O contexto atual enfrentado pelas mudanças oriundas da mundialização do capital, da crise mundial-ecológica e sanitária e da diversidade cultural entre os povos ibero-americanos, nos desafia a avançar em oposição à visão reducionista do monoculturalismo e multiculturalismo promovendo assim o debate da Educação na perspectiva intercultural. O momento exige das comunidades científicas ibero-americanas o debate crítico e plural sobre os diversos temas que envolvem a temática da interculturalidade e sua interface com a educação. 

Do ponto de vista antropológico, a Educação constitui um dos meios mais eficazes de transmissão e aprendizado dos elementos culturais, linguísticos, econômicos, políticos e éticos pelos quais cada coletividade, povo ou etnia comunica, perpetua e desenvolve seu saber-fazer em relação à vida, ao Outro, à natureza e a sociedade. 

A variedade de identidades culturais representa que existem possibilidades de constituirmos como humanos de modos diversos, assim como, de encontrar caminhos diferentes para solucionar problemáticas similares que afligem a humanidade em distintos tempos e espaços. De acordo com Langon (2003), a supressão da diversidade cultural significaria o desaparecimento da capacidade humana de dar respostas variadas ao novo. Representaria o empobrecimento da humanidade porque fecharia caminhos e restringiria possibilidades de vir a ser de modo distinto, diferente.

A existência da diversidade assegura o desenvolvimento de relações e aprendizagens recíprocas entre eu e o Outro, já que nenhuma cultura é autossuficiente e isoladamente jamais resolverá os dilemas do mundo. Ao contrário, todas as sociedades fazem parte de uma realidade complexa e interdependente e, portanto, precisam reconhecer que muito podem apreender uma das outras (Panikkar, 1993).

Em contextos de intensa diversidade sociocultural, como é o caso ibero-americano, poderia coexistir, lado a lado, uma complexa variedade de culturas, traduzidas em um número ilimitado de etnias, línguas, crenças, valores, religiosidades, epistemologias e modos distintos de organização política, econômica e educativa. Relacionando-se umas com as outras, múltiplos intercâmbios poderiam ser realizados, resultando em construções e (re)criações inusitadas que ampliariam horizontes e sentidos.

Mas a história revela que não foi exatamente assim que se deram os encontros culturais. Estes se instituíram, na maioria das vezes, como desencontros – embora não se possa desconsiderar que isoladamente ocorreram alguns processos de interação e aprendizagem intercultural. Com a vinda dos colonizadores, a história da América Latina  foi atravessada por inúmeras violências, genocídios, epistemicídios  e culturicídios . Ao longo de cinco séculos, a diversidade cultural foi combatida, perseguida e invisibilizada em nome de um processo colonizador calcado na supremacia e universalidade da cultura europeia. Pela aliança entre a cruz (poder religioso) e a espada (poder político-mercantil), as culturas, saberes, religiosidades e valores indígenas, africanos e de diferentes minorías étnicas foram considerados elementos a serem combatidos, convertidos e negados em nome de um ideal civilizatório exclusivista. 

As características e tradições culturais europeias foram elevadas à condição de superiores enquanto que os elementos simbólicos e identitários das culturas dominadas foram relegadas à condição de subalternas, e sistematicamente silenciadas, invisibilizadas ou forçadas a desaparecer. Esta lógica impregnou as epistemologias, metodologias, sistemas e práticas educacionais. Por isso, o modelo educativo colonizador, adotado no período colonial até nossos dias, principalmente em sua forma escolarizada, tende a ser homogeneizante, na medida em que privilegia uma única forma de saber e um padrão organizativo que deslegitima a variedade de identidades culturais (Méndez, 2009).

Em vista disso e, tomando por base os pressupostos da interculturalidade, os eventos buscam problematizar o sistema escolarizador-universalizante e seu respectivo modelo de formação docente, com o intuito de ressignificar epistemologias e metodologias educacionais para que reconheçam a diversidade de identidades culturais em suas múltiplas possibilidades de ser, pensar, agir e viver.