A imigração japonesa para o Brasil teve início em 1908, com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos, trazendo os 781 imigrantes contratados para trabalhar nas lavouras de café. Esse movimento fazia parte de uma política emigratória do governo japonês, iniciada ainda durante a era Meiji, com o objetivo de aliviar a pressão demográfica interna e expandir a influência do Japão no exterior por meio da colonização. O Brasil, por sua vez, incentivava a entrada de imigrantes para suprir a demanda por mão de obra nas lavouras após o fim da escravidão. A partir de 1913, a emigração para o Brasil passou a ser oficialmente apoiada pelo governo japonês como política de Estado, o que resultou na criação de colônias agrícolas e no envolvimento de empresas colonizadoras. Nas décadas seguintes, milhares de japoneses se estabeleceram principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas e formando comunidades sólidas e contribuindo significativamente para a agricultura, o comércio e a cultura brasileira. Apesar das dificuldades iniciais, como barreiras linguísticas, trabalho árduo e discriminação, os imigrantes e seus descendentes integraram-se gradualmente à sociedade brasileira, preservando, ao mesmo tempo, aspectos importantes da cultura japonesa. Atualmente, o Brasil abriga a maior comunidade de descendentes de japoneses fora do Japão. A imigração japonesa é considerada um exemplo bem-sucedido de integração e de contribuição mútua entre os dois povos. Neste ano, em que celebramos os 130 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, é oportuno promover uma reflexão sobre o movimento migratório japonês no Brasil. Isso inclui estudos sobre migração e colonização na Amazônia como forma de “desenvolvimento”, as políticas migratórias dos governos japonês e brasileiro no estado do Amazonas e a imigração japonesa em Campo Grande (MS).

Imigração e colonização de japoneses no Estado do Amazonas na primeira metade do século XX

Dr. Minoru Uchigasaki

Trata-se de um estudo sobre o processo político e econômico Brasil-Japão de imigração e colonização de japoneses no estado do Amazonas na primeira metade do século XX. Essa imigração japonesa foi resultado de um projeto estatal nipo-brasileiro, iniciado por meio de um contrato de concessão de terras na Amazônia em troca da ocupação por imigrantes japoneses e do desenvolvimento regional. Diferentemente das migrações japonesas para o Sudeste brasileiro, nas migrações para a região amazônica o papel do Estado foi decisivo, tanto no recrutamento, preparação e transporte, quanto no assentamento dos imigrantes nas colônias. A chegada dos primeiros grupos de imigrantes japoneses ao Amazonas integrou um projeto de colonização agrícola no interior da região, incentivado pelas políticas imigratórias desenvolvimentistas dos governos do Pará e do Amazonas, bem como pela política emigratória do Japão, que visava à expansão de sua área de influência na primeira metade do século XX. Com base em dados obtidos por meio de pesquisa bibliográfica, documental e de campo, analiso os efeitos políticos e econômicos da presença dos imigrantes japoneses no estado do Amazonas, com enfoque no estudo de caso do município de Parintins (AM). Ao final, avalio esse processo migratório japonês no período em questão. Como resultado, o estudo, por meio da pesquisa bibliográfica e da análise documental, possibilitou compreender como se deu esse processo de emigração/imigração, envolvendo políticas de Estado de ambos os países, assim como sua ruptura e a posterior expulsão dos imigrantes do programa contratado, em decorrência de empecilhos políticos e da eclosão da Segunda Guerra Mundial. O trabalho também destaca a aclimatação da cultura da juta como uma oportunidade para o desenvolvimento agrícola na Amazônia.

Repensando la historia de la migración japonesa en Brasil: Apuntes para una historia transnacional del desarrollo

Dr. Facundo Julian  Garasino

 La migración japonesa al Brasil es celebrada públicamente por sus aportes al desarrollo agrícola, social, y cultural de regiones como la Amazonia, el interior de Sao Paulo, Paraná y Mato Grosso do Sul. Esta valoración también se repiten en las narrativas y discursos de los inmigrantes y sus descendientes, quienes han reimaginado constantemente su papel comopioneros del progreso.
 Sin embargo, la asociación entre migración y desarrollo no es un fenómeno reciente. Desde fines del siglo XIX hasta la posguerra de la Segunda Guerra Mundial, líderes políticos, intelectuales, y empresariales en Japón, Brasil, y otros países latinoamericanos promovieron la figura del inmigrante como sujetos central en proyectos de desarrollo y modernización. Enfocándose en esta confluencia de intereses y discursos en los contextos de emisión y recepción migratoria, esta presentación propone una relectura de la historia de la migración japonesa en Brasil, especialmente en la Amazonia, en el contexto de una historia transnacional del desarrollo.
 La idea de desarrollo, en sus dimensiones filosóficas, económicas, y políticas, ha estado históricamente a procesos de expansión de imperios coloniales, la construcción de los estados-nación, y la formación de una sociedad global. En este marco, En este marco, discursos intelectuales y políticos, iniciativas estatales y privadas, así como las prácticas de los mismos líderes de la comunidad migrante contribuyeron a consolidar la imagen del inmigrante japonés como agente del desarrollo en contextos diversos: desde las colonias del Imperio japonés hasta los proyectos de colonización en los estados de Amazonas y Pará, pasando por las políticas migratorias de América Latina en la posguerra. Atendiendo a las conexiones, continuidades y rupturas que permite visibilizar la categoría de desarrollo, esta presentación busca repensar la experiencia migratoria japonesa en Brasil como parte de una historia transnacional más amplia.

NOTAS SOBRE AGENTES DE MITIGAÇÃO NO CONTEXTO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA EM CAMPO GRANDE

Michele Eduarda Brasil de Sá (ESD/UFRJ)

No contexto da imigração japonesa no Brasil, utilizamos o termo "agentes de mitigação" para fazer referência a indivíduos, instituições ou mecanismos que atuaram para reduzir os impactos negativos da experiência migratória dos japoneses no país (Brasil de Sá, 2022). Esses agentes podem ter sido responsáveis por intermediar conflitos, oferecer apoio social, facilitar a adaptação cultural e econômica, ou ainda reconfigurar a percepção da identidade dos imigrantes diante da sociedade brasileira. Entre os exemplos desses agentes, estão associações nipo-brasileiras, escolas e instituições religiosas, lideranças comunitárias e mesmo imigrantes ou descendentes que atuaram como pontes culturais entre o Japão e o Brasil. Esses agentes foram fundamentais para atenuar choques culturais, lidar com a discriminação e auxiliar na integração gradual dos imigrantes japoneses à sociedade brasileira, ao mesmo tempo preservando aspectos importantes de sua identidade cultural. O presente trabalho visa apresentar alguns exemplos de agentes de mitigação no contexto da imigração japonesa em Campo Grande (capital do atual Estado do Mato Grosso do Sul), como o diretor da Escola Visconde de Cairu, professor Luiz Alexandre de Oliveira, e o sargento Antônio Pedro Martins. Tendo por metodologia a análise de conteúdo a partir da pesquisa bibliográfica e documental, busca-se robustecer o conceito de "agentes de mitigação" a partir dos exemplos pesquisados.

Share!

Colaboração

Organization