27/08/2021 - 15:00 às 18:00h

Profa. Dra. Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB)
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André João Antonil, jesuíta italiano que viveu na Bahia no século XVII, dizia que o Brasil era “o purgatório dos brancos, o inferno dos pretos e o paraíso dos mulatos”. Segundo ele, os mulatos e mulatas que proliferaram em terras brasileiras desde os primórdios da colonização traziam consigo as características mais nocivas das raças das quais descendiam. Essa visão acompanha a trajetória de homens e mulheres mestiços ao longo dos tempos coloniais e avança até os séculos XIX e XX, contexto marcado pela abolição da escravidão, proclamação da República e tentativas, por parte da elite, de construção de uma identidade nacional. Nesse processo diversos pensadores se preocuparam em buscar um elo que unificasse o país. Entre eles, encontramos: Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres, Manuel Bonfim, Raimundo Nina Rodrigues, João Batista de Lacerda, Oliveira Viana e Gilberto Freyre. Embora com pensamentos diferentes, todos eles pretendiam formular um conceito do que era “ser brasileiro”. Identidade que supostamente ajudaria a consolidar o Brasil enquanto nação. Salvo exceções, sofriam as influências das teorias raciais de determinismo biológico, acreditando na inferioridade das raças “não brancas” e na degeneração do mestiço. É fato que no pós-abolição, mulheres e homens negros foram excluídos do mundo do trabalho, em especial do nascente processo de industrialização que se enunciava, substituídos pela mão-de-obra imigrante europeia. Nessa “nova” sociedade os mulatos, chamados comumente de pardos, ocuparão um lugar importante na sedimentação da branquitude como agentes intermediários entre brancos e pretos, com um espaço de ascensão social possível de ser atingido quanto maior fosse o seu processo de branqueamento.

 

Referências

AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites – século XIX. São Paulo: Anablume, 2004.

DÁVILA, Jerry. Diploma de brancura: política social e racial no Brasil 1917-1945. São Paulo: Editora da UNESP, 2006.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

RIBEIRO, Fábia Barbosa. Diversidade étnico-racial no Brasil. In: COSTA e SILVA, Geranilde; LIMA, Ivan Costa e MEIJER, Rebeca Alcântara da Silva. Abordagens políticas, históricas e pedagógicas de igualdade racial no ambiente escolar diversidade étnico-racial no Brasil. Redenção: UNILAB, 2015.

RODRIGUES, Raimundo Nina. Criminalidade e a imputabilidade à luz da evolução social e mental. In: As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil. [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social, 2011.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. Companhia das Letras, 1993.

Vianna, Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005.

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