Mediação: Anselmo Guerra

Revisitando Murray Schafer: as questões que mobilizam seu trabalho e sua vida: educação musical, composição, música e meio ambiente. Marisa Trench de Oliveira Fonterrada

Nesta comunicação apresenta-se um panorama do envolvimento do autor canadense Murray Schafer com as múltiplas questões que têm mobilizado sua vida: a educação musical, a relação música/meio ambiente e a composição musical - e mostra-se como o conjunto de sua obra se relaciona com três eixos -  a ecologia acústica, a confluência das artes e a relação da arte com o sagrado – o que já foi discutido aqui mesmo no Musimid em 2003, mas que se pretende novamente trazer, pela necessidade reafirmação de suas ideias.  Com isso, quer se mostrar como suas ações e atitudes são, ainda, oportunas diante da situação vivida mundialmente nos dias atuais, com as crises que se enfrenta e a premente necessidade de revisão de valores, na esperança de que a humanidade  reencontre caminhos adequados de vida saudável e, mesmo, de sobrevivência, apoiados na sensibilidade, na reflexão, na ética e na arte.

Espaço urbano: possíveis escutas e composição de paisagens sonoras. Fátima Carneiro dos Santos

Ao falar sobre cidade, muitas imagens vêm à tona. Uma delas pode ser aquela dada por uma visão que entende a cidade como fruto de uma organização de formas homogêneas e reguladas por padrões de conduta. Ou, então, pode-se visualizá-la enquanto um “jogo topológico” de volumes, formas e superfícies que se justapõem e se aglomeram. Contudo, tais pontos de vista, essencialmente estáticos, parecem deixar de lado aquilo que alguns estudiosos da história cultural urbana consideram fundamental: a dinâmica do processo que envolve a construção de uma cidade. Ao tratar a cidade como “linguagem de volumes e superfícies”, Pierre Sansot aponta para o risco de se deixar de considerar “o vínculo primordial e o sentimento imediato que une homens e lugares urbanos”. Ao priorizar uma leitura urbanística de um ponto de vista mais tradicional, corre-se o risco de perder de vista a ideia de que o homem, antes de ser um observador, “é o fundador da cidade”, relacionando-se com ela de forma recíproca e conivente; uma intimidade essencial à existência (e sobrevivência) da própria cidade. A necessidade do estar juntos, do desejo de encontros (e desencontros) faz com que as pessoas se aglomerem em torno de um lugar, estabelecendo com ele uma espécie de elo afetivo. Nesse sentido, parece-nos apropriada a etimologia do termo cidade, que remete à palavra grega polis, relativo à poly (poli, muito) e aos termos latinos pleo (abundante, cheio) e plebs (multidão, plebe, o plebeu comum), que possibilita o desvelamento de uma imagem de cidade dinâmica e sonora, que salta aos sentidos, constituída por um vaivém de uma multidão de pessoas e objetos moventes: um verdadeiro emaranhado visual, sonoro, olfativo etc. Mas não apenas, pois, ao mesmo tempo, um emaranhado de desejos, ambições, esperanças e utopias também se apresenta na construção da cidade, um espaço cuja textura, tal qual nos fala Massimo Canevacci (1993), revela-se polifônica. E é justamente através desse “mosaico de gestos, de vozes, de trajetos, de ações e de reações que se pode alcançar a intrincada trama do fenômeno urbano”, abrindo brechas para se pensar tanto uma poética da cidade, quanto uma escuta poética da cidade, temas dessa comunicação.

Para ouvir a vida: danças do corpo. Cleide Riva Campelo

Uma trajetória de 10 anos desde a criação do grupo Tutu-Marambá, Pesquisas das Artes do Corpo, em 2008, tem produzido uma série de sons e escutas que provocamos e/ou recolhemos, como estímulos para dançar a vida. Uma pedagogia, uma estética, uma ética: quando o corpo parece que não mais resiste, inventamos caminhos para ouvi-lo, para reinventá-lo, para coreografar seus sonhos. Um trançar de conhecimentos arcaicos e tecnologia de ponta – guias para seguir os rastros que nossa história vai deixando na areia do tempo e para rever a imagem do corpo (carcaça?) jurássico espelhado nas lagoas quase secas da geografia humana.