Como país de imigração japonesa, o Brasil passou a ter produções literárias em Japonês, desde 1908 pelos imigrantes que vieram adultos e depois por crianças em idade escolar inicial e seus descendentes. Há também produções em língua portuguesa de autoria nipo-brasileira. Ambas têm sido incluídas na chamada literatura nikkei. Este painel pretende apresentar três nomes de imigrantes japoneses, os nativos Kikuji Iwanami e Nempuku Sato e Ikuko Onodera que chegou ainda menina. Feito isto, a mesa pretende-se discutir a questão da chamada literatura nipo-brasileira ou literatura nikkei no Brasil em duas vertentes: enquanto literatura em língua japonesa produzida no Brasil; como literatura brasileira em língua japonesa e como literatura brasileira produzida pelos nipos-descendentes. A discussão tem em vista o surgimento de trabalhos em nível de mestrado e doutorado no Brasil sobre escritores e produções que se encaixariam na literatura nikkei e leva em consideração também as já denominadas Literatura em Língua Japonesa no Japão e no Brasil.

Nenpuku Sato e o estabelecimento do haiku no Brasil – com foco nas publicações da revista Hototogisu (anterior à Segunda Guerra Mundial)

Profª Drª Eunice Tomomi Takahaschi Suenaga

Aichi Prefectural University

No Brasil, a escola Hototogisu de haicai é seguida não só pelos haijin que compõem haiku em japonês, como também por poetas que escrevem haicais em português. O país é um dos poucos que possui um Saijiki (almanaque de termos da estação para auxiliar na composição do haicai) em sua própria língua. Esse fato se deve ao esforço de Nenpuku Sato (1898-1979) que se dedicou a divulgar o haiku da escola Hototogisu, que valoriza a shasei (descrição objetiva da realidade) e a kachô fûei (descrição poética dos fenômenos naturais e dos atos humanos, acompanhando a mudança das estações) em terras brasileiras. Nenpuku chegou ao Brasil em 1927, incentivado por Kyoshi Takahama (1874-1959) que lhe dedicou um haiku: “Are a terra e construa um país de haikai”. Muitos de seus poemas compostos no Brasil foram publicados na revista Hototogisu, acompanhados de comentários de Kyoshi e de outros haijin. Nesta apresentação, teceremos considerações centradas nos haiku e comentários publicados na Hototogisu de edições anteriores à Segunda Guerra Mundial, a fim de compreender de que modo se formaram as bases do haiku brasileiro, uma vez que Nenpuku consolidou sua poesia em diálogo com as expectativas e observações dos mestres japoneses, ao mesmo tempo em que refletia o seu cotidiano e a realidade como imigrante.  

Ky?sh? [Saudades de minha terra] em Iwanami Kikuji – sobre a corrente Araragi no Brasil

Prof. Dr. Kin’ya Sugiyama

Kanazawa University

Kikuji Iwanami (1898-1952) é considerado um dos maiores empreendedores do mundo do poema tanka no Brasil e influenciou gerações posteriores. Nesta apresentação utilizaremos os documentos brasileiros constituídos pela Coletânea de poemas tanka de Kikuji Iwanami (Comissão de Publicação Iwanami Kikuji, 1959) e Kikuji Iwanami -Trajetórias dos sentimentos dos imigrantes a partir dos poemas tanka da autoria de Masuji Kiyotani (Centro de Estudos Nipo Brasileiros de São Paulo, 1993) e da parte do Japão, as declarações encontradas na revista Araragi e da obra Kad? Sh?ken [Uma visão sobre o caminho do tanka] de Akahiko Shimaki a fim de analisar as peculiaridades de Kikuji Iwanami, redefinindo o conceito de “ky?sh?” [saudades de minha terra], que é um estereótipo das artes literárias dos imigrantes. Pretendo também reconsiderar o fenômeno do ponto de vista de um gênero que transpõe fronteiras, por meio de análises sobre as distâncias entre o poema tanka japonês e brasileiro.

Ikuko Onodera - Uma mulher com muitas atuações

Profa. Dra. Neide Hissae Nagae

Universidade de São Paulo

Ikuko Onodera (1930-) é uma das mulheres que representam o cenário da literatura herdada do Japão à frente de muitas atividades literárias em nosso país, com seus poemas tanka, contos e ensaios em língua japonesa, além de traduções de contos brasileiros para o Japonês. Focaremos em Tokiori no sh? (2004) [Acasos] e Y?bae no sh? (2021) [Brilho do ocaso] que reúnem suas variadas produções e refletem seus pensamentos sobre o seu fazer literário em língua japonesa, cultivados em meio aos trabalhos colaborativos e de associações nipo-brasileiras e que revelam características da chamada literatura nikkei e de seu desenvolvimento no Brasil. A partir dessas reflexões, pretendemos também lançar novos olhares sobre a literatura nikkei.

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