Resumo: O Coronavírus Covid-19 produziu um caso raro de consenso científico-técnico e político que não permite nenhum menosprezo omissivo. Talvez, pela primeira vez, a responsabilidade não está posta no que foi ou pode vir a ser, mas no que se encontra sendo/acontecendo. Um hoje tenso e que, no entanto, não produziu - ainda - uma angústia existencial ou um trauma moral. Todavia, não se tratará dos aspectos específicos e concernentes à doença (origem, letalidade, contaminação, tratamento, entre outras), mas ousar-se-á instituir um “olhar de fuga” sobre os “contaminados”, os “passíveis de contágio (receptores e transmissores)” e os “curados”. O leitmotiv desta reflexão é justamente um dilema entreposto na vontade de viver com o medo de morrer. As pretensões críticas propostas para este minicurso realizam um movimento reflexivo linear que inicia na literatura universal para transitar pela filosofia europeia e encerrar com as ciências sociais latino-americanos (especificamente brasileira). Em ordem: Thomas Mann, Giorgio Agamben, Enrique Dussel e Darcy Ribeiro. Não se versará, doravante, de elucubrações teóricas sobre os loucos (corruptos, machistas e equivocados), mas de tentar desvelar a perversidade lúdica dos bons (justos, humanistas e corretos). É a busca das perspectivas postas no engano, no consenso e na salvação. Assim, relutamos ao “perigo da cátedra” para, ironicamente, relembrar um processo complexo de interpretação milenar. É notório que a certeza “científica” concreta para enfrentar esta pandemia provém do senso comum: o isolamento/distanciamento social é o aprendizado mais antigo que a humanidade já experimentou. É uma prática própria e exclusiva do “bom senso”. Ora, por que a ciência “virtuosamente” se advoga detentora, sui generis, de uma ética comunitária? É neste ínterim que a sociologia latino-americana anti-colonial rememora o ato de repensar o Estado a partir da tensão entre o consenso científico e o discurso religioso.

Ministrante:  Mestre Sandro Adams (Universidade Federal de Pelotas) Doutoranda Mara Beatriz Nunes Gomes (Universidade Federal de Pelotas)

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