Cidades Musicais como modalidade de Cidades Criativas: um debate fora do lugar?

 

Micael Herschmann

 

Em várias cidades ao redor do mundo, a cultura musical tornou-se uma espécie de campo de batalha, envolvendo conflitos e tensões sobre temas relevantes como gentrificação, tolerância, segurança e acessibilidade. Além disso, cada vez mais as cenas e circuitos musicais vêm fortalecendo o seu significado social nas tramas cotidianas, nas quais se fundamenta a vida urbana. Nesse sentido, é possível afirmar que crescentemente e em diferentes localidades do globo, os atores constroem uma “política musical”, a qual com recorrência reivindica o que Henri Lefebvre denominou de "direito à cidade". A partir de extensa pesquisa empírica realizada no Centro da cidade do Rio de Janeiro, buscou-se fazer um balanço da situação socioeconômica e cultural após a gentrificação da Zona Portuária. Vale salientar que esta área foi considerada em um determinado momento como uma localidade emblemática e estratégica do projeto que procurava converter a cidade do Rio em uma cidade criativa. Nos últimos anos, nesta microrregião, vem sendo possível identificar dinâmicas de articulação e tensão entre investimentos que visam promover megaeventos espetaculares e pequenos eventos culturais que tradicionalmente ocorriam nesta localidade organizados pelos atores através das redes sociais. Este balanço que coloca em destaque o valor da música ao vivo como uma riqueza que pode trazer benefícios socioeconômicos para a zona portuária e para o Rio, visa avaliar o resultado do aprofundamento da crise econômica do país sobre esse território: com a recessão e as políticas públicas colocadas em curso, essa área vem sofrendo um processo de perda de vitalidade, lançando dúvidas sobre o futuro do projeto de conversão desta metrópole em uma cidade criativa.

 

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