A admiração difere das demais paixões, pois estas envolvem, afetam, arrastam e enlaçam o sujeito para elas próprias, ao passo que aquela, embora o sujeito também a ela se incline, provoca certa retração, certa distância (GONZÁLEZ, 2014). Thievenaz (2017), ao evidenciar o caráter de estranhamento e de aproximação da realidade que a admiração assume, embora não destaque o plano moral propriamente dito, nos mostra todo um jogo de tensões subjacente a tal emoção. Instante fugaz mas decisivo, momento furtivo, do instante, mas com potencial de prolongamento reflexivo e transformativo. Risco de aproximação, mas preservação ao se conter na distância. Oportunidade de um lado, perigo de outro. Fissuração instabilizante do ordinário, da plenitude das crenças habituais, no detalhe, do que escorre, do cotidiano, mas no ou pelo ordinário (para além de uma compreensão metafísica do surpreendimento - do étonnement), para prover novos sentidos e caminhos, para dinamizar, ativar ou refinar a capacidade sensitiva e intelectiva do sujeito, explodindo as categorias rasteiras que equiparam importância ao que chama atenção. Despertamento, portanto, mas também impotência, estranhamento, insegurança (THIEVENAZ, 2017).

São as distâncias de acolhimento e o acolhimento das distâncias que se pretende analisar em Noites de Alface (2013), de Vanessa Bárbara, romance adaptado com título homônimo (2021), dirigido por Zeca Ferreira. Otto e Ada, dois personagens idosos, são os protagonistas desse enlace que tensiona a admiração como surpreendimento e como admiração moral, contra, pois, a passividade ou a inatividade comumente atribuídas à velhez.

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