» - a mediatização e democratização da música «erudita» na década de 1970 em Portugal

Ângela Flores Baltazar (CESEM- NOVA| FCSH)

 

Divulgar a música na década que se segue à Revolução de Abril de 1974 em Portugal, insere-se num pensamento democrático e por uma consciência de classe que pretende diminuir os constrangimentos sociais da sua acessibilidade. Neste contexto, considero como «divulgação musical» iniciativas que promovam a diversidade geográfica dos locais de concertos e que desafiem a função dos espaços, a uma gestão a nível do valor monetário da admissão, e à promoção de conhecimento da música e da sua compreensão. A utilização cada vez mais significativa de meios de difusão como a televisão e rádio, assim como de imprensa para ações de divulgação da música «erudita» - como promoção de eventos, transmissão de concertos comentados e de palestras de conteúdo didático – desafiam o alcance de repertório deste foro que, por motivos que pretendo aprofundar a nível teórico, associa-se a dinâmicas sociais elitistas.

O papel de comunicadores da música - como João de Freitas Branco, José Atalaya ou António Vitorino D’Almeida -, destaca-se neste contexto por desafiarem os meios e o modo como a música «erudita» era habitualmente distribuída. Desenvolveram estratégias, modelos e discursos que pretendiam «informalizar»[1] eventos de música erudita e as suas práticas, com o intuito de se aproximarem do espectador e do seu quotidiano. Deste modo, eram executados concertos comentados e palestras de teor pedagógico para uma escuta musical contextualizada num enquadramento histórico e social, e que fornecessem também ferramentas que permitissem um entendimento mais abstrato da música. O projecto Diálogos de Música de José Atalaya, é um exemplo de divulgação musical, seguindo um modelo semelhante ao programa televisivo Young People's Concerts de Leonard Bernstein. Estes concertos eram transmitidos em simultâneo pela Antena 1, Antena 2 e Rádio Televisão Portuguesa. Outras iniciativas foram posteriormente criadas a partir destas referências, como a transmissão pela RTP do programa Tema e Variações de António Vitorino D'Almeida.

Esta comunicação focar-se-á em processos de mediatização da música «clássica» ou «erudita», e do seu impacto para a promoção da diversidade do perfil social do público de concerto deste foro. Uma reflexão acerca da presença de repertório e de conhecimento associado à música «erudita» em meios de televisão e radiodifusão, e dos seus principais divulgadores em Portugal na década de 1970.

 

[1] «Informalizar os concertos» é uma expressão utilizada por José Atalaya no programa televisivo Um dia com… (Arquivos RTP 1971)

 

Referências

Atalaya, José. Labirintos da Música: Crónicas de Intervenção e de Aplauso. Porto: Caixotim Memórias, 2001.

Dionísio, Eduarda. Títulos, acções, obrigações - Sobre a cultura em Portugal 1974, Lisboa: Editora Salamandra, 1993.

Evrard, Yves. «Democratizing Culture or Cultural Democracy?». The Journal of Arts Management, Law and Society, 1997: 167-175

Gonçalves, Ricardo Ramos. A Cultura ao serviço da Revolução: Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA. Dissertação de mestrado - ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2018.

Ribeiro, Paula Gomes. «Pensar a Revolução, nos Comportamentos e Práticas Culturais Associadas ao Teatro Nacional de São Carlos entre o Fim do Estado Novo e os Primeiros Anos da Democracia em Portugal». Revista Música Hodie, (2012): 48-56.

 

Palavras-chave: mediatização, audiovisual, democratização cultural, rádiodifusão portuguesa

 

A Banda Municipal de Peruíbe e a Escola Municipal Livre de Música de Peruíbe: estudo da memória e da identidade na construção do patrimônio cultural

Adriana Domingues Torello

 

A Banda Municipal de Peruíbe e a Escola Municipal Livre de Música de Peruíbe: estudo da memória e da identidade na construção do patrimônio cultural

A pesquisa analisa a memória e a identidade da Banda Municipal de Peruíbe e da Escola Municipal de Música de Peruíbe/SP, com o objetivo de discutir elementos da integração social inerentes à sua constituição enquanto patrimônio cultural. Utilizando-se de abordagem interdisciplinar com elementos da Memória Social, da Música e de pressupostos da Ciência da Informação, o estudo é direcionado para uma abordagem que tangencia o patrimônio cultural a partir de atividades musicais em banda de música e suas correlações com a memória, identidade e pertencimento social. A partir das especificidades da cidade de Peruíbe e traçado um panorama histórico do seu desenvolvimento social, demográfico e econômico, o trabalho faz uma retrospectiva sobre o histórico da banda de música, do início voluntarioso e amador na década de 1930, à institucionalização como banda municipal da cidade. Paralelamente, busca-se aprofundar questões teóricas relativas aos conceitos centrais do trabalho: memória, identidade e patrimônio cultural. O objetivo é apoiar a proposição central de que a banda e a escola de música de Peruíbe teriam se constituído como patrimônio cultural, haja vista os requisitos frequentemente utilizados para tal. Essa problematização também visa equacionar a perspectiva histórica às reminiscências evocadas pelos entrevistados sobre as suas memórias a respeito desses equipamentos culturais a partir de suas vivências e participações neles. A apresentação das entrevistas realizadas com membros (antigos e atuais) da banda e da escola de música traz considerações históricas sobre esses equipamentos culturais e a repercussão das suas atividades, tendo em vista um quadro social mais amplo do que propriamente as atividades musicais. Tendo por base pesquisa qualitativa que se utilizou de entrevistas narrativas, o objetivo foi coletar dados e informações sobre o que teria permitido a esses equipamentos permanecer na memória social da cidade e de seus moradores ao longo de mais de meio século. A descrição da história da banda busca iluminar as suas diferentes fases, assim como as diferentes formas de compreender a sua singularidade do ponto de vista das informações disponíveis. Os resultados sugerem a importância da Banda e da Escola de Música para a vida pessoal dos entrevistados e para a cidade de Peruíbe, o que indica a relevância do conjunto de atividades e vivências históricas que perpassaram as distintas temporalidades que forjaram esse patrimônio cultural. A pesquisa foi realizada entre 2020 e 2022.

 

Referências

 

BOSI, Ecléa. A pesquisa em memória social. Psicol. USP, São Paulo , v. 4, n. 1-2, p. 277-284, 1993. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167851771993000100012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 30 mar.2021.

COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1997.

POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos, v. 5, n. 10, p. 200-212, 1992. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1941. Acesso em 12 mar. 2021

SCHAFER, R. M. A afinação do mundo. São Paulo: Edunesp, 2001.

ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Ubu Editora, 2018.

Palavras-chave: memória, patrimônio cultural, banda de música, Banda Municipal de Peruíbe, Escola Municipal de Música de Peruíbe

DOS RITUAIS XAMÂNICOS ÀS PLATAFORMAS DIGITAIS: ARTISTAS INDÍGENAS HUNI KUIN E A CIRCULAÇÃO DE CANTOS DE CERIMÔNIAS DE AYAHUASCA

Leonardo Corrêa Bomfim

 

Este trabalho busca discutir os processos de deslocamento, ressignificação e circularidade de cantos sagrados (Huni Meka) dos indígenas Huni Kuin/Kaxinawá do Acre, gravados por artistas da própria etnia e publicados em formato de áudio e audiovisual em plataformas digitais como o Spotify e Youtube. Nessa mesma esteira, a pesquisa visa refletir sobre os trânsitos entre as identidades de xamã/pajé e artista, proporcionados pela midiatização de canções cerimoniais. Para os Huni Kuin, a cerimônia de ayahuasca é denominada Nixi Pae (que na língua hatxa kuin possui o significado Nixi: fio/cipó e Pae: encanto). O Nixi Pae ou Huni Pae é produzido através do cozimento do cipó huni (mariri/jagube) com a folha kawa (chacrona), em um processo lento, artesanal e ritualístico. Após preparada a bebida, as cerimônias são conduzidas preponderantemente através dos cantos indígenas, que são transmitidos de forma geracional após serem recebidos por “Yuxibu”, o grande espírito criador (que também se manifesta em cada indivíduo, animal ou planta). Os efeitos causados pela substância remetem aos processos primordiais de criação do universo na perspectiva da cosmogonia Kaxinawá (LABATE, 2004). A ingestão da bebida psicoativa (que incorpora "DMT" dimetiltriptamina em sua composição) possibilita o contato com outra realidade sensorial e psicológica, descrita por alguns pesquisadores como sinestésica ou holística (KEIFENHEIM, 2004), abrangendo um contato com distintas sonoridades, imagens e cores. Os cantos ritualísticos, entoados em comunhão com a força da ayahuasca, proporcionam e potencializam manifestações visuais (caleidoscópicas, multicores), “mirações” (visões que se aproximam ao universo onírico ou a mundos distintos), contatos com seres animais (jiboia, gavião, onça, sapo) e espirituais que integram a cosmologia Huni Kuin, transmitindo aprendizados (insights) e curas (físicas e espirituais) (MENESES, 2018). A pesquisa em desenvolvimento vem sendo realizada a partir de participações do pesquisador em cerimônias xamânicas de ayahuasca conduzidas por indígenas Huni Kuin na Aldeia Akasha em Itaipava. Como metodologia, o trabalho está sendo pautado em levantamentos bibliográficos, pesquisas em plataformas virtuais de streaming, entrevistas e diálogos com interlocutores e etnografia em campo. Dentre as narrativas dos xamãs/artistas Huni Kuin que justificam este trânsito entre os cantos ritualísticos e as canções midiáticas estão: “apresentar a cultura” aos nawa (brancos ou não indígenas) (FERREIRA OLIVEIRA, 2018), “fortalecer a cultura” indígena e “criar conexões entre a floresta e as cidades”.

 

 

Referências

 

FERREIRA OLIVEIRA, Aline. Os outros da festa: um sobrevoo por festivais yawanawa e huni kuin. Horizontes Antropológicos (UFRGS. Impresso), v. 24, p. 167-201, 2018.

 

KEIFENHEIM, Bárbara. Nixi Pae como participação sensível no princípio de transformação da criação primordial entre os índios Kaxinawá no leste do Peru. In: LABATE, Beatriz C.; ARAUJO, W. S. (Org.). O uso ritual da ayahuasca. 2. ed. São Paulo: Mercado de Letras, 2004. v. 1. p. 97-128.

 

LABATE, Beatriz C.; ARAUJO, W. S. (Org.). O uso ritual da ayahuasca. 2. ed. São Paulo: Mercado de Letras, 2004. v. 1. 736p.

 

MENESES, Guilherme Pinho. Medicinas da floresta: conexões e conflitos cosmo-ontológicos. Horizontes Antropológicos (UFRGS. Impresso), v. 24, p. 229-158, 2018.

Palavras-chave: Huni Kuin, Cerimônia de Ayahuasca, Cantos Xamânicos, Aldeia Akasha, Plataformas digitais

 

Estudo etno-sonoro do áudio drama brasileiro no período pandêmico

Luccas Pires Soares

 

O presente trabalho traz como sua temática as questões do áudio drama contemporâneo, pensado a partir de podcasts realizados por grupos teatrais brasileiros no período entre os anos de 2020 e 2023. Na perspectiva de um ator e professor de teatro e com o aporte dos conceitos do campo da etnomusicologia, se pensará em algumas camadas de análise desses projetos: Em um primeiro plano, com um levantamento de 17 trabalhos encontrados nas plataformas digitais que foram lançados no período da pandemia de COVID-19, em sua maioria a partir de editais públicos. Em seguida, com uma investigação intermediária em 6 trabalhos, entendendo seus contextos de criação e circulação. Em um terceiro momento, se pretende um foco maior em três áudio dramas realizados por grupos de teatro nos estados do Rio Grande do Sul, da Bahia e de Minas Gerais, buscando a compreensão, também, dos contextos sociais, motivações dos grupos, processos criativos, de produção, negociação e recepção dos mesmos. Aproveitam-se, dentre várias, as ideias de Dann (2014) e Rochester (2014) sobre o campo do áudio drama contemporâneo; Samuels (2010) e Kelman (2010) que abordam a perspectiva etnomusicológica e as práticas sonoras coletivas como processo de transformação; e Spritzer (2005), no que tange ao papel do performer da voz.

 

Referências

 

DANN, Lance. Only Half The Story: Radio drama, online audio and transmedia storytelling. Radio Journal: International Studies in Broadcast & Audio Media, v. 12, n. 1-2, p. 141-154, 2014.

KELMAN, Ari. Rethinking the Soundscape - A critical genealogy of a key term in sound studies. Senses & Society, v. 5, 2010.

ROCHESTER, Rachel. We’re Alive: The Resurrection of the Audio Drama in the Anthropocene. Philological Quarterly, v. 93, n. 3, p. 361-381, 2014.

SAMUELS, David et al. Soundscapes: Toward a Sounded Anthropology. Annual Review of Anthropology, v. 39, n. 1, p. 329-345, 2010.

SPRITZER, Mirna. O corpo tornado voz: A experiência pedagógica da peça radiofônica. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2005.

Palavras-chave: Etnomusicologia, Áudio drama, Podcast, Etnografia, Pandemia

 

(Re)descobrindo Valéria, “a travesti”: um olhar multidimensional para um disco esquecido

Frederico Augusto Ribeiro da Silva

 

No ano de 1966, a gravadora Rozenblit (Mocambo) lançou uma obra fonográfica, no formato de compacto simples, intitulada "Valéria, o travesti". Este lançamento — apesar de ter sido alvo de apagamento e, consequentemente, de esquecimento — assume relevância histórica para a comunidade LGBTQIAP+ ao representar uma das primeiras incursões no cenário musical brasileiro com uma cantora que desafiava ativamente as convenções normativas de gênero então predominantes. Esta pesquisa tem como objetivo central explorar e analisar esse disco de Divina Valéria, reconhecendo-o como um artefato cultural de valor expressivo que transcende as fronteiras entre arte, política e identidade de gênero. A investigação se propõe a examinar tanto os elementos estéticos quanto os temáticos presentes na construção sonora e gráfica do produto, além disso, busca-se situar esses itens no contexto mais amplo da sociedade brasileira da época em que foi produzido, assim como nos debates atuais relacionados às questões de gênero. A fundamentação teórica se apoia nas obras de autoras como Butler (2003) e Louro (2018), entendo-as como referências fundamentais no campo dos estudos de performance. Adicionalmente, são considerados os escritos de pesquisadores como Soliva (2016) e Quinalha (2017) que, a partir do binômio memória e diversidade, refletem sobre o contexto ditatorial em que o Brasil se encontrava no momento do lançamento do produto em análise. Além disso, fontes primárias, como matérias de jornais e entrevistas com Divina Valéria, também são consultadas. Ao entrelaçar essas perspectivas com a obra artística, torna-se possível considerar o disco "Valéria, o travesti" como uma expressão vanguardista no que diz respeito à construção de identidades de gênero, à subversão de normas sociais e à abertura de novos espaços de representatividade e visibilidade para a comunidade travesti. Dessa forma, o disco ultrapassa a mera classificação de entretenimento musical, possuindo implicações sociais, culturais e políticas relevantes para um país que não o reconhece como uma obra memorável.

 

Referências

 

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: Pedagogias da sexualidade. São Paulo: Autêntica Editora, 2018.

QUINALHA, Renan Honório. Contra a moral e os bons costumes: A política sexual da ditadura brasileira (1964-1988). 2017. 329p. Tese (Doutorado em Ciências). Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2017.

SOLIVA, Thiago Barcelos. Sob o símbolo do glamour: um estudo sobre homossexualidades, resistência e mudança social. 2016. 250p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2016.

Palavras-chave: Valéria, travesti, corpo, disco, ditadura

DA SELVA DE PEDRA AO SERTÃO... ABRINDO VEREDAS PARA BRILHAR Um Estudo sobre Cantores que optaram pelo Gênero Musical Sertanejo

ZÉ RENATO: Forasteiro Cantadô, Profª Drª Heloísa Duarte Valente

 

Este trabalho tem o objetivo de investigar cantores que optaram pelo gênero musical sertanejo, tendo como pilares da pesquisa uma dupla sertaneja e um cantor solo. Eles: “A dupla formada pelos irmãos Chrystian e Ralf e o cantor solo Sérgio Reis”. Esses cantores – aqui tratados como exploradores do gênero musical sertanejo para conquistar o sucesso, apropriaram-se de performance a partir das vestimentas, letras e ritmos musicais da vida roceira. O que nada correspondia com seu estilo musical anteriormente à migração ao estilo de música do homem do sertão. Em virtude da caça ao pináculo do sucesso esses artistas transladam-se da arte musical representativa da sociedade urbana para a cultura sertaneja.

Em nossas pesquisas tratamos de ‘pilares’ o cantor Ségio Reis e a dupla Chrystian e Ralf, por terem sido destaque no cenário da música sertaneja. No entanto, em nosso campo de pesquisa encontramos inumeráveis artistas que tentaram obter brilhantura cantando a música de raiz. Citamos alguns: “A apresentadora Hebe Camargo, que forma uma dupla sertaneja com sua irmã, Rosalinda e Florisbela, a cantora sertaneja Sula Miranda, que antes de brilhar nos palcos de chapéu, colete de couro e botas, usando o subtítulo “Rainha do Caminhoneiro” gravou três discos como integrante do grupo musical As Melindrosas, o apresentador Gugu Liberato, o sambista, Jair Rodrigues, o jogador de futebol e médico, Sócrates e até os religiosos - padre Alessandro Campos, o pastor Valdemiro Santiago, as duplas sertanejas evangélicas – Daniel e Samuel, que brilham nos palcos das igrejas com o álbum intitulado ‘E a Viola pra Jesus’, com 28 álbuns gravados. E a dupla Nando e Matheus que gravaram a música - O Menino de Pés Descalços. Na qual a letra biográfica resume a história de vida do pastor Valdemiro”. Alguns desses citados utilizaram de abundantes backs vocais para emitir um realce na gravação, uma vez que, nem com os recursos técnicos que hoje o mercado fonográfico dispõe-se, não há como afinar a voz com défice melódico.

A pesquisa empírica sobre esses artistas citados, os quais manipulam seus fãs, emitindo canções ilusórias, desassociadas com suas origens musicais. Para entender melhor esses artistas, buscando brilhar na mídia, mudam de estilo musical da cidade para o sertão, biografia de Sérgio Reis; Murilo Antonio de Carvalho (2018), que trata de sua trajetória musical; primeiro Lp solo do cantor Chrystian com 12 faixas em inglês (1976), comprova sua migração de gênero musical; biografia da Hebe Camargo (2017), explica a formação da dupla Rosalinda e Florisbela; Norval Baitello Jr. (2005), fala acerca da transformação do artista em ídolo; Paul Zumthor (1983), fala da poesia oral, que é uma outra direção do pensamento para avaliar o processo das civilizações: ao invés da acumulação e concentração abstrata, derivadas dos sistemas digitais discretos, o estudo das relações e transformações rítmicas entre o homem, seu corpo e a cultura. Para entendermos o mercado fonográfico sertanejo recorremos a obra de Gustavo Alonso (2015), trata-se de vários períodos do gênero musical até o presente.

 

Palavras-chave: Em busca do sucesso, música sertaneja enganosa, música sem origem cultural, cultura farsante musical, música sem raiz.

 

Escritas intersecionais, autobiográficas e digitais de Divas da Latin Pop Music

Igor Lemos Moreira

 

Gloria Estefan, Jennifer Lopez e Camila Cabello são cantoras consideradas "divas" da música pop latina que pertencem a três gerações distintas. Apesar de suas diferenças, principalmente do ponto de vista geracional, essas cantoras/artistas convergem ao longo de suas carreiras ao serem construídas e representadas na mídia como “Divas” da Música Pop Latina. Como divas, são consideradas por segmentos, grupos e setores como representantes de um conjunto de identidades e identificações com as quais os indivíduos estabelecem relações. No entanto, como cantoras cuja identidade artística está diretamente ligada à ideia de etnia e gênero, suas construções dependem diretamente de um frequente jogo de representações, narrativas e usos do passado que se apresentam como parte de sua performance. Por meio da análise de algumas publicações de Gloria Estefan, Camila Cabello e Jennifer Lopez, essa comunicação, como parte dos resultados de minha pesquisa de mestrado e doutorado, visa levantar alguns pontos possíveis de análise do Instagram como fonte de estudo para a historiadora da música pop dedicada aos estudos (auto)biográficos, entendendo que o Instagram (e as redes sociais em geral) é hoje parte indispensável na construção da Diva, com ênfase nos debates interseccionais sobre latinidade e gênero. Para isso, parto do campo da Cultura Visual, articulado com os estudos sobre a Cultura Escrita, na tentativa de compreender as múltiplas temporalidades que permeiam a composição da rede social dos artistas, manifestadas tanto nas práticas de escrita quanto na seleção/edição de fotografias, bem como na composição do próprio aplicativo e na escolha do que é publicado.

 

Referências

 

DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998.

HARTOG, François. Regimes de Historicidade: Presentismo e Experiências do Tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

MARTÍNEZ CANO, Silvia. Las divas del pop y la identidad feminista: reivindicación, contradicción y consumo cultural. Rev. de Investigaciones Feministas 8(2), 2017, 475-492.

RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

TAYLOR, Diana. O Arquivo e o repertório. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013

Palavras-chave: Divas, Latin Pop Music, Escrita autobiográfica, , Redes Sociais, História do Tempo Presente.

 

Malcolm Mclaren, Duck Rock e a World Music: reenquadramentos estéticos e resistências contracoloniais

Fabrício Lopes da Silveira, Luiz Alfredo Coutinho Souto, Nilton Faria de Carvalho

 

O fim da banda inglesa Sex Pistols é um dos eventos que coincidem com a virada estética do pós-punk. Embora muitas bandas tenham dado continuidade aos modos de produção do punk, no período compreendido entre 1978 e 1980, alguns grupos e artistas, antes vinculados exclusivamente ao gênero, passaram a experimentar outros registros, outros tipos de sonoridade. Em meio ao desembarque de alguns, estava a figura polêmica de Malcolm McLaren, ex-empresário dos Sex Pistols. Seu álbum Duck Rock (1983) é uma apropriação estética de sonoridades que circulavam às margens da música pop anglo-americana, provenientes, notadamente, do Sul Global — e foi lá onde McLaren visualizou a possibilidade de elaborar um disco experimental capaz de trazer frescor sonoro ao então já combalido punk. O presente trabalho se ancora numa observação empírica de Duck Rock (1983), utilizando-o para repensar o período do chamado pós-punk e a ascensão consequente do termo world music. Busca-se compreender, dando-lhe maior foco, a agência de McLaren, em termos conceituais e composicionais. Quais foram, afinal de contas, as tensões políticas e estéticas que ele logrou administrar? Como ele opera no sentido de obter uma “superação” do punk, abrindo-o a formas expressivas, estilos, linguagens e sonoridades de caráter contracolonial? Como o álbum citado é instituído em termos fonográficos e midiáticos? Tentando dar conta de tais questões — e tentando evidenciar a inteligência particular e o senso de oportunidade de McLaren —, recorremos à semiótica da cultura, na via de Iuri Lotman (1996), que nos permitirá articular discussões sobre memória, processos de atualização e tradução semiótica. De outra parte, encontramos instrumentos teórico-metodológicos de apoio no marco das materialidades da comunicação e da arqueologia das mídias, sempre no sentido de examinar como Malcolm McLaren atuou, concebendo um produto midiático complexo e instigante. Trata-se, portanto, de flagrar o referido artista como um radar, uma usina de ideias e estratégias, dotado de capacidade inventiva, compreensão aguda do mercado e dos fenômenos musicais, disposto a reinventar um gênero, em si mesmo, tão debatido.

Palavras-chave: Malcolm McLaren, Duck Rock, world music, semiótica da cultura, contracolonialidade.

Radioarte: a natureza transdutiva de uma flor azul no canteiro das artes.

Roberto D'Ugo Junior

 

Este trabalho investiga processos e procedimentos presentes na criação e difusão de obras originais de radioarte. A produção artística do próprio autor é o foco principal desta pesquisa, cujo objeto é uma arte acústica mediatizada, de natureza polimórfica, híbrida e transgressiva, sem definição absoluta. A investigação assume um caráter orgânico, baseada em abordagens de um saber encarnado. A genealogia da radioarte pode ser traçada desde o início do século XX, no encontro do rádio com as vanguardas artísticas. Ao longo da história desse veículo de comunicação de massa, a experimentação estética esteve sempre presente. Para além da radiofonia pública, cultural e educativa, a expressão artística em linguagem radiofônica pode hoje encontrar seu público nas novas práticas de produção, distribuição e consumo de áudio, como rádios online e o podcasting. Na inaudita diversidade que caracteriza a audiosfera digital percebida na Internet, movem-se constelações de inclassificáveis criadoras e criadores sonoros. Este trabalho deu origem a um corpo de peças que pode ser dividido em dois grupos: miniaturas e três peças mais longas, articuladas como três painéis sonoros: M.A.R. (2019), CriptoSonido: Aleph (2019/2020) e Fica Comovido (2021/2022). Repetição e o emprego de técnicas de montagem de registros documentais caracterizam as composições. O encontro das obras com o público, com uma comunidade de ouvintes ativos, corresponde a uma etapa importante da proposta. A expectativa foi criar obras que permitam a evocação de conhecimento não discursivo, explorando potencialidades imagéticas, cinéticas e sinestésicas do som mediatizado. Processo artístico e compreensão teórica foram abordados de maneira dialógica e eclética, a partir do reconhecimento de um saber operativo e do desejo de produção de presença. Magia e técnica, ciência e arte, iconicidade e abstração, correspondências e deslocamentos – estas foram algumas das ideias trabalhadas. A radioarte como possibilidade de entreouvir, desvelar e interpretar aspectos discretos ou ocultos da realidade. Nesta investigação está subjacente a defesa de uma tipologia específica de arte acústica, que nasce e/ou deriva de ambientes e meios técnicos de difusão sonora, mais especificamente de práticas relacionadas à comunicação radiofônica. Propor o anti-rádio (ou sugerir inflexões de um pós-rádio) é já uma declaração de amor. Enamorar-se pelo lado oculto (experimental) de um veículo de comunicação de massa é, de certo modo, uma profissão de fé, um ponto de partida rumo ao grande oriente da experiência estética. Tensionar as características fenomenológicas do veículo rádio, e suas convenções técnicas e retóricas, constitui a essência de um programa artístico, de uma poética pessoal, cujo objetivo é o reencantamento do mundo: nostalgia romântica – assombro cotidiano –, utopia surrealista cultivada na esfera acústica de um grande centro urbano, São Paulo. Algumas coisas são apenas vistas despois de ouvidas, disse Breton.

 

Referências

 

BAITELLO JR., Norval. A era da iconofagia: reflexões sobre a imagem, comunicação, mídia e cultura. São Paulo: Paulus, 2014.

NANCY, Jean-Luc. À escuta. Tradução: Carlos Eduardo Schmidt Capela e Vinícius Nicastro Honesko. Outra travessia 15 – Programa de Pós-Graduação em Literatura. UFSC, 2013.

SIMONDON, Gilbert. Do modo de existência dos objetos técnicos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2020.

Palavras-chave: Radioarte, Arte sonora, Artemídia, Processos e procedimentos artísticos, Cultura do ouvir.

 

EDUCOMUNICAÇÃO E MÚSICA: olhar sensível à comunicação da linguagem musical no ensino público

DENISE MENDES DE SOUZA GONCALVES, FREDERICO BRAIDA RODRIGUES DE PAULA

 

Há quem pense o trabalho e vida de artista acontece apenas em palcos; engana-se quem pensa assim. Os artistas percorrem diferentes territorialidades; alguns atuam como professores de música em escolas pública, formando outros artistas ou possibilitando o encontro dos estudantes com as artes. Este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado que se caracteriza como qualitativa e exploratória. Além de ser bibliográfica, a metodologia da pesquisa envolveu a aplicação de questionários e a realização de entrevistas, interpretadas à luz da análise do discurso francesa, com professores de música da rede municipal de ensino de Juiz de Fora. Considera-se, aqui, a identificação das práticas educomunicativas nos espaços escolares públicos municipais que contribuem para o ensino e aprendizagem da música.

Na análise dos dados, percebe-se a necessidade de a linguagem musical ser cada vez mais comunicada, expandindo-se pelas escolas e pela cidade, uma vez que a quantidade de professores e de projetos de música não abrangem todas as escolas municipais. O fato de a área de música não estar na grade curricular como obrigatória para todas as escolas é o maior dificultador apontado, podendo ser excluída a qualquer momento, visto a falta de legitimação da música na escola pública em documentos oficiais federais e municipais. Apesar de os documentos municipais identificarem as quatro modalidades da arte como áreas de conhecimento, no que difere da BNCC, os próprios documentos municipais não garantem as quatro modalidades estarem na escola ao mesmo tempo. Outro ponto para um olhar sensível do ensino de música educomuncativo no espaço escolar público é a alegação de que muitas vezes a música é abordada com um olhar não profissional e falam também sobre a forma como a disciplina é usada, por exemplo, para cobrir falta de professores e janelas livres no horário escolar.

Sobre o termo “educomunicação”, é interessante observar o modo como, não conhecendo o conceito, os participantes da pesquisa ilustraram bem, com a fala, a prática musical do dia a dia identificada com esses fundamentos. Mesmo mediante as dificuldades apresentadas, as práticas docentes puderam ser entendidas como potencializadoras no alfabetizar da linguagem para a musicalização e além dela (PENNA, 2014).

Palavras-chave: Educomunicação, música, legitimidade, sensibilidade, escola pública.

“Who’s that girl?” “Bitch, I’m Madonna”: o fenômeno artístico-musical da rainha do pop em 40 anos de carreira

Maurício João Vieira Filho, Laryssa Gabellini

 

Recém-completados 40 anos de carreira em 2022, Madonna é um fenômeno da cultura pop mundial que se revoluciona a cada era musical. Desde icônicos videoclipes lançados na MTV, como Like a prayer que transgrediu conservadorismos, passando pela performance de Vogue no VMA Awards em 1990 ou anos antes vestida de noiva e interpretação de Like a virgin no palco da premiação, seguindo pelas inovações nas turnês até viralizações no TikTok que provocaram a re-ascensão de suas músicas, a rainha do pop se mescla em telas, diferentes espaços midiáticos e plataformizados, emplacando hits por cinco décadas na Billboard Hot 100. Madonna é um ícone complexo por camadas subversivas e transgressoras de gênero, sexualidade, do relacionamento com o corpo, pelas questões sociopolíticas que suas obras acionam e pela trama artística que tece em sua carreira, pontuações empreendidas por Kellner (2001). Neste trabalho, nosso objetivo é refletir como as músicas, suas reverberações e produções de sentidos em (e entre) telas se mesclam ao longo da carreira da rainha do pop Madonna. O intuito não é cartografar a carreira artística de Madonna, pois, como rainha do pop, o espaço deste trabalho não teria o fôlego suficiente perto de tamanha trajetória. Por esse motivo, valemo-nos da perspectiva indiciária (BRAGA, 2008) como gesto metodológico de investigação para que alguns elementos em destaque sejam tensionados às discussões teóricas a serem refletidas. Para esta empreitada, o texto une temporalidades e audiovisualidades e caminha para vislumbrar a sinestesia de sentidos nas produções artísticas de Madonna. É a partir disso que mobilizamos Soares (2020, p. 26) que acentua que o corpo-som das cantoras “[...] projeta um senso de musicalidade e movimento para as imagens. É, antes de tudo, som nas imagens”. O corpo-som em cena de Madonna mistura dimensões biográficas, da indústria musical do pop, ações midiatizadas, danças, voz e gestos. Tais atributos fazem a diva ser endeusada e permite construir imagens e se ligar aos fãs. Por tanta força, Madonna se torna um “padrão” para espetáculos musicais e sinônimo de diva (LINS, 2020). Em 40 anos de carreira, a combinação de temporalidades e audiovisualidades em cena promove uma sinestesia de sentidos nas produções artísticas e consolida um legado na cultura pop.

 

Referências

BRAGA, J. L. Comunicação, disciplina indiciária. MATRIZes, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 73-88, 2008. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38193. Acesso em: 18 jun. 2023.

 

KELLNER, D. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001.

 

LINS, M. This is show business: a cultura dos mega-espetáculos pop e a invenção do “padrão Madonna”. In: SOARES, T.; LINS, M.; MANGABEIRA, A. (Orgs.). Divas Pop: o corpo-som das cantoras na cultura midiática. Belo Horizonte: Selo PPGCOM/UFMG, 2020, p. 165-180.


SOARES, T. Divas pop: o corpo-som das cantoras na cultura midiática. In: SOARES, T.; LINS, M.; MANGABEIRA, A. (Orgs.). Divas Pop: o corpo-som das cantoras na cultura midiática. Belo Horizonte: Selo PPGCOM/UFMG, 2020, p. 25-42.

Palavras-chave: Madonna, cultura pop, performances

LUDMILLA IN THE HOUSE: a construção audiovisual da diva bandida e a representação da imprensa em “Sou má”

Giselle Rafaela Clara, Jhonatan Alves Pereira Mata

 

O telejornalismo diário tem, por meio de suas rotinas produtivas, diferentes formas de divulgação de um fato. Dentre os assuntos que se destacam nos critérios de noticiabilidade, estão os factuais de interesse público ou do público, sendo frequente a decisão editorial de apresentar as notícias, de forma sensacionalista. Neste contexto - e partindo da constatação de que a imprensa vem sendo largamente utilizada como personagem ou plano de fundo para produções audiovisuais, com destaque para o formato “videoclipe”, nossa proposta é mapear pontos de interstício entre as estéticas do videoclipe (SOARES, 2013) e do telejornalismo. Em paralelo, interessa-nos discutir sobre a persona midiática encarnada pela cantora-compositora fluminense Ludmilla na obra “Sou má”, parceria com a dupla paulista de gêmeas rappers Tasha e Tracie. Na produção, as artistas interpretam personagens bandidas, que têm seu crime e rostos expostos e noticiados na televisão, num exercício de metalinguagem. Utilizando como metodologia a análise da materialidade visual (COUTINHO, 2016), observamos os inúmeros paratextos circulantes que nos levam a refletir sobre a representação do crime e da imprensa sensacionalista e os modos de construção daquilo que conceituamos como “bandivas”, divas bandidas que subvertem, na ficção, mas não apenas- a noção secular do termo, bem como o conceito de olimpianos definido por Morin (1977) para se referir às celebridades como semi deuses contemporâneos. Considerando que os estados de origem das artistas produzem também uma sorte de programas jornalísticos que se utilizam da espetacularização do crime para angariar audiência, interessa-nos observar como opera a construção de uma cultura de celebridades alicerçada nas “bandivas”, que ressignifica, em telas, estereotipias que transitam pela ficção e pela realidade. Numa narrativa em que a virtuosidade da diva se apresenta na história contada como um talento ou técnica pautados não apenas em termos de alcance vocal ou star system, mas também de aptidão das personagens para o ilícito. O lançamento do clipe, que já alcançou 5,7 milhões de visualizações, foi feito nas redes sociais com a hashtag #ludmillafoipresa, que entrou para os “trending topics” do twitter. A ideia é perceber como operam, em simultâneo, o culto às bandivas e a uma espécie de “estética Coliseu”, que se desenrola, num cenário midiático em que o público quer que o personagem seja jogado aos leões para o entretenimento – e que está presente tanto na representação do videoclipe quanto no telejornalismo diário. As promessas de leitura feitas a uma sociedade culturalmente midiatizada evidenciam a persona midiática trabalhada pela artista perante seu público, em suas performances e linguagens artístico-criativas que acabam interferindo também nas visões de mundo a respeito da cobertura e do papel da imprensa informativa no audiovisual.

 

Referências

 

COUTINHO, Iluska. O telejornalismo narrado nas pesquisas e a busca por cientificidade: A análise da materialidade audiovisual como método possível. São Paulo, 2016

SOARES, Thiago. A Estética do Videoclipe. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX. Fiorense-Universitária:RJ, 1977

KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia. Estudos culturais: Identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. 2001

Palavras-chave: Audiovisual, telejornalismo, sensacionalismo, imprensa, videoclipe

 

Mitos e narrativas de uma cantora pop: Anitta e Harry Potter contra a despolitização adolescente

Sara de Moraes Bridi

 

Os caracteres organizados neste papel vão contar a história de uma menina que, desde cedo, aprendeu que poderia usar o estereótipo da beleza e da sensualidade para alcançar seus objetivos – foi assim que ela conseguiu estudar, ganhar fama no Brasil e depois no mundo e se tornar uma personalidade que influencia milhões de pessoas em suas vidas cotidianas, inclusive na política. E como ela fez isso? Contando histórias que o público quer ouvir. Desde o início da pandemia de Covid-19, Anitta passou a se interessar um pouco mais pela política brasileira e, com a aproximação do processo eleitoral, a cantora decidiu se envolver. A primeira brasileira a ganhar o Video Music Awards e conquistar o topo mundial de música mais acessada na plataforma Spotify passou a aplicar suas estratégias de marketing digital para incentivar adolescentes de 16 e 17 anos a votar e tirar a nova direita do poder. Entre as diversas técnicas utilizadas, este artigo pretende se debruçar com maior atenção sobre suas analogias narrativas que associam a mitologia de Harry Potter à realidade do país.

Com base nas reflexões de Douglas Kellner (2001), será traçado um breve perfil de Anitta como produto de mídia. Em seguida, outras histórias se conectam para delinear esse caminho, contando da relação entre mídia e narração ao longo do tempo e, para entender um pouco dessa jornada, alguns exemplos serão apresentados na próxima seção, embasados em levantamentos de arquivos históricos e observações de François Jost (2007) e Henry Jenkins (2006). Com a metodologia, centrada na análise da materialidade do audiovisual (AMA), proposta por Iluska Coutinho (2016), combinada às proposições de Kellner quanto a cultura de mídia e Raimundo Martins (2012) sobre a cultura visual como artefato social para estudar as estratégias de inserção de Anitta em temas políticos. Já a história cultural, das ideias e das mentalidades aplicada ao universo político e mitológico por Raoul Girardet (1987) servirá de base para encontrar as relações semânticas estabelecidas pela cantora pop entre os personagens de Harry Potter e os atores políticos brasileiros.

 

Palavras-chave: Anitta; Música pop; Celebridade; Midiatização política; Eleições 2022

 

De ídolas a divas e princesas do canto: conceituações e intersecções terminológicas em cantoras da música popular japonesa

Josieldo Pereira

 

No Ocidente, a utilização do vocábulo diva tende a demarcar sua relação com as acepções de divindade, excepcionalidade, virtuose e de uma figura feminina ocupante de uma rachadura entre a norma e a fricção social (MILLER, COPELAND, 2018). Em culturas como a japonesa, entretanto, o termo revela sobretudo a importação de uma ideia de figura feminina no campo das artes. Transliterado como diba (????), ele ora negocia, ora é tensionado com outra expressão corrente no léxico nipônico: a existência de uma utahime ??, em sentido literal, uma princesa do canto.

A intercambialidade dos termos nas representações midiáticas japonesas começa-nos a suscitar a análise linguística destas mesmas representações. A palavra local é passível de ser vista abrindo vestígios de negociação com a estrangeira e disputa de definições subjaz no circunspecto de identidades, subjetividades e projetos das cantoras que fazem parte da historiografia musical japonesa, em suas próprias relações com o mercado musical, na tangente de uma influência globalizada. consigo mesmas e com as lacunas que preenchem na história do Japão.

No espectro da admiração, outra complexificação é presentificada. O termo aidoru, do inglês idol, ídolo/ídola, descreve historicamente um modelo de produção serializada de cantoras e cantoras e demarca semanticamente uma hierarquia artística. Desta forma, os usos de diva, aidoru e utahime podem revelar-se como não coincidentes, ensejando um alicerce que perfaz a trajetória do embate de nomenclaturas sob várias nuances. Ao mencionar, em uma de suas primeiras entrevistas, que almeja se tornar uma artista (atisuto, ??????) e não uma ídola (aidoru), a cantora Koda Kumi semeia sua própria etimologia midiática da palavra neste contexto de disputa hierárquica: a artista supostamente trabalha mais do que sua contraparte ídola, estando, possivelmente, em um papel social mais relevante.

Nesse sentido, este trabalho busca conectar e investigar as construções, intercambialidades, divergências, convergências e produções de sentido de expressões como ídola (aidoru), diva, utahime e artista no contexto japonês. Em uma leitura semiótico-textual, busca também exemplificar e compreender, por meio de atos musicais como os das cantoras Misora Hibari, Matsuda Seiko e Koda Kumi, se tais usos estão, por sua vez, em elos de significação imbricados na materialidade performática destas cantoras e como estas disparidades podem não ser apenas terminológicas, mas jogar luz sobre questões identitárias.

 

Referências

 

AOYAGI, Hiroshi; GALBRAITH, Patrick W.; KOVACIC, Mateja (orgs.). Idology in transcultural perspective: anthropological investigations of popular idolatry. Londres: Palgrave MacMillan, 2021.

GALBRAITH, Patrick W.; KARLIN, Jason G. (orgs.). Idols and Celebrity in Japanese Media Culture. New York: Palgrave, 2012.

HIRAYAMA, Asaharu. Posutomodan shakai keizai ni okeru, aidoru no geijutsu-sei to shuky?-sei [A artisticidade e a religiosidade dos aidoru na sócio-economia pós-moderna]. Tsukuba Daigaku Keizai-gaku Ronshu [Jornal de Economia da Universidade de Tsukuba], Tsukuba, v. 68, n. 1, p. 1-88, 31 mar. 2016. Disponível em: https://cir.nii.ac.jp/crid/1390572174603895936. Acesso em 21 fev. 2022.

MILLER, Laura; COPELAND, Rebecca (org.). Diva nation: female icons from Japanese cultural history. Oakland: University of California Press, 2018.

Palavras-chave: diva, aidoru, utahime, música popular japonesa.

 

Iza: uma diva pop negra brasileira. Processos de consagração e regimes de representação

Luciana Ferreira Moura Mendonça

 

A presente comunicação propõe-se a questionar o que há de novo no panorama da música pop brasileira em relação às mudanças nos regimes de representação racializados (HALL, 2016) e genderizados no Brasil contemporâneo por meio da análise da trajetória artística de Iza (Isabel Cristina Correia de Lima Lima, Rio de Janeiro, 1990), cantora, compositora e personalidade midiática. A projeção de Iza como diva pop negra brasileira inaugura não apenas um momento particular da música pop no país, mas, sobretudo, aponta para novas formas de apresentação e representação do corpo e da voz femininos negros, contrapostas aos estereótipos cristalizados sobre a mulher negra na cultura brasileira (GONZALES, 1984). Iza, assim como outras cantautoras atuais (Lueji Luna, Larissa Luz, Bia Ferreira, Karol Conká, entre outras) destaca-se por sua conexão criativa com o feminismo negro, que se expressa não só nos seus discursos, mas nas suas composições, posturas e performances, nas quais assume um lugar de fala anteriormente muito mais silenciado e um protagonismo advindo do processo de transformação de objeto em sujeito de representação (HOOKS, 2019; KILOMBA, 2019). Porém, de maneira diversa de outras cantautoras negras, Iza construiu estratégias artísticas e midiáticas bem-sucedidas no sentido de possibilitarem transcender as barreiras tanto do consumo de nicho como das resistências geradas pelo comprometimento com um discurso de enfrentamento ao racismo e ao sexismo. Nesse sentido, a consolidação de Iza diva pop brasileira constitui-se num fenômeno rico para a análise nas transformações, por um lado, dos processos de consagração artística e, por outro, dos regimes de representação.

 

Referências

 

Gonzales, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.

Hall, Stuart. O espetáculo do “outro” In: Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, Apicuri, 2016, p. 139-231.

hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.

Kilomba, Grada. Memórias da plantação. Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

Soares, Tiago. Divas pop: O corpo-som das cantoras na cultura midiática. In: Soares, T; Lins, M.; Mangabeiras, A. (orgs.). Divas pop: o corpo-som das cantoras na cultura midiática. Belo Horizonte: Fafich/Selo PPGCOM/UFMG, 2020, p. 25-42.

 

Palavras-chave: música pop; negritude; regimes de representação; feminismo negro

 

APRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS

 

Videoclipe Espaço-tempo

Carol Brandalise

 

A música Espaço-tempo trata do gestar de si, do outro, do universo e como estas concepões se relacionam. A composição foi inspirada na observação e acompanhamento das fases de crescimento do feto e sua transformação em um bebê. A complexa estrutura de formação de um ser comparada com intrincada e misteriosa criação do universo. O ser humano em sua necessidade de se redescobrir e encontrar seu próprio universo, dentro de si. A composição e o arranjo da música, bem como a concepção, direção e edição do vídeo foram elaborados pela compositora, Carol Brandalise. Música concebida durante a pandemia, parte do álbum Questões do Exitir lançcado em 2022, com apoio da SECEL/MT. Dedicada a Cauê Silva Brandalise, filho de Carol Brandalise.

 

Músicos envolvidos:

Produção: Manoel Neto

Jhon Stuart - Contrabaixo acústico

Leonardo Gorosito - Percussão

Manoel Neto - Guitarra

Thiago Costa - Bateria

Gravado e mixado no Estúdio Inca - MT Engenheiro de som: Manoel Neto Masterização: Reference Mastering (SP) por Homero Lotito Foto e arte Fred Gustavos Make: Andréia Okamura Assessoria de Imprensa: Mirella Duart Apoio: SESC/MT

 

Palavras-chave: videoclipe, espaço-tempo, autoral, concepção, existência, universo.

 

 

 

Paraquedas paraamores pandêmicos.

Ana Cecília dos Santos

 

Con(s)erto de Ceci com viola caipira e temas do "diário de bordo da terra redonda" - crônicas pessoais para Facebook e Instagram. Entre os anos de 2020 e 2021, em isolamento social, poemas, pedaços e recortes, de escrita e de gente; entre uma vida de artista e docente; entre amigos partidos e vida corrente; Pantanal em chamas e o futuro, sob qual presente? Deixar fluir ou fruição: as ideias serpentinam sobre viver. Porém, aqui, nada tem rima, exceto o acaso.

 

Palavras-chave: Canção autoral, voz, viola caipira.

 

Radioarte Reimaginada. Live Mix. Pocket Radio Performance

Roberto D'Ugo, André Papi

 

Pocket Radio Performance, com mixagem e intervenções eletroacústicas em tempo real. Radioarte de Roberto D’Ugo desconstruída e remixada ao vivo por André Papi. O som como meio de presentificação do oculto. Sinais e interferências em diálogo com loops infamiliares. A ritualização do cotiadano. Elogio ao lapso, ao corte. Saturação e erosão semânticas: a desnaturalização rítmica da palavra na geração de oráculos acústicos. Memórias analógicas em reticulações digitais. Deslocamentos metaestáveis do som. Arqueologia dos media em forma de arte sonora. Encontro de gerações, amalgamas poiéticos.