O Painel “Imigração japonesa, um olhar antropológico” conta com a participação do Prof. Dr. Sidney Antônio da Silva (Antropólogo docente da UFAM), Prof. Dr. Hiroki Okada (Antropólogo docente da Universidade de Kobe) e Profa. Me. Linda Midori Tsuji Nishikido (Docente do curso de Letras – Língua e Literatura Japonesa e doutoranda em Antropologia Social pela UFAM). Inicialmente o prof. Sidney Antônio irá apresentar e discutir questões metodológicas e teóricas amplas a respeito da migração, sob a perspectiva da antropologia, cuja complexidade pode ser abordada sob diferentes enfoques, direcionado o diálogo com conteúdo relativo à imigração japonesa no Brasil, com ênfase na imigração japonesa no Amazonas. Dentro da perspectiva da imigração japonesa no Amazonas, a profa. Linda Nishikido abordará sobre um memorial denominado Ryokutaku, que foi elaborado em 1963, em comemoração aos 10 anos da imigração japonesa, da chamada Colônia Bela Vista, pontuando aspectos histórico-antropológico consistente na obra. O prof. Hiroki Okada apresentará conteúdos que irão dialogar com o significado da região amazônica na compreensão da experiência dos imigrantes japoneses enquanto zona de contato, além de trazer forças políticas relacionadas à xenofobia no Japão atual. Assim, o painel objetiva discutir as representações históricas e culturais no contexto migratório, levantando questões inerentes ao passado e presente, à luz das concepções antropológicas.

 

RYOKUTAKU: PERSPECTIVAS HISTÓRICA E ANTROPOLÓGICA DOS 10 ANOS
DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NA COLÔNIA BELA VISTA, NO AMAZONAS

Me. Linda Midori Tsuji Nishikido

Universidade Federal do Amazonas


Este trabalho objetiva analisar os escritos deixados pelos imigrantes japoneses da Colônia Bela Vista no memorial Ryokutaku, volume I, sob a perspectiva histórica e antropológica, alicerçado nos fundamentos teóricos de Lilia Schwarcz (2018) que pontua a importância da interdisciplinaridade entre a história e antropologia, pois há muito passado no presente, assim como muito presente no passado, o que justifica a importância dos testemunhos das pessoas que participaram do momento histórico. Trata-se de uma obra manuscrita em 1963, mimeografada, organizada pela associação de jovens imigrantes que se auto intitularam “Associação de Jovens de Água Fria”, em comemoração aos 10 anos de imigração japonesa na Colônia. É possível que seja um único exemplar ainda existente, cujas folhas encontram-se amareladas pelo tempo e algumas palavras aparecem apagadas, embora não comprometam o conteúdo geral dos escritos. Assim, realizou-se inicialmente a digitalização e digitação do memorial, posteriormente a tradução para língua portuguesa seguido de investigação do teor que norteiam a obra, com ênfase nos elementos históricos e culturais, buscando compreender e interpretar as circunstâncias descritas por imigrantes, pessoas comuns que usaram de estratégias e criatividades para viver e sobreviver diante das dificuldades com a língua, com a imensidão da floresta, com o cotidiano e com os costumes do lugar.

 

A Amazônia na rota das migrações internacionais: questões para pensar a mobilidade humana na atualidade.

Dr. Sidney Antônio da Silva
Universidade Federal do Amazonas
 

Como um “fato social total”, a migração envolve tanto a sociedade de origem quanto a de destino numa rede complexa de relações e intercâmbios, seja do ponto de vista social, econômico, político, cultural, religioso. Nesse sentido, ela pode ser abordada a partir de diferentes perspectivas teórico-metodológicas.

Do ponto de vista cultural, diferenças são transformadas em preconceitos e estigmas como formas de evitação e exclusão, pois num mundo globalizado os bens simbólicos perdem a sua ligação com o território de origem e passam a ser consumidos como bens da cultura global sem nenhuma restrição. Já o mesmo não acontece com as pessoas que veiculam práticas culturais diferentes daquelas do contexto em que estão inseridas. É cada vez mais comum manifestações xenofóbicas contras imigrantes, pois a diversidade etnocultural  coloca em foco identidades nacionais essencializadas e circunscritas a um território e cultura. Nessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo abordar diferentes enfoques da migração no contexto amazônico, apontando alguns desafios à pesquisa na atualidade.  

 

Amazônia como zona de contato dos imigrantes nipônicos

Hiroki Okada

Kobe University

Nesta apresentação, propõe-se compreender o espaço em que os imigrantes se deparam tanto com outras culturas quanto com uma natureza radicalmente distinta como uma zona de contato (contact zone). A análise não se limita às interações humanas e às transformações culturais, mas busca também incluir, para além dos aspectos socioculturais, a problemática dos elementos animistas que constituem a base da cultura japonesa. Para tanto, recorre-se à Teoria Ator-Rede (Actor-Network Theory) e à teoria multiespécies (Multispecies theory), com o objetivo de examinar as relações dos imigrantes com o ambiente e com os objetos que os circundam.?A partir dessa perspectiva, pretende-se discutir o significado da região amazônica na compreensão da experiência dos imigrantes japoneses enquanto zona de contato. No contexto atual do Japão, marcado pelo acelerado processo de envelhecimento populacional e pela crise de sobrevivência das comunidades locais e das cidades de médio porte, tem-se apontado a necessidade de políticas migratórias que considerem os imigrantes não apenas como “força de trabalho”, mas como “residentes” integrantes da sociedade. Ao mesmo tempo, observa-se a ascensão de forças políticas de cunho xenófobo que defendem um discurso de “Japão em primeiro lugar”, revelando tensões e contradições.

Compartilhe!

Colaboração

Organização

Apoio