AQUECIMENTO GLOBAL E A REALIDADE BRASILEIRA – O CASO AMAZÔNICO

Philip Martin Fearnside (INPA)

philip.fearnside@gmail.com

 

O aquecimento global é real, mas o negacionismo é uma força significativa no Brasil. Isso é ilustrado por uma série de eventos, sendo o mais dramático o controle da mídia brasileira na época do evento Rio+20 em 2012. O aquecimento global é causado pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera em níveis acima daqueles que prevaleciam antes das emissões humanas subiram acentuadamente na época da revolução industrial. As emissões acima dos níveis “naturais” vêm da combustão de combustíveis fósseis, o desmatamento e outras fontes antropogênicas. Esses gases bloqueiam parte da energia que a Terra recebe do Sol de ser devolvida ao espaço sideral na forma de radiação infravermelha, aumentando assim a temperatura da superfície da Terra. As temperaturas já subiram o suficiente para ter efeitos prontamente observáveis, e as projeções são para aumentos substancialmente maiores nas próximas décadas. O cenário que aproxima “negocios como sempre” (RCP8.5) do mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) projeta que a temperatura média global em 2100 deverá aumentar em 4,8°C acima da média de 1996-2005. Na Amazônia, as temperaturas de 2100 no período de junho a agosto seriam de 6-8°C acima da média de 1996-2005. Isso tem sérias consequências para a saúde humana, a agricultura e a floresta amazônica. Além dos efeitos diretos das temperaturas mais altas, elas também afetariam as chuvas, particularmente a ocorrência de secas e inundações extremas. Tanto o El Niño quanto o dipolo do Atlântico, que causam secas na Amazônia, devem aumentar. A precipitação média diminuiria substancialmente na Amazônia oriental (além de reduções catastróficas no nordeste do Brasil). Fluxos de água nos principais rios amazônicos com hidrelétricas existentes ou planejadas diminuiriam substancialmente, reduzindo bastante a geração de energia. A Amazônia não é apenas uma vítima do aquecimento global, é também uma fonte de emissões antropogênicas por desmatamento, degradação florestal por exploração madeireira e incêndios, e emissões de represas hidrelétricas. As emissões que não são causadas diretamente pela ação humana, como a degradação das florestas resultante das secas provocadas pelas mudanças climáticas e as emissões provenientes do aquecimento dos solos, também contribuem para o aquecimento global. As grandes áreas de floresta remanescente fazem da região um fator central em possíveis emissões futuras desse tipo. A Amazônia também está no centro de discussões (frequentemente controversas) sobre medidas de mitigação através de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e pela concessão de crédito de carbono para represas hidrelétricas.

 

GLOBAL WARMING AND THE BRAZILIAN REALITY – THE CASE OF AMAZONIA

Global warming is real, but denialism is a significant force in Brazil. This illustrated by a series of events, the most dramatic being the control of Brazilian media at the time of the Rio+20 event in 2012. Global warming is caused by accumulation of greenhouse gases in the atmosphere at levels above those that prevailed before human emissions rose sharply at the time of the industrial revolution. The emissions above “natural” levels come from fossil-fuel combustion, deforestation and other anthropogenic sources. These gases block part of the energy that the Earth has received from the Sun from being returned to outer space in the form of infrared radiation, thus raising the temperature of the earth’s surface. Temperatures have already risen enough to have readily observable effects, and projections are for substantially greater increases in the coming decades. The approximate “business as usual” scenario (RCP8.5) of the most recent Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) report projects 2100 mean global temperature to increase by 4.8°C over the 1996-2005 mean. In Amazonia, 2100 temperatures in the June-August period would be 6-8°C over the 1996-2005 mean. This has serious consequences for human health, agriculture and the Amazon forest. In addition to the direct effects of higher temperatures, they also affect rainfall, particularly the occurrence of extreme droughts and floods. Both El Niño and the Atlantic dipole, which cause droughts in Amazonia, are projected to increase. Average rainfall would decrease substantially in eastern Amazonia (in addition to catastrophic reductions in Northeastern Brazil). Water flows in the main Amazonian rivers with existing or planned hydroelectric dams would decrease substantially, greatly reducing power generation. Amazonia is not only a victim of global warming, it is also a source of anthropogenic emissions from deforestation, forest degradation by logging and fire, and emissions from hydroelectric dams. Emissions that are not directly caused by human action, such as forest degradation as a result of droughts provoked by climate change and emissions from warming soils, also contribute to global warming. The large areas of remaining forest make the region a central factor in possible future emissions of this type. Amazonia is also at the center of (often controversial) discussions of mitigation measures through Reducing Emissions from Deforestation and Degradation (REDD) and by granting carbon credit for hydroelectric dams.

 

esquisador Titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o Dr. Fearnside, juntamente com o Intergovernmental Panel on Climate Change da Organização das Nações Unidas, em 2007, foi agraciado, devido as suas relevantes pesquisas e contribuições nas discussões e impasses de questões climáticas, com o Prêmio Nobel da Paz. Além de tamanho reconhecimento internacional, o pesquisador detém premiações como Prêmio Péter Murányi, 2011, Prêmio Ford de Conservação Ambiental, 2007, Prêmio Chico Mendes, 2006, Prêmio da Fundação Conrado Wessel, 2004. Possui mais de 600 trabalhos publicados que discutem meio ambiente e questões climáticas.

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