O processo migratório no Brasil tem diversas facetas, tanto nacionais como regionais. Os desdobramentos destes processos criaram identidades nikkeis, além daquelas geracionais e individuais. Neste simpósio pretendemos abordar o processo de assentamento de imigrantes japoneses do pós-guerra para a região sul do Brasil, assim como as distintas manifestações identitárias que se dialogam com as culturas locais, como já discutidas por Lesser e outros. Para tanto, será discutido o processo e os mecanismos que possibilitaram o assentamento de japoneses no Rio Grande do Sul assim como permanência dos mesmos no solo gaúcho e formação de descendentes, formando grupos étnico-identitários enquanto nipo-gaúchos. Neste sentido, avaliar de que forma os aspectos culturais permanecem, migram, são apropriados ou ressignificados pela comunidade e como são percebidos pela sociedade brasileira tornaram-se temas relevantes, não somente no seu aspecto acadêmico, mas também para que os próprios descendentes não perdessem a cultura de origem. Ademais, buscamos reunir trabalhos que atualizem a discussão sobre as dinâmicas e permanências que são atribuídas à cultura japonesa do e no Brasil. No que se refere à preservação de tradição e práticas culturais, sobretudo na questão de gênero, as contribuições das mulheres japonesas, bem como o impacto das representações sociais na construção de suas memórias e experiências identitárias. Atualmente, a partir da geração de netos, percebe-se um movimento de retomada das práticas culturais artísticas com o ressurgimento de grupos de danças e músicas tradicionais, formados pelos descendentes mais jovens. Como recorte, foi selecionado o caso da Colônia Japonesa de Ivoti, única que foi formada como comunidade fechada e que ainda detêm diversos aspectos da cultura japonesa, sobretudo as práticas artísticas como dança, canto e taikô. Essa comunidade dialoga com outras comunidades nikkeis, como a de Porto Alegre, realizando intercâmbio de conhecimentos e práticas culturais, enquanto nikkeis e em diálogo com a comunidade local.

O processo de modelagem dos nipo-gaúchos: afinal de contas, quem somos nós?

Tomoko Kimura Gaudioso

A imigração japonesa para o Brasil Meridional, sobretudo para o estado do Rio Grande do Sul ocorreu de forma um tanto diversa do resto do país, pois a maioria dos imigrantes chegou ao estado posteriormente ao te?rmino da Segunda Guerra Mundial e com o intuito buscar nova terra para permanecer e ali construir o seu futuro. Para tanto, se organizaram enquanto grupos e comunidades para unir esforços em busca de otimizar sua produtividade econômica para suprir as necessidades de sobrevivência e prosperidade na nova terra. No aspecto organizacional e cultural, tentaram preservar a tradição, tanto como sistema organizacional e gerencial de comunidades locais e regionais. Por outro lado, por parte japonesa, houve presença de órgãos fomentadores para que os imigrantes japoneses pudessem migrar para o Brasil e se instalar, com a criação da agência de imigração e de cooperação técnica e cultural que foram se adequando de acordo com novas necessidades que surgiam através do decurso do tempo. Essas agências japonesas, atualmente, direcionam os apoios aos descendentes nas atividades culturais e educacionais. Atualmente, o perfil da etnia que podemos identificar como “japonesa” estão migrando para o perfil “nipo-brasileira”, pois os filhos dos imigrantes, enquanto nacionais, já são considerados brasileiros. No estado possuem descendentes majoritariamente até de terceira geração que, para preservar a identidade de origem, se organizam em grupos em busca de suas raízes. Como Lesser afirma, os descendentes dos imigrantes, identificados como nikkei, estão numa fase de negociação de identidade, enquanto descendentes japoneses e brasileiros, numa complexa relação. Nesse sentido, pretendo discutir nesse simpo?sio a negociação dessa identidade nipônica ocorrida ao longo do período imigratório no estado e como os nikkei se organizam nos dias atuais para que a sua identidade ancestral não fique esquecida.

A transmissão geracional da cultura: identidade e memória coletiva de nipo-gaúchos

Giulia Mayumi Cantelli Tadei Nakata

A partir da roda de conversa entre descendentes da terceira geração (sansei) de imigrantes japoneses (issei) em Ivoti e Porto Alegre, registrada no documentário Memórias do Sul (Kuamoto; Tukamoto, 2025), é possível estabelecer elos intergeracionais mediados por práticas culturais. Como bem é pontuado por uma das locutoras do documentário, a geração imigrante trouxe consigo, no navio, práticas culturais que a conecta com a pátria emigrada e que foi integrada à dinâmica coletiva daqueles com quem compartilhavam a bagagem diaspórica. No entanto, estes mesmos imigrantes preocuparam-se em estabelecer as condições básicas de sobrevivência no novo país, tendo muito esporadicamente margem para luxos, concentrando esforços em trabalhos ligados à agricultura como fonte de renda, sem perder de vista a preocupação e o investimento constantes na educação de seus filhos para ascensão social (Santos; Doll; Gaudioso, 2003). A geração nissei (2ª geração), por sua vez, teve a incumbência de fornecer solidez e tranquilidade financeira para a família, objetivando um bom envelhecimento de seus pais imigrantes. Em função destas responsabilidades familiares, os nissei não tiveram a oportunidade de manter ativamente as práticas musicais e artísticas que seus pais trouxeram do Japão. A partir da geração de netos (sansei), podemos perceber um movimento de retomada das práticas culturais artísticas com o reativação de grupos de danças e músicas tradicionais (Grupo Shinsei), assim como a inserção do taikô (Minami Taiyo Daiko, e o Ivoti Wadaiko). A partir deste contexto, podemos interpretar, nos casos das cidades de Ivoti e de Porto Alegre, exemplos práticos de como as práticas culturais-artísticas podem operar como uma ponte entre a primeira e a terceira gerações. Fica evidente, então, a premissa de que a memória serve de elo entre o passado histórico da imigração e o presente dos descendentes (Pollak, 1989; Reily, 2014), contribuindo para as dinâmicas de identidades coletivas (Merriam, 1964).

Mulheres japonesas no Rio Grande do Sul: experiências, identidades e representações na imigração nipo-gaúcha.

Beatriz Martignoni Hochmüller

A imigração japonesa para o Rio Grande do Sul seguiu dinâmicas distintas em relação a outras regiões do Brasil, apresentando desafios específicos de adaptação, inserção social e preservação cultural. Dentro desse processo, as experiências das mulheres japonesas emergem como um aspecto fundamental para compreender as complexidades da diáspora nipo-brasileira e, consequentemente, nipo-gaúcha. Este estudo parte da investigação sobre as vivências femininas nesse contexto migratório, analisando como as representações construídas em torno dessas mulheres influenciaram suas trajetórias tanto dentro quanto fora de suas comunidades. Embora a imigração japonesa tenha sido amplamente estudada em diversas áreas do conhecimento, este trabalho busca compreender o fenômeno sob a perspectiva da História, com especial atenção aos debates no campo dos estudos de gênero. A metodologia adotada combina revisão bibliográfica, análise de fontes históricas e entrevistas com descendentes, utilizando a História Oral como ferramenta central para captar memórias e narrativas. O objetivo é examinar, a partir dos marcos históricos da imigração, as contribuições das mulheres japonesas, bem como o impacto das representações sociais na construção de suas memórias e experiências identitárias. Os resultados parciais indicam que as representações sobre as mulheres japonesas são fluidas, heterogêneas e dinâmicas, variando conforme os contextos histórico-culturais nos quais estão inseridas. Essas representações não apenas influenciam a formação de suas subjetividades, mas também impactam as identidades de outros membros da comunidade, revelando um processo contínuo de ressignificação.

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