Mesa redonda 3

Música, Memória e (re)construção de subjetividades

Márcia Ramos de Oliveira

Ercília Costa, Carmen Miranda e Amália Rodrigues: protagonistas do cinema norte-americano, português e brasileiro.

Ercília Costa, Carmen Miranda e Amália Rodrigues tiveram, em comum, além da origem portuguesa e a diferenciada performance como intérpretes musicais, a destacada participação no cinema. A especificidade de cada trajetória a partir da experiência única, individual, deverá ser tratada nesta Comunicação, tendo em vista as semelhanças na carreira artística das três personas
no cinema. A participação no teatro musicado, o registro da voz em fonograma - disco e radiodifusão -, o apelo identitário dos gêneros musicais que deram expressão - fado e samba -, confundindo-se com a iconografia nacional peculiar, foram características marcantes ao seus desempenhos. A memória musical em apelo ao sentimento de comunidade sensível e emocional que definiria a identidade portuguesa e brasileira do século XX em diante. Intérprete do fado, Ercília Costa, a 'Sereia Peregrina do Fado", vivenciou uma carreira meteórica em Hollywood, além dos palcos portugueses, contrariando as expectativas e previsões sobre sua atuação no contexto. Sua importante participação foi obliterada pela marcante presença de Amália Rodrigues, que passou a ser reconhecida como “A Voz de Portugal”. Neste jogo de representações, e não por acaso coincidindo em termos cronológicos, surgiria na cena musical do Rio de Janeiro, no Brasil, a “Pequena Notável”, Carmen Miranda. Em síntese, pretende-se apresentar, parcialmente, as trajetórias de Ercília Costa, Carmen Miranda e Amália Rodrigues, problematizando a experiência histórica no jogo de representação construído pela aproximação das performances evidenciadas no cinema, como interpretação possível acerca do contexto e de sua atuação.

Mônica Rebecca F. Nunes

 

Magda Clímaco

Choro em Brasília: memória coletiva e referência

O gênero musical choro e suas práticas, que acontecem em uma ambiência de afeto,descontração, confraternização, muita música e degustação de comida, chegaram aBrasília logo no início de sua fundação na década de 1960, através dos funcionários públicos cariocas que vieram trabalhar na nova capital brasileira. A trajetória histórica deste gênero musical, desenvolvida em um dos mais acurados projetos de cidademodernista, possibilitou identificar um primeiro momento, em que as rodas de choro atuaram como elemento importante de reconstrução de identidades deste grupo carioca, oportunizando a criação de um Clube do Choro em Brasília; e um segundo momento, década de 1990, em que o Clube, depois de desativado na década de 1980, foi reestruturado e, além de cultivar a memória do choro brasiliense, buscar a profissionalização dos chorões, passou a incentivar o seu diálogo com a diversidade cultural/musical, a promover parcerias com a Universidade de Brasília, a se estruturar a partir de projetos culturais baseados na Lei de incentivo à Cultura, o que acabou direcionando para a construção na cidade do Espaço Cultural do Choro. Este espaço, projetado também pelo arquiteto de Brasília Oscar Niemeyer, hoje abriga a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabelo e o Clube do Choro de Brasília, que cultivam sempre a Memória deste gênero musical. A fundamentação teórica nas abordagens da memória de Maurice Habswachs e de Michel Pollack, junto a dados colhidos através da análise de relatos de chorões que atuaram e ainda atuam na cidade de Brasília, possibilitaram identificar, nestes dois momentos do choro do cenário brasiliense, processos de construção de uma Memória Coletiva, forjadores de processos identitários.

 

Ana Guiomar Rêgo Souza

A FESTA COMO ESPAÇO DE MEMÓRIA E (RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

 

Eliana Monteiro da Silva

O bicentenário de Clara Schumann (1819-1896) e o resgate das mulheres na música clássica: recordar é (re)viver

O repertório musical composto por mulheres na chamada música clássica ou erudita é ainda um tema pouco discutido, e, menos ainda, aplicado ao dia-a-dia de estudantes e profissionais da música. Com a desculpa verdadeira de que o acesso a partituras de compositoras exige motivação e bastante empenho, sendo as gravações ainda mais escassas, a música segue seu “destino inexorável” de promover a “criatividade e intelectualidade” masculina através, em inúmeros casos, da “sensibilidade e capacidade técnica” - esta última derivada da disciplina “inerente ao gênero feminino” - das mulheres intérpretes. O caso célebre da compositora e pianista Clara Schumann, que se dedicou a divulgar em recitais e, posteriormente, em edições cuidadosamente revisadas, a música do marido em detrimento da sua própria, é um entre muitos. Foi necessária a comemoração de seu centenário de falecimento, em 1996, para que fosse publicada a maior parte de suas partituras, além de biografias da virtuose do piano em diversos idiomas. Infelizmente, isso não significa que sua obra, que comprovadamente contribuiu para o estabelecimento do estilo romântico alemão, tenha sido incorporada aos programas de ensino de música, ou mesmo tenha ficado mais conhecida através de concertos e gravações. Afinal, assim como as datas comemorativas lançam luz a pesquisas para alimentar o comércio de bens culturais, elas também sobrepõem assuntos diversos com uma velocidade jamais alcançada pela memória humana. Esta temática é trazida para a mesa de debate “Música, Memória e (re)construção de subjetividades” para que pensemos, conjuntamente, nos processos de registro e/ou de invisibilização que definem o que, quem e como deve permanecer na memória coletiva de cada povo ou lugar. E para que possamos estabelecer uma postura crítica em relação ao que nos é oferecido continuamente, descobrindo novas possiblidades.

Mediação: Priscilla Perazzo

Compartilhe!

Apoio