Moderadora: Dra. Lúcia Maria Moraes – Puc/GO

Palestrante: Dra. Raquel Rolnik - USP

Pelo menos desde as jornadas de junho de 2013, quando o preço do transporte público, mas também sua precariedade e ineficiência nas cidades incendiaram as ruas, o tema da mobilidade urbana se constituiu em elemento essencial das lutas pelo direito à cidade no pais. Não são só 20 centavos, mas todo um sistema de circulação construído sob uma matriz rodoviarista e perversamente articulado à expansão ilimitada de periferias autoconstruidas e enclaves segregados, que é posto à prova quando os cidadãos exigem transporte público de qualidade disponível e acessível para todos, assim como o respeito aos modos não motorizados, protegendo os corpos dos venenos da poluição decorrente da queima de combustíveis fósseis e dos acidentes e mortes que marcam a vida nas cidades. Entretanto, embora absolutamente presente nas ruas, o tema é bastante ausente tanto nos meios de comunicação quanto no interior do aparato estatal, aonde a crise de mobilidade que claramente explodiu nas nossas cidades, se expressa através da imagem dos congestionamentos recordes, que se sucederam sobretudo após os anos do “milagrinho” (2006-2013). Constituído na opinião pública, o tema se traduz em política pública sob a forma de dois tipos de intervenções: investimentos em ampliação da infraestrutura viária e novos “produtos” ofertados pelo mercado de gestão de transporte e trânsito, agora sedutoramente denominados de “smart cities”. Mas afinal, o que impede que a prioridade absoluta para os transportes coletivos de massa e os modos não motorizados ganhem finalmente centralidade na política e no uso dos recursos? Apresentamos aqui cinco bloqueios, e uma esperança. A hegemonia da razão empreiteira aliada à promiscuidade dos prestadores de serviços de transporte em suas relações com o modelo político eleitoral, a força econômico-política da cadeia da circulação sobre pneus, a ligação estreita entre o modelo de circulação e o modo de rentabilizar o solo urbano, ganhou um aliado importante – para sua conservação e não ruptura, da chamada economia do compartilhamento. Por outro lado, os que obtiveram ganhos mínimos, mas fundamentais, com a adoção de políticas como bilhete único,corredores exclusivos, integração de modais e criação de uma malha cicloviária, certamente não pararão por aí.

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