Mesa-redonda de encerramento: Psicolinguística e Neurociência em interface com a Educação
A despeito das orientações presentes em documentos oficiais do Ministério da Educação que focalizam as etapas de elaboração de textos escritos, com ênfase em atividades de revisão e de reescrita, a escrita enquanto processo não tem sido objeto priorizado pela escola. De modo geral, a avaliação do desempenho do aluno recai quase que exclusivamente sobre o produto final da escrita e, nas aulas de redação, são trabalhados poucos gêneros textuais, muitos dos quais com funções bastante específicas, como é o caso da redação do vestibular. Esse cenário tem consequências altamente negativas, claramente evidenciadas pelos baixos resultados em avaliações de competência em escrita. Em nossa comunicação, pretendemos discutir como a Psicolinguística, com uma abordagem da escrita como processo, pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades de escrita de crianças e jovens (Rodrigues, no prelo). Iremos apresentar como a investigação do processamento on-line da escritura, a análise dos movimentos da escrita por meio de ferramentas específicas – como keyloggers (Latif, 2008; Leijten & Van Waes, 2013), pode ser informativa sobre os fatores que representam custo nas diferentes etapas do processo de escritura e sobre as estratégias cognitivas e metacognitivas empregadas pelos escritores, na elaboração de diferentes gêneros textuais.
Ler e escrever é um direito essencial, que envolve dimensões individuais e coletivas; além de ser importante para o desenvolvimento socioeconômico e político, e para o aprimoramento do pensamento crítico e da participação ativa na sociedade (UNESCO 2005). Sob o ponto de vista neurobiológico, o cérebro não está pronto para a leitura, e esta prática deve ser adquirida deliberadamente através da instrução. No entanto, os transtornos de leitura e déficits em funções executivas, como, por exemplo, na capacidade de memória de trabalho, podem tornar essa atividade árdua e dificultosa. Apresentamos um estudo transversal e longitudinal em que investigamos o desenvolvimento da competência leitora e sua relação com a capacidade de memória de trabalho de 45 alunos do Ensino Fundamental I, matriculados em 6 escolas públicas de Natal-RN ao longo de 2014 a 2016, todos participantes do projeto ACERTA - Avaliação de Crianças em Risco de Transtorno de Aprendizagem (CAPES/OBEDUC). Os participantes realizaram atividades de avaliação de leitura e escrita (tempo de leitura, ditado balanceado e leitura de palavras e pseudopalavras) e avaliações de memória de trabalho (AWMA – Automated Working Memory Assessment) de 2014 a 2016 para responder às seguintes perguntas de pesquisa: (a) Qual a relação entre a memória de trabalho e a leitura nas crianças avaliadas?; (b) a memória de trabalho pode predizer o desenvolvimento de leitura das crianças avaliadas? Os resultados da análise transversal indicam que a competência leitora dos participantes está diretamente ligada à capacidade de memória de trabalho dos mesmos, principalmente no que diz respeito ao componente fonológico. Os resultados longitudinais obtidos por regressão linear revelam a memória de trabalho verbal como um preditor significativo da leitura no caso de crianças com baixa capacidade de memória de trabalho. A discussão proposta pretende lançar luz sobre as variáveis que impactam o processo de aquisição da leitura, sob um ponto de vista neurocognitivo, e as implicações pedagógicas para a instrução da leitura e da escrita.
4) Avaliação computadorizada adaptativa de habilidades preditoras da leitura
Carla Alexandra Moita Minervino - UFPB
Pedro Miguel da Silva Moita - Universidade de Lisboa/Vodafone
Neste mesa redonda pretende-se apresentar resultados de pesquisas sobre a avaliação computadorizada adaptativa de habilidades preditoras da leitura, entre elas: consciência fonológica e memória visual. Serão apresentados os resultados encontrados a partir de uma análise comparativa entre instrumentos no formato papel-e-lápis e computadorizado. Em análise sistemática realizada em 2017 foi verificado um crescente aumento na última década de publicações sobre evidências psicométricas de instrumentos para a análise da leitura e de habilidades envolvidas neste processo, entretanto menos de 1% desses instrumentos são computadorizados e adaptativos. Um teste adaptativo computadorizado, Computerized Adaptive Test (CAT), é aquele administrado pelo computador, que procura encontrar um teste ótimo para cada sujeito. Para atingir isso, a proficiência do indivíduo (também conhecida como o traço latente ou a habilidade do indivíduo naquela área de conhecimento) é estimada interativamente durante a administração do teste. Desta forma, só serão selecionados os itens que mensurem de modo eficiente à proficiência do indivíduo. O objetivo básico de um teste adaptativo é assemelhar-se de forma automática ao que um sábio examinador faria. De modo diferente dos testes papel-e-lápis, em que cada sujeito, geralmente, responde aos mesmos itens, tipicamente na mesma ordem. Os procedimentos de seleção e administração de itens no teste e atualização das estimativas das proficiências em cada fase são feitos de modo interativo até que algum critério de paragem seja satisfeito. O término do teste poderá ser alcançado por um ou pela combinação de vários critérios, entre eles: nível pré-estabelecido de habilidade, quantidade máxima de itens num teste, tempo do teste, erro padrão do cálculo da habilidade. Porém como toda e qualquer ferramenta informatizada, existem vantagens e desvantagens na sua utilização.