A disciplina de Relações Internacionais, em sua concepção tradicional, tem se focado primariamente nas questões relacionadas às relações entre Estados. Assuntos de guerra e paz: estes têm sido suas preocupações maiores desde seu surgimento, no pós-Primeira Guerra Mundial. No entanto, a partir principalmente da década de 1980, dentro do que comumente é conhecimento como “Terceiro Debate”, surgem uma série de abordagens críticas no seio da disciplina que questionam (em termos epistemológicos e ontológicos) este foco Estadocêntrico o qual, argumentam, ignora a dimensão humana das questões internacionais, além de obscurecer diversas dinâmicas de poder essenciais à sua compreensão. Dentre estas abordagens destacamos aqui o feminismo e os estudos de gênero. Estas perspectivas buscam demonstrar o papel do gênero como “categoria empírica relevante e ferramenta analítica” para a compreensão do internacional, bem como uma “posição normativa” para a construção de uma ordem global alternativa (TRUE, 2005, p. 213). Assim como os estudos de gênero em todas as áreas humanas buscavam ressaltar que o pessoal é político, as teóricas feministas das Relações Internacionais vêm afirmar que o “pessoal que é político...também é internacional” (ENLOE, 2014). As pioneiras destes estudos começam perguntando “onde estão as mulheres?” (TICKNER, 2001) e através de suas respostas iluminam as “margens, silêncios e níveis inferiores” das relações internacionais (ENLOE, 1996). A abordagem feminista se baseia em uma (re)conceptualização do poder como algo que vai além do poder militar, mas está embrenhado em todas as relações humanas, por mais mundanas que possam parecer. A partir desta percepção, os estudos de gênero têm abordado os mais diversos temas, como a estrutura da economia internacional, conflitos internacionais, terrorismo, diplomacia, migrações, mídia, organizações internacionais, entre outros. Nas últimas décadas, tem-se procurado igualmente analisar as intersecções entre gênero, raça e classe, principalmente através de uma aproximação com os estudos pós e de-coloniais. Esse Grupo de Trabalho se propõe a debater estes e outros temas das relações internacionais a partir da perspectiva do gênero. Aceitam-se trabalhos de todas as temáticas relacionadas, que busquem elucidar as estruturas de poder e as relações genderizadas que fazem parte das estruturas da ordem global. A perspectiva adotada, que vai ao mesmo tempo abaixo e além do Estado nacional, permite, ainda, uma aproximação com todas as áreas das ciências humanas e sociais e busca promover o debate interdisciplinar.

 

Coordenadoras:

Fernanda Barasuol (UniRitter)

Marília Closs (UFRJ)

Elena Schuck (UNILA)

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