ST 1 - Cultura histórica audiovisual: representações do passado em movimento

Coordenadores(as):

Prof. Ms. Alex Alvarez (UFOB);

Profa. Dra. Francismary Alves da Silva (UFSB)

Resumo:

O ST que aqui propomos tem por intenção acolher trabalhos que abordem a cultura histórica audiovisual contemporânea que extrapola o campo da historiografia propriamente dita. Marc Ferro foi pioneiro em ressaltar o múltiplo potencial das fontes audiovisuais – destacando o cinema – para a historiografia. Ao nos apresentar imagens construídas a partir de uma montagem intencional, o cinema possibilita interpretações históricas até então inacessíveis para os historiadores e que vão além de sua intencionalidade original como registro ou ficção (FERRO 1979). Diversos trabalhos já se debruçaram desde então sobre as obras cinematográficas, ressaltando como o conteúdo audiovisual exige da historiografia novos métodos de trabalho para abordar tais objetos como artefatos culturais que põem em movimento representações da experiência humana e, por extensão, da história (ROSENSTONE 2009, LAGNY 2009). Nossa proposta aqui se abre então como um espaço de diálogo para trabalhos com artefatos audiovisuais diversos, propondo e/ou reavaliando as relações entre história e representações audiovisuais. Assim como o surgimento das técnicas de reprodução audiovisual indicam uma profunda alteração social na relação do público com as artes (BENJAMIN 2011), consideramos que as representações audiovisuais da história implicam uma relação diferenciada da cultura histórica com seus interlocutores. É nesse sentido que interpretamos as colocações de Jörn Rüsen acerca da possível emergência de novas modalidades de formação de sentidos para a experiência temporal decorrente dos novos meios de comunicação (RÜSEN 2014, 294-295). O objetivo deste ST será o de explorar as diversas relações entre a cultura histórica na contemporaneidade e suas representações audiovisuais: o cinema, a televisão, o rádio, as redes sociais, os jogos eletrônicos, os podcasts, os blogs, etc., tornaram-se meios de movimentação de uma cultura histórica que atravessa e extrapola a ação dos profissionais da área, suscitando leituras e interpretações do passado no público amplo ainda pouco abordadas pelos historiadores. Esperamos, portanto, receber trabalhos que se dediquem tanto à abordagem desses meios como fontes quanto à reflexão de suas possibilidades para o ensino, reconhecendo-os como formas de representações culturais privilegiadas para se compreender a consciência histórica da atualidade e suas formas de aprendizagens históricas (RÜSEN 2001, 2010).


ST 2 - Historiografia e História das Áfricas

Coordenadoras:

Profa. Dra. Ana Mônica Lopes (UFOP)

Mestranda Edgleice Santos da Silva (UFJF)

Resumo:

O objetivo do simpósio é abrir um espaço à reflexão sobre as correntes historiográficas que procuraram refutar uma construção do passado africano que se baseia no olhar europeu e tem como referência a presença europeia no continente. Trata-se de perceber os processos decorridos no continente a partir do século XI, os agenciamentos coletivos africanos e as diásporas a partir das Áfricas. Seguindo Joseph Ki-Zerbo, pretendemos analisar a “tomada de consciência” dos africanos sobre a sua história e as formas pelas quais se desenvolve a auto-inscrição africana nas dinâmicas locais e nos processos constitutivos do “Atlântico Negro”. Neste sentido, algumas questões norteiam a proposta: quais caminhos percorreram as escritas do passado feita por africanos e sobre africanos? Como a historicidade da historiografia africana nos ajuda a pensar as metodologias das atuais pesquisas? Como trabalhar com formas narrativas em suportes distintos, visando a produção de história das Áfricas? Quais os caminhos percorridos pela história da historiografia das Áfricas desde a publicação, por J.D. Fage, do texto “A evolução da historiografia da África”, em 1981, na História Geral da África (UNESCO)?


ST 3 - Teorias da história e historiografia africana: desafios e caminhos

Coordenadores:

Prof. Dr. Fábio Baqueiro Figueiredo (UNILAB)

Prof. Dr. Silvio de Almeida Carvalho Filho (UFRJ)

Prof. Dr. Washington Nascimento (UERJ)

Resumo:

Este simpósio temático pretende reunir trabalhos em teoria da historia e historiografia do (e sobre) o continente africano. Assim sendo ele visa promover um fórum de discussão para tratar da historiografia de África, abarcando trabalhos que discutam o impacto do colonialismo e suas visões de mundo para a construção de uma história para a África em conflito/diálogo com a escrita da história pelos africanos e/ou descolonizada. Pretende também dar ênfase aos desafios e as novas abordagens da historiografia recente como: os usos das fontes, a crítica aos essencialismos e o pensar (e repensar) sobre a gênero e feminismos na produção histórica africana.


ST 4 - O Acontecimento: O papel da ruptura na História no Brasil e na América Latina

Coordenadores(as):

Mestranda Ana Malaco (UFOP)

Doutorando André Luan (UFOP)

Mestranda Larissa de Assis (UFOP)

Profa. Ms. Lívia Vargas-González (UCV-UFOP)

Resumo:

A preocupação pela ruptura da temporalidade histórica, a qual é uma expressão da crise do tempo histórico e da perda das possibilidades emancipatórias, tem como base a necessidade de refletir sobre categorias que permitem pensar teoricamente as irrupções que mudam a realidade social e histórica e recuperar um sentido do presente que restabeleça as suas ligações temporais com o passado e com futuro.

Outras tradições do pensamento contemporâneo tentaram refletir sobre a crise do futuro, mas reconhecendo as dificuldades que supõe restituir uma ideia do tempo histórico que se distinga do historicismo e do presentismo. Estas propõem um olhar político-estratégico da história presente, sendo o acontecimento um conceito chave para a compreensão dos processos que irrompem a estabilidade e a continuidade histórica, os quais dão conta do caráter aberto e descontínuo da história.

As teorias do acontecimento que tomamos como referência (BADIOU; ZIZEK) reconhecem a vitalidade da novidade como irrupção imprevista que altera a ordem de coisas existentes e abre as janelas a outras temporalidades e outras histórias. Entretanto, como pensar hoje em um presente inscrito numa “história aberta”? Como pensar uma concepção da história que envolva emergências acontecimentais? Qual seria a potencialidade práxica da categoria de acontecimento se, numa conjuntura de retrocesso dos governos populares e progressistas na América Latina, nosso presente parece se fechar às possibilidades emancipatórias?

Ao questionar a emergência como conceito, pode-se inferir que o acontecimento é elemento que cosubstancia seu sentido. O efeito de suspensão estrutural do acontecimento como fenômeno político possibilita à teoria da história um papel fundamental de análise de conjuntura do tempo presente. Nesse sentido, é de suma importância refletirmos sobre a realidade política brasileira e os atuais eventos. A criação de um Simpósio desta natureza garante a possibilidade de reflexão, à luz do maquinário historiográfico e da história intelectual, o avanço do conservadorismo na América Latina. 


ST 5 - Historiografia, educação e progresso: compreensões sobre o passado e a temática da educação na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX.

Coordenadores(as):

Doutoranda Helena Paulo de Almeida (UFOP)

Doutorando Clayton Ferreira (UFOP)

Resumo:

As compreensões acerca do passado e a escrita da história foram temáticas centrais para grande parte da comunidade letrada da segunda metade do século XIX e início do XX. Tais autores apontavam a importância de fundamentar uma história a qual, intrinsicamente relacionada com a identidade, poderia potencializar a ação e a sociabilidade nacional frente aos ideais de progresso e desenvolvimento social. Tornava-se necessário investigar se de fato a história nacional evidenciava uma população a qual constantemente demonstrava qualidades e capacidades das mais diversas, no caso da América Latina, muitos deles preocupados em criticar o entendimento corriqueiro em parte das ciências da época que atribuíam a falta de progresso à composição étnica. Para tal, também era preciso realizar uma crítica historiográfica, repensar princípios epistemológicos, assim atribuindo maior protagonismo aos sujeitos no interior dos processos históricos. No entanto, para produzir uma relação de intimidade com certas dimensões do passado, sedimentar tal sociabilidade e cristalizar uma solidariedade generalizada, era preciso por em prática um grande projeto educacional, combater o analfabetismo e dilatar a cultura escolar. Coloca-se, assim, a importância em serem produzidas investigações e reflexões acerca do vínculo entre a história, a historiografia e a educação deste recorte, momento onde se sedimentam e colocaram-se em disputa diversos projetos de reestruturação da formação do indivíduo e da nacionalidade. No Brasil, tais preocupações foram o norte de grande parte da obra de autores como João Ribeiro, Rocha Pombo, Coelho Neto, Manoel Bomfim, Vicente Licínio Cardoso, Edgar Roquete-Pinto, Alberto Torres, Gilberto Freyre, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, José Veríssimo, entre tantos outros. Esperamos, com esta proposta de simpósio temático, tematizar e debater, a partir do recorte entre a segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, história intelectual, história das ideias, história da historiografia, história da educação, ensino de história, história do livro didático, entre outras abordagens apropriadas a estas temáticas.


ST 6 - História da Educação: construção do campo e emergência historiográfica.

Coordenador:

Prof. Dr. Washington Dener dos Santos Cunha (UERJ)

Resumo:

A História da Educação tem apontado suas pesquisas para novos objetos, novas abordagens e novos diálogos com as Ciências Humanas. Logo, tem sido um desafio teórico-metodológico bastante estimulante esse campo da História no qual podemos identificar as dinâmicas sociais das relações entre os grupos, gêneros, etnias, gerações, discursos, como também as práticas culturais e educativas de crianças, jovens, adultos, índios, negros, mulheres, colonizadores, colonizados, constituindo-se como campo de pesquisa e  sua historiografia. A História da Educação dialoga hoje, muito mais do que anteriormente, com o território da Historiografia. Trata-se na verdade de uma modalidade do fazer historiográfico. Nesse sentido, são pensados historicamente temas e problemas do âmbito local, regional, nacional e global. Assim, a proposta deste simpósio tem como objetivos acolher, apresentar e debater trabalhos que possam contribuir para os estudos em História da Educação, envolvendo as dinâmicas, representações e práticas culturais e educativas, a manifestação da diversidade de olhares, entrelaçando a dimensão prescritiva dos estudos pedagógicos com as práticas efetivamente implementadas nos rituais da escolarização, bem como a aproximação e trocas possíveis nas Ciências Humanas, em especial na relação entre História e Educação.


ST 7 - Interpretações e histórias do Brasil a partir de experiências de crise

Coordenadores:

Prof. Dr. Daniel Pinha (UERJ)

Prof. Dr. Rodrigo Perez (UFBA)

Resumo:

“Crise”: temos aí uma das palavras mais polissêmicas do vocabulário político ocidental. Aristóteles, no tratado da “Política”, definiu a crise como o efeito natural do tempo sobre as sociedades. As crises, ainda segundo o filósofo grego, degeneram os sistemas políticos, numa escalada de corrupção que tenderia a ter três formatos: a monarquia se degenera na “ tirania de um só”, a aristocracia se corrompe quando se torna a “tirania de poucos” e a democracia quando dá lugar à “tirania da maioria”. Uma sociedade em “bom estado”, portanto, seria aquela regulada pelos preceitos da justa medida e governada por um sistema político misto, que reunisse as virtudes da monarquia, da aristocracia e da democracia. Grosso modo, a tipologia aristotélica teve vida longa e foi atualizada por outros pensadores que podemos considerar representativos da linguagem política republicana, tais como Cícero, Guicciardini, Maquiavel e Montesquieu. Porém, há outras formas de tratar o conceito aqui em tela, como demonstram as reflexões de Claude Leffort e Zygmunt Bauman, autores que, cada um a seu modo, demonstram como a própria modernidade está fundada no signo da crise, entendida como superação de uma ordem social ultrapassada por uma realidade nova e superior. É o que Reinhart Koselleck chamou de “temporalização da utopia”, chamando a atenção para a relação entre crise e filosofia da história, ou seja, o quanto o ambiente de crítica produzido pelo Iluminismo é precursor da crise moderna. Também no repertório marxista a ideia de crise possui lugar central: trata-se da crise revolucionária, da experiência histórica que combinando condições objetivas e subjetivas viabiliza a revolução dos trabalhadores. Diante deste quadro e das inquietações provocadas pelo contexto político brasileiro do nosso tempo o objetivo deste simpósio temático é, justamente, reunir trabalhos que indaguem sobre como intérpretes do Brasil, em seus mais diversos campos de atuação letrada e/ ou acadêmica, produziram críticas diagnósticos sobre a realidade nacional e histórias do Brasil em meio às mais diversas experiências de crise que marcaram a história brasileira. Não se trata, apenas, de interrogar sobre as intepretações tempestivas das crises, mas sim compreender como as experiências de crise ensejaram intepretações e histórias do Brasil.


ST 8 - Intelectuais negros(as) e a escrita da história: antirracismo, descolonização e novos desafios à historiografia.

Coordenadores(as):

Doutorando Felipe Alves (UFOP)

Doutorando Allan Kardec Pereira (UFRGS)

Doutoranda Lídia Generoso (UFOP)

Mestrando Gabriel Gonzaga (UFRGS)

Resumo:

Cada vez mais sujeitos antes vistos como “povos sem história” reivindicam suas próprias historiografias – como Sanjay Seth (2013) destacou em sua crítica, isso significa suas próprias formas de registrar e se relacionar com o passado, mesmo aquelas que não se expressam pela escrita. Essas histórias surgem contemporaneamente à problemática da memória e do testemunho, mas geneticamente implicadas nas lutas de descolonização e nas respectivas “novas histórias nacionais” (RUFER, 2009). De diversas maneiras, a memória, o testemunho, a oralidade, a religiosidade, entre outras, são interligadas a novas formas de narrar o passado, que servem também à ação política.

Não apenas novos sujeitos para a história, mas igualmente novos sujeitos nas universidades, nos departamentos de história, nos lugares materiais de produção do conhecimento. Essa parece ser a revolução que sustenta as novas temáticas das ciências humanas, ao menos no Brasil. No que diz respeito à historiografia negra no Brasil, essas pessoas não se contentaram em ocupar artigos científicos e objetos de pesquisa, mas também buscaram sentar nas cadeiras das salas de aula, ministrar disciplinas e participar, de forma menos marginalizada, da produção do conhecimento histórico. As grandes conquistas que prenunciaram essas mudanças são justamente a lei 10.639 de 2003, que tornou obrigatório o ensino de história da África e dos afro-brasileiros na escola básico, ainda que venha sofrendo grande resistência na implementação, e as leis das cotas, promulgada em 2012.

Buscando novas narrativas para falar sobre os passados do tráfico negreiro, da escravidão e dos regimes de terror racial na América, a filosofia da diáspora africana lançou diferentes perspectivas pelas quais contar a história negra. Por um lado, pretende superar a história nacional, que reduz negros e negras ao passado da escravidão, por outro, também busca superar visões românticas que ligam os descendentes de africanos e africanas nas Américas diretamente à África, sem que as noites no porão do navio negreiro – a MiddlePassage- representem algum obstáculo. Tanto o já clássico O Atlântico negro de Paul Gilroy, quanto A Crítica da Razão Negra de Achille Mbembe, são textos exemplares dessa perspectiva, de ambos os lados do Atlântico. Eles remetem a uma tradição intelectual que nos leva aos pan-africanistas, aos poetas da negritude e aos marxistas negros, entre eles W. E. B. Du Bois, Aimé Césaire, Angela Davis, C. L. R. James, Frantz Fanon, bell hooks e Audre Lorde. Essa história intelectual e política é igualmente vasta no Brasil, como são os casos da Frente Negra Brasileira nos anos 30 e do Movimento Negro Unificado nos anos 70, bem como de Abdias de Nascimento, Guerreiro Ramos e Maria Beatriz Nascimento, entre tantos e tantas outros e outras.

Dito isso, o presente Simpósio Temático procura disponibilizar um espaço em que pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam a recuperar o pensamento negro, seja a partir dos distintos recortes regionais do Brasil, ou mesmo das Américas, da África, da Europa, possam apresentar seus trabalhos no intuito de contribuir para o debate que essas novas histórias fomentaram na historiografia. Nesse sentido, serão bem vindos trabalhos que se adequem nas áreas de história da historiografia, história intelectual ou afins, que dialoguem em alguma medida com as perspectivas e correntes críticas esboçadas acima e que se posicionem criticamente sobre a produção do conhecimento histórico e suas possibilidades e limitações para narrar os passados negros e subalternos. Em síntese pretendemos discutir possibilidades para a construção de uma historiografia antirracista, democrática e plural, onde tais indivíduos e/ou grupos possam falar em primeira pessoa, como reivindicou Lélia Gonzalez.


ST 9 - História, Memória e Sensibilidades

Coordenadores(as):

Prof. Dr. Gilberto Cézar de Noronha (UFU)

Doutoranda Suelen Caldas de Sousa Simião (UNICAMP)

Resumo:

Este Simpósio Temático acolherá estudos que buscam compreender as relações entre racionalidades, sentimentos e sensibilidades na história, em suas dimensões éticas, estéticas e políticas, abordando temáticas e temporalidades variadas, relevantes para o entendimento da modernidade e dos modos de subjetivação contemporâneos. A despeito da longa tradição de estudos sobre a memória, reconhecida ora como fonte, ora como fenômeno histórico, muitas questões teórico-metodológicas ainda desafiam as pesquisas historiográficas sobretudo em relação à pretensa objetividade da história frente à subjetividade característica das narrativas da memória. Autores como Simmel, Benjamin, Arendt, Halbwachs, Bergson, Foucault, Derrida, Rancière e Agamben, por exemplo, sob diferentes prismas, debruçaram-se sobre as linguagens políticas e suas diversas nuances, inspirando-nos a repensar as formas, as escalas, a duração e a espacialização dos jogos de poder que instituem as relações sociais e os processos de subjetivação que envolvem a gestão da lembrança e do esquecimento. Nesse sentido, embora a articulação do ST atente-se para a dimensão histórica e os desafios teóricos de se pensar as dinâmicas entre política e sensibilidades, acolherá também pesquisas que exploram fontes, temáticas e abordagens teórico-metodológicas diversas (como o cinema, a literatura, a fotografia, depoimentos orais, os vestígios materiais, os arquivos e lugares de memória, etc.). Serão bem-vindos trabalhos que discutam a história e a historiografia, as relações de poder/submissão/subversão nos usos políticos do passado; a gestão dos sentimentos e das paixões sociais; a construção de racionalidades, os afetos e sensibilidades; as relações entre política e estética; a alteridade e as subjetividades; questões epistemológicas relacionadas às tênues fronteiras entre memória e história e à própria validade do conhecimento histórico, em suas diversas orientações teóricas.


ST 10 - Escritas de si: Sentimentos, Gênero e Religião

Coordenadores:

Doutorando Gilvani Alves de Araujo (UFPR)

Doutorando Matheus Machado Vieira (UFPR)

Resumo:

Nosso Simpósio Temático propõe refletir sobre a “Escrita[s] de si” pois quando pensamos na escrita a mesma pode ser contemplada dentro de inúmeras possibilidades de análise no discurso histórico. A Escrita de si encontra-se em todos os gêneros (ortodoxos e heterodoxos) que compõem o “espaço narrativo”. Ela pode revelar-se na introspecção além das temporalidades e vicissitudes históricas, na “saturação de sentimentos e nas questões de gênero, religiosidade, política e literatura”. Metodologicamente Michel Foucault resgatou na filosofia helenística, mais propriamente em Sêneca as raízes do “cuidado de si” e acaba por nos indicar uma verdadeira “arqueologia” dos atos de verdade, imbuídos em todas as formas confessionais de escrita. Uma perspectiva que vai de encontro com as possibilidades aqui elencadas. Neste simpósio, são bem vindas pesquisas que dialoguem com subjetividades presentes em fontes variadas tais como biografias, cartas, imagens, registros sonoros e relatos.


ST 11 - La historiografía de los países de la Cuenca del Plata en permanente “emergencia”: la producción de historias y contrahistorias, del siglo XIX hasta la actualidad

Coordenadores(as):

Profa. Dra. Bárbara Gómez (Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción - Paraguay)

Prof. Dr. Tomás Sansón Corbo (Universidad de la República – Uruguay)

Profa. Dr. Marcela Cristina Quinteros (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Brasil)

Resumo:

En continuidad con el espacio académico de discusión que se ha construido en el 8º y el 9º SNHH, cuyo objetivo principal consistió en conformar un marco para compartir avances y resultados de investigaciones vinculadas con: a) los contextos y condiciones de posibilidad para la creación de conocimiento histórico en Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay; b) las modalidades de socialización y recepción de los productos de la labor historiográfica, el presente Simposio pretende abordar análisis de los procesos de producción, creación, institucionalización, difusión y recepción de los relatos sobre el pasado en los países de la Cuenca del Plata así como de la relación entre estos, desde el siglo XIX hasta la actualidad.

Considerando que la historiografía rioplatense está en constante movimiento como consecuencia de un estado permanente de emergencia de nuevas interpretaciones y contrainterpretaciones tanto de las historias nacionales como de las regionales, las contribuciones al Simposio podrán referirse a autores, obras, instituciones o problemas específicos, que planteen, de preferencia, cuestiones de carácter comparativo a efectos de obtener una visión panorámica y complementaria de los procesos de configuración de los campos historiográficos nacionales. Las mismas pueden vincularse con algunas de las siguientes líneas temáticas: el aporte de la Historia y los historiadores en la creación y definición de los imaginarios sociales; aspectos instrumentales y usos políticos del conocimiento histórico; canales, estrategias y modalidades de difusión de los resultados de la indagación del pretérito; el papel de los intelectuales que escriben historia pero no pertenecen al campo académico profesional; el rol de los editores como de los libros didácticos y paradidácticos en la difusión del conocimiento histórico, entre otros.


ST 12 - História, Fenomenologia e Existência

Coordenadores:

Prof. Dr. Augusto Leite (pós-doutorando UFES)

Doutorando Walderez Ramalho (UFOP)

Doutorando Breno Mendes (UFMG)

Resumo:

Nesta décima edição, o SNHH traz como tema geral a ideia de “emergência”. Em sua vasta polissemia, a palavra emergência sugere “manifestação”, “aparição”, “revelação”. Nesse sentido, ela parece guardar uma relação íntima com a ideia de “fenômeno”, entendido justamente como “aquilo que se mostra”. Assim, o diálogo entre história e fenomenologia mantém o seu vigor e a sua atualidade como uma importante via para a reflexão sobre os desafios contemporâneos da historiografia, vislumbrando as possibilidades futuras do campo historiográfico sem abrir mão da longa e importante tradição desse mesmo diálogo. A título de exemplo, podemos citar o crescimento das demandas e lutas por reconhecimento e representação historiográfica como fruto do foco dado às existências pela abordagem fenomenológica da história, que, como se sabe, elabora o conceito de historicidade, fundamental para as tensões teóricas atuais. Portanto, ao mesmo tempo em que nos inserimos na seara aberta por Husserl, Heidegger, Gadamer e Ricoeur também nos aproximamos de nomes como Gumbrecht, Chakrabarty, Ewa Domanska e Hans Ruin.

Esta proposta de Simpósio Temático busca reunir trabalhos situados nas fronteiras entre história e fenomenologia. Serão bem vindas as apresentações que versem sobre: a temporalidade e suas diferentes manifestações históricas; a historicidade e suas condições de possibilidade e modalidades de experiência; o surgimento de novos fenômenos e suas implicações para a compreensão e a experiência da história (inteligência artificial, antropoceno, história digital, etc.); apresentação crítica de autores clássicos e “emergentes” ligados à tradição fenomenológica como os elencados acima e outros; as relações entre fenomenologia, hermenêutica e historiografia; as novas abordagens fenomenológicas de conceitos e categorias históricas como narrativa, sentido, agência, acontecimento, tradição, experiência, existência, entre outros. 


ST 13 - História Regional, Memória e Patrimônio

Coordenadores(as):

Profa. Dra. Isadora Tavares Maleval (UFF-Campos)

Profa. Dra. Susana Cesco (UFF-Campos)

Prof. Dr. Jougi Guimarães Yamashita (UFRRJ)

Resumo:

A historiografia mais atualizada interpreta região como um conceito polissêmico, não apenas ligado a recortes espaciais, construídos por entidades político-administrativas, tais como os Estados-nacionais, como também a questões de identidade e de representação. Nesse sentido, História Regional é aqui vislumbrada como um campo de pesquisa em franco desenvolvimento, partindo de problemáticas concernentes às relações entre espaço físico e espaço social, referendando que toda divisão regional parte de uma definição política. Da mesma forma que a História Política se encontra hoje renovada, atenta para questões que vão além das esferas de poder mais tradicionais, também a região é percebida nesse sentido ampliado, evocando o campo das lutas simbólicas, a partir do qual, portanto, tornar-se-ia possível investigar aspectos relativos aos debates sobre identidade e memória social: ambas centrais também para a definição de patrimônio como campo específico de análise. A respeito da noção de Patrimônio, nas últimas décadas, passou-se a entender o conceito a partir de alguns referenciais, materiais e/ou imateriais, que colaboram com o compartilhamento de valores simbólicos e ajudam na estruturação de regiões e/ou comunidades. O alargamento da noção de patrimônio conservou, desse modo, o valor atribuído aos monumentos e agregou as manifestações culturais e religiosas, investindo, assim, na preservação de múltiplos elementos da cultura material e imaterial.

Esta área de concentração contempla pesquisas que evidenciam concepções, usos e significados dos conceitos de Região, Memória e Patrimônio, sobretudo aqueles que podem ser articulados às noções de identidade, alteridade, cultura e relações de poder.


ST 14 - História Ambiental, Epistemologias Ambientais, Historiografia sobre a Natureza, Ecologias Decoloniais, Paisagens de Desigualdade.

Coordenadores:

Mestrando Kaian Luca Perce Eugenio (UFOP)

Mestrando Mark de Soldi Matzner (UFOP)

Resumo:

A relação entre homem e natureza se tornou conflituosa desde as narrativas de liberdade do Iluminismo e da Revolução Industrial. Na passagem do século XVIII para o XIX, o discurso das filosofias das ciências conduzido pelo progresso intensificou o uso da técnica sobre o mundo natural. A extração de recursos naturais na biosfera do planeta Terra aumentou juntamente com os conflitos, os desastres, os crimes, a desigualdade e a degradação ambiental. O sistema capitalista e a expansão urbana desde esta mesma época forçam a capacidade de suporte que os ecossistemas possuem para suplantarem a vida no planeta. Os corpos hídricos, as montanhas, as florestas, os campos, os corpos rochosos, o oceano, a massa animal e o solo estão sendo utilizados para além do seu limite de renovação natural gerado pelo ciclo da vida.

Vozes e ações ético-politicamente orientadas enfrentam e discutem a naturalização das opressões, denunciando-as e projetando soluções para uma gestão ambiental sustável, compartilhada, compromissada e disposta a enfrentar o capitalismo e suas possíveis mutações no que tange este sistema promover desigualdades através das relações entre homem e seu ambiente. Se o Antropoceno é um tempo geológico que surge como resultado das ações liberais e neo-liberais e com a atividade urbano-industrial no planeta, quais horizontes permitem imaginar alternativas baseadas em transformações igualitárias das relações sócio-ecológicas pós-capitalistas? Como a história da historiografia e a teoria da história irão se portar diante deste evento cada vez mais latente à política, a sociedade, a economia e cultura?

Neste sentido, este simpósio temático aceita trabalhos que visam discutir assuntos pertinentes a relação entre homem e natureza em qualquer período histórico e de saberes que estão além dos campos abrangidos pela tradição ocidental e que resistem a colonialidade e a espoliação do ser, do conhecimento e dos territórios. Temas que privilegiem recortes da história ambiental, da historiografia sobre a natureza, da filosofia da natureza, da ecologia política, de debates entre a teoria da história e o mundo natural, da história profunda, tempo profundo, da vida no planeta, serão bem-vindos, como também, trabalhos que discutam as lutas ambientais seja estas: indígena, quilombola, diaspórica, camponesa, ribeirinha, seringueira, marisqueira, pesqueira, fundos de pasto, sem terra e sem teto, ecologismo popular e as epistemologias insurgentes sobre a natureza.


ST 15 - Historiografia e as narrativas literárias

Coordenadora:

Profa. Dra. Karina Klinke  (UFU)

Resumo:

Roland Barthes, em sua Aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Collège de France (1977), explica as forças da literatura por meio de três conceitos gregos: Mathesis, Mimesis e Semiosis. Sobre o primeiro conceito, esclarece que a literatura é categoricamente realista: ela é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real porque faz girar os saberes, não fetichiza nenhum deles. Por um lado, ela permite designar saberes possíveis (insuspeitos, irrealizados) e por outro lado, o saber que ela mobiliza nunca é inteiro nem derradeiro, pois ela não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe de alguma coisa e que sabe muito sobre os homens. Como Mimesis, por sua vez, a literatura se afaina na representação do real. Ela é categoricamente realista, na medida em que sempre tem o real por objeto do desejo. Canonicamente definida como Simiosis, a literatura é uma ciência dos signos e suas construções, ou seja, o Texto. Seja ele antigo ou moderno, é o mergulho regular na mais complexa das práticas significantes, a escritura. Para Barthes, a parte da semiologia que melhor se desenvolveu é a análise das narrativas, a qual pode prestar serviços à História, à etnologia, à crítica dos textos, à exegese, à iconologia. Isso porque ela não permite apreender diretamente o real, impondo-lhe um transparente geral, mas busca soerguê-lo, em certos pontos e em certos momentos, o que chama de efeitos de solevamento do real. Por isso a literatura não está no papel de substituição com relação a nenhuma disciplina, mas ajuda a todas, pois propõe um protocolo operatório a partir do qual cada ciência deve especificar a diferença de seu corpus. Nesse sentido concebemos as narrativas literárias como um meio para o homem dizer sobre o seu tempo, eternizá-lo enquanto o reapresenta na construção de uma discursividade, que também é histórica, e assim criar “sentidos da realidade”, conforme atribui Willian James. É na perspectiva de refletir sobre as emergências e os desafios contemporâneos à historiografia que propomos discutir a literatura enquanto produção e produto das sociedades em suas diferentes temporalidades e não simplesmente no aspecto de seu polêmico utilitarismo como fonte para a História.


ST 16 - Escritas ficcionais e teoria na pesquisa histórica: literatura, teatro e biografias.

Coordenadoras:

Doutoranda Natally Chris da Rocha Menini (UFRRJ)

Mestranda Andressa Melo da Fonseca (UFRJ)

Mestranda Isabella Santos Pinheiro (UFRJ)

Resumo:

Os amplos debates epistemológicos das quatro últimas décadas marcaram o afazer dos historiadores que se viram confrontados em definitivo com problemáticas relacionadas à dimensão narrativa de seu trabalho. As reflexões sobre as proximidades e os distanciamentos entre as práticas discursivas historiográficas e as práticas discursivas literárias constituíram abordagem privilegiada nas discussões acadêmicas ocidentais, suscitando algumas perguntas: em que medida a estrutura narrativa histórica e a estrutura narrativa ficcional se aproximam? Quais as diferenças epistemológicas entre a História e a Literatura? E mais recentemente: como a escrita historiográfica pode se reinventar ao utilizar as narrativas ficcionais em sua construção de conhecimento?

Promovendo uma inserção nesses debates entre o discurso histórico e o poético-literário e propondo uma reflexão sobre a produção historiográfica de narrativas que contemplem os fenômenos do passado, o presente Simpósio Temático buscará estabelecer um diálogo entre as possibilidades e os limites teórico-metodológicos da narrativa histórica quando confrontada com as diversas escritas ficcionais e formas de escritas que trazem à tona as formas de falar de si. Desse modo, a nossa proposta consiste em promover um Simpósio que constitua um espaço de trocas e de discussões entre pesquisadores que instrumentalizam as narrativas ficcionais e biográficas na escrita da História, concebendo-as menos como representações per se da realidade passada, do que como recursos que agenciam reflexões epistemológicas sobre a natureza da narrativa historiográfica.

Pretendemos, portanto, estabelecer debates que abordem a literatura como uma expressão artística que possui práticas sociais historicizáveis e não apenas como uma mera fonte auxiliar ou ilustrativa.  Assim, o Simpósio buscará a um só tempo levantar questões sobre o estatuto da verdade na História e fomentar discussões que considerem a ampliação do universo de campos de escrita que se relacionam com a narrativa historiográfica – como a literatura, o texto dramatúrgico e as biografias.

Serão priorizados trabalhos que mobilizem obras literárias ficcionais, sejam elas literárias (prosa e poesia) ou dramatúrgicas, bem como obras biográficas que dialoguem com a teoria da história. Além disso, é de suma importância que os trabalhos disponham de métodos de análise condizentes com as escritas ficcionais e biográficas utilizadas como temática das pesquisas. Serão bem-vindas, ainda, pesquisas que se debrucem sobre proposições teórico-metodológicas que privilegiem trocas entre narrativa histórica e ficcional no interior da escrita da História.


ST 17 - Fontes imagéticas: usos e representações na Historiografia

Coordenadores(as):

Doutorando Márcio dos Santos Rodrigues (UFPA)

Mestranda Carolina Teixeira Pina  (UFPA)

Mestranda Isadora Bastos de Moraes (UFPA)

Resumo:

As recentes problematizações e conceitos sobre os materiais documentais ao alcance dos historiadores, assim como as renovações das práticas de pesquisa, possibilitaram a incorporação de novas categorias de testemunho. Dentre as contribuições mais recentes no âmbito da História/historiografia, podemos vislumbrar a importância das imagens como testemunhos concretos de um tempo, de uma mentalidade, de uma cultura. Até então desconsideradas pelos historiadores, tais testemunhos têm se configurado nos últimos tempos como mecanismos principais ou complementares para a compreensão de diferentes contextos sociais, em diversas abordagens. O pictoral turn ou iconic turn, como é denominado esse processo ainda em curso, fez com que historiadores lançassem mão da interdisciplinaridade para desenvolver métodos para melhor sistematizar seu trabalho com esses documentos e, deste modo, contribuiu para aproximar a História de outras áreas do conhecimento. Charge, caricatura, cartum, histórias em quadrinhos, cartografia, fotografia, pintura, por exemplo, impõem desafios empíricos, teóricos e metodológicos. Seus usos e possibilidades devem considerar aspectos relacionados à produção, recepção, consumo e\ou representação. E isto nos ajuda a pensar a imagem como produto sociocultural e não mero registros; uma vez que intenciona expressar valores impostos por determinados grupos e se modificam de acordo com o tempo. Assim, o passado se modifica pelo modo de intervenção do historiador e, sem dúvida, por meio da imagem, o homem pode refletir acerca dos processos históricos. Portanto, o intuito desse simpósio é apresentar ser possível ler a história por meio das imagens. A proposta parte de algumas reflexões: Como as imagens moldam e são moldadas pela realidade? Como conceber as imagens como algo além de uma mera ilustração do conhecimento histórico, mas como prática cuja forma de ser se efetiva no e pelo contexto? Como viabilizar a compreensão histórica por meio de imagens? O ST ainda concede espaço àqueles trabalhos que examinem as peculiaridades da recepção de imagens em escala global, bem como as metodologias e teorias referentes à participação das imagens na construção da consciência e da aprendizagem histórica.


ST 18 - Historiadoras(es), história pública e democracia

Coordenadores(as):

Doutorando Pedro Silveira Telles (UFRGS)

Mestranda Renata da Conceição Aquino da Silva (UERJ)

Resumo:

Nos últimos anos, se tornaram cada vez mais frequentes os apelos para que as (os) historiadoras (es) participem dos debates públicos. Ao mesmo tempo se assistiu à entrada e consolidação do campo da história pública no Brasil, segmento que procura elaborar projetos de diálogo entre o conhecimento acadêmico e o que está fora dele, seja defendendo o uso de tecnologias de mídia para alcançar uma audiência mais ampla, seja valorizando outras narrativas e formas de conhecimento possíveis acerca do passado. Identifica-se uma demanda crescente sobre o conhecimento histórico, resultado de uma transformação na sensibilidade quanto à relação entre o conhecimento acadêmico e o “mundo exterior”. Nesse imbricamento de questões várias queremos perguntar: o que torna pública a história pública?

Apesar do amplo uso, a palavra “público” tem sido objeto de certa imprecisão teórica. Em alguns casos, parece que ela é entendida de maneira quantitativa, indicando somente preocupações numéricas. Em outros casos, a palavra tem sido usada para indicar tudo que se situa mais além da academia ou do conhecimento produzido nas universidades e, como resultado, naturaliza-se o conhecimento acadêmico enquanto destituído de caráter público sem se pensar nas consequências desse entendimento. Entretanto, uma análise de seus usos o evidencia enquanto uma categoria-chave do pensamento social e político contemporâneo, ocupando o coração das ansiedades e reflexões contemporâneas sobre as possibilidades de uma democracia de fato.

Convidamos pesquisadoras (es) interessadas (os) a refletir sobre o significado e as expressões do “público” na historiografia e na prática historiográfica contemporânea, e de maneira geral a refletir teoricamente sobre a história pública. De que maneiras os historiadores e historiadoras têm se relacionado com essa demanda sobre o conhecimento histórico? Como isso se relaciona ao ensino de história, se lembramos com Paulo Freire que “educar é um ato político”, e que público e político são frequentemente sinônimos na teoria política e social? O que significa para a atuação de historiadores (as) em áreas diversas a reflexão sobre o significado de “público”? Que epistemologias e sujeitos uma história pública efetivamente acolhe? Como pensar os encontros entre a história pública, o código disciplinar da história e as demandas atuais por democratização? Caso se entenda que uma esfera pública é fundamental para um regime democrático, qual é o papel de uma história pública?


ST 19 - História intelectual em debate: práticas, problemas e perspectivas

Coordenadores:

Mestrando Gabriel Mello (UFRJ)

Doutorando Renan Siqueira Moraes (UFOP)

Mestrando Cairo Barbosa (PUC-Rio)

Resumo:

Desde o último quarto do século XX, a história intelectual emerge como campo disciplinar de pesquisa na tentativa de solucionar alguns dilemas que envolviam a tradicional história das ideias, a história dos intelectuais e a sociologia do conhecimento. Trata-se de um termo polissêmico e polifônico que se apropria das diversas contribuições das Humanidades e atua nas regiões fronteiriças da historiografia. Neste sentido, procura entender os artefatos intelectuais produzidos no mundo social, atentando-se para a vastidão de experiências humanas no tempo e no espaço. Para tanto, vale-se de diversas abordagens complementares, tais como história das linguagens e do pensamento político e social, história da historiografia, história dos conceitos, biografia intelectual, história da circulação, apropriação e recepção de ideias, dentre outras. Na busca por consolidar-se na tradição historiográfica brasileira, a história intelectual é construída a partir de um movimento de renovação epistemológica, apostando sobretudo em dilemas urgentes e emergentes que se relacionam com temáticas do chamado tempo presente, sobretudo as relações entre tempo e espaço; entre a multiplicidade de estratos temporais e as distintas regiões e/ou grupos políticos/sociais específicos às quais se relaciona; sobre os processos de modernização social, especialmente entre os séculos XIX e XX; entre práticas e representações culturais/sociais/políticas, que constroem vocabulários específicos na atribuição de sentidos ao mundo sensível; entre a figura sociocultural do intelectual e sua participação na cena pública, especialmente no cenário brasileiro e latino-americano; entre a formação de redes nacionais, internacionais e transnacionais, a partir das quais se criam laços que permitem a circulação de ideias em diversos contextos; entre os meios e mediações que conformam e dão vida aos discursos intelectuais ao longo do tempo. A presente proposta, assim, tenta construir respostas aos desafios contemporâneos colocados à historiografia e à figura do historiador em um mundo em constante destruição, dissolução, reconstrução e construção como o do século XXI. 


ST 20 - Cultura Intelectual e Cultura Histórica: memória coletiva, identidade e sensibilidades na história

Coordenadores(as):

Prof. Dr. Thiago Lenine Tito Tolentino (UFS)

Profa. Ms. Mariana de Moraes Silveira (UFMG)

Resumo:

Este simpósio propõe reflexões sobre a historiografia e a teoria da história a partir do cruzamento de duas perspectivas: a cultura intelectual e a cultura histórica. A primeira dessas noções parte de um entendimento amplo do conceito de intelectual, não restrito à “alta cultura”, aos cânones, às tradições consagradas. Especialmente por se consolidar a partir de suportes midiáticos – impressos, audiovisuais, fonográficos, digitais – que compõem os meios de formação de identidades, memórias coletivas e interpretações acerca dos mais diversos aspectos do mundo histórico moderno e contemporâneo, a cultura intelectual pode revelar trânsitos, comparações, ligações e dinâmicas de produção de sentidos em diferentes escalas espaciais. Torna-se possível, assim, articular a história intelectual a temáticas comumente circunscritas a campos disciplinares específicos, como a história da publicidade, do design, da moda, da charge etc. Já a noção de “cultura histórica” tende a expandir as dimensões das experiências do e no tempo na reflexão teórica em torno da história, ressaltando o fato de a historiografia – seja em seu sentido estrito de história da ciência histórica, seja abrangendo uma gama variada de narrativas – ser um componente importante, mas que, de modo algum, esgota tal campo antropológico-histórico. Destaca-se, assim, a conformação das visões de mundo modernas e contemporâneas que Benjamin percebera na emergência do narrador midiático, especialmente associado ao noticiário jornalístico impessoal, que substituiria o relato tradicional em que no “narrado fica a marca do narrador, como a impressão da mão do oleiro sobre o pote de argila”. Recentemente, Barash relacionou as experiências do mundo virtual com a formação de memória coletiva a partir da mídia de massa. Mastrogregori, por sua vez, elenca uma “tradição histórica das lembranças”, que atua na conformação da memória coletiva a partir de uma miríade de ritos, comemorações, monumentos, patrimônio, imagens, textos, vídeos, canções, eventos etc. Esse autor chama a atenção, inclusive, para o aspecto acrítico de muitas dessas apresentações do passado, que podem e devem ser objeto do trabalho teórico e reflexivo dos historiadores. Procura-se, com isso, atentar para as sensibilidades que operam como mediadoras cognitivas dos processos de recepção, apropriação e reconfiguração das produções da cultura histórica e da cultura intelectual, especialmente na conformação de crenças, disposições, engajamentos e ações.


ST 21 - Teoria da História, gênero, interseccionalidades

Coordenadoras:

Profa. Dra. Ana Carolina Barbosa Pereira (UFBA)

Profa. Dra. Maria da Glória de Oliveira (UFRRJ)

Profa. Dr. Renata Dal Sasso Freitas (UNIPAMPA)

Resumo:

Os estudos que abordam as temáticas de gênero e das interseccionalidades de raça, classe e sexualidade têm conquistado espaço e visibilidade, mas tais categorias, assim como os debates em torno da epistemologia feminista (Rago, 1998), representam um desafio ainda a ser enfrentado no âmbito da Teoria da História. No Brasil, com exceção das pesquisas recentes sobre trajetórias de historiadoras (Liblik, 2017; Machado, 2016; Erbereli Junior, 2016), a ausência dessa temática na área de Teoria e História da Historiografia pode ser sintoma tanto da reprodução acrítica de agendas de pesquisa do Norte global, quanto das assimetrias de gênero, etnia e raça que estruturam o campo da produção do conhecimento. Diante da emergência de tais questões, este simpósio pretende contribuir para o debate mais amplo sobre as relações de poder e desigualdades de gênero/raça/etnia, subjacentes à divisão imperial do trabalho intelectual (Connel, 2012). Para tanto, estará aberto a trabalhos que dialoguem com os seguintes eixos temáticos: a) hierarquias de gênero/raça/etnia/classe no campo da História e nas atividades de pesquisa, ensino e difusão da Teoria da História; b) determinações de gênero/raça/etnia/classe nos padrões epistêmicos e disciplinares da história "científica" (como objetividade, neutralidade, imparcialidade); c) trajetórias de vida e estudos de História da Historiografia produzida por historiadoras; d) interfaces e desafios da epistemologia feminista à historiografia e à teoria da história.


ST 22- Linguagens e historiografia: aproximações, mediações e conceitos

Coordenadoras:

Profa. Dra. Sônia Maria de Meneses Silva (URCA)

Profa. Dra. Rosilene Alves de Melo (UFCG - Cajazeiras)

Resumo:

A proposta deste Simpósio Temático é promover o diálogo acerca das relações entre a escrita da história e o conjunto de linguagens, artefatos e instituições que problematizam o passado. Walter Benjamin nos emblemáticos escritos de 1936 sobre o estatuto da obra de arte na modernidade nos advertia que “fazer as coisas ficarem mais próximas é uma das preocupações tão apaixonadas das massas modernas como a tendência de superar o caráter único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade” (BENJAMIM, 1996, 170). Na contemporaneidade, quando jogos para computadores mobilizam ludicamente o passado, é necessário refletir como ocorre a fabricação da história, tal como alertava Michel de Certeau na obra A Escrita da história. Os autores colocam, assim, dois problemas basilares do fazer historiográfico em nossos dias: a espantosa explosão de registros e a profusão de narrativas para os quais o passado tornou-se matéria fundamental. Além disso, acrescenta-se outro elemento: a possibilidade de sua reprodução em imagens, sons e textos para uma audiência inesgotável. Portanto, a intenção deste Simpósio é acolher os estudos que problematizem as diferentes linguagens em que as narrativas históricas são apresentadas: o cordel transforma-se em novela, o acontecimento histórico é narrado na minissérie, o jornal vende efemérides, o filme constrói a personagem histórica. Assim, pensamos o papel das mais variadas linguagens na elaboração de narrativas, a produção e reprodução de rastros para os quais o tratamento do passado tem se apresentado como problema basilar. Além disso, serão bem-vindos, estudos que pensem novos acervos, usos do passado a partir de linguagens como filmes, literatura, televisão, música e imprensa, internet.


ST 23 - Leituras de emergências do tempo Presente – desafios historiográficos

Coordenadores(as):

Profa. Dra. Telma Cristina Delgado Dias Fernandes (UFPB)

Doutorando José dos Santos Costa Júnior (UFRGS)

Doutoranda Raquel Silva Maciel (UFC)

Resumo:

Cientes da polissemia que cerca o conceito de emergências, esta proposta de simpósio temático propõe contemplar os desafios que estão postos nas relações de sociabilidade que  marcam o capitalismo contemporâneo, destacando as tensões entre as emergências que permitem dinâmicas de resistências capazes de colocar na cena política o que por muito tempo foi considerado irrelevante, porque marginal ao normativo, a exemplo das comunidades LGBT; dos debates étnico-raciais; das culturas populares; das problemáticas que focalizam as especificidades, tais como: a infância, a velhice, o corpo e os afetos e aquelas emergências que nos colocam frente aos desafios de múltiplas formas de autoritarismos e violências. Os enunciados apontam para a defesa da vida e as tensões estão em dinâmicas que colocam no palco a biopotência (Deleuze) e biopolítica (Foucault, Agamben), esta última exacerbada pela ascensão dos microfascismos. O simpósio temático inspira-se nas leituras de Nietzsche, Foucault e Agamben para pensar a história e a ontologia crítica do presente e refletir acerca das diferentes subjetivações e enunciados que têm sido objeto de pesquisas. Ao abordar o procedimento genealógico no estudo das emergências, ampliando os apontamentos de Nietzsche, Foucault diz, no texto intitulado Nietzsche, a genealogia e a história, algo que tem um alcance teórico-metodológico considerável: “ninguém é, portanto, responsável por uma emergência; ninguém pode se autoglorificar por ela; ela sempre se produz no interstício” (FOUCAULT, 2012, p. 68), o que nos põe o desafio de cartografar as tensões, permanências, transformações e a produção social das diferenças. 

Este simpósio propõe estabelecer diálogos entre pesquisas que façam um uso criativo, propositivo e ético das reflexões de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Agamben para pensar a história e o conhecimento histórico no âmbito das emergências de diferentes sujeitos, saberes e práticas sociais; discutindo os processos sociais de construção de subjetividades individuais e coletivas; escritas de si; trajetórias; instituições sociais; análise de discursos; estudos sobre biopolítica e práticas de governo da vida; racismos; identidades culturais; assim como estudos sobre a história do corpo e dos afetos e de suas práticas a partir de diferentes fontes e recortes espaciais e temporais; sob o desafio de pensarmos a história do presente e os desafios da vida no presente.


ST 24 - Pensamento político brasileiro

Coordenadores:

Prof. Dr. Ueber José de Oliveira (UFES)

Doutorando Bruno Nascimento (UFES)

Mestre Hugo Merlo (UFES)

Resumo:

Origens do pensamento político brasileiro; os intelectuais e a formação do estado nacional brasileiro; visões sobre a modernidade brasileira; os intelectuais brasileiros e a noção de progresso; o pensamento autoritário da década de 1930; intelectuais e o desenvolvimentismo dos anos 1930/1970; as crises e as mudanças nas funções e no lugar do estado e do mercado na realidade brasileira; as interpretações e as críticas dos liberais ao processo de fortalecimento do estado nacional; iberismo, autoritarismo, corporativismo, patrimonialismo, hibridismo, coronelismo, clientelismo; cidadania; democracia


ST 25 – Na América Latina: tradições, rupturas e perspectivas

Coordenadores:

Mestrando Marcos Vinícius Gontijo (UFOP)

Doutorando Warley Alves Gomes (UFMG)

Resumo:

O simpósio temático “História e ficção literária na América Latina...” a ser realizado no XSNHH tem como principal objetivo disponibilizar um espaço onde pesquisas em curso, projetos em desenvolvimento, a literatura e o ensino de História, que envolvam o papel da ficção literária e sua relação com a experiência histórica, política e social latino-americana, sejam debatidos horizontalmente entre os proponentes, colegas e o público interessado.

Embasamos esta proposta de ST em intelectuais latino-americanos como Ángel Rama, para quem a literatura latino-americana desenvolveu-se junto da emergência de uma sociedade burguesa onde o romance ocupou espaço de subversão da ordem existente e ao fim do século XIX conquistou sua autonomia, ao mesmo tempo em que desenvolveu uma narrativa dialética na qual uma estética estrangeira e europeia emaranhou-se com línguas populares e indígenas, transformando-se assim numa literatura outra. Dessa forma, o conceito de transculturação, inspirado no antropólogo Fernando Ortiz, e desenvolvido por Rama para se pensar a literatura como parte fundamental da formação dos diversos países unidos sob o conceito transnacional de América Latina, é fundamental para que reflitamos sobre as emergências que envolvem a História e a ficção literária latino-americanas.

Após as vanguardas e os modernismos dos anos 1920, viu-se o que o intelectual uruguaio chamou de “geración del medio siglo”, que se dispôs a dar as costas de maneira abrupta à estética europeia e trazer para a narrativa latino-americana os “desredados da modernização”, a partir do resgate de expressões linguísticas regionais, da construção de mecanismos literários próprios e, por fim, o desenvolvimento de uma cosmovisão que envolvia valores e ideologias próprios, à maneira de resistir às mudanças de uma modernização homogeneizante. Modernização que, devido ao nosso lugar privilegiado no futuro, sabemos que foi inconclusa e continua a sê-lo.

Cabe-nos como historiadores e historiadoras latino e latina-americanos, portanto, discutirmos à exaustão o que esses escritores e intelectuais, como Ángel Rama, Antônio Cândido, Silviano Santiago, Gabriel García Márquez, Juan Rulfo, José María Arguedas e outros tantos (e, infelizmente, nem tantas assim) possuem como resposta às perguntas que nós no presente fazemo-nos. No que concerne a problemas estruturais como a desigualdade social e a discriminação racial, o machismo e o papel da mulher no passado e no presente, as vicissitudes da democracia e a consolidação das instituições democráticas, os modelos de desenvolvimento urbano e a adaptação das tradições populares e camponesas ao fluxo modernizador etc.

No presente ST também são bem-vindos trabalhos que buscam pensar as perspectivas e possibilidades presentes na ficção latino-americana contemporânea, compreendendo o futuro como um campo aberto e imprevisível. Em suma, a preocupação principal do ST são as relações entre a ficção, a história e a sociedade latino-americanas, sempre imbricadas no tecido complexo que conforma nossa modernidade.