Recepção / formas de sensibilidade; Educação, Políticas públicas, Pensadores de referência, Painel histórico sobre o país e seu contexto na América Latina e o mundo.

 

Transmissão pelo Youtube: https://youtu.be/2ja__WCuelo


Participantes:

 

Magali Kleber

OS PROJETOS SOCIOMUSICAIS: UM FATO SOCIAL TOTAL NO FLUXO ESPIRAL DE ROSAS E ESPINHOS

Três perspectivas que têm como argumento central a visão de que as práticas musicais são fruto da experiência humana vivida concretamente em uma multiplicidade de contextos conectados. A primeira parte de uma visão cultural da música proposto por Shepherd e Wicke (1997) cuja teoria que reconhece a constituição social e cultural da música como “um particular e irredutível forma de expressão e conhecimentos humanos”. A segunda perspectiva inspira-se nos estudos do antropólogo Marcel Mauss (2003) sobre fenômenos sociais, analisando o processo pedagógico-musical como um “fato social total”, enfatizando-o seu caráter sistêmico, estrutural e complexo, portanto pluridimensional. A terceira perspectiva diz respeito à produção do conhecimento musical analisado à luz da teoria da práxis cognitiva cunhada por Eyerman e Jamison (1998). Essa teoria permite analisar a produção de conhecimento sociomusical das ONGs como fruto da dinâmica das forças sociais que abrem espaços para a produção de novas formas de conhecimento. Não obstante os projetos sociais terem conseguido resultados positivos promovendo acesso a atividades culturais, esportivas e de lazer ao jovem morador de comunidades pobres, possibilitando alternativas, há que se ter uma perspectiva crítica para uma análise dos processos decorrentes das ações políticas para se pensar em encaminhamentos que resultem, de fato, a inclusão social sem ter no seu reverso a estigmatização tácita. Novaes (2002) faz um alerta bastante pertinente quando destaca que “ter parceiros para tirar do crime é uma expressão bem intencionada, mas ela também potencializa uma capacidade de estigmatizar toda uma geração, como se todos fossem para o crime, todos fossem criminosos em potencial” (NOVAES, 2002). E isso aparece como algo muito incomodativo e, até mesmo, motivo de sofrimento para os jovens moradores das favelas ou bairros com fama de violentos. Cabe aqui questionar a equação entre a discriminação, a exclusão social, a violência urbana, o estigma permeando as comunidades dos morros e favelas reforçados pelo discurso da mídia. Qual é o papel dos projetos sociais e da cultura, especialmente da música, nesses contextos?

 

 

Paulo Costa Lima 

A celebridade e a flor (a flor da celebridade)
 
Em sua biografia de Freud, Emilio Rodrigué registra uma época de cores mais vibrantes e sonhadoras, antecedendo os ensaios O Futuro de uma Ilusão e O mal estar na civilização — 1927 e 1929, respectivamente —, traduzida, por exemplo, por uma afirmação feita por Freud em carta a Jung de 13 de janeiro de 1910: “Estou convencido de que a bandeira da psicanálise deve tremular sobre o território da vida amorosa normal”. Rodrigué arremata (1995, p. 239): “Freud, alguma vez, acreditou numa revolução erótica universal”. Essa expressão é muito interessante, embora  relativamente pouco comentada. Ela exprime e reúne uma quantidade enorme de fenômenos e intuições que se estendem pelo menos do início do século passado até hoje. Acreditar numa revolução erótica universal significa estar envolvido num embate com os limites da moral e da tradição, os mesmos que aparecem na clínica a partir do esforço psicanalítico, e que reaparecem como reação, em ondas diversas de fundamentalismo. Ora, esse embate acontece no âmbito de um movimento de natureza cultural, e não resta dúvida de que o campo da música teve um papel dos mais relevantes no alargamento dessas fronteiras. Impossível, por exemplo, deixar de avaliar a importância de John Lennon como uma das maiores lideranças da segunda metade do século nessa direção. Haveria então uma filiação entre o discurso de Lennon e o discurso de Freud? O grito pela liberação do amor, pela simbologia da flor, seria, assim, um marcador de uma nova etapa de conformação da libido? E existe mesmo essa possibilidade de pensar a libido em termos de longa duração, tal como Foucault propõe com a episteme epocal? Uma libideme? Como é que a construção daquilo que passaríamos a denominar de celebridade, condição indispensável para o capitalismo tardio se envolveria com esse complexo cenário? Dando um salto no tempo de Lennon para Michael Jackson, seria possível refletir sobre processos distintos de construção de celebridade? E os  fluxos e refluxos de tudo isso na música brasileira? 
 

Juan Pablo González

Sampling como apropiación y reciclaje en la música chilena de fines del siglo XX

Como una nueva opción estética basada en la fragmentación del pasado, el sampling es afín al collage y la retromanía posmoderna que reinaba en los noventa. Desde una perspectiva política, el sampling se sumaba a la apropiación y reciclaje del propio sistema imperante, como podía ser entendido desde el hip-hop. La apertura cultural y comercial chilena en los noventa permitió el desarrollo de esta apropiación en plenitud. Finalmente estaríamos ante una manifestación más de la tendencia de la cultura popular a devorarse a si misma, tendencia exacerbada con los resabios de posmodernidad de fines de siglo. En esta comunicación revisamos dos casos de apropiación y reciclaje del pasado a través del sampling en el hip-hop practicado en Chile en los noventa: el de Tiro de Gracia y el de Makiza, y las escuchas cruzadas o crossover que generaron en músicos, programadores y audiencias.

 

Felipe Radicetti

A associação com a obra Homens em Tempos Sombrios de Hannah Arendt não é mera coincidência. Vamos discutir sobre os gargalos que enfrentamos hoje à atividade musical no que se refere à criação, produção e distribuição no mercado de bens simbólicos. Não apenas os músicos, mas a música, sofrem no Brasil, nestes tempos sombrios que guardam similitudes em ideário e em violência ao tempo vivido por Hannah Arendt. Em um ambiente hostil à produção cultural diversa como a brasileira, sob deliberado desinvestimento, sob o signo da criminalização das categorias profissionais do campo das artes, estando sob reiterada cassação de direitos, sob asfixia econômica, músicos, compositores e intérpretes lutam por sobrevivência sob contradições insustentáveis. Estamos imersos em um cenário distópico que se segue e se opõe a um ciclo histórico - e tão recente - de participação da sociedade civil organizada na formulação de políticas públicas para a cultura no país. Não será a nossa memória recente a matéria e a ferramenta para a tão necessária resposta da música à necropolítica instituída no país?

 

Moderação: Heloísa Valente

 

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