Da selva de pedra ao sertão: abrindo veredas para brilhar. Um Estudo sobre Cantores que optaram pelo Gênero Musical Sertanejo

Autor: José Aparecido Rodrigues (ZÉ RENATO: Forasteiro Cantadô)

Este trabalho tem o objetivo de investigar cantores que optaram pelo gênero musical sertanejo, tendo como pilares da pesquisa uma dupla sertaneja e um cantor solo. Eles: “A dupla formada pelos irmãos Chrystian e Ralf e o cantor solo Sérgio Reis”. Esses cantores – aqui tratados como exploradores do gênero musical sertanejo para conquistar o sucesso, apropriaram-se de performance a partir das vestimentas, letras e ritmos musicais da vida roceira. O que nada correspondia com seu estilo musical anteriormente à migração ao estilo de música do homem do sertão. Em virtude da caça ao pináculo do sucesso esses artistas transladam-se da arte musical representativa da sociedade urbana para a cultura sertaneja. Em nossas pesquisas tratamos de ‘pilares’ o cantor Ségio Reis e a dupla Chrystian e Ralf, por terem sido destaque no cenário da música sertaneja. No entanto, em nosso campo de pesquisa encontramos inumeráveis artistas que tentaram obter brilhantura cantando a música de raiz. Citamos alguns: “A apresentadora Hebe Camargo, que forma uma dupla sertaneja com sua irmã, Rosalinda e Florisbela, o apresentador Gugu Liberato, o sambista, Jair Rodrigues, o jogador de futebol e médico, Sócrates e até os religiosos - padre Alessandro Campos, o pastor Valdemiro Santiago, as duplas sertanejas evangélicas – Daniel e Samuel, que brilham nos palcos das igrejas com o álbum intitulado ‘E a Viola pra Jesus’, com 28 álbuns gravados. E a dupla Nando e Matheus que gravaram a música - O Menino de Pés Descalços. Na qual a letra biográfica resume a história de vida do pastor Valdemiro”. Alguns desses citados utilizaram de abundantes backs vocais para emitir um realce na gravação, uma vez que, nem com os recursos técnicos que hoje o mercado fonográfico dispõe-se, não há como afinar a voz com défice melódico. A pesquisa empírica sobre esses artistas citados, os quais manipulam seus fãs, emitindo canções ilusórias, desassociadas com suas origens musicais, sempre comparadas com o gênio Gilberto Mendes. Compositor autêntico, que deixa um legado encantador no universo musical. Para entender melhor esses artistas, buscando brilhar na mídia, mudam de estilo musical da cidade para o sertão, biografia de Sérgio Reis; Murilo Antonio de Carvalho (2018), que trata de sua trajetória musical; primeiro Lp solo do cantor Chrystian com 12 faixas em inglês (1976), comprova sua migração de gênero musical; biografia da Hebe Camargo (2017), explica a formação da dupla Rosalinda e Florisbela; Paul Zumthor (2014), fala sobre a performance, a emissão e recepção da poesia. Para entendermos o mercado fonográfico sertanejo recorremos a obra de Gustavo Alonso (2015), trata-se de vários períodos do gênero musical até o presente.

Palavras-chave: Música Sertaneja, Gênero Musical Sertanejo, Mídia da Música Sertaneja, Buscando Sucesso na Música Sertaneja, Música de Raiz.

Referências:

ALONSO, Gustavo. Cowboys do asfalto: Música sertaneja e modernização brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

CARVALHO, Murilo. Sérgio Reis: uma vida, um talento: Rio de Janeiro – RJ: Tinta Negra Bazar Editorial, 2018.

SOUZA, Carla Delgado. entre a vida e a arte: Campinas - SP: Unicamp, 2013.

XEXÉO, Artur. HEBE: a biografia: Rio de Janeiro - RJ: BestSeller, 2017.

ZUMTHOR, Paul. Performance, Recepção, Leitura. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

 

A banda (a)típica: a construção da germanidade no ciclo de apresentações da Banda Treml nos anos 1960

Autor: Giovanni de Sousa Vellozo

Ao longo da década de 1960, a Banda Treml, sociedade de música instrumental de São Bento do Sul (SC) atuante desde 1913, foi um caso exemplar em duas áreas de atividades musicais. Primeiro, a discográfica, com a gravação pioneira de quatro LPs entre 1961 e 1965, ajudando a consolidar um novo nicho de mercado no Sul do país, com bandas oriundas de comunidades descendentes de imigrantes. Segundo, a de apresentações ao vivo, com concertos do grupo espalhados por pelo menos quatro estados (Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro). Majoritariamente, nota-se que a participação da Banda se dava em festas de chope e cerveja, espaços portanto que celebravam um ideal de germanidade e enfatizavam a presença do grupo como uma representação “típica” dessa mesma identidade. Esta apresentação para o 18º Encontro MusiMid foi pensada a partir da análise das menções à Banda no portal da Hemeroteca Digital Brasileira. Ao todo, foram encontradas menções em 16 publicações dos quatro estados citados no parágrafo anterior, durante os anos 1960. A apresentação tem como objetivo principal compreender como ocorreu essa construção identitária a partir dos recortes de notas e anúncios de imprensa sobre a Banda Treml. Assim, problematiza nos espaços de atuação da Banda as potencialidades e limites dessa germanidade, muitas vezes vista como parte de uma tradição homogeneizante e contínua no tempo; e também enquanto um esforço de integração ao contexto socioeconômico nacional após o período da Campanha de Nacionalização. Para tanto, serão utilizados os referenciais teóricos de Seyferth (1990), a respeito da concepção de identidade germânica, e de Flores (1997) e Werling (2016), em relação à discussão das categorias de “típico” e “autêntico” nas festas germânicas. Para auxiliar também nessa discussão, será retomada a relação da Banda no período com a música gravada, a partir da consolidação de um segmento fonográfico voltado aos “mercados regionais” (VICENTE; MARCHI, 2014), a fim de colocar em perspectiva a articulação de referenciais musicais de origens não-germânicas no repertório do grupo. Essa pesquisa se relaciona com o trabalho de Mestrado do proponente, feito com bolsa CAPES entre os anos de 2020 e 2022.

Referências:

FLORES, Maria Bernadete Ramos. Oktoberfest: Turismo, Festa e Cultura na Estação do Chopp. Florianópolis: Letras Contemporâneas. 1997. 188 p.

SEYFERTH, Giralda. Imigração e cultura no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1990. 103 p.

VICENTE, Eduardo; MARCHI, Leonardo de. Por uma história da indústria fonográfica no Brasil 1900-2010: uma contribuição desde a Comunicação Social. Música Popular em Revista, Campinas, SP, v. 3, n. 1, p. 7–36, 2014. DOI: 10.20396/muspop.v3i1.12957. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/muspop/article/view/12957. Acesso em: 11 jun. 2022.

WERLING, Camila. A música como representação dos movimentos germânicos e não-germânicos em Blumenau nas décadas de 1970 e 1980. Dissertação (Mestrado em Música) - Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, p. 167. 2016. Disponível em: https://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vinculos/000015/000015e2.pdf. Acesso em 11 jun. 2022.

Palavras-chave: Bandas Catarinenses, Germanidade, Música Catarinense, Música Regional, Jornalismo Musical

 

 

“Yo manejo, Dios me guía”: a ascensão de uma “estética Hot Wheels” no streaming a partir de Motomami

Autores: Jhonatan Mata e Marcos Vinícius de Brito Amato

Na obra “O mito e o homem”, Callois (1988) sugere um alargamento da função fabulatória do mito ou “da magia para a realidade”, aproximando corpos e ambientes. Considerando o mito em sua dialética específica de autoproliferação e autocristalização, que são sua própria sintaxe, este trabalho se volta para a análise da recorrência contemporânea da utilização de veículos (com destaque para automóveis e motos) nas produções audiovisuais inseridas no formato “videoclipe”.    Ancorados nas premissas de Caillois, para quem cada sistema classificatório de mitos e representações é “verdadeiro naquilo que propõe e falso no que exclui” (1988, p.18) recuperamos e atualizamos, com todos os pedágios de um delay temporal de mais de oito décadas da primeira edição de “O mito e o homem”, certas cristalizações de virtualidades psicológicas possivelmente acessadas pela recuperação de temas míticos como os de Pandora e Giftmädchen, esmiuçados mais adiante, no momento da análise da materialidade audiovisual (Coutinho, 2016) de nosso recorte. Podemos, entretanto, adiantar que as lendas da “donzela venenosa” (na versão francesa)- que também é uma máquina de engrenagens aperfeiçoadas, capaz de funcionar automaticamente e o mito de Pandora- autômata fabricada para levar os homens à perdição- atuam como estandartes daquilo que conceituamos como sendo uma “estética Hot Wheels”, presente e recorrente nas narrativas audiovisuais de artistas da música brasileira e internacional. Nestas histórias, veículos e humanos se mesclam, se mimetizam. Junto aos gritos de motores, às chamas dos combustíveis, metal e fogo se fundem e operam no forjar de intérpretes humanos-máquinas, que se entregam ao bailar dos trânsitos- miméticos e de veículos - entre o organismo e o meio- ou os meios, já que a comunicação pelo vídeo e pela música também norteia a proposta que desenhamos. A propriedade da mimese, de “metamorfose temporária” - que ignora a diferença entre o ser vivo e o ambiente - acaba por desterritorializar o ser e promover um “saber pelo contato”, alegre e bufão, numa acepção nietzschiana. Tais relações entre o instintivo, a infância e as origens das representações permitem antever que não é forçosa, portanto, a analogia das produções audiovisuais que analisamos com a assinatura estética da publicidade dos brinquedos da franquia estadunidense Hot Wheels. Trata-se da “maior marca dos menores carros” fabricados hoje, miniaturas da categoria die-cast, nome que vem de seu processo de fundição em metal injetado.             A aproximação se dá para além da presença crescente de automóveis, motos e outros veículos nas histórias em tela. Existe, via plataformas como Youtube, um consumo desses videoclipes por um público infantil que, ao menos em tese, não se enquadraria na faixa etária de fãs ou consumidores destes artistas. Pululam, no TikTok, vídeos de crianças (e adultos) dublando as canções de MOTOMAMI (2022), álbum visual da artista catalã Rosalía que traz a faixa “Saoko”, cujo videoclipe serve de recorte a este estudo. Ao mesmo tempo, fãs criam suas versões visuais das faixas, geralmente integrando veículos às produções. Há, por outro lado, investimentos da Mattel (fabricante da linha de brinquedos) em criar itens de colecionador para o público adulto, diante do sucesso das miniaturas com essa parcela de consumidor. Registra-se, inclusive, o licenciamento de protótipos da Hot Wheels por parte das fabricantes de automóveis, para a criação de veículos em escala ampliada. No brinquedo ou no clipe, há, conforme veremos, uma espécie de apologia generalizada ao customizado, ao automatizado e também à infância. E, sobretudo, à velocidade, que parece atuar não apenas no inconsciente coletivo sobre os conceitos de veículo ou auto-móvel como àquela no ritmo do próprio videoclipe na era do streaming, conforme elucidaremos.

Palavras-chave: Audiovisual, estética Hot Wheels, videoclipe, motomami

Referências

CAILLOIS, Roger. El mito y el hombre. Trad: Jorge Ferreiro. Fondo de Cultura Económica, México, 1988.

COUTINHO, Iluska. “O telejornalismo narrado nas pesquisas e a busca por cientificidade: A análise da materialidade audiovisual como método possível”. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2016

GENETTE, G. “Paratexts: Thresholds of Interpretation”. Cambridge University, 1997

MACHADO, A. “Pré-cinemas & pós-cinemas”. Campinas, SP: Papirus, 1997

SOARES, Thiago. “A Estética do Videoclipe”. João Pessoa. Editora da UFPB, 2013

 

 

Quando a canção pop encontra o ballet: O ballet hispânico de “¡Si señor! ¡Es mi son!” por Alberto Alonso e Randy Barceló

Autor: Igor Lemos Moreira

Na década de 1990, os dançarinos e coreográficos cubanos Alberto Alonso e Randy Barceló se juntaram para produzir um ballet baseado nas produções da cantora cubana exilada Gloria Estefan. Baseados no último disco lançado pela artista naquele contexto, Mi Tierra (1994), Alonso e Barceló construíram uma performance, denominada ballet hispânico, composta por cinco seções que usavam as canções da artista como inspiração. Os primeiros esboços de roteiro, coreografia e pranchas de desenhos do figurino, indicam que a montagem teria iniciado em 1994, quando o disco da cantora foi lançado, sendo que a performance do ballet teria ocorrido pela primeira vez no mesmo ano, sendo que o espetáculo intitulado ¡Si Señor! ¡Es Mi Son!, título inspirado em fonograma de Gloria Estefan, foi um dos últimos trabalhos de Barceló em vida. Este artigo, de caráter ensaístico, procura analisar o processo de construção narrativa da performance a partir de dois eixos principais: a forma como Alonso e Barceló adaptaram as canções e narrativas de Gloria Estefan para o ballet através da montagem do espetáculo e dos figurinos; as maneiras como esse processo elaborou narrativas sobre as identificações cubanas e latinas associadas a cantora e ao disco Mi Tierra. Procurando compreender as relações, circulações e trânsitos da produção composicional e artística de Gloria Estefan, esta comunicação procura demonstrar de que forma não houve uma mera adaptação das canções aos palcos, mas o seu uso como parte de um repertório que resultou num ato performático baseado na troca de memórias e na reafirmação de identificações a partir/através da cantora e sua produção. Para isso, são usados os documentos presentes na Cuban Heritage Collection, como esboços de figurinos, estudos de tecidos e rascunhos do roteiro, junto a análise das canções mobilizadas, entrevistas dos envolvidos e publicações em mídia. Como referencial teórico-metodológico, esse trabalho baseia-se na interface entre a História do Tempo Presente (ROUSSO, 2016; KOSELLECK, 2014; HUYSSEN, 2012) e os estudos de performance (MANZOR, 2022; TAYLOR, 2013; SCHWALL, 2021), de forma a compreender a expressão artística como inscrita historicamente e como montagem de múltiplas camadas temporais para elaborar representações de cubanidade e latinidades dentro das Indústrias da Cultura.

Palavras-chave: Dança, Latinidade, Gloria Estefan, Performance, História do Tempo Presente.

Referências:

HUYSSEN, Andreas. Culturas do passado-presente: modernismo, artes visuais, políticas da memória. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

SCHWALL, Elizabeth. Dancing with the revolution: Power, Politics, and Privilege in Cuba. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2020.

TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2013.

 

Gilberto Mendes e Jorge Peixinho nos Cursos Internacionais de Verão para Música Nova em Darmstadt: Parceria e desdobramentos

Autor: Joevan de Mattos Caitano

Na década de 1960, Jorge Peixinho e Gilberto Mendes visitaram os cursos de verão em Darmstadt e desenvolveram uma sólida amizade que culminou em atividades de cooperação entre ambas partes. Gilberto Mendes teve obras tocadas nos "Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea" e Jorge Peixinho contribuiu para o desenvolvimento de jovens compositores e instrumentistas brasileiros quando participou do Festival Música Nova em Santos, II Festival de Música da Guanabara no Rio de Janeiro (Brasil), bem como, Festival de Música de Curitiba, Cursos Internacionais de Música do Paraná (a convite de Roberto Schnorrenberg). Assentado em material preservado no IMD Archiv, Arquivo do Montijo, entrevistas com ex-alunos de Gilberto Mendes e Jorge Peixinho, esta comunicação pretende analisar a interação entre os dois protagonistas, estabelecendo diálogo com o legado de Hans-Joachim Koellreutter e Roberto Schnorrenberg que também intercambiaram cartas com Wolfgang Steinecke (diretor do Kranichsteiner Musikinstitut Darmstadt) na década de 1950. O impacto de Gilberto Mendes e Jorge Peixinho na vida e obra de alguns discípulos destes dois expoentes da música de vanguarda no Brasil e Portugal será levado em consideração nesta proposta que visa ampliar o debate sobre Darmstadt numa perspectiva global.

Palavras-chave: Gilberto Mendes, Jorge Peixinho, Roberto Schnorrenberg, Hans Joachim Koellreutter, Festival Música Nova, Neue Musik, IMD Archiv, Darmstadt

Referências:

CAITANO, Joevan de Mattos. Gilberto Mendes y los compositores de São Paulo en Darmstadt: Intercambio de correspondencia con el IMD en 1960 y 1970. Revista MusiMid. http://musimid.mus.br/revistamusimid/index.php/musimid/article/view/102

CAITANO, Joevan de Mattos. Koellreutter como mediador entre os sul-americanos e o Internationales Musikinstitut Darmstadt entre 1949 e 1970. ICTUS Journal. / v. 15 n. 2 (2021). Koellreutter como mediador entre os sul-americanos e o Internationales Musikinstitut Darmstadt entre 1949 e 1970 | ICTUS - Periódico do PPGMUS-UFBA | ICTUS Music Journal

ASSIS Paulo. (org.). Jorge Peixinho: Escritos e Entrevistas. Casa da Música/Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical/Diário do Porto, 2010.

KONDLATSCH, Patrick Carlos. Maestro Roberto Schnorrenberg (1929-1983): análise histórico-musicológica de sua atuação como outsider na Sociedade Pró-Música de Curitiba no período de 1964-1982. Curitiba. Monografria apresentada na Universidade Federal do Paraná, 2020.

MACHADO, José (org.) Jorge Peixinho - in Memoriam. Editorial Caminho, 2002.

MENDES, Gilberto. Uma Odisseia musical – dos mares do sul à elegância pop/art déco. São Paulo: Edusp. 1994.

MENDES, Gilberto. Viver sua Música. Com Stravinsky em meus ouvidos, rumo à avenida Nevskiy. São Paulo: Edusp, 2008.

MENESES, Francisco Pessanha de. Jorge Peixinho: um compositor português como ponte entre a América latina e os países de expressão ibérica.

NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. 2. ed. revista e ampliada por Salomea Gandelman. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2008.

PIMENTA, Emanuel Dimas de Melo. Os Dois Amigos: Jorge Peixinho e Ernesto de Sousa. Independently published, 2021.

SOUZA, Carla Delgado de. Gilberto Mendes: Entre a Vida e a Arte. Campinas: UNICAMP, 2013.

TEIXEIRA, Cristina Delgado. Música, Estética e Sociedade nos Escritos de Jorge Peixinho. Lisboa: Edições Colibri, 2006.

ZOUDILKINE, Evgueni. A linguagem musical e técnicas na música orquestral de Jorge Peixinho: Análise das obras orquestrais. Novas Edições Acadêmicas, 2015.

 

Da tradição tonal às sonoridades contemporâneas no piano de Gilberto Mendes

Autora: Sabrina Laurelee Schulz

Este artigo discorre sobre os desafios das práticas musicais contemporâneas nos ambientes escolares, analisando três obras de Gilberto Mendes. É corrente que os métodos para piano utilizados nos estágios iniciais da aprendizagem instrumental ainda perpetuam um ensino principalmente voltado ao repertório clássico/romântico. Como consequência, vemos o repertório tonal de tradição sinfônica ocupando a maior parte dos programas de concerto no país, afastando tanto o músico como o público do cenário contemporâneo. Desse modo, apoiado pela premissa de Zampronha em “Da Música, seus usos e recursos”, (2007), que a música dita como culta, precisa prestar contas à sociedade, buscamos contribuir com as estratégias educacionais a fim de guiar os pianistas ao pensamento livre de preconceitos musicais e, colaborar para a ampliação de seus repertórios, ampliando seu dialogo com o tempo presente. A escolha de Mendes como um elo entre o ensino da música de concerto e a realidade contemporânea, encontra-se apoiada nas múltiplas poéticas composicionais tonais e de vanguarda empregadas nas suas obras, assim como em sua postura pessoal em não diferenciar uma música dita “culta” e outra mais comercial. Gilberto manteve, enquanto compositor e ator social, seu olhar nas sonoridades de seu contexto incluindo-as em suas explorações musicais plurais sem aprisionar-se por qualquer poética. Amparados pelos escritos organizados por Santos em “Gilberto Mendes: Modernidade, pós modernidade, transmodernidade na música contemporânea brasileira”, (2021) e, também no texto de Souza, “Entre práticas e discursos: Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira e o campo da música erudita brasileira pós 1980”, (2017), constatamos que as composições de Gilberto se fazem próprias tanto na atualização estética quanto em sua aproximação com o contexto social atual, mesmo que estas não tenham sido construídas com tal objetivo. Dessa forma, consideramos que a inclusão da música de Mendes nos estudos pianísticos pode promover mudanças significativas nos repertórios estudados. Novas perspectivas podem conectar os alunos à atualidade política e social, (Lopes “Percursos de investigação no século XXI para o Ensino do Instrumento Musical. 2019). Aprofundando a discussão da música e seu contexto, Napolitano afirma em “Arte e Política no Brasil" (2014) que a partir dos anos de 1930, a modernização de cunho estético repercutiu três preocupações em seus agentes: a função social da arte; seu público prioritário; e suas transformações sociais. Assim, o primeiro objetivo desse texto é discorrer sobre as formas estruturais da das obras: Recado a Schumann (1983), Il Neige...de Nouveau! (1985) e Eisler e Webern caminham nos mares do sul (1989) de Gilberto Mendes. Tais obras apresentam um conteúdo musical que dialoga com a sonoridade tonal (erudito e popular), no que diz respeito a construção melódica, de mesmo modo que se afasta da tradição tonal em suas estruturas formais e rítmicas. Em um segundo momento, buscamos apontar como as estruturas musicais aqui empregadas criticam a hegemonia tonal nos repertórios. E por último, (re)significo as obras citadas como opções para um ensino instrumental que dialoga com o tempo presente, buscando atualizar as poéticas de vanguardas dentro do cenário tradicional da aprendizagem pianística.

Palavras-chave: Gilberto Mendes, Música Brasileira, Piano, Analise Musical, Pedagogia do Piano

Referências:

LOPES, Eduardo. Percursos de investigação no século XXI para o ensino do instrumento musical. Húmus editora, 2019.

NAPOLITANO, Marcos. Arte e Política no Brasil: História e historiografia. São Paulo: Perspectiva, 2014.

SANTOS, Antônio Eduardo. Gilberto Mendes: Modernidade, pós modernidade, transmodernidade na música contemporânea brasileira. Santos: Editora Leopoldiana, 2021.

SOUZA, Carla. Entre práticas e discursos: Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira e o campo da música erudita brasileira pós 1980. Santos: Editora. Unissinos, 2017.

ZAMPRONHA, Maria de Lourdes Sequeff. Da Música, seus usos e recursos. São Paulo: Edunesp, 2007.

 

Revisitando a música coral de Gilberto Mendes

Autor: Marcos Julio Sergl

Analisa-se a produção vocal de Gilberto Mendes, em particular Ashmatour e Moteto em ré menor, a partir do conceito de paisagem sonora de Murray Schafer (1991) e da construção de sentido em peças comerciais (Chalub, 1987; Todorov, 1980: Wisnik, 1989),  considerando a articulação da produção musical com a identidade e com a memória inconsciente da coletividade. Esses aspectos problematizam o conceito tradicional de canção, baseado na predominância textual. Discute-se a relação entre sonoridade e oralidade, duas instâncias expressivas a compor a paisagem sonora da narrativa.  Em Moteto em ré menor, Mendes utiliza o poema concreto de Décio Pignatari e em Ashmatour próprio constroi o texto, finalizado com um jingle.  Para atrair a escuta dos ouvintes e fixar a marca dos produtos, Gilberto Mendes buscou constituintes diferenciadores, os efeitos sonoros. Ao referenciar sonoramente os produtos e os serviços oferecidos, os efeitos sonoros confeccionam novos contextos, em uma fronteira sonoro/oral, segundo os conceitos de Yuri Lotman (1996). Entre os resultados, assinalamos que as qualidades atinentes às duas instâncias performativas são trabalhadas de forma híbrida, deslocando o público para um entrelugar que lhe faculta imergir no ambiente imaginário do universo do asmático e da ingestão da Coca-Cola e da constante atualidade de ambas as peças. 

Palavras-chave: Música vocal; Efeitos sonoros; sons onomatopáicos; Sonoridade: Oralidade.

Referências:

BIGAL, Solange. O que é criação publicitária ou (o estético na publicidade). São Paulo: Nobel, 1999.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1981.

CHALUB, Samira. Funções da Linguagem. São Paulo: Ática, 1987.

FRANCATO, Adriana. Asthmatour – para coro e percussão (1971), de Gilberto Mendes: elaboração de partitura oficial supervisionada pelo compositor. Dissertação de Mestrado defendida na Escola de Comunicação e Artes – USP, São Paulo, 2003.

LOTMAN, Yuri. La Semiosfera. Madrid: Catedra, 1996.

MENDES, Gilberto. Uma Odisséia Musical: dos Mares do Sul à Elegância Pop/Art Déco. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Editora Giordano, 1994.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: UNESP, 1991.

TODOROV, Tzvetan. Os Géneros do discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1980.

WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.