Os estudos de letramento evoluíram significativamente desde as últimas décadas do século XX, passando de uma ênfase na alfabetização para uma compreensão das práticas de letramento como fenômenos sociais profundamente enraizados em contextos específicos. Através das contribuições pioneiras de Scribner e Cole (1981), Heath (1983) e Street (1984), o campo reconheceu a diversidade dos letramentos e a importância das práticas letradas situadas. O trabalho de Street (1984) foi fundamental para uma mudança de paradigma ao introduzir a distinção entre modelos “autônomos” e “ideológicos” de letramento, onde o último considera as práticas de letramento como intrinsecamente vinculadas a contextos culturais, sociais e políticos.

No Brasil, desde a década de 1990, sob a influência de Magda Soares, a pesquisa expandiu-se para incluir tanto os letramentos acadêmicos e digitais quanto os escolares, refletindo a dinâmica das práticas sociais vinculadas as tecnologias da informação e comunicação e evidenciando a riqueza e complexidade das práticas dos letramentos no contexto nacional, marcado tanto por influências globais quanto por desenvolvimentos locais.

Em nosso contexto brasileiro, a diversidade de enfoques nos estudos de letramento reflete a riqueza e a complexidade dessas práticas, abrangendo desde a educação básica até a educação superior, e evidenciando uma interação dinâmica entre influências internacionais e desenvolvimentos locais. Na educação básica, os estudos de letramento têm focado em práticas pedagógicas que valorizam os contextos socioculturais dos alunos, integrando letramentos digitais e multiculturais, em resposta às demandas de uma sociedade cada vez mais conectada e diversificada. Na educação superior, a pesquisa se expande para incluir letramentos acadêmicos e científicos, buscando entender como alunos e professores navegam pelas práticas de produção e compreensão de textos dentro de comunidades discursivas específicas. Este panorama é enriquecido por estudos que abordam os multiletramentos, reconhecendo a coexistência de múltiplas formas de letramento que se intersectam nas práticas cotidianas, desde a leitura crítica na internet até a produção de textos acadêmicos. Essa multiplicidade de enfoques demonstra um campo vibrante e em constante evolução, que responde tanto às tradições locais quanto aos desafios globais, contribuindo para uma compreensão mais profunda e contextualizada das práticas letradas no Brasil contemporâneo.

  • Evolução dos eventos acadêmicos relacionados

No Brasil, embora existam diversos eventos acadêmicos e científicos abordando temas de educação, linguística e práticas de leitura e escrita, são raros aqueles dedicados exclusivamente aos estudos de letramentos como campo interdisciplinar. No entanto, sessões, simpósios e grupos de trabalho em congressos maiores frequentemente incluem discussões sobre letramentos, refletindo sua relevância. Adicionalmente, iniciativas específicas de instituições de ensino e pesquisa organizam encontros e seminários focados em letramentos, demonstrando um reconhecimento crescente deste campo.

Os estudos de letramentos, entendidos como um campo interdisciplinar, situam-se na interseção de áreas diversas, tais como linguística, educação, sociologia, antropologia e ciência da informação. Este campo investiga as práticas sociais de leitura e escrita, analisando como elas são influenciadas por e influenciam contextos culturais, sociais, políticos e tecnológicos. Reconhecendo a multiplicidade e complexidade das práticas letradas, os estudos de letramentos identificam diferentes "letramentos" que variam conforme o contexto e a função social.

Os estudos de letramentos transcendem um mero tópico de estudo ou temática; eles formam um campo de conhecimento robusto e dinâmico. Caracterizado por uma abordagem multidisciplinar, este campo foca nas práticas letradas como fenômenos sociais específicos. Abrangendo desde o letramento acadêmico e escolar até os letramentos digitais e multimodais, literários, linguísticos, intercomunicativos e intracomunicativos, reflete os desafios e oportunidades das mudanças tecnológicas e sociais contemporâneas. Assim, os estudos de letramentos fornecem um quadro teórico e metodológico para compreender como as pessoas utilizam a linguagem escrita em suas vidas diárias, em variadas esferas da atividade humana.

A partir desse contexto, o I CONGRESSO NACIONAL DE LETRAMENTOS (I COLES) inicia sua história no presente evento sob o entendimento de letramentos enquanto um sinônimo de prática e processo de produção de gêneros nos contextos da educação superior e básica. O início desse projeto de congresso nacional deriva, principalmente, do Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais/Discursivos – SIGET, um dos Grupos de Trabalho – GT da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística – ANPOLL “Gêneros Textuais e Discursivos’ e da comissão Linguística na Educação Básica, da ABRALIN. Dessa forma o presente congresso entende a pertinência e a relação entre ambos os temas de estudo, integrando valor contextual e reflexivo aos tópicos sobre linguagem que amplia e aprofunda os conhecimentos do tripé ensino, pesquisa e extensão na grande área de Letras e Linguística (da ANPOLL) ou Linguística e Literatura (da CAPES). A articulação entre Estudos de Gêneros Textuais/Discursivos e Letramentos tem sido um tema recorrente, mas são pouco comuns eventos acadêmico-científicos como tema central. Essa interseção reflete a importância de compreender como os gêneros textuais e as práticas de letramentos influenciam e são influenciados por contextos específicos.

O I COLES também é baseado em diferentes grupos de estudo e pesquisa de: Práticas discursivas, Interação Social e Ensino – DICENS (UPE); Gênero, Texto e Ensino – GETE (UNICAP); Grupo de Estudos do Textos – GETEXTO (UESPI); e Leitura e Escrita Acadêmica – LEIA (UESPI). Esses grupos de estudo e pesquisa têm gerado atividades de socialização e interação, compreensão e interpretação dos elementos de leitura e produção textual em gêneros específicos da educação superior, básica e profissional. A trocas de conhecimentos e experiências no trabalho de ensino e pesquisa, por meio de gêneros, permitem que os encontros nessas atividades de prática social fundamentem a importância do I COLES como referência para o debate e a ascendência de saberes acerca da temática central.

  • Importância do I COLES na área

O I Congresso Nacional de Letramentos (I COLES) surge como um evento pioneiro e de suma importância na área dos estudos de letramentos no Brasil, estabelecendo-se como um espaço essencial para a integração, o debate e a expansão do conhecimento sobre letramentos e gêneros textuais/discursivos. Sua realização reflete a crescente necessidade de espaços dedicados exclusivamente à discussão dessas temáticas, promovendo um diálogo aprofundado entre pesquisadores, educadores e estudantes de diversas regiões do país. Ao focar na interseção entre os estudos de gêneros textuais/discursivos e letramentos, o I COLES enfatiza a relevância de compreender as práticas de linguagem (leitura e escrita, imagem e som, tato e olfato etc.) em contextos específicos, contribuindo significativamente para o avanço educacional e científico na área de Letras/literatura e Linguística. Este congresso não apenas reconhece, mas também valoriza a complexidade das práticas letradas, incentivando a pesquisa, a inovação pedagógica e o desenvolvimento profissional, o que o torna um marco na promoção de uma educação mais inclusiva, diversificada e reflexiva sobre os letramentos na sociedade contemporânea.