MR1 - Teorias de Sustentação para Pesquisas em Educação Matemática Inclusiva
Coordenadora da Mesa: Clélia Maria Ignatius Nogueira – UNESPAR/UNIOESTE; UniCesumar
Profa. Dra. Solange Hassan Ahmad Ali Fernandes (Universidade Anhanguera de São Paulo)
A área da Educação Matemática Inclusiva é relativamente nova e vem se constituindo passo a passo, a exemplo do que aconteceu com a Educação Matemática. Como um campo de produção de conhecimentos, suas estruturas teóricas estão em construção e, de modo geral, ancoram-se em áreas mais tradicionais como a Educação, a Psicologia Social e Educacional, a Neurociência entre outros. Nas discussões conduzidas nessa mesa considerarei o percurso dos estudos que conduzimos no Grupo Rumo, evidenciando as teorias que têm sustentado nossas pesquisas. Em um país de muitas diferenças, a análise da produção científica produzida pelo Grupo sugere estreita relação entre a amplitude das teorias empregadas em nossas pesquisas e as propostas de estudos voltados a diversidade do público que deve, precisa e tem o direito ser incluído social e educacionalmente.
Prof. Dr. Luiz Márcio Santos Farias (UFBA)
Contribuições da didática da matemática para pesquisas em educação matemática: o acesso ao saber e a matemática inclusiva na corrente francesa.
A didática é uma área com mais de 40 anos de produção de pesquisa para as ciências educacionais. A especificidade da didática é baseada em sua relação com o saber. O sistema didático tem se apoiado, por um lado, na inclusão, em qualquer situação pedagógica, nas relações entre cada um dos três polos - sujeito, objeto e professor - e, por outro lado, na ênfase prioritária de certos componentes estruturantes que conferem status secundário às outras relações. A reflexão didática integrou o conteúdo de aprendizagem (o saber) nas relações estabelecidas entre professor e estudante, como mostra o triângulo didático. Considerando os mais de 40 anos da didática da matemática, enquanto campo científico, poderíamos esperar que seu trabalho tivesse uma influência crescente nas políticas educacionais. Não é este o caso: por exemplo, no Brasil, nem muito menos na França, um dos países onde nasceu a didática da matemática. De uma forma geral, considero que os professores de matemática e os matemáticos, criticam frequentemente a didática devido a complexidade de seus discursos. O que eu percebo é que para eles, os fenômenos de ensino não exigem, nem necessitam de uma conceituação particular, eles podem ser descritos em termos de linguagem coloquial. A didática desenvolve modelos conceituais, um vocabulário específico, no qual cada termo teórico empregado é cuidadosamente definido, cuja complexidade é adaptada à complexidade dos fenômenos de ensino e de aprendizagem de saberes específicos. Naturalmente, esta complexidade dificulta a disseminação da pesquisa em didática nos diferentes estratos da sociedade, como é o caso de todas as ciências. Isto diz respeito ao problema da popularização da ciência, um problema difícil, de natureza didática, que não pode ser ignorado pela comunidade de educadores matemáticos. Mas neste texto que preparei, não trato deste assunto. Uma outra razão que considero também poder explicar o hiato no diálogo entre a didática da matemática e a educação matemática está relacionada a multiplicidade de teorias que constituem o campo da didática da matemática : Teoria das Situações Didáticas, de Guy Brousseau; Teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud, Teoria dos Registros de Representações Semióticas de Raymond Duval, a Teoria Antropológica do Didático de Yves Chevallard, a Teoria da Atividade em Didática de Aline Robert e Janine Rogalski e a Teoria da Ação Conjunta em Didática desenvolvida por Gérard Sensevy. Guy Brousseau, um dos fundadores da didática da matemática, que antes de estudar matemática, era um professor defensor de métodos ativos, definiu a didática da matemática como uma reação a abordagens consideradas demasiado globalizantes da pedagogia geral. Para ele, a concepção ou estudo de um projeto de ensino não pode ser forjado sem levar em conta os conteúdos específicos do saber que são objetos do ensino e, portanto, da disciplina. Isto requer um estudo cuidadoso das questões epistemológicas relacionadas com o ensino da matemática. Yves Chevallard define a didática da matemática como a ciência da difusão (e não-difusão, ou mesmo retenção) de conhecimentos, saberes e práticas matemáticas em um determinado grupo humano - uma classe escolar, "a" sociedade, uma instituição, etc. Considerando estas definições é possível perceber que o saber, o objeto de ensino, encontra-se no centro do interesse das investigações em didática da matemática. Neste sentido, nesta comunicação objetivo mostrar que no âmbito da Educação Matemática Inclusiva, as ferramentas teóricas da didática da matemática podem subsidiar práticas inclusivas, no se referem aos estudantes apoiados pela educação especial, que em sua maioria buscam seus aportes teóricos em áreas, como psicologia, sociologia, neurociência, e seus resultados acabam direcionados quase que exclusivamente aos educandos com necessidades especiais e não a todos os alunos, conforme pressupõe a educação inclusiva.
Profa. Dra. Enicéia Gonçalves Mendes (UFSCar)
A teoria científica é uma estrutura, um quadro de referência que serve para alicerçar observações e fatos. Elas são lentes que nos auxiliam a olhar e interpretar a realidade, e há muitas e variadas teorias a disposição de quem pretende conduzir uma investigação cientifica. A primeira teorização que precisa ser feita é sobre qual é a concepção que se tem sobre a diferença decorrente da deficiência: se é concebida como algo inscrito no indivíduo ou um fenômeno social? E a partir daí se tomam caminhos metodológicos diferentes embasados em outras teorias, dependendo da natureza do problema que se quer pesquisar. Nesse sentido uma revisão da literatura científica pode contribuir para conhecer quais são as teorias mais utilizadas, as metodologias mais indicadas, os principais achados e o que precisa ser investigado. Enfim, há diferentes teorias disponíveis, dependendo de se o interesse da pesquisa é por exemplo, sobre como ensinar determinado conteúdo de matemática para alunos com certos tipos de impedimento. Há ainda outras se a pretensão for de pesquisar como formar professores de matemática na perspectiva da inclusão escolar ou outras tantas se o desejo for investigar aspectos mais macro da política de inclusão escolar. Enfim, a adoção de uma ou outro referencial irá depender do objeto de estudo, mas para contribuir para a área, deve-se levar em consideração uma visão sociológica da deficiência.