O haikai em língua japonesa exige a inclusão obrigatória da natureza como "kigo" (palavra de estação), enquanto o haikai em português de autores não descendentes de japoneses, embora influenciado pela cultura japonesa, segue a tradição poética brasileira. Este estudo busca elucidar as características distintivas dessas duas expressões. Enquanto o haikai em japonês frequentemente retrata a interação entre a vida humana e o meio ambiente natural, o haikai em português, mesmo ao descrever a natureza, tende a apresentar uma expressão crítica baseada em reflexões contemplativas, raramente apresentando impressões diretas ou ações humanas.

Recentemente, foi publicada a tradução para o japonês de uma coleção de palestras do ativista ambiental indígena brasileiro Ailton Krenak. Sua perspectiva, que permeia a ideia de que humanos, animais e plantas são todos parte integrante da natureza, compartilha semelhanças com a forma como o haikai japonês funde o ambiente natural e a vida humana. Por outro lado, o haikai em português tende a objetificar a natureza, tratando-a principalmente por meio de metáforas.

A partir da análise acima, espera-se concluir que, embora o haikai em português não utilize "kigo", ele compartilha elementos com a abordagem de "shasei" (esboço da vida real) que o haikai moderno japonês buscou, na medida em que descreve objetivamente seu objeto. Em contrapartida, no haikai brasileiro em japonês, é comum encontrar impressões pessoais do autor e ações de engajamento ativo com o meio ambiente. Ou seja, no Brasil, observa-se um fenômeno de inversão em relação ao "shasei", considerado a essência do haikai no Japão moderno. Esta é uma característica marcante do haikai brasileiro.

Natureza, Trabalho e Interação no Haikai Japonês na Amazônia

Rei Kufukihara

Na vasta bacia do rio Amazonas, existem várias colônias de imigrantes japoneses, onde círculos de haikai em língua japonesa foram mantidos em cada região. Dentre eles, tomaremos como objeto principal as obras do Círculo de Haikai de Manaus, de "Hana Kosh?" (Pimenta Flor) de Tomé-Açu, e do "Kaze Midori Kai" (Círculo do Vento Verde) de Belém, cidade portuária na foz do Amazonas. Como a natureza tropical é expressa nessas obras? Ao também focar em expressões relacionadas à vida cotidiana e ao trabalho, podemos vislumbrar, ainda que parcialmente, como são descritos os contatos e intercâmbios com as pessoas ao redor e, inclusive, com os povos indígenas.

Além disso, na Amazônia, nasceu o almanaque tropical "Amazon Kisetsu Yose" (Almanaque das Estações da Amazônia, 2004). Este marco é um achievement pioneiro para a cultura do haikai em língua japonesa no Brasil, centrada em São Paulo, e digno de nota em escala global. Onde e como ele está sendo utilizado atualmente? Como as expressões poéticas se transformaram por sua influência? Incluindo essas perspectivas, refletiremos sobre a natureza do haikai em língua japonesa nesta região.

A visão da natureza no haikai em língua portuguesa na Amazônia

Eunice Suenaga

Nesta apresentação, examinaremos a natureza retratada nos haicais em língua portuguesa na Amazônia. Nos haicais em japonês compostos por imigrantes japoneses na região, a natureza frequentemente está diretamente ligada à vida dos imigrantes e também carrega um aspecto de "exotismo". Por outro lado, os haicais em português de poetas brasileiros da Amazônia tendem a retratar a natureza de forma mais objetiva, embora ocasionalmente utilizem formas e técnicas poéticas brasileiras.

De acordo com Franchetti, os haicais em português no Brasil podem ser classificados em cinco tipos: 1) aqueles que seguem as regras tradicionais do haicai; 2) aqueles que tratam o haicai como inspiração para o zen; 3) aqueles que seguem as regras de Almeyda; 4) epigramas; e 5) aqueles que apresentam características de poesia concreta. Nos haicais em português de Baselaar, Evangelista e Pinto, que examinaremos aqui, é possível observar influências desses cinco tipos.

Através da análise da natureza retratada nos haicais amazônicos, este estudo busca refletir sobre as características únicas do haicai em português que se desenvolveu no Brasil.

 

Características da Antologia de Haicais 'Jukai'

Toshiko Imazeki

A antologia de haicais amazônicos "Jukai" (Floresta de Árvores), publicada em 1964, reúne obras de vinte autores nascidos entre o final da era Meiji e a década de 1940 da era Showa. No momento da publicação, esses poetas encontravam-se em sua juventude ou idade madura, com trajetórias ainda não extensas na prática do haicai. A coletânea apresenta características marcantes: a forma mantém estrita adesão à estrutura silábica 5-7-5, sem exemplos de haicais de versos livres; os temas selecionam eventos cotidianos e paisagens observáveis, capturando "o que se vê e o que se ouve"; as expressões refletem sobre as relações entre todos os seres vivos no ambiente da floresta amazônica, seus modos de vida e impressões subjetivas; e é possível vislumbrar memórias e saudades da terra natal japonesa.

Embora essas obras despertem empatia e interesse no público contemporâneo do Japão, também apresentam aspectos de difícil compreensão, derivados principalmente das diferenças de contexto ambiental e das limitações interpretativas dos leitores. Essa complexidade, contudo, conecta-se diretamente à singularidade e à relevância da antologia "Jukai". Nesta apresentação, mediante a análise e comparação de obras de dois autores com estilos distintos, buscaremos elucidar o significado e o lugar desta coletânea intitulada "Floresta de Árvores".

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