IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LITERATURA E ECOCRÍTICA

Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

04 a 07 de junho de 2018

 

 

 

CADERNO DE RESUMOS

 

 

Reitor

Prof. Dr. Sylvio Mário Puga Ferreira

 

Vice-Reitor

Prof. Dr. Jacob Moysés Cohen

 

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação - PROPESP

Profa. Dra. Selma Suely Baçal de Oliveira

 

Pró-Reitor de Ensino de Graduação - PROEG

Prof. Dr. David Lopes Neto

 

Pró-Reitor de Extensão – PROEXT

Prof. João Ricardo Bessa Freire

 

Pró-Reitora de Gestão de Pessoas – PROGESP

Maria Vanusa do Socorro de Souza Firmo

 

Pró-Reitor de Administração e Finanças - PROADM

Professor Raimundo Nonato Pinheiro de Almeida

 

Pró-Reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional - PROPLAN

Professora Kleomara Gomes Cerquinho

 

Pró-Reitor de Inovação Tecnológica – PROTEC

Professor Waltair Vieira Machado

 

Editor da Universidade Federal do Amazonas

Professor Sergio Augusto Freire de Souza

 

Assessora de Relações Internacioais e Interinstitucionais – ARII

Leda Duwe Leão Brasil

 

Diretor da Faculdade de Letras – FLET

Prof. Dr. Wagner Barros Teixeira

 

COMISSÃO ORGANIZADORA

 

ORGANIZAÇÃO GERAL

Zélia Monteiro Bora (ASLE-Brasil/UFPB)

ORGANIZAÇÃO LOCAL

Cacio José Ferreira (UFAM)

Nícia Petreceli Zucolo (UFAM)

Serley Pacheco Leite Barbosa (UFAM)

Wagner Barros Teixeira (UFAM)

 

ORGANIZAÇÃO ASLE-Brasil

Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos (ASLE-Brasil/UFPB)

Evely Vania Libanori (ASLE-Brasil/UEM)

Ivana Alencar Peixoto Lianza da Franca (ASLE-Brasil/IFPB)

Lígia Karina Martins de Andrade (ASLE-Brasil/UNILA)

Sarita Monteiro Bora (ASLE-Brasil/UFPE)

Siddharth Singh Monteiro Bora (ASLE-Brasil/UCES)

Simão Farias Almeida (ASLE-Brasil/UFRR)

Sueli Meira Liebig (ASLE-Brasil/UEPB)

Suênio Stevenson Tomaz da Silva (ASLE-Brasil/UFCG)

 

COMITÊ CIENTÍFICO

 

COMITÊ CIENTÍFICO INTERNACIONAL

Aarti Smith Madan – Worcester Polytechnic Institute – EUA

Daniel R. Wildcat – Haskell Indian Nations University – EUA

Jorge T. Marcone – Rutgers University – EUA

Juan Carlos Galeano – Florida State University – EUA

Kimberly N. Ruffin – Roosevelt University – EUA

Mbare Ngom – Morgan State University – EUA

Mirian Carballo – Universidad Nacional de Cordoba – ARG

Mitsu Yoshida – Matsuyama University – JAP

Murali Sivaramakrisshnan - Pondicherry Central University - IND

Rex P. Nielson Brighan Young University

Ricardo De la Fuente Ballesteros – Universidad de Valladolid – ESP

Robert Lee Allen - University of California - EUA

Scott Slovic – University of Idaho – EUA

 

COMITÊ CIENTÍFICO NACIONAL

Anna Christina Carvalho - Universidade Regional do Cariri

Edinelza Macedo Ribeiro – Universidade Estadual do Amazonas

Elda Firmo Braga - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Elga Ivone Pérez Laborde Leite – Universidade de Brasília

Evely Vania Libanori – Universidade Estadual de Maringá

Heloisa Helena Siqueira Correia – Universidade Federal de Rondônia

Heron José de Santana Gordilho – Universidade Federal da Bahia

Hildo Honório do Couto – Universidade de Brasília

Ivana Alencar Peixoto Lianza da Franca – Instituto Federal da Paraíba

Izabel Cristina dos Santos Teixeira – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira

José Alberto de Miranda Poza - Universidade Federal de Pernambuco

Juarez Nogueira Lins – Universidade Estadual da Paraíba

Klaus Friedrich Wilhelm Eggensperger – Universidade Federal do Paraná

Lígia Karina Martins de Andrade – Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Nicia Petreceli Zucolo – Universidade Federal do Amazonas

Roland Gerhard Mike Walter – Universidade Federal de Pernambuco

Sandra Sassetti Fernandes Erickson – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Simão Farias Almeida – Universidade Federal de Roraima

Sueli Meira Liebig – Universidade Estadual da Paraíba

Vanessa Neves Riambau Pinheiro – Universidade Federal da Paraíba

Wagner Barros Teixeira – Universidade Federal do Amazonas

Wilma Martins de Mendonça – Universidade Federal da Paraíba

Zélia Monteiro Bora - Universidade Federal da Paraíba

 

PROGRAMAÇÃO

Segunda 04/06

 

07:30 - 12:00

Credenciamento

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES))

08:00 - 09:00

Abertura do IV Congresso Internacional de Literatura e Meio Ambiente

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES))

09:00 - 10:30

Conferência de abertura - Prof. Dr. Philip Martin Fearnside (INPA) - Aquecimento global e a realidade brasileira: o caso amazônico

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

10:30 - 12:00

Conferência II - Prof. Dr. Yûsuke Sakai (Universidade de Kagoshima - Japão) - O outro lado da natureza e da educação ambiental no Japão Contemporâneo

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

12:00 - 14:00

Almoço

(RESTAURANTES)

14:00 - 15:30

Conferência III - Prof. Dr. Daniel R. Wildcat (Haskell Indian Nations University – EUA) - Sabedorias ecológicas tradicionais: um antídoto para a destruição ambiental

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

15:30 - 17:00

Conferência IV - Profa. Dra. Zélia Monteiro Bora (ASLE – Brasil / UFPB) - Nós realmente amamos a natureza?

Algumas reflexões éticas

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

17:00 - 17:30

Café temático com apresentação cultural

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

17:30 - 20:30

Mostra do documentário Beyond Fordilândia e, em seguida, debate com Marcos Colón.

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

Terça 05/06

 

08:00 - 09:30

Conferência V - Prof. Dr. Murali Sivaramakrishnan (Pondicherry Central University – Índia) - E nenhum pássaro canta: consciência ambiental e a política do desenvolvimento no contexto indiano - Os impactos do discurso do desenvolvimento sobre a natureza humana e a não humana

  1. RIO AMAZONAS(FES)

 

 

10:00 - 12:00

Comunicações Orais e Painéis 1º dia

(Salas de aula)

12:00 - 14:00

Almoço II

(RESTAURANTES)

14:00 - 18:00

Simpósios

(Salas de aula)

18:00 - 18:30

Café temático I

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

18:30 - 19:00

Assembleia da ASLE – Brasil

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

19:00 - 20:30

Conferência VI: Dr. Juan Carlos Galeano (Florida State University – EUA) - O curupira lírico e outros guardiões amazônicos. Documentário e debate

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

 

Quarta 06/06

 

08:00 - 09:30

Conferência VII - Vera do Val (Escritora Amazonense)

(AUDITÓRIO RIO AMAZONAS (FES)

10:00 - 12:00

Comunicações Orais e Painéis 2º dia

(Salas de aula)

12:00 - 14:00

Almoço III

(RESTAURANTES)

14:00 - 18:00

Minicursos: A natureza disneyzada (Dr. Klaus Eggenspeger - UFPR) e Sobre animais e nós. Ética e poética animal na Literatura (Dra. Evely Libanori - UEPR)

(Salas de aula)

18:00 - 18:30

Café temático II

(Hall Auditório Eulálio Chaves)

18:30 - 20:00

 

 

PROGRAMAÇÃO DOS SIMPÓSIOS

    DIA 05/6 – SIMPÓSIOS – SALAS DE AULA FLET

 

SIMPÓSIO I - DE FATO E DE FICÇÃO: A DEVASTAÇÃO DA NATUREZA EM NARRATIVAS DO ANTROPOCENO

14h – 14h20

A HISTÓRIA SILENCIOSA DA EXPLORAÇÃO MINERAL

14h20 – 14h40

O PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO E O TERRITÓRIO EM “A QUEDA DO CÉU”

14h40 – 15h

O MUNDO INSÓLITO DO ACIDENTE RADIOLÓGICO CÉSIO-137, EM GOIÂNIA: UMA PERSPECTIVA COMPARATIVISTA COM AS NARRATIVAS A MÁQUINA

EXTRAVIDADA DE JOSÉ J. VEIGA E A CENTOPEIA DE NEON DE EDIVAL LOURENÇO

15h – 15h20

DE COMO O MOSQUITO DAMALÁRIAPODE PROTEGER AAMAZÔNIADE TUDO E DE TODOS

15h20 – 15h40

O ESPAÇO FANTÁSTICO NO ARQUÉTIPO CÉSIO137 EM GILBERTO MENDONÇA TELES E EDIVAL LOURENÇO

15h40 – 16h

COMERCIALIZAÇÃO E DESTINAÇÃO DE LÂMPADAS FLUORESCENTES EM ITUIUTABA - MG

16h – 16h20

O TEMPO DA DEVASTAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA EM MAD MARIA, DE MÁRCIO SOUZA

16h20 – 16h40

PÓS-HUMANISMO E SOBREVIVÊNCIA NO ANTROPOCENO: UMA ANÁLISE ECOCRÍTICA DA TRILOGIA MADDADDAM, DE MARGARET ATWOOD

 

 

SIMPÓSIO II – OS ANIMAIS NA AMAZÔNIA: PERSPECTIVAS PARA UMA CRÍTICA DAS RELAÇÕES ENTRE HUMANOS E NÃO HUMANOS NA FLORESTA TROPICAL

 

14h – 14h20

MEIA PATA: MAIS HUMANA QUE HUMANOS

14h20 – 14h40

BICHOS E VISAGENS NA LITERATURA DE AUTORIA INDÍGENA AMAZONENSE

14h40 – 15h

OS BORA E OS UITOTO DO NOROESTE AMAZÔNICO NO RELATO ANTROPOLÓGICO DE THOMAS WHIFFEN

15h – 15h20

A DICOTOMIA DA ANIMALIZAÇÃO PRESENTE NO CONTO OLHO DE BESOURO, DE HELIÔNIA CERES: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA ECOCRÍTICA

15h20 – 15h40

DESTINO, CRÍTICA E DELÍRIOS: UMA ANÁLISE DAS NARRATIVAS VEGETAIS EM ALAMEDA

15h40 – 16h

SABERES E PRATICAS NO MANEJO DA PAISAGEM

16h – 16h20

INTIMISMO INTERESPÉCIES ENTRE HUMANOS E ANIMAIS NO ZOO

 

SIMPÓSIO III – LITERATURA INFANTO-JUVENIL BRASILEIRA: ENTRE A ÉTICA E A ESTÉTICA

 

14h – 14h20

MONTEIRO LOBATO NO PORVIROSCÓPIO

14h20 – 14h40

A COBRA COMO ELEMENTO DO IMAGINÁRIO BRASILEIRO EM JOEL RUFINO DOS SANTOS

14h40 – 15h

ESPAÇO E TÉCNICA NA OBRA REFORMA DA NATUREZA, DE

MONTEIRO LOBATO: APROXIMAÇÕES ENTRE A GEOGRAFIA E A LITERATURA

 

SIMPÓSIO IV - ECOPOÉTICAS E PRÁTICAS DE DESCOLONIZAÇÃO NAS AMÉRICAS

 

14h – 14h20

ESPAÇOS DA NATUREZA EM RUSTICATIO MEXICANA, DE

RAFAEL LANDÍVAR

14h20 – 14h40

A TERRA, OS ÍNDIOS E A IGREJA: A POESIA DE PEDRO

CASALDÁLIGA

14h40 – 15h

O BILINGUISMO DOS JOVENS INDÍGENAS DA ETNIA SATERÉ-

MAWÉ E A RECEPÇÃO DO ENSINO APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO NA CIDADE DE PARINTINS/AM

 

SIMPÓSIO V - IMAGENS DA DEVASTAÇÃO DA NATUREZA EM OBRAS LITERÁRIAS

 

14h – 14h20

ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM “UM SOLITÁRIO À ESPREITA”, DE MILTON HATOUM

14h20 – 14h40

DE MARFIM, MEMÓRIAS E LÁGRIMAS: DESCONSTRUÇÃO DO LOGOCENTRISMO EM THE WHITE BONE

14h40 – 15h

AS ARTES PICTÓRICAS E ECOPOÉTICAS NO CENÁRIO DE GOIANO

15h – 15h20

ASTRID CABRAL: POESIA E ECOCRÍTICA

15h20 – 15h40

ECOFEMINISMO ANIMALISTA EM HUMANA FESTA, DE REGINA RHEDA

15h40 – 16h

LITERATURA E MEIO AMBIENTE: A DEGRADAÇÃO DO RIO CAPIBARIBE NA POÉTICA CABRALINA

16h – 16h20

A POÉTICA DA ECOPOESIA E A PERFORMANCE DA CIBERPOESIA DIGITAL EM MOVIMENTO

16h20 – 16h40

A DESTERRITORIALIZAÇÃO NA MODERNIDADE COMO PRINCÍPIO DE

DEVASTAÇÃO DO SER NATURAL

16h40 – 17h

A ECOFICÇÃO NA OBRA “A HORA DOS RUMINANTES” ESCRITOR JOSE

J. VEIGA E O ACIDENTE COM O CÉSIO 137 NA PINTURA DE SIRON FRANCO

 

 

SIMPÓSIO VI – A FICÇÃO ESPECULATIVA NA MODERNIDADE E O ECOCRITICISMO

 

14h – 14h20

UMA LEITURA DE AZUL CORVO, DE ADRIANA LISBOA PELA PERSPECTIVA ECOCRITICA

14h20 – 14h40

A INDOMÁVEL LIBERDADE IMAGINATIVA NA LITERATURA

CLARICEANA: “SE PUDESSE TER ESCOLHIDO QUERIA TER NASCIDO CAVALO”

14h40 – 15h

A MIOPIA DA RAZÃO E A MIRADA MÁGICA, EM CAMPO GERAL, DE GUIMARÃES ROSA

15h – 15h20

FAUSTO E FRANKENSTEIN: DOIS MITOS LITERÁRIOS NO INÍCIO DO

ANTROPOCENO

15h20 – 15h40

MITO E IMAGINÁRIO NA ECOFICÇÃO DE MARIETA TELES

MACHADO

15h40 – 16h

LINGUAGENS INTERARTISTICAS DA MEMORIA, O IMAGINÁRIO E A ECOCRÍTICA NAS OBRAS: “A DANÇA ESQUÁLIDA”, “RAPTO DE

MEMÓRIAS” E CICATRIZES DO RISCO” DE AUTORES BRASILEIROS GOIANOS.

 

16h – 16h20

AS NARRATIVAS DA TRADIÇÃO ORAL NO AMAZONAS E OS LIMITES ECOLÓGICOS

16h20 – 16h40

POÉTICA DAS PEDRAS

16h40 – 17h

VOZ DA POESIA DE CORA CORALINA

 

GRANDE SERTÃO: VEREDAS, UM INVENTÁRIO DA AVIFAUNA

COMENTADO

 

 

PROGRAMAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES ORAIS INDIVIDUAIS

DIA 05/6 – SALAS DE AULA FLET

SALA DE COMUNICAÇÃO 1

 

10h – 10h20

ANCESTRALIDADE E “CONVIVÊNCIA” NO ALTO NHAMUNDÁ/AMAZONAS/BRASIL: A ORALIDADE KASAWÁ E A

CHEGADA DAS TIC’s

10h20 – 10h40

ORGANICIDADE DE LUTA E RESISTÊNCIA CAMPESINA DA REGIÃO

SUL E SUDESTE DO PARÁ: ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ALTERNATIVA AGROECOLÓGICA

10h40 – 11h

TEKO PORÃ: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO ECOCRÍTICO A PARTIR DOS POEMAS DE BRÍGIDO BOGADO

11h – 11h20

DA LITERATURA SIMBÓLICO-IMAGÉTICA À EXTINÇÃO DOS BOTOS

NA AMAZÔNIA

 

SALA DE COMUNICAÇÃO 2

10h – 10h20

O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES LEITORAS DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENL POR MEIO DOS POEMAS DE THIAGO DE MELO

10h20 – 10h40

APRENDIZAGEM DA LÍNGUA E CULTURA DE HERANÇA UM ESTUDO DE CASO DA ESCOLA JAPONESA DE MANAUS

10h40 – 11h

DOCES LEMBRANÇAS: A LITERATURA COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO DA TRAGÉDIA DO RIO DOCE.

11h – 11h20

MIGRAÇÃO E INFÂNCIA: ANÁLISE DOS PERSONAGENS MENINO

MAIS NOVO E O MENINO MAIS VELHO EM VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS

 

 

SALA DE COMUNICAÇÃO 3

10h – 10h20

CORAL COLOR, PLASTORG, AND RUINTOPIA

10h20 – 10h40

FOR NEW STRATEGIES TO SAVE OUR PLANET

10h40 – 11h

AUGUSTO DOS ANJOS & A CARTA DA TERRA: XÃMADO POÉTICO

PARA MÃE TERRA [AUGUSTO DOS ANJOS POETICS: A CALL FOR MOTHER EARTH]

11h – 11h20

O PÓS-HUMANO AMAZÓNICO NA POESIA DE ASTRID CABRAL

 

SALA DE COMUNICAÇÃO 4

10h – 10h20

MULHER E NATUREZA EM NÉLIDA PIÑON: UMA ANÁLISE DOS ROMANCES MADEIRA FEITA CRUZ, A CASA DA PAIXÃO, A FORÇA DO

DESTINO E VOZES DO DESERTO

10h20 – 10h40

DIÁLOGO COM A ECOLOGIA EM A DURAÇÃO DO DIA, DE ADÉLIA

PRADO

10h40 – 11h

O ANTAGONISMO DA ENTIDADE-RIO NO IMAGINÁRIO

CONSTRUÍDO EM HISTÓRIAS DO RIO NEGRO, DE VERA DO VAL

 

SALA DE COMUNICAÇÃO 5

10h – 10h20

ZEN, HAIKAI E MEIO AMBIENTE

10h20 – 10h40

A VORAGEM DOS SERINGUEIROS NA LITERATURA LATINO-

AMERICANA

10h40 – 11h

AS IMAGENS DA NATUREZA GALEGA E AS SUAS

REPRESENTAÇÕES NA POESIADE CLAUDIO RODRÍGUEZ FER

11h – 11h20

PRODUÇÃO DE HAICAI PELOS IMIGRANTES JAPONESES NO AMAZONAS: A DIALÉTICA COM A REALIDADE AMAZÔNICA

 

SALA DE COMUNICAÇÃO 6

10h – 10h20

PERSPECTIVAS ECOCRÍTICAS NA AMAZÔNIA: UMA ABORDAGEM DA POÉTICA DAS ÁGUAS DE THIAGO DE MELLO

10h20 – 10h40

LITERATURA E VISÃO CRÍTICA DA MODERNIDADE E DO PROGRESSO EM MACHADO DE ASSIS E FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

10h40 – 11h

LITERATURA E ECOCRÍTICA: UMA LEITURA DO CONTO “A

CERCA”, DE ASTRID CABRAL

 

CONFERÊNCIAS E CONFERENCISTAS

Conferência I

AQUECIMENTO GLOBAL E A REALIDADE BRASILEIRA – O CASO AMAZÔNICO

                                  Philip Martin Fearnside (INPA)

O aquecimento global é real, mas o negacionismo é uma força significativa no Brasil. Isso é ilustrado por uma série de eventos, sendo o mais dramático o controle da mídia brasileira na época do evento Rio+20 em 2012. O aquecimento global é causado pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera em níveis acima daqueles que prevaleciam antes das emissões humanas subiram acentuadamente na época da revolução industrial. As emissões acima dos níveis “naturais” vêm da combustão de combustíveis fósseis, o desmatamento e outras fontes antropogênicas. Esses gases bloqueiam parte da energia que a Terra recebe do Sol de ser devolvida ao espaço sideral na forma de radiação infravermelha, aumentando assim a temperatura da superfície da Terra. As temperaturas já subiram o suficiente para ter efeitos prontamente observáveis, e as projeções são para aumentos substancialmente maiores nas próximas décadas. O cenário que aproxima “negócios como sempre” (RCP8.5) do mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) projeta que a temperatura média global em 2100 deverá aumentar em 4,8°C acima da média de 1996- 2005. Na Amazônia, as temperaturas de 2100 no período de junho a agosto seriam de 6-8°C acima da média de 1996-2005. Isso tem sérias consequências para a saúde humana, a agricultura e a floresta amazônica. Além dos efeitos diretos das temperaturas mais altas, elas também afetariam as chuvas, particularmente a ocorrência de secas e inundações extremas. Tanto o El Niño quanto o dipolo do Atlântico, que causam secas na Amazônia, devem aumentar. A precipitação média diminuiria substancialmente na Amazônia oriental (além de reduções catastróficas no nordeste do Brasil). Fluxos de água nos principais rios amazônicos com hidrelétricas existentes ou planejadas diminuiriam substancialmente, reduzindo bastante a geração de energia. A Amazônia não é apenas uma vítima do aquecimento global, é também uma fonte de emissões antropogênicas por desmatamento, degradação florestal por exploração madeireira e incêndios, e emissões de represas hidrelétricas. As emissões que não são causadas diretamente pela ação humana, como a degradação das florestas resultante das secas provocadas pelas mudanças climáticas e as emissões provenientes do aquecimento dos solos, também contribuem para o aquecimento global. As grandes áreas de floresta remanescente fazem da região um fator central em possíveis emissões futuras desse tipo. A Amazônia também está no centro de discussões (frequentemente controversas) sobre medidas de mitigação através de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e pela concessão de crédito de carbono para represas hidrelétricas.

GLOBAL WARMING AND THE BRAZILIAN REALITY – THE CASE OF AMAZONIA

Global warming is real, but denialism is a significant force in Brazil. This illustrated by a series of events, the most dramatic being the control of Brazilian media at the time of the Rio+20 event in 2012. Global warming is caused by accumulation of greenhouse gases in the atmosphere at levels above those that prevailed before human emissions rose sharply at the time of the industrial revolution. The emissions above “natural” levels come from fossil-fuel combustion, deforestation and other anthropogenic sources. These gases block part of the energy that the Earth has received from the Sun from being returned to outer space in the form of infrared radiation, thus raising the temperature of the earth’s surface. Temperatures have already risen enough to have readily observable effects, and projections are for substantially greater increases in the coming decades. The approximate “business as usual” scenario (RCP8.5) of the most recent Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) report projects 2100 mean global temperature to increase by 4.8°C over the 1996-2005 mean. In Amazonia, 2100 temperatures in the June-August period would be 6-8°C over the 1996-2005 mean. This has serious consequences for human health, agriculture and the Amazon forest. In addition to the direct effects of higher temperatures, they also affect rainfall, particularly the occurrence of extreme droughts and floods. Both El Niño and the Atlantic dipole, which cause droughts in Amazonia, are projected to increase. Average rainfall would decrease substantially in eastern Amazonia (in addition to catastrophic reductions in Northeastern Brazil). Water flows in the main Amazonian rivers with existing or planned hydroelectric dams would decrease substantially, greatly reducing power generation. Amazonia is not only a victim of global warming, it is also a source of anthropogenic emissions from deforestation, forest degradation by logging and fire, and emissions from hydroelectric dams. Emissions that are not directly caused by human action, such as forest degradation as a result of droughts provoked by climate change and emissions from warming soils, also contribute to global warming. The large areas of remaining forest make the region a central factor in possible future emissions of this type. Amazonia is also at the center of (often controversial) discussions of mitigation measures through Reducing Emissions from Deforestation and Degradation (REDD) and by granting carbon credit for hydroelectric dams.

 

Conferência II

O OUTRO LADO DA NATUREZA E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO JAPÃO CONTEMPORÂNEO

                                                                                                                                                   Yûsuke Sakai (Kagoshima University - Japan)

O Grande Terremoto do Leste do Japão e a Tsunami no dia 11 de março de 2011 causaram 19.630 mortos, 2.569 desaparecidos, e 6.230 feridos1. Atualmente existem 70.000 evacuados que não podem e nem querem voltar à sua terra2. Crianças que fugiram da área devastada têm sofrido Bullying Escolar pela falta de informação sobre a radiação em Fukushima. O governo japonês argumenta que o projeto de reconstrução da região Nordeste de Tohoku terminará em 2021, exceto de Fukushima. No entanto, esse processo de reerguer o todo danificado não pode ser mensurado em um futuro próximo. O acidente nuclear de Fukushima foi um desastre provocado por falhas humanas. As causas diretas eram previsíveis e possíveis de serem sanadas. Em vez disso, a exploração pelo centro de poder (Tokyo, Japão) transferiu para uma região marginal (Região de Tohoku) os problemas sociais somados a um certo racismo ambiental (Sawa, 2016) e crença em uma ciência ilimitada. Diante do desastre, diversas áreas no Japão tiveram significativas mudanças: a área acadêmica, por exemplo, especialmente a Educação Ambiental, recebeu atenção prioritária. Muitos pesquisadores(as) e educadores(as) expressaram e expressam o arrependimento em relação à crença ilimitada na ciência. Dessa forma, tentam redirecionar a Educação Ambiental (Ando, 2011; Asaoka e Ishiyama, 2013) desde 2011, reescrevendo a história de Kogai (Poluição e degradação do meio ambiente pelas empresas e pelo governo). Assim, a Educação em contraste com Kogai define-se como uma educação ambiental socialmente crítica (Harako, 1997). Além disso, mostrou a necessidade de ampliar conceito do meio ambiente como, não só para domesticar e preservar, mas também reverenciando a força que a natureza tem, ou seja, ter respeito e temor a ela. Portanto, este trabalho evidencia e debate três tendências de discussão sobre a Educação Ambiental no Japão contemporâneo: 1) Importância de redefinir o conceito de natureza (domesticar, preservar e reverenciar) e a relação entre natureza, ser humano (incluindo as gerações do futuro), sociedade e mortes; 2) O desprestígio da ciência ilimitada em relação à expansão das narrativas voltadas para o microcosmo humano, um olhar quase onírico que surge em razão da partida de outros por causa dos desastres ambientais; 3) a análise das características de Bosai (Educação para a prevenção e redução de desastre).

Palavras-chave: Educação Ambiental. Grande Terremoto do Leste do Japão. Natureza. Fukushima. Kogai.

THE OTHER SIDE OF NATURE: ENVIRONMENTAL EDUCATION IN CONTEMPORARY JAPAN

The Great Earthquake and Tsunami on March 11th 2011, in Japan, caused 19,630 deaths, 2,569 missing, and 6,230 injured. There are currently 70,000 evacuees who cannot and do not want to return to their homes. Children who have fled the devastated area have suffered school bullying due to lack of information about radiation in Fukushima. The Japanese government argues that the reconstruction project for the Northeast of Tohoku will end in 2021, except for Fukushima. This process of re-erecting the whole damaged area, cannot be determined in the near future. The Fukushima nuclear accident was a disaster caused by human failures. Direct causes were all predictable and possible to be minimized. Instead, the response to the tragedy by the official government in Tokyo, transferred the population to a marginal region (Tohoku Region) where social problems emerged, including environmental racism (Sawa, 2016). It is clear that the belief in an unlimited power of science is now questioned. After the disaster, several academic fields have undergone significant changes, for example, Environmental Education. It now receives priority attention. Many researchers and educators now give another meaning related to Environmental Education (Ando, 2011, Asaoka and Ishiyama, 2013). Since 2011, they started to re-writing the history of Kogai degradation caused by Companies associated with the government. Thus, environmental education (Harako, 1997) has become a critical tool against environmental racism. In addition, this proposal demonstrates the needs to preserve and revere Nature.

 

Keywords: Environmental Education. Great East Japan Earthquake. Nature. Fukushima. Kogai.

 

Conferência III

SABEDORIAS ECOLÓGICAS TRADICIONAIS: UM ANTÍDOTO PARA DESTRUICÃO AMBIENTAL

                                                                                                                            Daniel R. Wildcat (Haskell Indian Nations University - EUA)

Em um sentido mais restrito do termo, devo dizer que os nossos sentidos, ou os conhecimentos ecológicos tradicionais (TEKs) representam profundos conhecimentos espacialmente experienciados, implícitamente, através da linguagem, histórias, canções, cerimônias e costumes cotidianos e hábitos emergentes da relação simbiótica entre os povos indígenas e lugares. Hoje, as várias formas de crises que enfrentamos em todas as instituições da modernidade revelaram as marcas de nascença de uma cosmovisão ocidental totalizadora e universalizante que encoraja a humanidade constantemente a ignorar nossa experiência humana no mundo. As TEKs são o antídoto contra as forças perigosas e destrutivas da modernidade e sua versão 2.0, a pós-modernidade. Essa breve reflexão sobre as TEKs sugere que, esses conhecimentos devem ser vivenciados, respeitados e lembrados nas grandes comunidades do sistema de vida em que a humanidade permanece participante, embora cada vez mais disfuncional. Eles são os melhores pontos de partida para aqueles que vivem nos espaços superficiais das sociedades industriais e pós-industriais vividos para (combater a destruição ambiental) e não, através da ciência como convencionalmente praticada, mas nas artes.

TRADITIONAL ECOLOGICAL KNOWLEDGES: AN ANTIDOTE TO DESTRUCTION

In the strictest sense, or should I say in our senses, traditional ecological knowledges (TEKs) represent deep spatial experiential knowledges embedded in language, stories, songs, ceremonies, and everyday customs and habits emergent from the symbiotic relationship of Peoples and places. Today the crises we face throughout the institutions modernity has advanced bare the birthmarks of a totalizing and universalizing Western worldview that encourages humankind to constantly ignore our human experience in the world. TEKs are the antidote to the dangerous and destructive forces of modernity and its 2.0 version, post- modernity. This brief reflection on TEKs suggests that because these knowledges must be experienced, respected and recollected in the large life-system communities in which humankind remains a participant, albeit increasingly a dysfunctional one, the best point of entry for those living in the shallow experiential spaces of industrial and post-industrial societies might not be through science as conventionally practiced but in the arts.

 

Conferência IV

NÓS REALMENTE AMAMOS A NATUREZA? ALGUMAS REFLEXÕES ÉTICAS

                                    Zélia Monteiro Bora (ASLE– Brasil/ UFPB)

Inúmeros discursos contemporâneos destacaram preocupações sobre a necessidade de preservar-se o meio ambiente. No entanto, o conceito de amor pela natureza, entendido aqui como amor ao sujeito não humano, levando em consideração a subjetividade da natureza, pressupõe implicações acima de tudo de valores éticos, uma vez que a relação entre humanos e não-humanos está em jogo sob condições de interesses diametralmente opostos. Poucos filósofos foram capazes de conceitualizar de maneira simples e profunda o que realmente significa amar-se a natureza, como foi o caso do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti. Com base em seus princípios, gostaria de discutir algumas de suas reflexões as quais considero essenciais na re-conceitualização de nossa relação contemporânea com a natureza.

DO WE REALLY LOVE NATURE? SOME ETHICAL REFLECTIONS

Innumerable contemporary discourses have highlighted concerns about the necessity of preserving the environment. However, the concept of love for nature, understood here as non- human subjects, taking into consideration the subjectivity of nature, presupposes implications above all of ethical values, since the relationship between humans and non-humans is at stake under conditions involving diametrically opposed interests. Few philosophers have been able to conceptualize in simple and profound way, what it really means to love nature. Mostly profoundly, this can be found in the writings of the Indian philosopher Jiddu Krishnamurti. Based on his principles, I would like to discuss some of his reflections which I consider essential in re-conceptualizing our contemporary relationship with nature.

 

Conferência V

E NENHUM PÁSSARO CANTA: CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E A POLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO INDIANO - OS IMPACTOS DO DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO SOBRE A NATUREZA HUMANA E A NÃO HUMANA

Murali Sivaramakhisnan

À medida que a civilização cresce em riqueza e complexidade, perde a simplicidade de sua ordem inicial. O intelecto se elevou e se ampliou, mas a intuição diminuiu ou recuou, de acordo com os corações dos místicos (homens santos) e de seus adeptos. Sobre essas questões, uma demanda maior vem sendo imposta ao sistema e ordens científicas e sobre toda a vida, a mente e o espírito e sua inundação livre do conhecimento intuitivo. Esses últimos foram forçados a funcionar de formas interrompidas. Em linhas gerais, a sociedade tornou-se mais artificial e complexa, menos livre e nobre com mais de um laço sobre o indivíduo e menos um campo para o crescimento das faculdades humanas e espirituais. A antiga harmonia deu lugar a um estresse exagerado sobre os fatores elementares da vida. Artha (propósito) e kama (atração dos sentidos) passaram a ser desenvolvidos à custa do dharma (o princípio da ordem cósmica). (Sri Aurobindo, As Fundações da Cultura Indiana, p.117).

Minha apresentação consiste muito mais em desenvolver uma percepção do que simplesmente recorrer a uma reiteração de questões ou análises e estatísticas. Todos nós, reunidos aqui, estamos genuinamente preocupados com o destino do nosso planeta e a situação do ser humano no presente. Portanto, essa ideia não está deslocada do pensamento de que precisamos reconhecer as diferenças e a coexistência de multiplicidades em culturas, línguas e nacionalidades.

AND NO BIRDS SING: ENVIRONMENTAL CONSCIOUSNESS AND THE POLITICS OF DEVELOPMENT IN THE INDIAN CONTEXT - THE IMPACT OF THE DISCOURSE OF DEVELOPMENT ON HUMAN AND NON-HUMANNATURE

As the civilisation grew in richness and complexity, it lost indeed the first grand simplicity of its early order. The intellect towered and widened, but intuition waned or retreated into the hearts of the saints and adepts and mystics. A greater stress came to be laid on scientific system, accuracy and order, not only in all the things of the life and mind, but even in the things of the spirit; the free flood of intuitive knowledge was forced to run in hewn channels. Society became more artificial and complex, less free and noble; more of a bond on the individual, it was less a field for the growth of his spiritual faculties. The old fine integral harmony gave place to an exaggerated stress on one or other of its elemental factors. Artha and kāma, interest and desire were in some directions developed at the expense of the dharma. (Sri Aurobindo, The Foundations of Indian Culture, p.117)

My presentation would focus more on evolving a perception than merely resorting to a reiteration of issues or analysis and statistics. All of us assembled here are genuinely concerned with the fate of our planet and the situation of the human being in the present. And it might not be out of place to underscore the fact that we need to recognize differences and the coexistence of multiplicities— in cultures, languages and nationalities.

 

Conferência VI

O CURUPIRA LÍRICO E OUTROS GUARDIÕES AMAZÔNICOS

                                                                                                                                    Juan Carlos Galeano (Florida State University – EUA)

Desde a chegada dos povos europeus à Amazônia, o folclore e o mito do imaginário amazônico inspiraram o cinema, a música, as expressões literárias e outros meios de representação na Europa e na América Latina. Meu trabalho criativo, que proponho apresentar na forma de poemas na IV Conferência Internacional de Literatura e Meio Ambiente em Manaus 2018, baseia-se nesses processos históricos de trocas culturais e hibridismo. Meus poemas sobre o Curupira e outros seres espirituais místicos da Amazônia levam-nos a refletir sobre os sistemas de crenças dos amazônidas corroborando com a idéia de que existe uma essência, uma substância que une todos os seres. Cosmologias cosmopolíticas, de reciprocidade, forças que habitam o submundo da natureza e mudança de formas representadas nos poemas são também influenciadas pelo estilo dos contadores de histórias da Amazônia. Os poemas também expressam noções de ecologia espiritual que têm raízes profundas nos imaginários amazônicos - imaginários que convidam outros a reconsiderarem a crise ambiental mundial na perspectiva do pensamento amazônico.

LYRICAL CURUPIRA AND OTHER AMAZONIAN GUARDIANS

(A POETRY READING)

Ever since the arrival of European peoples in Amazonia, folklore and myth stemming from the Amazonian imagination have inspired filmmaking, music, literary expressions and other means of representation within Europe and Latin America. My creative work, that I propose to present in the form of poems at the Fourth International Conference of Literature and the Environment in Manaus 2018 draws on these historic processes of cultural exchange and hybridity. My poems on the Curupira and other mythical Amazonian spiritual beings aspire to reflect the belief systems of Amazonians giving credence to the idea that there is a breath, a substance that unites all beings. Cosmopolitics, cosmologies of reciprocity, chthonic forces of nature, and shape-shifting represented in the poems are also influenced by the style of Amazonian storytellers. The poems also express notions of spiritual ecology that have deep roots in Amazonian imaginaries—imaginaries that invite others to reconsider the world´s environmental crisis from the perspective of Amazonian thought.

 

Conferência VII

PROCESSOS DE CRIAÇÃO LITERÁRIA

Vera do Val (Vencedora do prêmio Jabuti: Contos do Rio Negro)

 

Conferência VIII

ECOCRÍTICA E ATIVISMO: PAN, DIM (APATIA PSÍQUICA, A TRANS- MAGNITUDE IMAGINÁRIA E A PSICOLOGIA AMBIENTAL SOBRE O ATIVISMO E NÃO ATIVISMO AMBIENTAL)

                                                                                                                                      Scott Slovic (ASLE – EUA / University of Idaho – EUA)

Psicólogos e ecocríticos há muito se interessam em saber como as informações sobre as crises sociais e ambientais motivam os tomadores de decisões públicas e governamentais a prestarem atenção a essas crises e a intervir nelas por meio de ações diretas ou com a criação de políticas e leis públicas relevantes. Tornou-se evidente, neste momento, que há tendências psicológicas significativas nos seres humanos (em todas as culturas) que dificultam a apreensão de informações sobre tópicos importantes, desde a devastação da guerra até a extinção de espécies. Quanto maior a crise, menor a probabilidade de nos preocuparmos com ela. Obviamente, isso parece contraintuitivo, até mesmo imoral. Mas é assim que nossas mentes funcionam. Nesta apresentação, explicarei conceitos psicológicos, como o de Present Always Normal (PAN) e o de Mentalidade Incidente Discreta (DIM), utilizados na ecocrítica de Patrick D. Murphy, o trabalho do psicólogo Paul Slovic sobre numbing psíquico e o termo do artista Chris Jordan, ‘o imaginário trans-escalar’. Todos esses fatores ajudam a explicar por que nos envolvemos ou deixamos de nos envolver em questões importantes. Esses conceitos são diretamente relevantes para os esforços da ecocrítica e de outros comunicadores ambientais para transmitir ideias para o público.

PAN, DIM, PSYCHIC NUMBING, THE TRANS-SCALAR IMAGINARY, AND THE PSYCHOLOGY OF ENVIRONMENTAL ENGAGEMENT AND NON- ENGAGEMENT: ECOCRITICISM AND ACTIVISM

Psychologists and ecocritics have long been interested in how the communication of information about social and environmental crises motivates the public and government decision makers to pay attention to these crises and to intervene through direct action or by creating relevant public policy and law. It has become apparent at this time that there are significant psychological tendencies in human beings (in all cultures) that make it difficult for us to apprehend information about important topics, ranging from the devastation of war to extinction of species. The larger the crisis, the less likely we are to care about it. Obviously, this seems counter-intuitive, even immoral. But this is how our minds work. In this presentation, I will explain such psychological concepts as ecocritic Patrick D. Murphy’s Present Always Normal (PAN) and Discrete Incident Mentality (DIM), psychologist PaulSlovic’s work on psychic numbing, and artist Chris Jordan’s term “the trans-scalar imaginary,” all of which help to explain why we engage or fail to engage with important issues. These concepts are directly relevant to the efforts of ecocritics and other environmental communicators to convey ideas to audiences.

 

MOSTRADOFILME BEYOND FORDILÂNDIA(2017,75 MIN) COM DR. MARCOS COLÓN, DR. MARCUS BARROS — EX-REITOR DA UFAM E EX-DIRETOR DO IBAMA E PELA PROFA. DRA. MARILENE CORRÊA DA SILVA FREITAS (PROFESSORA PPGSCA - UFAM)

Beyond Fordlândia (2017, 75 min) apresenta uma revisão ambiental noventa anos depois da experiência do empresário Henry Ford na Amazônia. Em 1927, a Ford Motor Company tentou estabelecer uma plantação de seringueiras às margens do Rio Tapajós, um dos principais afluentes do Rio Amazonas. O filme aborda a transição da mal sucedida experiência da borracha para a monocultura de soja para exportação e seu impacto no uso do solo, gerando as seguintes questões: Quais eram as verdadeiras razões para Ford promover a incursão Amazônia adentro em busca de seus projetos? Porque ele quis implantar um protótipo da civilização do século XX no meio da floresta? O cultivo de borracha era seu único objetivo? Quais são as consequências ecológicas para várias espécies de peixes, insetos, plantas, animais e o bioma em geral, passados 90 anos da experiência?

Beyond Fordlândia (2017, 75 min) presents an environmental account ninety years after Henry Ford’s Amazon experience. In 1927 the Ford Motor Company attempted to establish rubber plantations on the Tapajós River, a primary tributary of the Amazon. The film addresses the recent transition from failed rubber to successful soybean cultivation for export, and its implication for land usage, leading to such questions as: What were the actual economic reasons for Ford to venture hundreds of miles through the Amazon jungle for a home for his project? Why did he want to transplant a slice of twentieth century civilization into the middle of the Amazon forest? Was rubber cultivation his only goal? What are the ecological implications for a staggering number of fish, insects, plants, animals, and the biome in general, of this venture now ninety years later?

Após o filme, o debate será realizado pelo Professor Dr. Marcos Colón, Dr. Marcus Barros — Ex-reitor da UFAM e Ex-diretor do IBAMA e pela Prof. Dra. Marilene Corrêa da Silva Freitas (PPSCA - Professora da UFAM)

 

SIMPÓSIOS

SIMPÓSIO I: “De fato e de ficção: a Devastação da Natureza em Narrativas do Antropoceno”

 

A HISTÓRIA SILENCIOSA DA EXPLORAÇÃO MINERAL

Alexis Ouellet-Simard

Atualmente, a mineração é considerada essencial para as atividades humanas. Mas, temos conhecimento de muitos casos de mineração irresponsável. Consideramos irresponsável os projetos de mineração que não respeitam as normas ambientais, ou que não beneficiam a população de alguma forma, ou que são simplesmente ilegais. A partir disso, procuramos desenvolver esse trabalho em três seções. A primeira tem por objetivo mostrar que a mineração irresponsável é um passo em direção à morte da natureza, visto que esse tipo de exploração tem o poder de alterar os ecossistemas de forma significativa, negativa e permanente. Entre outras coisas, a mineração pode contaminar seriamente as águas superficiais e subterrâneas, contaminar os solos, causar desmatamento e mudar completamente a paisagem dos locais explorados e dos ambientes ao redor. A segunda seção tem por objetivo levantar o fato de que, com demasiada frequência, as irresponsabilidades das empresas de mineração são silenciadas. Isso pode ser explicado por diferentes razões. Por exemplo, a proteção excessiva do Canadá para empresas de mineração contribui para manter os abusos ambientais silenciosos. De fato, o Canadá é um refúgio muito popular para empresas de mineração e isso é confirmado pelo fato de que 80% das empresas de mineração do mundo estão registradas no Canadá. Como explicar essa sobre-representação de empresas de mineração no Canadá?

 

O PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO E O TERRITÓRIO EM “A QUEDA DO CÉU”

                                                             Luzia Thereza Oliveira Lima

O presente trabalho, PIBIC orientado pelo professor Pedro Mandagará do TEL - UnB, busca estabelecer conexões entre o conceito de Perspectivismo Ameríndio, de Viveiros de Castro, e a relação entre os Yanomami e o território. O objeto de estudo para esse fim é o livro “A Queda do céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. Para entender o Perspectivismo Ameríndio, é necessário se distanciar da clássica dicotomia entre Natureza x Cultura, pois os elementos humanos e os elementos animais, naturais, espirituais não são colocados em oposição, eles se transformam de acordo com a perspectiva. Viveiros de Castro argumenta que é uma teoria indígena segundo a qual o modo como os humanos veem os animais e outras subjetividades que povoam o universo — deuses, espíritos, mortos, habitantes de outros níveis cósmicos, fenômenos meteorológicos, vegetais, às vezes mesmo objetos e artefatos —, é profundamente diferente do modo como esses seres os veem e se veem. […] Em suma, os animais são gente, ou se veem como pessoas (p. 117). Assim, a dinâmica entre os seres e o território é influenciada pelo Perspectivismo Ameríndio, na medida em que o estatuto dos entes dentro de determinada ontologia influencia as relações dentro da totalidade do meio-ambiente a que se refere. No caso Yanomami, o habitat dessa sociedade com seu conjunto de vida é chamado Urihi (LADAUTO, 1998) e a esse conjunto os Yanomami integram-se e mantêm suas existências colaborando com a lógica da floresta, pertencendo a ela. Por outro lado, no contexto ocidental, o antropocentrismo, ligado à ontologia hegemônica, faz com que os ocidentais encarem a “Natureza” e seus elementos como recursos naturais que devem servir ao ser humano. A consequência disso é uma ideia de que o Homem está em uma posição de superioridade e, por isso, detém um aparente controle sobre os outros entes que configuram o universo. Portanto, os ocidentais participam da lógica do seu ambiente apenas para habitá-lo e servir-se dele. Os grandes homens dos brancos pensam […]: “a floresta está aqui sem razão, então podemos estragá-la o quanto quisermos! Ela pertence ao governo!”. Contudo, não foram eles que a plantaram e, se a deixarmos nas mãos deles, farão apenas coisas ruins. Vão derrubar suas árvores grandes e vendê-las nas cidades. Vão queimar as que sobrarem e sujarão todas as águas (KOPENAWA e ALBERT, p. 469). É importante, então, compreender que essas “visões de mundo” destoantes corroboram para que, no que diz respeito ao território, a imposição de valores ocidentais às sociedades ameríndias é uma violação ao sentido destas próprias existências, já que atacam fundamentalmente a dinâmica da Uhiri. Por fim, para entender esse funcionamento, este trabalho busca destacar as relações entre o perspectivismo ameríndio e o território.

O MUNDO INSÓLITO DO ACIDENTE RADIOLÓGICO CÉSIO-137, EM GOIÂNIA: UMA PERSPECTIVA COMPARATIVISTA COM AS NARRATIVAS A MÁQUINA EXTRAVIDADA DE JOSÉ J. VEIGA E A CENTOPEIA DE NEON DE EDIVAL LOURENÇO

                                                              Maria de Fátima Gonçalves Lima

O acidente radiológico com o césio-137 ocorrido em Goiânia em 13 de setembro de 1987, completou 30 anos. O episódio iniciou com a posse de um aparelho utilizado em radioterapias encontrado dentro numa clínica abandonada, no centro de Goiânia, em Goiás. O desastre classificado como nível 5 (acidentes com consequências de longo alcance) na Escala Internacional de Acidentes Nucleares foi maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares. A máquina foi encontrada por catadores de um ferro-velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Desmontada e repassada para terceiros, gerou um rastro de contaminação, o qual afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas. Essa realidade absurda de Goiânia, foi metaforizada em narrativas de autores goianos, antes mesmo do acontecimento. O presente estudo apresenta uma perspectiva comparativista com duas narrativas de autores goianos, que proporcionam reflexões sobre situações inusitadas que lembram em alguns momentos o episódio de 1987. A MÁQUINA EXTRAVIDADA (1981), publicado bem antes do acidente do césio-137, é um conto de José J. Veiga que transfigura a situação de chegada a uma cidade do interior uma máquina-enigma. O objeto estranho vai mudar toda a vida da população e açulando o imaginário local e passa a ser alvo de especulações, todas elas julgadas relevantes. O mistério só não é respeitado pelas crianças. O romance A CENTOPEIA DE NEON, de Edival Lourenço, também transfigura um clima de intensa repressão policial, entre a “Capital” e Piambaia, cidade imaginária. Entre o público e o privado deslindam-se incontáveis esquemas de corrupção que drenam recursos públicos. É estabelecido um entre “o crime e a legalidade” por um um autêntico gênio do crime: o espetacular lobby-man dr. Sidrake de Thorteval Gahy. Sua empresa — STG Lobby S/C — comanda extorsões, assassinatos, fraudes e projetos suspeitíssimos. Alguns bem macabros, como a captação de fetos em escala industrial para uma empresa de cosméticos “à base de placenta e embrião”. Essas obras, marcadas por universos insólitos, refletem sobre as questões relativas às relações recíprocas entre o homem e seu meio moral, social, econômico, o impacto ambientais das irresponsabilidades dos homens e o estranhamento causado por máquinas que destroem o meio ambiente e transformam a vida dos seres vivos em geral.

 

DE COMO O MOSQUITO DA MALÁRIA PODE PROTEGER A AMAZÔNIA DE TUDO E DE TODOS

Roberto Mibielli

A Amazônia é, ainda em nossos dias, um dos mais impressionantes e pouco conhecidos sistemas ecológicos do planeta. Não obstante esse desconhecimento, também é o local para onde se volta boa parte dos olhares do mundo, quando se trata de imaginar uma grande reserva de recursos naturais em formato de floresta. O mesmo imaginário que atribui a esse lugar riquezas inimagináveis, é o que o povoa de elementos exóticos, alguns monstruosos, outros lendários e míticos. Para os que aqui estão, trata-se de um oceano verde, cujo fim inexiste, fato que parece autorizar parte da população local a usufruir destes recursos sem nenhum controle ou crença em seu esgotamento. Por outro lado, o discurso ecológico escolar, aquele mesmo de plantar arvorezinhas no dia da árvore, de proteger animaizinhos de rua e de toda uma perspectiva um pouco piegas de meio ambiente, não parece ajudar muito na hora de coibir determinados abusos, de impedir tartarugadas, churrasco de caça e outras pequenas transgressões e crimes ambientais. Deste modo a floresta vai aos poucos morrendo, em alguns casos imperceptivelmente, em outros aos magotes, desmatada, devastada, destruída pelos mesmos alunos de outrora, agora empregados de madeireiras e congêneres. A literatura e a poesia, por seu turno, também têm sua parcela na produção deste imaginário. Ora pendendo para o lado do exotismo e seus exageros, ora adotando um discurso desenvolvimentista, supostamente otimista em relação ao domínio do homem sobre a natureza, a literatura e a poesia, também têm ajudado a tornar a Amazônia refém. Prisioneira de uma queda de braços cujo principal efeito é a indiferença, a falta de ações efetivas e de uma consciência de contexto daqueles que nela habitam, especialmente em seus grandes centros urbanos. Há, todavia, discursos que destoam do oficial escolar, do oficial desenvolvimentista, do ecológico distante do povo e da realidade, um misto de ironia e de identificação com a realidade amazônida que chama a atenção pela acidez. Exemplo deste tipo de discurso é a letra da música mosquito da malária, de Eliakin Rufino. É dela que partimos para propor nossa discussão, nossa leitura de uma literatura cujo mote capta uma realidade complexa e delicada, cuja leitura não passa mais pela simples polarização maniqueísta entre ecólogos e desenvolvedores. Mosquito da Malária Letra e música: Eliakin Rufino: Hoje quem defende a Amazônia/É o mosquito da malária,/Se não fosse esse mosquito/A floresta virava palha,/Salve, salve, salve ele/Viva sua febre incendiária/O maior ecologista da Amazônia/É o mosquito da malária,/Não adianta sucam/Jogar ddt na sua área,/Super-defensor da Amazônia/É o mosquito da malária.

 

O ESPAÇO FANTÁSTICO NO ARQUÉTIPO CÉSIO 137 EM GILBERTO MENDONÇA TELES E EDIVAL LOURENÇO

Rosally Brasil Pereira

O trabalho aborda o acidente com o Césio 137 que aconteceu em Goiânia, Brasil, a partir do imaginário no poema Salmo 137 Césio de Gilberto Mendonça Teles e, em Ode a Goiânia de Edival Lourenço, tendo como finalidade aplicar estudos à teoria do imaginário de Gilbert Durand. Diante o estudo no campo do imaginário, adentraremos, a princípio à fenomenologia e outras abordagens que a obra permitir. Os resultados apontados neste artigo mostram que o imaginário presente nos poemas, ressaltam para a imagem dinâmica do césio 137 como núcleo de uma constelação que é capaz de conduzir a outras imagens e outras imaginações. Tanto o Salmo césio 137, quanto a Ode a Goiânia, desenvolvem um imaginário do acidente do césio 137 que são vistos homologamente com abordagem nas terias do retorno, da profundidade e horizontalidade, entre lugar.

 

COMERCIALIZAÇÃO E DESTINAÇÃO DE LÂMPADAS FLUORESCENTES EM ITUIUTABA - MG

                                                                   Ruberval Garcia de Moraes e Daniel Féo Castro de Araújo

Este trabalho demonstra a comercialização de lâmpadas fluorescentes novas e o descarte após o uso em Ituiutaba, MG. Aborda-se a importância dessas lâmpadas devido à presença de mercúrio, os riscos à saúde e ao meio ambiente. A metodologia envolveu a coleta de dados em empreendimentos que vendem lâmpadas, que geram lâmpadas fluorescentes usadas (comércio, bancos, hospitais, farmácias, templos religiosos, hotéis e repartições públicas), e entrevistas a representantes ou responsáveis pelos empreendimentos geradores, por instituições de ensino dos vários níveis educacionais e das três esferas do poder público local. O estudo demonstra a discrepância entre a venda e o recolhimento das lâmpadas; alta ocorrência de descarte inadequado das lâmpadas após o uso; a carência de conhecimento e de aplicação da responsabilidade compartilhada e da logística reversa e sugere medidas para a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

 

O TEMPO DA DEVASTAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA EM MAD MARIA, DE MÁRCIO SOUZA

Simão Farias Almeida

A natureza na era do Antropoceno possui marcas temporais de experiências humanas e não humanas. Segundo Enrique Leff (2009, p.317), temporalidades diferenciadas e articuladas de processos geográficos, ecológicos, econômicos, tecnológicos, políticos e culturais estão sobrepostas nas unidades ambientais. Philip Fearnside (2003, p.45-47; p.55) aponta o registro, nos anos 1980 e 1990, de emissões de gases causadas por desmatamentos e de estoques de carbono produzidos por tentativas de conservação de diferentes décadas na Amazônia. As fontes econômicas do capitalismo tardio, a produção dos recursos naturais pela natureza e pelo homem, a destruição e regeneração dos ecossistemas coexistem na floresta amazônica em áreas desmatadas, de mata fechada, de culturas tradicionais e de criação agro-pecuária. A Ecocrítica tem o papel de denunciar ações concretas e simbólicas contra os espaços naturais; de acordo com Greg Garrard (2006, p.105-106), o discurso ecocrítico é hábil em desenvolver uma retórica mais eficaz de transformação e amenização da devastação da natureza. A literatura possui recursos estilísticos próprios por meio dos quais representa causas e consequências de comportamentos humanos como os problemas e as crises ambientais em décadas e séculos diversos. Paul Ricouer defende que o tempo no romance se torna uma experiência humana articulada de modo narrativo (RICOUER, 2010, p.9) e não linear (RICOUER, 2010, p.324). Esta experiência pode envolver a relação de preservação ou de violência do narrador e dos personagens com os espaços naturais. Partindo dos pressupostos teóricos de Paul Ricouer e Greg Garrard acerca das representações do tempo e do meio ambiente na literatura, apontaremos as marcas de interferências antropogênicas na natureza, no romance Mad Maria (2002) de Márcio Souza sobre os impactos da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no estado de Rondônia, no início do século XX. O discurso do narrador denuncia que a devastação da floresta afeta a formação linear dos ecossistemas e provoca a destruição do próprio homem. Assim, a crise ambiental na Amazônia é também uma crise humana.

 

PÓS-HUMANISMO E SOBREVIVÊNCIA NO ANTROPOCENO: UMA ANÁLISE ECOCRÍTICA DA TRILOGIA MADDADDAM, DE MARGARET ATWOOD

Suênio Stevenson Tomaz da Silva

Atualmente, muitos estudiosos de várias áreas do conhecimento afirmam que estamos vivendo na era do Antropoceno - nome dado ao momento histórico em que os humanos se tornaram uma força geológica capaz de afetar toda a vida no planeta. A escritora canadense Margaret Atwood nos oferece uma descrição instigante desse tema através de sua trilogia MaddAddam, cujas características se alinham com narrativas pós-apocalípticas e/ou distópicas. Diante do exposto, esta proposta consiste em problematizar o conceito de humano, assim como oferecer algumas reflexões sobre a noção de pós-humanismo, tomando como referência o livro The Posthuman, de Rosi Braidotti. Nessa publicação, Braidotti enfatiza a ideia de que a condição pós-humana introduz uma mudança qualitativa na forma como pensamos sobre nossa espécie e nossa relação com outras entidades não-humanas do planeta. Essa realidade suscita questões importantes: Devemos manter em mente um conceito de humano com base nos valores cartesianos? O modelo de Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci ainda é válido para o mundo contemporâneo? Este trabalho não oferece respostas prontas para tais questionamentos. Contudo, é uma reflexão pertinente uma vez que a condição pós-humana nos estimula crítica e criativamente sobre quem e o que de fato somos dentro das múltiplas possibildades de devires, considerando os argumentos de Braidotti. Assim sendo, o universo ficcional de Margaret Atwood, permeado de ciborgues e humanóides, nos permite contemplar debates contemporâneos acerca do conceito de humano, já que ela sugere personagens que enevoam os limites tradicionais entre concepções de humano-animal e humano-ciborgue. Esses personagens sugerem que um possível caminho para um cenário pós-apocalíptico está apoiado na premissa do pós-humanismo.

 

SIMPÓSIO II: Os animais na Amazônia: perspectivas para uma crítica das relações entre humanos e não humanos na floresta tropical

 

MEIA PATA: MAIS HUMANA QUE HUMANOS

                                                                 Beatriz Ferreira Salles Freire e Lessa Cristina Viana

Há cada vez uma tendência em abordar na literatura, e em outras áreas como na filosofia, a questão do animal, tornado-se mais patente a inquietação dos pesquisadores em relação a este campo havendo um crescimento nos estudos difundindo então uma vertente teórica conhecida como Estudos Animais. A presença do animal na literatura, antes feita muitas vezes como apenas um elemento dispensável, hoje toma um lugar de representação mais relevante e questionadora, seja “enquanto personagens antropomorfizados, como parte do ambiente, criatura mitológica e metáfora humana, dentre outras” (MACEDO, 2013, p.16). Ao fazer um estado da arte identificam-se conflitos humanos e sociais por meio da representação antropomórfica. O antropomorfismo é um instrumento literário utilizado principalmente em fábulas com o intuito de passar uma “moral”. Na obra de Ricardo Dantas, Meia Pata (2012) que conta a história de um biólogo que vai para Boa Vista-RR trabalhar e estudar, utiliza-se desse fenômeno. Acredita-se que Dantas sensibilize o leitor a perceber que os animais são seres sencientes, ou seja, possuem os cinco sentidos, assim como os seres humanos, e, portanto, têm as mesmas sensações que os seres humanos. Com isso a antropomorfização que ocorre em Meia Pata compartilha função própria das fábulas de passar uma “moral”. A literatura possui função humanizadora e a obra de Dantas possui um viés defensor e traz um questionamento sobre os animais e a posição que eles encontram-se na sociedade. Esse aspecto é reforçado pelo narrador descrevendo os personagens como se pertencessem a mesma espécie. Segundo Cândido (1972) a literatura contribui para formação de valores, “humaniza em sentido profundo, porque faz viver.” (CÂNDIDO 1972, p. 805- 806), em Meia Pata, incluem-se os valores éticos. Logo, o texto aponta para reflexões sobre a condição humana por meio de fenômenos como a metáfora e antropomorfização. O papel desempenhado pelo bicho na obra é importante ao ponto de suas ações determinarem o seu desfecho. Nesses casos não lhe é atribuído papel secundário ou inferior, como ocorre no pensamento ocidental, no qual se restringem os animais “ao bestial” a partir da qual devem ser explorados ou domesticados. Na narrativa de Dantas, Meia Pata exerce papel fundamental para obra e contribui ativamente para o seu desenvolvimento. Ao analisar algumas assertivas sentenças de Dantas pensa-se que a narrativa sobre vida dos animais sugere um discurso reivindicatório. Percebe-se isso também a partir do protagonismo da onça, protagonismo este comprovado com sua referência no título do romance.

 

BICHOS E VISAGENS NA LITERATURA DE AUTORIA INDÍGENA AMAZONENSE

                                                        Francisco Bezerra dos Santos

A literatura indígena é uma produção recente, mas não menos complexa. Os textos indígenas começam a aparecer no final do século XX e no século XXI ganham maior visibilidade, esses textos são escritos por líderes tribais que expõem suas próprias versões da vida ameríndia. No Amazonas em particular, existe um grande número de escritores representantes de etnias indígenas que descrevem seus costumes, mitos e lendas em narrativas provenientes da oralidade que são transcritas para o formato de livro. Nessas narrativas é muito comum a convivência entre homens e bichos no espaço da floresta. E não é só isso, nessa literatura é impossível não se deparar com histórias de visagens que causam espanto e admiração no leitor. Geralmente, esses entes fantásticos advertem sobre algum perigo ou desobediência às leis da natureza. Diante dessas reflexões, o presente trabalho tem como propósito apresentar algumas considerações sobre a relevância e função de bichos e seres sobrenaturais na literatura de autoria indígena. O nosso objeto de estudo será o livro O caçador de histórias (Sehay Ka’at Haría), do indígena Maraguá Yaguarê Yamã. Para tais considerações, optamos pela pesquisa bibliográfica com estudiosos da temática em questão. Trata-se de uma pesquisa em andamento, mas que já aponta uma grande presença e importância dos bichos e seres sobrenaturais nos enredos das narrativas indígenas.

 

OS BORA E OS UITOTO DO NOROESTE AMAZÔNICO NO RELATO ANTROPOLÓGICO DE THOMAS WHIFFEN

Helio Rocha

Entre os meses de junho de 1908 e maio de 1909, o antropólogo britânico, Thomas Whiffen (1878-1922), viajou pelas terras entre os rios Içá-Japurá, onde o homem branco pouco tinha adentrado anteriormente e estabeleceu contato com algumas tribos indígenas. Em 1915, em Londres, a editora Contable and Company publicou o seu relato etnográfico sobre os Bora e os Uitoto, Northwest Amazons, notes of some months spent along with some cannibal tribes. Este texto tem como objetivo central demonstrar como o referido viajante descreve a cultura desses dois povos nativos do noroeste amazônico em seu relato etnográfico. Minha hipótese é que Whiffen segue, à risca, as normas e questões antropológicas e etnográficas dispostas em Notes and queries on Anthropology, escrito e editado por membros do Conselho do Instituto Antropológico de Londres em 1982. Costurando suas representações da topografia, habitação, agricultura, culinária, vestimenta, armas, etc. com conceitos de cultura (EAGLETON, 2005; SAHLINS, 2004), discuto essas ‘formas de vida relativas e históricas’ (SAHLINS) pintadas por Whiffen em seu relato de cunho eurocêntrico, mas imbuídas de autorreflexão do viajante e de sua cultura.

 

A DICOTOMIA DA ANIMALIZAÇÃO PRESENTE NO CONTO OLHO DE BESOURO, DE HELIÔNIA CERES: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA ECOCRÍTICA

                                                                                                  Luciano Mendes Duarte Júnior e Caroline Gleyce do Nascimento de Oliveira

A relação entre humano e não humano vem sendo motivo de reflexões desde as comunidades humanas primitivas. Entre esses povos, o animal, ora tido como divindade, ora como companheiro espiritual, sempre foi elemento de associações que, ao contrário de colocar as espécies em completos extremos, aproximavam-nas, através de simbolismos advindos de relações empíricas (JUNG, 2016). Em contrapartida, por meio do surgimento de discursos antropocêntricos e da supervalorização da racionalidade humana, os animais (agora considerados como inferiores, enquanto seres incapazes de reproduzir a racionalidade tal qual como a concebemos (MONTAIGNE, 2010)) foram perdendo suas associações simbólicas e, com isso, nossa relação com eles enfraqueceu-se, adquirindo sentidos pejorativos. Por meio disso, e tendo como princípio os estudos de Garrard (2006), que enxerga a área da ecocrítica como estudo das relações entre humanos, não humanos e o espaço físico, este trabalho tem como objetivo traçar uma análise das perspectivas de animalidade presentes no conto Olho de besouro, do livro homônimo da escritora alagoana Heliônia Ceres. No conto, a narradora- personagem descreve um mundo onírico, representado pelo Vale, no qual a comunicação sensitiva entre a comunidade local e a natureza que a circunda é encarada de maneira benéfica, atribuindo às pessoas habilidades provenientes dos bichos que, nesse contexto, são tidos como seres sencientes. O momento de conflito do conto é representado pela inserção dos pesquisadores da "universidade do Vale", elemento simbólico para a razão humana, que encara a relação sensitiva entre a comunidade e o Vale como inferior, atribuindo um caráter pejorativo à mesma. Visto isso, este trabalho tem como objetivo analisar essa dicotomia presente na narrativa de Ceres. A metodologia que orientou esse trabalho foi a qualitativa de caráter bibliográfico descritivo, com base nas leituras de Brandão (2009), Garrard (2006), Jung (2016), Montaigne (2010) e Nascimento (2011). Dessa forma, foi observado que a narradora- personagem experimenta dois processos de animalização. O primeiro, positivo, diz respeito às habilidades provenientes da convivência com os animais; aqui, a animalidade é vista como uma dádiva que deve ser abraçada. O segundo, negativo, inferioriza a personagem, abordando a animalização de maneira pejorativa, em vista da incapacidade de aceitar os poderes advindos dos bichos. O pensamento científico, neste caso, enquanto representação da racionalização humana, diminui as habilidades animalescas.

 

DESTINO, CRÍTICA E DELÍRIOS: UMA ANÁLISE DAS NARRATIVAS VEGETAIS EM ALAMEDA

Maíssa Pires Ramos

Objetiva-se realizar uma investigação em torno das relações entre os humanos e os outros, propiciadas pelas representações e discursos das personagens vegetais – os tons: crítico, filosófico e/ou humanizado – nos contos “A agonia da rosa” e “A praça”, aflorados na obra da poetisa e ficcionista Astrid Cabral, Alameda (1998). Subvertendo o plano do real, as estratégias estético-literárias em Alameda exploram uma sensível percepção da natureza, dando visibilidade às vidas secretas de árvores de praças, plantas de vasinho, orquídeas de exposição, grãos de feijão, flores, frutos, sementes de laranjas e, ainda, dois insetos (Folha- Seca e Folha-Verde). A flora, antes concebida como um reino de terceira classe, dotada de inércia e apatia, agora insurge como um mundo singular, cujas personagens tecem memórias, desabafos, desejos, angústias, críticas e “recadinhos”, transbordando sensibilidade e inteligência. Seja nas ações de acontecimentos banais de um dia, na ausência de um zangão no processo de polinização de uma flor, seja a respeito da grosseria na passagem do vento sobre o jardim, tudo será mostrado através do olhar, sentir, agir dessas personagens, oportunizando ao leitor diferentes perspectivas de concepção do real e do irreal. Tal é possível pela troca de perspectiva no panorama literário astridiano, que propõe uma leitura desfocada do personagem humano e centralizada no discurso/olhar de suas personagens-protagonistas- vegetais, como é o caso nos contos “A agonia da rosa” e “A praça”, onde as personagens são, respectivamente, uma rosa e a própria terra. Assim, para o aprofundamento e desenvolvimento da problemática, dialogaremos com Greg Garrard (2006), Maria Esther Maciel (2011), Antonio Paulo Graça (1998), Allison Leão (2011), Tenório Telles (2011), Fausto Cunha (1998); Greg Garrard (2006), Diana Klinger (2014) e Peter Wohlleben (2017); num estudo interdisciplinar que vinculará os estudos literários aos estudos ambientais, animais, à antropologia, biologia e filosofia.

 

SABERES E PRÁTICAS NO MANEJO DA PAISAGEM

                                                                                                                                     Maria Isabel de Araújo e Silas Garcia Aquino de Sousa

A conquista da hinterlândia amazônica promove reflexões históricas sobre o processo de ocupação e organização territorial em diferentes aspectos e lugares. Essa discussão relaciona- se deste os registros dos cronistas no século XVI, até os dias atuais. A fitogeografia da região amazônica ao longo deste processo de ocupação e conquistas foi apresentando diversas variações em relação à sua composição botânica, modificando a paisagem do lugar, decorrente das alterações antrópicas no meio ambiente. Historicamente o processo civilizador na Amazônia ocorreu com a apropriação e exploração dos recursos naturais denominados ‘drogas do sertão’ transformados em produtos, bens e serviços, para os colonizadores e garantia de vida e convivência socioambiental das populações tradicionais. Na atualidade, a exploração e dominação da natureza pelo homem gerou uma verdadeira contradição da condição humana, pois o homem ao adequar suas práticas de manejo no meio ambiente, modifica a natureza, de acordo com suas necessidades e oportunidades sociais, culturais e econômicas. Sendo assim, é preciso sapiência autóctone, de saberes adquiridos ao longo do processo histórico de dominação da natureza e de todas as práticas, costumes, experiências e ações no curso do processo civilizador, gerador de alterações ambientais. O homem amazônico ao explorar a biodiversidade com atividades agroextrativistas retrata o saber tradicional oriundo do senso comum, caracterizados no manejo e dominação da paisagem florestal. O presente trabalho apresenta reflexões sobre as modificações na paisagem natural e sua transformação em quintais agroflorestais e o manejo de produtos florestais, de acordo com suas necessidades e oportunidades sociais, culturais e econômicas. Estas reflexões foram embasadas na teoria eliasiana, com destaque às configurações e o processo civilizador no percurso histórico em que ocorre a antropização ambiental, como garantia de direito de posse da terra, pelos agricultores familiares, e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado gerador de soberania e segurança agroalimentar, na área da ZF 4, nos anos de 2016/17, com uma abordagem interpretativa no método pesquisa-ação, combinado as técnicas etnográficas na perspectiva ecocrítica. Os resultados sugerem diferentes modificações da paisagem no tempo e espaço, gerados pela antropização na área. A floresta foi substituída por sistemas diversificados de produção, denominados de sistemas agroflorestais, que integram a paisagem dos grupos sociais ali presentes. Estes agentes transformadores atuam por meio de suas práticas e saberes tradicionais e adquiridos, consonantes com a realidade local e social, substituindo o padrão das habitações próximas à floresta primária e praticando o manejo dos recursos naturais, de acordo com suas necessidades e oportunidade de mercado. Neste contexto, o rio, a floresta e o homem amazônico, coexistindo com a difícil realidade e as intempéries edafoclimáticas vivenciadas no meio ambiente amazônico, refletem as mudanças de acordo com a realidade geográfica, revelando sua condição humana, sob diferentes espaços-temporais, matizada no sonho de vida, enquanto concretude de espaço, constituindo- se de uma relação de interdependência, configuradas nas experiências vividas junto à natureza. Conclui-se que essa experiência de vida amazônica referencia a teoria elisiana, no que concerne à compreensão da realidade vivida, caracterizadas nos hábitos culturais, nas ações e interações sociais, do manejo da paisagem florestal na hinterlândia amazônica.

 

INTIMISMO INTERESPÉCIES ENTRE HUMANOS E ANIMAIS NO ZOO

                                                                                                             Matheus Henrique Pereira da Silva e Flávio Leonel Abreu da Silveira

A presente proposta problematiza as relações entre humanos e animais em zoológicos e, sobretudo suas trocas de olhares e entrelaçamentos, a partir de uma etnografia3 realizada no Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves (JBBRA), em Belém (PA) que objetivou acompanhar as atividades diárias e os encontros entre os tratadores, profissionais componentes da Equipe da Fauna do local, e os animais, acervo do pequeno zoo local. Propõe-se traçar uma leitura antropológica de modo comparativo entre a etnografia realizada e as relações de devires entre humanos e animais expressas e descritas esplendidamente no conto “O búfalo”, de Clarice Lispector. A autora descreve uma mulher que caminha ao longo de um zoológico, em sua angústia diante uma crise conjugal, que vai à busca de explorar uma animalidade e um aprendizado de ódio com os outros animais, o que a torna disponível para os encontros com os animais com suas trocas de olhares e afetos. Entretanto, no intenso entrecruzamento de olhares com os animais que se segue, ela experimenta no olhar dos bichos um aprendizado relativo às possibilidades de seu corpo ser afetado quando um animal também nos olha. Com isso, desenvolve um potencial de alteridade onde se considera um ponto de vista desse animal (como outrem), abalando os limiares que separam as esferas de natureza e cultura para considerar outra relação com o animal conceituada como intimismo interespécies. Aqui entendemos o intimismo como uma ferramenta analítica para se pensar dimensões próprias às relações entre tratadores e animais cativos, e uma tentativa de escapar das análises que reforçam dicotomias apresentadas e derivadas das relações entre cultura e natureza, humanos e não-humanos, doméstico e selvagem, entre outras. Assim se estabelece agenciamentos entre antropologia e a zooliteratura na medida em que se traça um cruzamento entre os distintos modos de conhecimento sobre a animalidade e o intimismo interespécies, que envolve os tratadores e animais no Bosque e o texto de Lispector - através do estranhamento, da aliança, dos afetos, dos devires e metamorfoses que envolvem o corpo dos agentes e suas subjetividades. A poesia zooliterária, por sua vez, apresenta os desdobramentos do ponto de vista animal no exercício de linguagem literária, de modo que a zooliteratura se configura como um processo de revisitação radical do próprio funcionamento da figura animal na literatura.

SIMPÓSIO III: Literatura infanto juvenil brasileira: entre a ética e estética

 

MONTEIRO LOBATO NO PORVIROSCÓPIO

                                                               Ermelinda Maria Araújo Ferreira

Neste trabalho analisamos os componentes imaginativos da literatura infantil lobatiana, implicados no seu projeto pedagógico futurista para a sociedade brasileira do início do século XX, levado a cabo na série do Sítio do Picapau Amarelo, particularmente em obras como A reforma da Natureza, O poço do Visconde e A chave do tamanho. Escritas principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, nos anos 1930 e 1940, essas obras refletem mudanças radicais no posicionamento ideológico do autor, quando contrastadas ao devastador enredo eugenista de seu único romance para adultos, O presidente negro: um livro assustadoramente profético, conquanto levianamente forjado em três semanas, no ano de 1926, movido por uma ambição mercadológica.

 

ESPAÇO E TÉCNICA NA OBRA A REFORMA DA NATUREZA, DE MONTEIRO LOBATO: APROXIMAÇÕES ENTRE A GEOGRAFIA E A LITERATURA

Adriana Lacerda de Brito

O artigo promove uma reflexão sobre os sentidos da técnica no livro A Reforma da Natureza de Monteiro Lobato, editado em 1941. O autor trata ludicamente o tema abordado nesse texto. A escolha desse deve-se às transformações técnicas do espaço ficcional do Sítio do Pica Pau Amarelo pela protagonista Emília. Tais transformações figuram em algumas das geografias do espaço da narrativa que se apresentam através dos conceitos de estrutura, desconstrução e diferença explicitadas na ressignificação da Natureza e, portanto, nos lugares da própria técnica. As noções de poder, progresso e funcionalidade, em seu contexto positivista, apontam, em grande medida, para as questões implícitas nas transformações da ordem “natural” que caricaturalmente sugerem o efeito lúdico da obra.

 

A COBRA COMO ELEMENTO DO IMAGINÁRIO BRASILEIRO EM JOEL RUFINO DOS SANTOS

Vinicius Milhomem Brasil, Izabely Barbosa Farias e Cássia Maria Bezerra do Nascimento

Para organizar uma análise a respeito da cobra como atuante do imaginário brasileiro recorremos à narrativa de Joel Rufino dos Santos, especificamente, ao capítulo “Honorato e Felizmina”, com a finalidade de ressaltar o aspecto dual: entre a maldade e bondade. Identificamos como a cobra aparece em diversas narrativas mitológicas, ora como elemento ligado ao sacro e a benevolência, ora como profana e perversa. No capítulo do livro de Santos (2006), percebe-se, por meio das cobras irmãs Honorato e Felizmina, tais aspectos paradoxais. Desse modo, o autor emerge às concepções do imaginário brasileiro sobre esse réptil em um livro infanto-juvenil. Portanto, procuramos tais aspectos, bem como mostrar os arquétipos, construídos em diversas narrativas orais e registradas, na sociedade, sobre a cobra interferem nas questões ambientais de sua preservação, posto que esse réptil na região amazônica se apresenta em abundância, principalmente nas regiões metropolitanas cercadas de florestas e áreas de preservação ambiental. Logo, a sua inusitada presença urbana é motivo de preocupação entre os ambientalistas, devido ao grande número de abatimentos. O mesmo ocorre na zona rural, local onde acidentes são mais recorrentes. Entretanto, as tribos indígenas a respeitam e fazem uso de sua peçonha para fins medicinais. Para tanto, utilizamos como fundamentação teórica Santos (2006), Bulfinch (2000), Eliade (1992), Cascudo (2001), Fraga, Lima, Prudente, Magnusson (2013) e a teoria da residualidade literária e cultural, sistematizada por Roberto Pontes (1999), a fim de mostrar os aspectos residuais desse réptil remetem a narrativas pretéritas e como elas vão influenciar na construção na imagem da cobra com esse aspecto duplo.

 

SIMPÓSIO IV: Ecopoéticas e Práticas de Descolonização nas Américas

 

ESPAÇOS DA NATUREZA EM RUSTICATIO MEXICANA, DE RAFAEL LANDÍVAR

                                                           Brenda Carlos de Andrade

Rusticatio Mexicana, longo poema descritivo do jesuíta novo-hispano Rafael Landívar, foi escrito em latim e publicado pela primeira vez em 1781. Essa obra se inscreve em pelo menos em duas classificações interessantes: as obras que efetivamente dialogam com aspectos da Ilustração (hispano-americana) e obras que combatem a imagem negativa da América Hispânica na Europa, integrando, de alguma forma, o corpus que compõe a valorização desse território dentro do quadro da disputa do novo mundo, segundo a fórmula de Gerbi. O interessante, ao considerar esses dois aspectos, é que o autor retoma essa questão a partir da descrição da natureza, seja através ou não da interferência do homem nessa paisagem natural, transformando assim a imagem que tantas vezes apareceu como dado estereotipado do selvagem numa imagem segunda ou terceira que pode ser lida como uma estratégia descolonial. Outro aspecto a ser considerado é a condição de escrita dessa obra, realizada durante o exílio forçado a que foram submetidos todos os jesuítas na América. Assim, a natureza, protagonista desse poema, pode ser lida com três chaves que se entrecruzam: a escrita da natureza como evocação nostálgica do lugar de origem; o potencial natural que sob a interferência do homem pode se inscrever numa modernidade como visualizada pela Ilustração; e a afirmação dessa possível modernidade através de elementos da natureza como forma de autoafirmação diante de uma imagem negativa do espaço colonial americano. Em todos os casos, a imagem do meio ambiente funciona como um eixo para delinear e reformular a imagem da América Hispânica Colonial, e é através de essa chave que prentendemos encaminhar uma análise dessa obra.

 

A TERRA, OS ÍNDIOS E A IGREJA: A POESIA DE PEDRO CASALDÁLIGA

                                                                                                                                                                                Eliziane Fernanda Navarro

Interessa-nos, no estudo proposto, a partir da interface direito e literatura, como defende François Ost (2005), estabelecer relações entre a poética do bispo emérito de São Félix do Araguaia/MT Dom Pedro Casaldáliga, ao testemunho resgatado em seus escritos, devido a sua ativa atuação como defensor dos direitos das minorias nos conflitos agrários na regiãodo Araguaia no interior do Mato Grosso na década de 60, durante a colonização dos ditos "espaços vazios". Para ilustrar esse engajamento escolhemos analisar, dentre as obras do autor, os títulos "Cemitério de Sertão” e “Terra nossa, Liberdade” publicados na obra “Antologia retirante” (1978) sob o aporte teorico que compreende os esudos de Lênio Streck e André Karan Trindade (2013); Arnaldo Sampaio (2008) e Germano Schawrtz (2006).

 

O BILINGUISMO DOS JOVENS INDÍGENAS DA ETNIA SATERÉ-MAWÉ E A RECEPÇÃO DO ENSINO APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO NA CIDADE DE PARINTINS/AM

                                                                                                                                                  Eldio Costa Tavares e Edinelza Macedo Ribeiro

A presente pesquisa busca analisar como ocorre o processo do bilinguismo dos jovens indígenas da etnia Sateré-Mawé e a recepção da Língua Portuguesa no Ensino Médio em uma escola da rede estadual em Parintins-AM. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, pautada na ótica descritiva, exploratória e de campo. Como fundamentação teórica, os estudos de base antropológica em Ribeiro (1995), Bosi (1992), Rosa (2010) e autores etno-linguísticos e sociolinguísticos com Rodrigues (2000) e Tarallo (2007), Bartoni-Ricardo (2004) entre outros, foram fundamentais para que se chegasse a resolução do problema da pesquisa. Além de apresentar um perfil socioeconômico dos investigados, o estudo se propôs a saber como os indígenas utilizam a língua Sateré Mawé no contexto escolar; verifica se a prática metodológica do professor oportuniza espaços de interação e socialização entre seus pares e; investiga quais as principais dificuldades encontradas pelos indígenas no contexto escolar. Os resultados apontam que as situações socioeconômica dos jovens são semelhantes, onde a maioria sobrevive dos programas sociais do governo federal e da renda proveniente da agricultura e pesca familiar. Com relação à questão da fluência linguística percebeu-se algumas dificuldades que os jovens têm em assimilar a Língua Portuguesa. Vez por outra não entendem o léxico da língua portuguesa e admitem ser dificultosa e longínqua da realidade linguística de sua cultura. A prática pedagógica utilizada pelos docentes em relação a cultura linguística dos alunos é defasada e inexiste valorização da língua Sateré-Mawé no espaço escolar. Enfim, se faz necessário uma maior sensibilização diante da inclusão linguística dos estudantes indígenas pelas escolas da cidade de Parintins, haja vista que a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/96) considerar ser imprescindível proporcionar aos indígenas, a recuperação de suas memórias históricas, como forma de reafirmação de suas identidades étnicas e a valorização de suas línguas e ciências.

 

SIMPÓSIO V: Imagens da devastação da natureza em obras literárias

 

ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM “UM SOLITÁRIO À ESPREITA”, DE MILTON HATOUM

André Pinheiro

Nascido na cidade de Manaus, o escritor Milton Hatoum passou a maior parte da infância em um ambiente no qual o tecido urbano mantinha uma estreita relação com a fauna e com a flora. De certo modo, a experiência de vida infante se reflete na obra do escritor maduro, pois nela logo se vislumbra o interesse em construir uma identidade amazonense através de uma moldura ecológica. De certo modo, o belo acervo de imagens da natureza presente em seus romances já demonstra uma preocupação com as causas ambientais, mas a discussão adquire um tom ainda mais direto e ostensivo em seu volume de crônicas Um solitário à espreita (2013). Nele, o autor reflete abertamente sobre questões como: a tensa relação instituída entre a natureza e o desenvolvimento urbano, as consequências catastróficas do progresso desordenado, a importância do ambiente natural para a constituição da memória afetiva, a relação compassiva do homem com os animais, dentre outras. Nesse sentido, o principal objetivo deste trabalho é analisar o conjunto de imagens da natureza presente no livro Um solitário à espreita, de Milton Hatoum. Sob a luz da Teoria ecocrítica, pretende-se não apenas mostrar como se articula a consciência ecológica do autor, mas também evidenciar o modo como ele gerencia as estruturas do gênero crônica com vista a obter maior êxito no debate desse tema. Marcado por um lirismo contido e refinado, o livro toca fundo na questão da política ambiental sem necessariamente perder o trato esmerado com a linguagem. Aparecendo com um semblante vivo e sedutor, na economia geral da obra, a natureza figura como uma possibilidade de cura para as mazelas da humanidade.

 

DE MARFIM, MEMÓRIAS E LÁGRIMAS: DESCONSTRUÇÃO DO LOGOCENTRISMO EM THE WHITE BONE

Ângela Lamas Rodrigues

O artigo examina a obra The white bone (1998), da escritora canadense Barbara Gowdy, a fim de investigar em que medida o romance desconstrói o logocentrismo europeu. Tomam-se como base os estudos derridianos acerca do animal político racional (mais precisamente o zoon logon ekhon de Aristóteles), construção europeia que efetivamente se opõe à ideia de animalidade (ou seja, ao animal desprovido de logos) e imprime uma doutrina sobre a razão que, em última instância, justifica e perpetua a violência contra os animais não humanos e o ambiente natural (Derrida, 2009). O artigo analisa a cosmologia dos elefantes tal como apresentada no romance, suas falas, comportamentos e atitudes e propõe um entendimento da obra enquanto texto que consagra os elefantes como seres sociais e conscientes de si e de seu entorno sem se deixar levar por um antropomorfismo simplista e antropocêntrico ou por uma mera alegoria da condição humana. Constitui-se, assim, o território do político, notadamente através de uma leitura crítica da obra enquanto texto que detrata a noção de supremacia humana dos pontos de vista social, psicológico, emocional e, particularmente, linguístico- racional, em uma revisão radical da premissa logocêntrica aristotélica. Trata-se de romance em que a “arrogância assassina” dos humanos (Huggan; Tiffin, 2010) e a construção ocidental da soberania do homem são detalhadamente examinadas, numa narrativa que não só expõe o papel da humanidade no massacre dos elefantes ao longo dos séculos, mas os mostra em sua força e fragilidade, em sua coragem e desespero, em sua voz e em seu lutuoso silêncio.

 

AS ARTES PICTÓRICAS E ECOPOÉTICAS NO CENÁRIO GOIANO

                                                                  Elizabeth Abreu Caldeira Brito e Maria de Fátima G. Lima

A proposta é apresentar uma investigação sobre as linhas dinâmicas da poesia e das artes visuais de Alcione Guimarães, Lêda Selma, Maria Helena Chein e Yvan Avena, que realçam as cores dos ecopoemas desses artistas. As produções ecopoéticas extrapolam os sentidos e contemplam as metamorfoses do fazer lírico e artístico, abrangendo horizontes além de seus espaços de criação e dos meios onde transitam suas existências. Os textos dialogam com as artes visuais e o meio ambiente em suas múltiplas manifestações, quer sejam da natureza ou dos inúmeros seres de vida e de não-vida, transeuntes deste universo. Os signos biológicos, em mútua relação com o meio ambiente e as artes da palavra e das cores, manifestados pelos escritores em questão, transitam no âmago da teoria do ecocriticismo, do imaginário e da performatividade, que envolvem as artes visuais e a poesia em movimento e contraponto. É no diálogo entre a literatura, arte e o meio ambiente, representado pela natureza presente no texto poético e nas artes visuais, especialmente na abordagem da contemporaneidade, nas interferências humanas em suas diversas implicações, quer sejam éticas, ambientais, sociais e culturais, na qual o ecocriticismo tange sua presença como álibi aliado às artes.

 

ASTRID CABRAL: POESIA E ECOCRÍTICA

                                                         Enderson de Souza Sampaio

Objetivamos, nesta comunicação, identificar e analisar as relações entre poesia e ecocrítica que se estabelecem na produção lírico-ficcional de Astrid Cabral. À vista disso, buscamos demonstrar que o diálogo entre literatura e ecologia é o que configura a ecocrítica como uma abordagem interdisciplinar de análise de textos literários. A consciência ecológica da poeta reverbera o posicionamento crítico da autora em muitos de seus textos, pois o olhar e a vivência amazônica de Astrid se propagam em sua ficção, seja em prosa seja na poesia, há em seus escritos uma constante preocupação com o mundo natural, aquele que ainda não sofreu modificações, causadas por ações humanas. Já em seu livro de estreia Alameda (1963[1998]) as personagens são plantas, flores, frutos e pequenos animais. Alguns de seus poemas aproximam o eu-poético aos seres da floresta o que revela seu parentesco à fauna e flora amazônicas, noutros textos o recurso da personificação cria um eu-poético construído a partir dos elementos da floresta. Nesta abordagem, escolhemos o poema “Ex-rio”, publicado em Rasos d’água (2004), no intuito de demonstrar que o texto poético mostra que o progresso pode a seu modo modificar as configurações da natureza. Essas transformações foram em grande medida praticadas em Manaus quando seus governantes adotaram para a cidade, “políticas de embelezamento”, as quais foram o aterramento/matança de igarapés que entornavam o centro histórico da cidade. Sobre este aspecto Duarte (2009) argumenta que durante o século XIX muitas pontes que entornavam a cidade foram removidas devido ao aterramento de alguns igarapés, como exemplo o autor apresenta os casos das pontes do Espírito Santo, da Imperatriz, do Aterro e da Glória cujas construções perderam sua utilidade devido ao aterramento dos igarapés do Espírito Santo, que deu lugar à avenida Eduardo Ribeiro, e dos Remédios substituído pela avenida Floriano Peixoto.

 

ECOFEMINISMO ANIMALISTA EM HUMANA FESTA, DE REGINA RHEDA

                                                                                                                                                                                                       Evely Libanori

No Brasil, em 2008, Regina Rheda publicou o romance Humana festa, que conta a história de Sybil e Megan, mãe e filha veganas e feministas em uma sociedade que as estranha e, por vezes, as hostiliza. A autora relaciona a exploração dos animais não humanos à exploração das mulheres. O objetivo do presente trabalho é apresentar os argumentos da filósofa Karen J. Warren a favor da reformulação do feminismo, a fim de que incorpore também a questão ambiental, ou seja, torne-se um ecofeminismo. A visão ecofeminista implica a desconstrução da lógica da dominação de mulheres e de animais não humanos. Em nossa sociedade machista e patriarcal, animais e mulheres são tidos como seres sob o controle do homem, que tem poder para se servir de seus corpos. O romance de Rheda é ecofeminista animalista, tendo em vista que defende o direito à liberdade dos animais, das mulheres e das fêmeas não humanas. Na perspectiva ecofeminista animalista, a consideração moral é dirigida a todas as fêmeas exploradas. A opressão das fêmeas humanas e das fêmeas não humanas se explica pelo modelo patriarcal de dominação, que mercantiliza os corpos dos seres considerados inferiores. Na visão de Warren, é necessário estabelecer formas de relação ser humano/ecossistemas que sejam baseadas na compreensão sistêmica, em que cada ser é parte inseparável do todo. Neste novo modelo, o sofrimento do outro, seja ele da espécie que for, não pode passar despercebido, pois há unicidade entre todas as formas de vida. A ideia de que animais merecem menos consideração moral do que os humanos se baseia na cruel lógica da dominação, a mesma lógica que confere ao homem a primazia em relação às mulheres. O romance é abertamente militante, comprometido em trazer à tona a ligação existente entre seres hoje separados pela bipartição cartesiana (humanos/animais, mulheres/homens, fêmeas humanas/fêmeas não humanas). A classificação hierárquica de seres humanos e não humanos só tem trazido violência para aqueles colocados em situação inferior.

 

LITERATURA E MEIO AMBIENTE: A DEGRADAÇÃO DO RIO CAPIBARIBE NA POÉTICA CABRALINA

 Juarez Nogueira Lins

O rio Capibaribe, considerado um dos patrimônios hídricos do Estado de Pernambuco (SRH- PE, 2002), principal inspiração da Veneza Brasileira e um dos cartões postais da Cidade do Recife tornou-se, ao longo dos tempos, objeto de constante degradação ambiental: efluentes industriais de engenhos, usinas, fábricas; dejetos domésticos e a expansão imobiliária que poluem e assoreiam o rio, tornando-o um grande esgoto. Por outro lado, objeto de reconhecimento literário: Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Joaquim Cardozo, João Cabral de Melo Neto, entre outros, produziram obras literárias envolvendo o Capibaribe e seu entorno, ora em tom memorialista, ora em tom de denúncia. Entre os estudos científicos e literários que denunciam esse crime ambiental, optou-se por discutir o literário, uma vez que os conteúdos sociais presentes nas obras literárias, e a influência que tais obras exercem sobre o leitor, pode levar este sujeito à mobilização social (Cândido, 2010). E ainda por acreditar que o literário pode oportunizar aos sujeitos leitores a conscientização e a busca por novos e criativos caminhos. Assim, nesse pensamento, objetivou-se discutir a degradação do rio Capibaribe, a partir da poética de João Cabral de Melo Neto, especificamente através de fragmentos dos poemas: O Cão sem Plumas, O Rio e Morte e Vida Severina, obras que trazem questões relevantes sobre a relação entre o Capibaribe e os seres que vivem no seu entorno. E, assim, contribuir para a formação de sujeitos ecológicos. Utilizou-se como referencial teórico Garrard (2006) que introduz os estudos ecocríticos, a relação entre ser humano e meio ambiente; Cândido (2010) que discute a relação entre a literatura e o social; Capra (2008) que enfatiza o poder da arte enquanto um instrumento poderoso para ensinar o pensamento sistêmico; Carvalho (2012) que traz um estudo sobre a formação de sujeitos capazes de compreender e agir sobre o mundo, entre outros. Para atingir o objetivo a metodologia fundamentou-se em pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico e interpretativista. Os resultados destacaram elementos que constituem velhas práticas de degradação do Capibaribe: a seca que assolou (a) o sertão e também o agreste, sem grandes prejuízos para o rio. A degradação se intensifica na zona da mata, onde o rio que foi outrora, vivo – definha, morre, em virtude de resíduos de engenhos, usinas, outras atividades fabris, ocupação das margens, descaso público com os ribeirinhos, destruição da mata atlântica, substituída pela cana de açúcar. Nesse ambiente, rio e homens-caraguejo se misturam, se maltratam, entrevendo a morte anunciada de ambos.

 

A POÉTICA DA ECOPOESIA E A PERFORMANCE DA CIBERPOESIA DIGITAL EM MOVIMENTO

                                                                  Késia Brasil Pereira Nacif e Maria de Fátima Lima

A proposta desse trabalho é apresentar a pesquisa a poética da ecopoesia e a performance da ciberpoesia digital em movimento a partir das teorias da performance e do imaginário, considerando o ponto de vista estético de textos poéticos que tratam da ecopoesia, a ciberpoesia digital em seu movimento performático e formativo propiciando leitores críticos e criativos. Esta interconexão entre a ciberpoesia digital em movimento dará voz as questões emergentes ambientais, utilizando a arte, poesia e tecnologia como meio para difundir a ecocrítica e suas relações intersemióticas presentes entre o signo poético aos seus leitores e participantes. Apresentaremos a poesia como eixo articulador as questões fenomenológicas da natureza e suas interfaces ocultas na escrita. O estudo se volta para a reflexão sobre aplicabilidade do ensino da arte literária, de forma especial a ecopoesia e da ciberpoesia digital na educação básica por meio da difusão de plataformas interativas e educomunicativas.

 

A DESTERRITORIALIZAÇÃO NA MODERNIDADE COMO PRINCÍPIO DE DEVASTAÇÃO DO SER NATURAL

                                                             Maria Aparecida Rodrigues

A proposta deste trabalho visa a analisar textos literários que sugerem a desterritorialização do objeto artístico como processo, a princípio, de dissimulação do ser natural e a posterior desnaturalização, pela simulação, da natureza viva e figurada. Homem/ Natureza/Obra de Arte formam um único constructo que compõe a semiose da vida em devastação. O primeiro se reifica em coisa diluída em partículas disformes e desconexas, notadamente desfigurada pelo sistema do consumo. A Natureza padece das forças que o modelo de vida do primeiro exerce sobre seu ser – a de ser consumida gradativamente, transformada em mercadoria, em lucro imediatista de poucos. E a obra de arte passa a simular a própria degradação de si e dos outros. O suporte teórico do estudo está relacionado às obras de Zygmunt Bauman, Gilles Deleuze e Jean Baudrilard.

 

A ECOFICÇÃO NA OBRA “A HORA DOS RUMINANTES” ESCRITOR JOSE J. VEIGA E O ACIDENTE COM O CÉSIO 137 NA PINTURA DE SIRON FRANCO

                                                                                                                                                                                      Wanice Garcia Barbosa

A ecoficção na obra “Hora dos Ruminantes” do escritor José J. Veiga, expõe de forma singular a tênue linha entre realidade e ficção. O autor apresenta um mundo muito diferente, estranho, surreal, mas também muito próximo à realidade da vida, pois as atitudes dos personagens fazem uma relação muito clara com os dilemas da vida cotidiana. A narrativa do romance tem como cenário Manarairema, cidadezinha pacata perdida nos confins do Brasil, de povo muito simples, onde as novidades são poucas, até aparecer uma caravana que acampa nas proximidades, ficando ali de forma insólita, incômoda, causando os mais diversos sentimentos entres os moradores da cidade. Tudo começa a mudar desde então. Passam a acontecer fenômenos estranhos e incontroláveis, primeiros os chegam cachorros que lotam todos os lugares, ruas, as estradas, até o infinito. Posteriormente estes, acercam-se os bois provocando mudanças ainda mais profundas, devasta a natureza de tudo, principalmente, a dos homens. Estes acontecimentos inexplicáveis alteram profundamente o modo de vida do lugar. Esta ficção, que beira ao absurdo, está dividida em três partes (A chegada, O dia dos cachorros e O dia dos bois) traz diversas possibilidades de interpretação, seja por embates sociais, culturais e, principalmente sobre aquelas que modificam o ambiente e depois os próprios homens. Estes incidentes provocaram intensas transformações no comportamento e na natureza dos homens. A arte captura aquilo que escapa a consciência do cotidiano, ela anda no descaminho da realidade, capaz de abstrair novas formas de percepção da natureza e do homem.

SIMPÓSIO VI: A ficção especulativa na modernidade e o ecocriticismo

 

UMA LEITURA DE AZUL CORVO, DE ADRIANA LISBOA, PELA PERSPECTIVA ECOCRÍTICA

                                                                   Adriana Gomes Cardozo de Andrade e Adriane Cherpinski

Em meados do século XIX e início do século XX com a intensa expansão do capitalismo, a humanidade modificou drasticamente as suas relações com a natureza e com os animais não humanos, os quais passaram a representar o “Outro”: Thomas Bonnici (2005) define o outro como aquele que se encontra fora do ambiente daquele que fala. A humanidade embora integre a natureza, se coloca em um nível de superioridade, de maneira que define e classifica tudo que é diverso a si. Destituídos de ética e imbuídos da pretensão de acumular riquezas, os indivíduos desmatam áreas nativas, colocam sob risco de extinção diversos exemplares de fauna e flora, poluem os reservatórios e nascentes de água doce e o próprio ar que respiram, ou seja, comprometem todo um ecossistema. Como questionamento a este inadequado comportamento social, as questões ecológicas vêm ganhando espaço no meio acadêmico. Até então, o ser humano era o objeto principal do texto literário. A natureza começa a perder o caráter objetificado, para uso e satisfação da humanidade, e se coloca como um elemento importante na constituição identitária dos indivíduos ao mesmo tempo em que possui sua finalidade de existência própria. Este artigo propõe uma leitura crítica do romance Azul Corvo (2010) de Adriana Lisboa pela perspectiva do ecocriticismo, de maneira a investigar como são construídas e representadas as relações homem-natureza presentes na obra. A metodologia eleita é a análise crítica do romance e da teoria que sustentam esta pesquisa. Para tal propósito, o embasamento teórico está centrado em autores como Cheryll Glotfelt, Fromm Harold, Greg Garrard, Zygmunt Bauman, Stuart Hall, entre outros que teorizam a respeito do tema em questão.

 

A INDOMÁVEL LIBERDADE IMAGINATIVA NA LITERATURA CLARICEANA: “SE PUDESSE TER ESCOLHIDO QUERIA TER NASCIDO CAVALO”

                                                                                              Adriane Cherpinski, Adriana Gomes Cardozo de Andrade e Evely Vânia Libanori

Entre as sombras das trevas noturnas delineia-se uma majestosa e misteriosa silhueta. Não se sabe ao certo se de um cavalo ou de uma mulher. O calor daquele corpo exala a altivez e os segredos do instante-já, ora sinistro, ora doce... dialética intrínseca, fonte de paz e de conflito... Captar cada singularidade momentânea no acervo literário da escritora brasileira Clarice Lispector (1920-1977) torna-se, assim, pois, um desafio. Desafio esse que se intensifica de forma inquietante nas obras Água viva (1973) e Onde estivestes de noite (1974) ou, mais especificamente, nas narradoras que se arrastam ao sabor de seus desejos, abandonando a condição humana para assumir a animalidade do ser que constitui um dos arquétipos fundamentais dentre os que a humanidade inscreveu em sua memória: o cavalo. Assim, tem- se como foco de estudo duas produções literárias de Clarice Lispector: Água viva (1973) e o conto ‘Seco estudo de cavalos’ contido em Onde estivestes de noite (1974). As reflexões giram em torno da figura obsessiva do cavalo, buscando identificar o processo de metamorfose desejada e sofrida pelas personagens das obras, que também são suas narradoras, as quais estão em constante (des)constituição de identidades. A (des)constituição de identidades é uma característica pós-moderna, onde os sujeitos alternam suas identidades em busca de satisfação. Os aspectos metodológicos teórico-bibliográficos pretendem demonstrar que, embora o cavalo assuma simbologias variadas e complexas, nessas obras, suas manifestações se unem e revelam o instante-já, onde as narradoras evoluem da condição humana para a animalizada, num êxtase ritualístico. Os estudos relativos à natureza e suas relações com a literatura, bem como a (des)constituição de identidades do ser humano contemporâneo, fundamentam e permitem a análise dessa metamorfose, tendo em vista que os recortes apresentados justificam e orientam tal interpretação. Diante do exposto, inquieta saber: de que forma a literatura se configura como um espaço de problematização acerca da representação dos animais e sua conexão humana? Ser humano e animal integram o meio ambiente, por isso, um está imbricado no outro com suas necessidades, exigências e ações, constituindo um espaço de interconexões. A produção literária de Clarice Lispector apresenta uma fauna extraordinária em primeiro plano: os animais integram as narrativas enquanto seres dotados de sensibilidade, inteligência e emoções, tais como as personagens humanas. Atualmente, há uma intensa preocupação com a condição animal e a forma com que os humanos estabelecem as relações éticas com estes seres. Os animais estão presentes nas narrativas literárias desde a infância, nos contos de fadas, vivenciando aventuras, virtudes e desvios de caráter próprios da humanidade. Em alguns casos, os animais não ocupam lugar de destaque, mas constituem-se essenciais para compreender valores, confusões, angústias, contextos e fraquezas das pessoas. Os animais são importantes para a existência humana e precisam ser olhados para além de suas superfícies. Embora pareçam previsíveis e limitados, proporcionam uma imensidão de significados e mistérios.

 

A MIOPIA DA RAZÃO E A MIRADA MÁGICA, EM CAMPO GERAL, DE GUIMARÃES ROSA

                                                              Andressa Luciane Matheus Medeiros

A presente comunicação tem como objetivo analisar a novela Campo Geral, de João Guimarães Rosa, do volume I de Corpo de Baile (1964), sob a perspectiva do Realismo Mágico Antropológico da tipologia de Spindler e da Ecocrítica. A novela apresenta como protagonista uma criança, Miguilim, que interpreta o mundo real, mirando a paisagem natural e seus seres de uma maneira profundamente poética – o comum é transformado em excepcional, porém com contornos habituais. Essa interpretação, em grande medida, é motivada pela presença marcante da religiosidade e das crenças populares que exercem a função mitopoética. Por outro lado, Miguilim observa a natureza e seus seres através de uma perspectiva infantil, portanto ignorante das explicações científicas dos fenômenos naturais e sociais, o que o motiva a interpretar a realidade de forma mágica, demudando os aspectos do cotidiano em algo excepcional – como acontece no realismo mágico antropológico. Assim, o menino concebe a natureza e os animais como elementos reveladores e mágicos, é o extraordinários que explica os princípios da natureza humana e da paisagem cultural para Miguilim, as quais são guiadas por um inconsciente cultural. Miguilim é míope e se revela inapto para realizar determinados trabalhos, o que o coloca numa posição mais distanciada em relação ao mundo racional. Da tensão entre cultura e natureza surgem explicações mágicas para os eventos naturais e também são elas que justificam a violência e degradação do habitat natural e de seus seres. A proposta dessa comunicação dedica-se especialmente à análise da paisagem natural representada na obra e a relação estabelecida pela personagem principal da novela com este espaço, uma criança curiosa e imaginativa que reorganiza a experiência cultural na busca de uma integração entre cultura e natureza. A natureza representada também causa espanto e terror, pois as imagens inaugurais para da natureza desse ethos constroem- se dentro de um imaginário ibero-medieval. A experiência e o desejo de integração da criança opõem-se aos hábitos culturais presentes na construção do imaginário dessa comunidade, uma vez que os hábitos baseiam-se crenças religiosas e é ela que institui os valores morais e códigos éticos na condução do cotidiano das personagens, as quais nem sempre se baseiam no princípio de integração entre seres humanos e a natureza.

 

FAUSTO E FRANKENSTEIN: DOIS MITOS LITERÁRIOS NO INÍCIO DO ANTROPOCENO

Klaus Eggensperger

Na Europa, as décadas antes e depois da virada de século em 1800 são marcadas pela revolução industrial – o início daquilo que atualmente chamamos de antropoceno. Aquele desenvolvimento moderno é acompanhado pelas críticas do romantismo, que surge primeiro nos países anglo-germânicos e se espalha rapidamente nas letras e nas culturas europeias em geral. Com Michael Löwy entendemos o romantismo como principal oposição cultural ao modo da vida na nova sociedade capitalista. Nesse contexto surgem dois mitos literários importantes até hoje. Johann Wolfgang von Goethe recria um mito renascentista em torno das figuras Fausto & Mefistófeles, enquanto Mary Shelley desenvolve com a dupla Frankenstein & Criatura uma constelação nova. Na nossa apresentação traçamos paralelos principalmente entre o Segundo Fausto de Goethe, publicado em 1832, e o romance Frankenstein da jovem Mary Shelley, de 1818/1831. Essas obras participam de tradições literárias bem diferentes, contudo, ambas estão ligadas ao mito clássico em torno de Prometeu, questionando a criação de humanoides no laboratório pela ciência. As figuras literárias de Fausto e Frankenstein personificam a problemática do homem moderno que pretende a radical transformação do seu mundo físico, moral e social.

 

MITO E IMAGINÁRIO NA ECOFICÇÃO DE MARIETA TELES MACHADO

                                                                                                              Iracema Maria da Trindade Hidasi e Maria de Fátima Gonçalves Lima

Mito e Imaginário na ecoficção de Marieta Teles Machado a partir das teorias do imaginário, da ecoficção e do ecocriticismo, uma vez que o autora assinala o espaço do cerrado goiano e faz uma reflexão sobre a cultura, o povo de Goiás, as lendas, a linguagem. A autora apresenta ainda, um olhar sobre o bioma cerrado de forma lírica, imagética e mítica. Nesse sentido sua obra enriquece a mitologia brasileira, criando personagens que retratam a historiografia e natureza com sua fauna e flora.

 

LINGUAGENS INTERARTÍSTICAS DA MEMÓRIA, O IMAGINÁRIO E A ECOCRÍTICA NAS OBRAS: “A DANÇA ESQUÁLIDA”, “RAPTO DE MEMÓRIAS” E CICATRIZES DO RISCO” DE AUTORES BRASILEIROS GOIANOS

                                                                                                                           Liliam Vilhena Di Cesar Lima Motobu e Gilberto Mendonça Teles

A pesquisa tem por objetivo apresentar a ecocrítica nas linguagens literárias do teatro nas obras: “A Dança Esquálida” do teatrólogo Hugo Zorzetti, no romance “Rapto da Memória” de Maria de Teresinha e “Cicatrizes do Risco”, de Cida Rodrigues que dialogam com o imaginário, dando enfoque à paisagem que torna a figura em forma de denúncia da degradação ao meio ambiente e do homem, e o estético a partir da desconstrução do espaço imagético atendem os modos de construção da obra de arte contemporânea. O presente estudo tem como viés a reflexão e a aplicabilidade das teorias do imaginário e a memória considerando o comparativismo dos estudos interartísticos de tais obras e sua aplicabilidade no ensino. 

 

AS NARRATIVAS DA TRADIÇÃO ORAL NO AMAZONAS E OS LIMITES ECOLÓGICOS

    Maria Celeste de Souza Cardoso, Mary Tania dos Santos Carvalho, Charlene Maria Muniz da Silva e Alem Silvia Marinho dos Santos

Esta proposta pretende apresentar narrativas amazônicas expressas nas diversas formas de comunicação e linguagem representada por gruposs tradicionais diversos, os quais demonstram em suas histórias, mitos e contos os limites ecológicos tanto hoje discutidos por esse novo ambientalismo. Estas narrativas apontam para o respeito ao tempo natural para recuperação e mantuteção dos processos ecológicos necessários à vida do homem e de outras espécies no planeta. A modernidade torna-se o pano de fundo para uma discussão pautada na demonstração de que é possível a convivência da tradição e o moderno mesmo nesse marcante momento do período do antropoceno, de fortes dicotmias entre homem e natureza. Assim, a partir da experiência de um grupo de pesquisa interdisciplinar que também utiliza narrativas orais como fonte de compreensão da realidade, pretende-se demonstrar a experiência de discutir e trabalhar sustentabilidade em território amazônico. Dessa maneira, o ecossistema amazônico não é representado somente pela biodiversidade, mas também por múltiplas culturas de povos tradicionais que expressam em sua linguagem e narrativa ancestrais uma busca pelo o equiíibrio ecoóogico, tanto discutido e pensado na modernidade.

 

POÉTICA DAS PEDRAS

                                                                    Marta Bonach e Ulysses Rocha Filho

Escritura poética pinta quadros na memória e encaminha quem lê a pensar e se inquietar com a obra escolhida. Amparo-me nesta premissa para propor, neste estudo, investigação sobre a obra poética de Ana Lins dos Guimarães Bretas (Cora Coralina), filtrada no olhar de hoje desde sua produção, suas particularidades e suas complexidades no campo da poesia que enriquecem a literatura brasileira produzida em Goiás. Nesse sentido, a pesquisa se propõe a realizar estudo interpretativo sobre as escrituras, expressividade lírica de seus textos poéticos presentes na obra: Minha Cidade (Coralina, Cora. Poemas dos Becos e Estórias mais. São Paulo: Ed. Global, 1965). ssim, será traçado na apresentação o valor estético/artístico, utilizando fortuna teórica dos autores: DURND (2001), TELES (2003), PZ (1982), a fim de explorar os traços poetizados das descrições históricas, humanas e belezas naturais da terra, com a carga poética marcada por uma força advinda do coração do Brasil. Dessa forma, serão enaltecidos os ermos memorialísticos goianos, a antiga capital de Goiás, com suas pedras, seus becos e histórias mais.

 

VOZ DA POESIA DE CORA CORALINA

Marta Bonach Gomes e Gilberto Mendonça Teles

A escritura poética pinta quadros na memória e encaminha quem lê a pensar e se inquietar com a obra escolhida. Amparo-me nesta premissa para propor, neste estudo, uma investigação sobre a obra de Ana Lins dos Guimarães Bretas (Cora Coralina), filtrada no olhar de hoje desde sua produção, sua particularidade e suas complexidades no campo da poesia que enriquece a literatura brasileira. Nesse sentido, a pesquisa se propõe a realizar um estudo sobre as escrituras de seus textos poéticos. Assim será traçado na apresentação o valor artístico dos textos líricos, explorando os traços poetizados das descrições históricas, humana e belezas naturais da terra, com a carga poética marcada por uma força vinda do coração do Brasil, que enaltece os ermos goianos, a antiga capital de Goiás, com suas pedras, seus becos e histórias mais.

 

GRANDE SERTÃO: VEREDAS, UM INVENTÁRIO DA AVIFAUNA COMENTADO

              Willian Dolberth

Para o leitor comum a enumeração de uma diversidade de aves pode dissolver-se em uma massa amorfa dentro do emaranhado simbólico do Grande Sertão: Veredas, aparentando estas possuirem um valor secundário na narrativa, avessos ao léxico e a práxis urbana. O birro é um pica-pau (Picidae), o cãcã um falcão (Falconidae), o tempo-quente um cuco (Cuculidae), a fogo-apagou uma pomba (Columbidae), a suindara uma coruja (Tytonidae), o quem-quem uma gralha (Corvidae) e a xenxém uma marreca (Anatidae). Desavisado, um leitor pode distrair-se e surpreender uma pomba rapinando um coelho, um falcão fartando-se no pé de araticum ou pior: não interpretar nenhum dos signos ecológicos empregados por Rosa. O presente trabalho se propõe a inventariar as aves citadas no romance Grande Sertão: Veredas, classificando-as de acordo com o uso assinalado pelo autor e traçando um panorama do processo criativo que as levou até as páginas do livro; nosso objetivo é desvelar a natureza da representação da avifauna na obra, uma alternativa holística e ecologicamente consciente de leitura em oposição a perspectiva antropocêntrica que trata os elementos naturais de maneira opaca e pitoresca. Em um primeiro momento verificamos a ocorrência das aves no romance através de uma leitura orientada por manuais como os produzidos por SICK (2001) e SIGRIST (2007), assim como sites especializados nos nomes taxonômicos e populares das espécies brasileiras como o Wikiaves. As ocorrências identificadas foram separadas em aves genéricas (pássaro, arara, urubu etc), aves específicas (sabiá-ponga, jesus-meu-deus, manuelzinho-da- crôa etc), localidades (Serra das Araras, Várzea da Ema, Chapada da Seriema Correndo etc), personagens (Acauã, João Concliz, Federico Xexéu etc), flora (araçá-de-pomba, canela-de- ema, rabos-de-galo), interjeições (ave!) e verbos (beija-florar, galinholar, periquitar). Em um segundo momento expomos a perspectiva ecológica de Rosa, realçando a relevância do tema por nós escolhido através de dois documentos: o minucioso processo de inventário realizado em uma de suas expedições pelo sertão (publicados sob o título de “A boiada”) e o exaustivo exercício registrado nas correspondências trocadas com seus tradutores buscando les mots justes para traduzir os elementos naturais que compõem o Grande Sertão. A partir destes é possível reconhecer, em parte, o complexo processo de criação roseano, uma amálgama de ciência natural e cultura popular originando uma mimese da natureza que fecunda diversos outros motivos dentro da obra. Para dimensionar o conhecimento ecológico de Rosa e exemplificar como ele se desenvolve no romance destacamos algumas manifestações exemplares da avifauna presente na obra em nossa análise final, com o objetivo de partilhar os resultados de nosso estudo e instigar novas publicações que tematizem a ecocrítica na literatura brasileira.

 

COMUNICAÇÕES ORAIS INDIVIDUAIS

 

ANCESTRALIDADE E “CONVIVÊNCIA” NO ALTO NHAMUNDÁ/AMAZONAS/BRASIL: A ORALIDADE KASAWÁ E A CHEGADA DAS TIC’s

                                                                                    Eliana Duque de Souza, Mary Tânia dos Santos Carvalho e Edinelza Macedo Ribeiro

Explicitamente a linguagem humana é o resultado da cultura sendo assim a possibilidade de difundir a mesma, visto que o homem é o produtor da difusão da própria cultura e assim vão transformando seu próprio ambiente e acompanhando o avanço do mundo da globalização e mudanças são trazidas por este. Neste sentido, o referido artigo vem abordar sobre a cultura indígena frente a era digital, com o objetivo de saber quais mudanças ocorreram na comunidade Kasawá com a chegadas das TIC’s, identificando suas utilidades na referida comunidade. O objeto de pesquisa foi a Comunidade Indígena Kasawá-Alto Nhamundá Baixo Rio Amazonas/Brasil. Na pesquisa de campo observou-se o uso frequente das TIC’s nas casas dos moradores, o resultado foi colhido através dos questionários aplicados para os moradores os quais foram tabulados e analisados demonstrando que de fato se fazem presentes os meios de informação e comunicação e que, mudanças obtiveram diante da chegada destes meios na comunidade indígena, principalmente referente à sua cultura que, deixaram de vivenciá-la para vivenciarem a do branco. Além dos meios de comunicação e informação um dos fatores que também ocasionou essa situação foi a chegada da religião, a comunidade esqueceu aquilo que há tempos tinha aprendido com relação a lendas e mitos, já não mais acreditam nessas coisas, pois dizem que é coisa do demônio. Ficando claro assim, que a influência das TIC’s apresentou seu ponto negativo e seu ponto positivo principalmente na educação, pois hoje os indígenas estudam na sua própria comunidade através dos meios tecnológicos oferecidos pelo estado.

 

O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES LEITORAS DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL POR MEIO DOS POEMAS DE THIAGO DE MELO

                                                               Carlos Richer Braga Maia, Marcilene da Silva Nascimento Cavalcante e Solano da Silva Guerreiro

Como sabemos a literatura nos motiva a “viajar” por meio da imaginação, uma vez que as leituras proporcionam o contato com situações reais e fictícias de e no mundo, das mais variadas, estando estas presentes não somente na realidade diária – meio social e natural – do leitor, mas, em seu imaginário, possibilitando que este desperte e manifeste os mais variados sentimentos, pois, o contato com textos, independentemente do seu gênero e ou tipologia possuem este “poder”. Neste sentido, foi pensado e desenvolvido um projeto didático- pedagógico sobre leitura e literatura, que teve por título: Formando leitores com Thiago de Mello, realizado em uma das escolas da rede municipal de ensino de Benjamin Constant, que teve como um dos objetivos proporcionar aos alunos o contato com poemas do autor Thiago de Mello, com o intuito de desenvolver as suas habilidades leitoras. Para tanto, foram selecionados dois poemas, sendo estes: A lenda que come gente e A garça, poemas, estes, que serviram de base para o desenvolvimento das atividades leitoras. Nesse interim, para alcançarmos o que propunha o projeto nos apoiamos nas bases teóricas apontadas por: Antunes (2013), Candido (2004) e Maia (2007), dentre outros. Com isso, utilizamos a ideia de desenvolver as leituras por meio da aprendizagem significativa, visto que a ideia era a de (re)significar as leituras de acordo com a realidade individual e ou coletiva dos alunos, contextualizado com o meio natural amazônida de sua vivência e experiência. Portanto, como resultados alcançados ao longo do desenvolvimento das atividades do projeto podemos apontar: os alunos do ensino fundamental que participaram das atividades de intervenção do projeto puderam desenvolver suas habilidades leitoras por meio da leitura silenciosa e em seguida oralizada de textos, interpretando-os e contextualizando-os de forma assistida, momento em que ocorreu a orientação dos mesmos para os fato de que os textos trabalhados transmitem situações reais e fictícias que ocorrem no mundo.

 

MULHER E NATUREZA EM NÉLIDA PIÑON: UMA ANÁLISE DOS ROMANCES MADEIRA FEITA CRUZ, A CASA DA PAIXÃO, A FORÇA DO DESTINO E VOZES DO DESERTO

                                                            Marina Rodrigues de Oliveira

Nélida Piñon insere-se na narrativa contemporânea como uma autora que aborda, em suas obras, a relação entre o feminino e a natureza, inserindo-se, portanto, dentro do ecofeminismo, termo introduzido pela socióloga feminista Françoise D’Eaubonne, cujos estudos terão como principal preocupação a relação entre homens, mulheres e o ecossistema, encontrando-se inseridos em meio a um contexto de gradual processo de problemas ambientais, conforme salientam Maria Mies e Vandana Shiva, em Ecofeminism (1993, p. 13). Na América Latina, as questões relativas ao ecofeminismo passam a ter maior destaque durante a década de 1990, quando em vários eventos, a exemplo da ECO 92, promovida pela ONU, no Rio de Janeiro, surgem os primeiros debates acerca do tema, em fóruns organizados por grupos de mulheres. Considerando esta realidade, o presente trabalho visa a estudar este aspecto nos romances Madeira feita cruz (1963), A casa da paixão (1972), A força do destino (1977) e Vozes do deserto (2004), no intuito, ainda, de observar o quão o discurso feminino, na obra de Piñon, reveste-se como uma oposição à voz patriarcal, através de recursos estilísticos como a intertextualidade e a paródia, por meio de suas personagens principais, respectivamente, Ana, Marta, Leonora e Scherezade. Para embasar o referido estudo, serão utilizadas as contribuições teóricas de Antonio Candido (1989; 2013), Maria Mies e Vandana Shiva (1993), Elizabeth Mayer (1994), Ivone Gerbara (1997), Mariana Correia Mourente Miguel (2008), Angélica Soares (2009), Loreley Garcia (2009), Neiva Kampff Garcia (2009), Maximiliano Gomes Torres (2009) Mary Judith Ress (2010), Carolina Machado Moreira (2013) e Eny Araújo Rocha (2014).

 

DA LITERATURA SIMBÓLICO-IMAGÉTICA À EXTINÇÃO DOS BOTOS NA AMAZÔNIA

                                                                         Antonio Carlos Batista de Souza, Rosane de Almeida Resende e Ana Paula Bastos da Silva

A literatura amazônica foi construída dentro de um espaço mítico. Do olhar dos conquistadores e dos naturalistas emergiu um universo fantasioso. Sobre o geográfico-cultural sobressaíram os devaneios que construíram as primeiras figuras básicas de um imaginário idílico: as Amazonas, o Eldorado e o Maligno. Construídos e reconstruídos na força da oralidade, a cultura amazônica desde a chegada dos primeiros navegantes apresentou uma discursividade delirante sobre a água e a floresta. Nessa simbiose de inferno e paraíso emergiram as lendas contadas de geração a geração como a lenda do boto, com o poder de se metamorfosear, seduzir e engravidar as jovens. Mas esse universo de encantamento choca-se cada vez mais com a modernização. O imaginário se fragmenta. Esse choque com a modernidade introjeta na Amazônia outra visão de mundo ao considerar o poder do pajé, a panema, os contos e lendas como superstições que devem ser descartadas na busca do conhecimento verdadeiro. Essa ruptura com o presente está diretamente relacionada com o avanço do protestantismo à visão de mundo católica fragilizando e tensionando esse tradicional modo de vida. Além de afirmar que um conjunto de crenças relacionadas ao ambiente encantado está sendo perdido na conversão, objetiva-se compreender o mais recente comportamento territorial na Amazônia, caracterizado pela matança de botos utilizados como iscas para a pesca de espécies de peixe liso como a piracatinga. Estudos demonstram que a população de botos na região caiu pela metade nos últimos dez anos devido à caça predatória. A metodologia para a construção desse artigo fará uma análise bibliográfica das obras clássicas e contemporâneas que registraram o simbolismo e a tradição oral do universo amazônico. Posteriormente a partir de uma análise documental, de forma qualitativa e quantitativa, comparar as múltiplas realidades que estão entrando em conflito no interior da floresta. Modos de vidas e visões divergentes que podem estar contribuindo para o extermínio dos botos.

 

DIÁLOGO COM A ECOLOGIA EM A DURAÇÃO DO DIA, DE ADÉLIA PRADO

                                                                                                                                                     Marta Botelho Lira e Rita Barbosa de Oliveira

Adélia Prado é uma escritora contemporânea nascida em Divinópolis, Minas Gerais, no ano de 1935, ganhadora de alguns prêmios literários, por exemplo, o Prêmio Jabuti, em 1978, e o prêmio de literatura do governo de Minas Gerais, em 2017. Sabe-se que na obra da autora mencionada, são problematizados alguns temas sobre a necessidade de descobrir que a vida cotidiana se constitui de elementos sagrados, que, na verdade, dela são inseparáveis. O sagrado, neste caso, corresponde aos momentos em que o homem se desprende do ritmo do trabalho automatizado e exaustivo, e olha para si, para as outras pessoas, para a natureza e constata que tudo se liga e se pertence em determinadas esferas biológicas, sendo possível observar o sagrado nos elementos do cotidiano quando o indivíduo rompe com o modo de viver predominantemente fragmentado. Esta comunicação tem como objetivo apresentar o modo como Adélia Prado, no livro de poemas A duração do dia, trata de forma poética a ecologia. A fundamentação teórica é respaldada na ideia de ecosofia, de Félix Guattari, no livro As três ecologias, pela qual ele discute a respeito da necessidade de os homens realizarem “uma articulação ético-política [...] entre os três registros ecológicos (o do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana)”, a fim de evitar o perigo da destruição que as transformações técnico-científicas têm provocado na sociedade e no ambiente (GUATTARI, 1993, p. 8). Os poemas “Como um parente meu, um Riobaldo”, “Fosse o céu sempre assim” e “Da mesma fonte” fazem referência a essas questões ecosóficas, conforme se pretende demonstrar.

 

ZEN, HAIKAI E MEIO AMBIENTE

Fernanda Bezerra de Aragão Correia

O tema da natureza sempre foi caro tanto a filósofos quanto a poetas. Este artigo busca um diálogo entre meio ambiente e literatura por meio da construção de um espaço interdisciplinar. Abrir um espaço de entremeio, que só será possível a partir do pensamento francês contemporâneo do filósofo Maurice Blanchot, para então poder confluir o discurso ecológico com o discurso literário a partir do viés da chamada “ecocrítica”. Articulados os discursos, tomamos como objeto de estudo as formas poéticas de origem oriental haicais para nelas desvelar-lhes as potências da natureza e suas experiências-limite. Uma literatura que anseia chegar mais perto do meio ambiente e convida-a a dançar, assim pondo tudo em movimento, fabricando novas imagens da natureza. Entre meio ambiente e literatura, far-se-á um estudo topofílico possível a partir do filósofo Gaston Bachelard para, desta relação, (re) pensar o lugar do sujeito no mundo. Toma-se justamente a transversalidade inerente à topofilia para abordar a relação homem-mundo e como essa relação deságua no discurso literário, se presentificando na composição haikai.

 

O ANTAGONISMO DA ENTIDADE-RIO NO IMAGINÁRIO CONSTRUÍDO EM HISTÓRIAS DO RIO NEGRO, DE VERA DO VAL

Jandir Silva dos Santos e Cássia Maria Bezerra do Nascimento

Esta pesquisa realiza a leitura dos contos Águas, Rodamundo, A cunhã que amava Brad Pitt e Curuminha, todos presentes na obra Histórias do rio Negro, de Vera do Val, a partir das concepções que Torres (2001) oferece acerca da teoria da residualidade, especificamente sobre o conceito de imaginário e sobre a forma como a autora paulistana apropriou-se do imaginário amazônico a fim de construir em sua ficção o rio Negro como uma entidade divina que, nessas narrativas, acaba antagonizando com o ribeirinho concebido pela autora ao mesmo tempo em que constitui, enquanto ser-água, sua principal forma de subsistência. Para que sejam estabelecidos elos residuais entre ambos os imaginários: o dos antigos ibéricos e o da obra de do Val, serão traçados paralelos entre entidades semelhantes que surgem em episódios específicos da mitologia greco-romana tais como registrados por Commelin (1988), Carmem e Seganfredo (2003) e Bulfinch (2006), a exemplo do deus-rio Aquelau, que disputa com o semideus Hércules a mão da donzela Dejanira; a revolta do rio Escamandro contra o herói Aquiles, que o poluía com o sangue de seus inimigos; e a inimizade de Ulisses e Polifemo, ciclope que personificava o aspecto selvagem da água. Tais episódios serão necessários na composição do ente-rio antagônico, tal como observado nos textos em Histórias do rio Negro, nos quais acompanhamos um caboclo idoso que passa seus dias tentando provar-se digno dos favores do rio Negro (Águas), ao passo que supera o fato de a entidade ter-lhe tomado todos os quatro filhos (Rodamundo); vimos também como o deus-rio amazônico mostra-se uma manifestação masculina e possessiva, necessitando tomar como sacrifício jovens ribeirinhas (A cunhã que amava Brad Pitt e Curuminha).

ORGANICIDADE DE LUTA E RESISTÊNCIA CAMPESINA DA REGIÃO SUL E SUDESTE DO PARÁ: ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ALTERNATIVA AGROECOLÓGICA

Rosinete Silva Macedo e Hélio Loiola dos Santos Júnior

Este trabalho objetiva apresentar uma discussão sobre a questão das formas de organicidade produtiva aliada com técnicas ambientais agrícolas do campesinato no sul e sudeste do Pará, inserida em um processo de disputa de território, por um lado a expansão do agronegócio e do capital industrial, e, por outro, a luta de resistência dos trabalhadores do campo. Tendo como foco os processos de produção camponesa imersos a contextos de capitalização do campo, visibilizando as formas estratégicas e técnicas de produção imbricadas numa lógica agroecológica desenvolvida por pequenos agricultores da região como forma de enfrentamento a capitalização do campo. Os dados apresentados foram coletados em um trabalho de campo qualitativo exploratório, em que foi realizada entrevistas semiestruturadas com agricultores e representantes de organizações e entidades no e do campo, A pesquisa ocorreu em alguns lugares representativos dessa disputa: empresas, multinacionais e assentamentos. A visitação foi realizada junto a turma de educação do campo da Universidade Federal do Pará, organizada por professores da turma. Como resultado, o processo investigativo denotou que mesmo com as contradições do contexto campesino, os agricultores criam um universo dinâmico de estratégias de organicidade de produção coletiva no viés da sustentabilidade da comunidade, A princípio tais estratégias e técnicas se pautam em ações para resolução de problemas pontuais que evoluem para ações mais sofisticadas de organicidade de produção agroecológica de coletividade. Foi observado que essas técnicas e estratégias de organicidade de produção são símbolos de luta e resistência dos agricultores em se manterem no campo autonomamente na disputa por territorialidade e de mercado. Desse modo, apropriar -se de técnicas de produção no viés da sustentabilidade da coletividade é fundamental para estimular a ação responsável ecossocial tendo em vista uma formação de consciência ambiental.

 

DOCES LEMBRANÇAS: A LITERATURA COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO DA TRAGÉDIA DO RIO DOCE

Teresinha Gema Lins Brandão Chaves

Na busca do entendimento da relação homem e meio ambiente, a literatura suplanta seu papel de representação subjetiva de objetos das ciências, para constituir-se espaço de convergência e diálogo de diversas áreas do conhecimento. No que se refere à problemática das águas, é possível reconhecer por meio de narrativas literárias, processos de ordem física, social e cultural, causadores de desastres ambientais. É o que ocorre nos estudos relacionados com o maior desastre ambiental ocorrido no Brasil: o rompimento da barragem de contenção de rejeitos da mineradora SAMARCO/BHP Billiton, localizada no estado de Minas Gerais. Ocorre que, o Brasil, segundo maior produtor de ferro do mundo, passou a ser palco da gradativa destruição e morte do Rio Doce, o “Nilo brasileiro”, ao longo de seus 853 km de extensão, que banham 40 cidades. As consequências socioambientais advindas pela lama química depositada em sua margem e leito e que deságua no Atlântico são imensuráveis. No entanto, a paisagem natural, tal como era, sobrevive na literatura, em romances, contos e versos, que nos fornecem elementos para a reflexão sobre a relação homem e natureza nesse contexto. Portanto, propomos neste trabalho, por imagens e registros literários, descortinar o passado e a realidade prevalecente na região do Rio Doce, expandindo a reflexão para outros ambientes, também vitimados, pela ação degradadora do homem.

 

APRENDIZAGEM DA LÍNGUA E CULTURA DE HERANÇA UM ESTUDO DE CASO DA ESCOLA JAPONESA DE MANAUS

Ruchia Uchigasaki

No Brasil, a educação de língua japonesa para jovens no período anterior ao fim da II Guerra Mundial (1945) se deu na escola japonesa com ensino de língua nacional e matemática para os filhos de imigrantes japoneses para que estes pudessem acompanhar a vida escolar ao retornar ao Japão. De 1945 a 1960, na escola de japonês a disciplina "língua nacional" foi transformado para "língua de herança", na transmissão de língua e cultura japonesa (SASAKI, 2003; EHARA, 2006; SHIBARA, 2016). Desde então, na década de 1970, com a diminuição do uso de japonês em casa, começaram a aparecer descendentes de japoneses que não sabiam falar japonês e na década de 1990, na medida em que aumentavam aprendizes nikkeis (descendentes de japoneses) que não sabiam falar japonês, a educação de língua japonesa foi transitando de “japonês como língua de herança" para "japonês como língua estrangeira"(SHIBARA, 2016). Por outro lado, os alunos não descendentes de japoneses continuaram a aumentar devido à popularidade da cultura pop japonesa, como animação, mangá e jogos. Nas instituições de ensino fundamental de Manaus são 5 escolas que se ensinam japonês. Entre eles, Escola Japonesa de Manaus é uma escola, diferente das outras, reconhecida pelo Ministério da Educação do Japão. Nela há dois cursos: um integral e outro de cultura japonesa. O curso integral é direcionado aos filhos de japoneses residentes temporários que foram enviados do Japão. Esta escola segue de acordo com o procedimento de aprendizagem publicado pelo Ministério da Educação do Japão. Já o curso de cultura é direcionado para nikkeis e brasileiros não descendentes com objetivo de melhorar suas habilidades práticas de japonês, aprofundando a compreensão da cultura e da vida escolar japonesa. Nele além da aula de japonês, há aulas de ginástica, natação, arte, música e caligrafia. Atualmente (dado de fevereiro de 2018), no curso de cultura havia 12 alunos matriculados de 2° ao 7° ano do ensino fundamental, e a maioria são nikkeis de 3° e 4° geração de descendentes de japoneses. À medida que avança as gerações, cresce o número de crianças que compreende menos japonês ao entrar na escola. Este artigo tem como objetivo analisar o significado e os desafios sobre a aprendizagem de língua e cultura de herança realizada por meio das atividades de aprendizagem na Escola Japonesa de Manaus no período de abril de 2017 a março de 2018. Por meio de atividades de aprendizagem e eventos, as crianças aprendem não apenas língua e cultura japonesa. Elas também aprendem disciplina, respeito, bons costumes, mas podem fazer se sentirem desnorteadas com a diferença entre a escola japonesa e a escola brasileira o que não deixa de ser um lado de efeito perverso ao idealizar o Japão. Eu penso que será importante adquirir diversos valores e remover os estereótipos por meio do aprendizado da língua e cultura japonesa com a compreensão da diversidade cultural e do reconhecimento da cultura brasileira.

 

A VORAGEM DOS SERINGUEIROS NA LITERATURA LATINO-AMERICANA

                                                                                                                                                                                Ingrid Karina Morales Pinilla

Neste trabalho se analisa a abordagem sobre Amazônia na novela La Vorágine, A Voragem, em português, do escritor colombiano José Eustasio Rivera. É uma história de paixão e vingança, tendo como marco principal a Amazônia colombiana, na fronteira com Venezuela e Brasil, que denuncia ao longo da trama as difíceis condições de vida dos seringueiros escravizados no ciclo da borracha. A floresta é mais que um tema, é uma personagem onipresente e perversa, é o cenário, é o mistério, é o caminho e é a chegada. O protagonista e narrador, Arturo Cova, vai em busca de sua amante na selva, o que permite a descrição detalhada desse espaço. Assim, abre-se uma brecha para revelar o trato dado aos seringueiros por meio de uma narração que, em todo momento e de todas as formas, faz alusão ao seu nome, uma voragem, turbilhões, paixões e aglomerações confusas. Considerada uma das mais importantes do modernismo latino-americano, esta novela foi publicada em 1924 a maneira de denúncia, sendo uma tentativa de expor ao mundo a difícil situação dos seringueiros. Propósito que tem como antecedente o ano de 1922, quando Rivera foi nomeado secretário advogado da Comissão Limítrofe Colombo-Venezuelana. Nesse cargo, o autor conhece a precária situação e o abandono dos habitantes da região. Indignado, começa escrever artigos e denúncias expondo a situação que era vivida na selva. Suas reclamações foram tratadas com indiferença e foi só através de A Voragem que conseguiu chamar a atenção do público. Embora a sociedade não tenha mudado muito desde então, a literatura continua exercendo uma função humanizadora, ligada à complexidade da sua natureza. Em vista disso, o desenvolvimento desta análise, tem no teórico brasileiro Antonio Candido seu principal suporte: o discurso literário como fonte de conhecimento sociocultural, humanização e denúncia.

LITERATURA E ECOCRÍTICA: UMA LEITURA DO CONTO “A CERCA”, DE ASTRID CABRAL

Neivana Rolim de Lima

Proponho neste estudo um diálogo interdisciplinar entre Literatura e Ecocrítica, por tal razão, apresento aqui um dos fenômenos que assombram a nossa sociedade há bastante tempo, o desmatamento. Para investigar este fato, analiso um conto da obra literária Alameda (1998), da escritora amazonense Astrid Cabral, intitulado A cerca. Segundo Maria do Socorro Pereira Almeida (2008) a Ecocrítica é “uma vertente da crítica literária, que busca no texto literário uma perspectiva ecológica, uma nova visão da literatura, na qual a natureza, o espaço, a terra e o homem são vistos de modo mais profundo e humanístico (ALMEIDA, 2008, p.10). Com base na assertiva anterior, afirmo que Ecocrítica e o seu estudo podem ser válidos e enriquecedores para a compreensão dos textos literários, tendo em vista a existente necessidade de que os textos apresentem uma vertente verossímil, ou seja, que esteja próxima da realidade do leitor. É partindo desse pressuposto que a Ecocrítica encontra o seu escopo, reafirmando o fato de que os textos literários precisam estar em consonância com a realidade do tempo em que os sujeitos estão inseridos. Por intermédio da apreciação da narrativa elencada anteriormente, pretendo mostrar como a crítica aos assuntos ecológicos pode caminhar lado a lado com a literatura e, como esta relação se estabelece na ficção astridiana. Na obra de Astrid Cabral, é possível fazer a leitura por dois olhares, com o olhar voltado para as plantas, para as árvores, em seus ambientes primários e sensações em relação à natureza e também há a possibilidade de olhar para os mesmos seres como personagens que exprimem os sentimentos dos seres humanos, bem como, refletem os seus comportamentos, as duas maneiras se fazem possíveis pelo viés existencialista da obra. Dito isto, adoto como pressupostos teóricos as contribuições Antônio Paulo Graça (1998), Allison Marcos Leão da Silva (2008), Maria do Socorro Pereira Almeida (2008) e Francisco Neto Pereira Pinto e Hilda Gomes Dutra Magalhães(2013).

 

MIGRAÇÃO E INFÂNCIA: ANÁLISE DOS PERSONAGENS MENINO MAIS NOVO E O MENINO MAIS VELHO EM VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS

Nilva Oliveira dos Santos e Leonardo Oliveira Galiano

O objetivo deste trabalho foi relacionar, dentro da temática Meio Ambiente, a perspectiva humana registrada na ficção literária de Graciliano Ramos, a saber a obra Vidas Secas; com o fenômeno da migração em geral, a infantil em particular. Para isso categorias como identidade, globalização, práticas político-estéticas e cidadania serviram aos propósitos desta abordagem, de modo a perceber nos Estudos Culturais uma forma diferenciada por conter nestas mesmas categorias as problemáticas relacionadas à identidade cultural mediante a “crise da identidade” e os processos de migrações livres (HALL, 2003). As colaborações de Stuart Hall se somaram às de Spivak (2010), embora nesta última se encontraram outros pontos críticos acerca dos Estudos Culturais, como a pretensa ideia de representar “consciência” dos grupos subordinados nos debates emergentes. Assim, antes de se pretender revelar os efeitos da migração na identidade dos personagens de Vidas Secas de modo que apenas se permitisse- lhes “dar voz”; este trabalho foi fruto de estudo interdisciplinar em interface com Geografia, ao tratar de barreiras enfrentadas pelo migrante com a realidade que o cerca, bem como suas interações com a estrutura social e os processos condicionantes (SANTOS, 1999). A partir desta obra modernista, interligaram-se à ficção e à cultura ao aspecto socioambiental, presente na pauta geográfica emergente. Para isso foi selecionado o romance do Modernismo da geração de 1930 escrito por Graciliano Ramos, didaticamente debatido acerca do pertencimento ao ciclo da seca, e consequentemente a interpretação de um forçoso movimento migratório dos nordestinos. Nesta obra, a descrição dos personagens que vagam em círculos pela caatinga, desprovidos de cidadania acresce-se ao fato de terem sidos silenciados e na ausência de políticas públicas que os atendam. Aliás, muitas ações políticas surgiram, mas reforçavam a denominada “indústria da seca”, de modo que a perpetuava bem mais do que a erradicava. Enfocou-se principalmente nas personagens mirins por decorrer do limite existencial dos mesmos para se forjarem numa identidade migradora. Percebeu-se que o modelo de sociedade capitalista, segregada, com ausência de políticas públicas impactam muito mais no destino dos personagens do que os fatores ambientais isolados. Além de ser possível apontar que as identidades não são estáticas à condição migratória.

 

TEKO PORÃ: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO ECOCRÍTICO A PARTIR DOS POEMAS DE BRÍGIDO BOGADO

                                                             Ligia Karina Martins de Andrade

O presente estudo analisa a cosmovisão indígena presente no conceito de Teko porã a partir da antologia Ayvu i, do autor Mbya Guarani Brígido Bogado. Este conceito perpassa uma concepção de território relacionado à beleza e ao bem, o que revela uma concepção estética e ética dos povos indígenas com relação aos recursos naturais e ao sagrado, sendo que o homem faz parte desta ideia central. Desde a perspectiva da Ecocrítica e de sua interface com as artes e a literatura, discutiremos os dados obtidos a partir de duas experiências distintas, mas interrelacionadas. Uma delas, a partir de um curso de graduação ministrado na Unila, na disciplina “Fundamentos de América Latina III”, na qual se discute a questão dos recursos naturais, da economia e da devastação da Natureza com o público universitário a partir da leitura do artigo de Bartolomé Meliá “El Buen vivir se aprende” e da exposição de Ticio Escobar “La belleza de los otros”. A partir destas leituras e vídeos, observaremos a relação dos povos originários e a manutenção do que poderíamos denominar uma filosofia de vida – o Teko Porã. A relação equilibrada e harmônica com a natureza, os homens e os deuses contrasta com as formas de instauração do poder colonial na América e as formas do Capital atual que visam à depredação e à expoliação dos recursos. Isto acarreta como consequência direta a morte dos homens, dos seres sencientes e de uma perspectiva encantada de mundo. A outra experiência relaciona-se a uma tentativa de relacionar a reflexão levada adiante nesta disciplina com uma experiência de extensão do projeto “Literatura e Ecocrítica na Escola III” que apresenta os poemas do Mbya Guarani Brígido Bogado aos estudantes de um colégio público da região de Foz do Iguaçu, além de outras atividades, com o objetivo de construir com o(a)s envolvido(a)s uma agenda que envolva a produção de “a(r)ti-vidades”e que possa levar a uma reflexão mais profunda das formas de colonialidade do saber, poder e da natureza, as quais os povos do Continente foram subjugados pelo poder colonial até os dias atuais e as soluções presentes na cultura indígena para tal problemática.

AS IMAGENS DA NATUREZA GALEGA E AS SUAS REPRESENTAÇÕES NA POESIA DE CLAUDIO RODRÍGUEZ FER

                                                                                                                                                                                              Saturnino Valladares

O principal objetivo deste trabalho é realizar uma análise aproximativa sobre as imagens da natureza galega na poesia de Claudio Rodríguez Fer – autor que desenvolve sua obra poética em língua galega – e refletir sobre as representações mais habituais da mesma. A presença de Galiza, como motivo poético ou como lugar de aparecimento da palavra, é uma constante na produção literária do escritor, principalmente no ciclo Vulva. No entanto, ainda que apareça desenvolvida de diversos modos orgânicos, podem assinalar-se três grandes eixos sobre os que gira esta temática: a Galiza material, a Galiza relacionada com os mitos celtas, e a referência à lírica medieval galaico-portuguesa.

Não deve estranhar, por tanto, que o autor inaugure sua obra literária com o poema “Máis alá dá saudade”, incluído em Poemas de amor sen morte, onde confluem a Galiza física e a figura de Breogán, rei celta e pai mitológico do povo galego:

Eles virán.

Virán ergueitos pola escura brétema

onde levita Galicia (...) Un será un cabaleiro, traguerá fouce de bronce, e no porte mítico ollaredes que descende de Breogán.

O autor de Amores e clamores continua a tradição da literatura em língua galega de outorgar uma importância fundamental à paisagem galega e aos seus topónimos. Assim mesmo, a crítica tem assinalado que uma das constantes na poesia de Rodríguez Fer é a alusão à lírica medieval galaico-portuguesa que, se recorde, conheceu um extraordinário esplendor literário desde o século XII até o século XV motivado tanto pela chegada, o conhecimento e a adaptação do lirismo provençal como pelas composições autóctones que descobrem uma tradição popular de carácter oral muito anterior. Por outra parte, Rodríguez Fer viu no celtismo literário uma possibilidade de desenvolver o conhecimento e o autoconhecimento, “Creo nos efectos das crenzas inventadas por quen quere crer nelas". Este explícito atrativo pelo legado de invenção mítica pode ler-se também em sua produção lírica, como em “Dende a nada” – “Ti ves brotar en min reconfortante / espirais da violeta en castro celta” – ou em “O enigma arborescente”, ambos textos pertencentes a A boca violeta:

ocultan quizais baixo as raíces

o castro primixenio do enigma de Galicia:

 

canto lique adorme colgando

das ponlas que temos máis dentro.

O celtismo na obra de Rodríguez Fer, além de um estímulo temático ou político, alça-se sobre uma sensibilidade liberadora, solidária e criativa que vive em harmonia consigo mesmo e com os outros, principalmente nos livros de poemas que compõem Vulva. Assim, o poema “O enigma arborescente”, de A boca violeta, conclui com os versos: “Soamente cos que viven a harmonía / é posible sentir que están connosco”. Em resumo, nesta comunicação mostrara-se que Rodríguez Fer reside na Galiza e Galiza reside na palavra material, celta e galaico- portuguesa do Claudio.

 

PERSPECTIVAS ECOCRÍTICAS NA AMAZÔNIA: UMA ABORDAGEM DA POÉTICA DAS ÁGUAS DE THIAGO DE MELLO

                                                                                                                                        Weslley Dias Cerdeira e Gleidys Meyre da Silva Maia

A pesquisa em ecocrítica visa lançar um novo olhar aos estudos culturais através da união entre as teorias literárias e culturais e a ciência da ecologia abrindo espaços de discussão sobre os problemas ambientais em todas as esferas sociais. Este trabalho vem trazer a perspectiva destes estudos na poesia de Thiago de Mello em uma análise interdisciplinar da relação entre natureza e cultura. Na análise ecocrítica serão avaliadas as representações e construções com o intuito de encontrar uma distintividade no discurso literário de Thiago de Mello que traga contribuições para os debates ambientais. O imaginário de Thiago de Mello é construído a partir da simbologia das águas que vem ser a interpretação e representação de sua realidade. Dessa forma expressa sua relação com seu espaço e, nesta análise, cabe à ecocrítica estudar essa relação. Compreendendo estas questões, pretende-se adotar o método dialético que permite relacionar diferentes temáticas em um encontro cruzado de ideias para explicar uma dada situação nesse conflito a partir de diferentes pontos de vista. Com isso, busca-se entender a relação entre natureza e cultura trazendo um discurso transformador e crítico sobre as questões ambientais na Amazônia partindo de uma análise cultural.

 

PRODUÇÃO DE HAICAI PELOS IMIGRANTES JAPONESES NO AMAZONAS: A DIALÉTICA COM A REALIDADE AMAZÔNICA

                                                                  Linda Midori Tsuji Nishikido

Um dos critérios para se elaborar o poema haicai é a presença do kigo, que significa literalmente, termo da estação do ano. Pode-se perceber, nesse sentido, a valorização da natureza através desta arte poética, constituída de versos de 17 sílabas, na ordem de 5-7-5 sílabas. Assim, o presente estudo objetiva trazer reflexões acerca dos poemas haicai produzidos pelos imigrantes japoneses no Amazonas, pontuando a relação do homem com o meio, no sentido de fazer brotar, de modo singelo e breve, a beleza da fauna e flora da região amazônica. A esse caráter criativo, reflexivo e imaginativo relativo à poesia, Alfredo Bosi (2015, p. 9) assevera como sendo “o abrigo da memória, os tons e as modulações do afeto, o jogo da imaginação e o estímulo para refletir, às vezes agir”. É uma investigação de caráter bibliográfico e, nesse sentido, repousa sobre as leituras dos textos pertinentes, fichamento das obras teóricas e do corpus. Adota-se como procedimento para a pesquisa do corpus, inicialmente, as traduções dos poemas para o português das obras escritas em língua japonesa, seguido posteriormente de interpretação e análise, enfatizando os conteúdos relativos ao ecossistema, nelas entrelaçados. A importância desta investigação está calcada na peculiaridade com que são produzidos os poemas haicai no Amazonas pelos imigrantes japoneses, empregando como kigo os elementos da natureza amazônica, despertando no homem o viver em harmonia com o meio ambiente. Por exemplo, no haicai composta pela imigrante Toshiko Yamaguchi (1992, p.13) tem-se:

Piranha que salta Em pirarucu seco

Estendido na maromba.

Os termos piranha e pirarucu remetem aos peixes da região amazônica e maromba remete a uma espécie de jirau para o transporte de gado na época da cheia no Amazonas. Nota- se o fenômeno da enchente que acontece no primeiro semestre do ano, tão corriqueiro e, por isso, imperceptível aos olhos comuns, no entanto, o eu lírico traz uma percepção a fio, de modo a encantar muito em poucas palavras. Permite, além disso, navegar na imaginação envolvendo o leitor no mundo da natureza amazônica, tão imensa e tão bela, ao mesmo tempo em que as ações humanas e dos peixes se contracenam, deixando evidente a relação do homem com o meio.

Outrossim, verificou-se que existe um grêmio para produção de poemas haicai em língua japonesa pelo grupo de imigrantes vinculados a Associação Nipo-Brasileira da Amazônia Ocidental, cuja reunião acontece mensalmente. Assim, esta investigação preliminar tem a possibilidade de revelar novas possibilidades de estudos e de perspectivas sobre a literatura dos imigrantes e imigração japonesa no Amazonas, vinculado a valorização da natureza, tema propício e adequado para o presente evento.

 

LITERATURA E VISÃO CRÍTICA DA MODERNIDADE E DO PROGRESSO EM MACHADO DE ASSIS E FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

Minoru Uchigasaki

Utilizando a concepção relativista da autonomia da esfera artística de Pierre Bourdieu, analiso as duas obras literárias Esaú e Jacó de Machado e Os Demônios de Dostoiévski. Identifico nelas uma critica mordaz sobre a modernidade. Mostro que a própria forma da narrativa e os personagens representados nesses livros são indicativos da percepção negativa deles sobre a modernidade. O enredo um tanto quanto tedioso do Esaú e Jacó já destacaria o próprio absurdo dos fatos políticos ocorridos em finais dos anos 1880, tal como a proclamação da República. A superficialidade e a monotonia da narração já faziam parte do próprio entendimento de Machado acerca daquele momento histórico. Por outro lado, Dostoiévski lançaria em Os Demônios uma narrativa de duras e irônicas críticas à modernidade europeia – às injustiças sociais, ao racionalismo, ao materialismo, ao utilitarismo moderno –, críticas bastante enfatizadas ao longo dessa obra. Embora esses dois autores estejam em dois países de contextos socioculturais distintos, as escolhas estilísticas de ambos, de certa forma, revelam suas opções políticas e o modo como o trabalho intelectual sofria os efeitos do processo de modernização em países localizados na periferia do capitalismo moderno. A intelectualidade russa, como a intelectualidade brasileira, estava cindida entre o moderno e o tradicional, entre a Europa ocidental e, como Dostoiévski gostava de referir-se, o “solo” pátrio. E assim eles se apropriam, criticam e transformam a influência moderna em linguagem literária. Ambos os autores, Machado e Dostoiévski, nessas obras, dirigiriam críticas não só ao modelo civilizacional importado, mas também a seus entusiastas e adaptadores russos e brasileiros: as elites intelectuais nacionais, com as quais ambos iriam polemizar em inúmeros momentos da vida real.

 

CORAL COLOR, PLASTORG, AND RUINTOPIA

Inez Zhou

The changing ecosystem of the coral reef is among the most perceivable phenomena of global ecological mutation and foreboding indicators of mass extinction. As Chasing Coral (Jeff Orlowski, 2017) and other recent oceanic documentaries observe, the unfolding of the process of coral bleaching from the once underwater exuberance evokes the audiences’ affective response of both awe and mourning, while the presence — or “integration” — of garbage and microplastics in ocean ecosystem and the fluidity of plastic-organism contact further haunts the world of myriad ex-istences. Through several poems and art works on the theme of coral reef, this paper attempts to conceive the coral reef in danger as a rich critical locus that engages with aesthetics, ethics, ecopoetics, and social materialistic critique in the environmental disasters and deaths. I will first analyze one of the Taiwanese poet Xiao Xiao’s (蕭蕭) “image poems” (圖像詩), “Bleached Submarine Garden — Mourning the Corals” (白化的海底花園 ──哀珊瑚), composed in 1998. While the global trend of visual, concrete, or experimental poetry is entangled with the postwar loss of word and ethical utterance, I will explore the elegiac and ecological potential of image poetry through Xiao’s work. I will then look at The Crochet Coral Reef Project by Margaret and Christine Wertheim since 2005 that combines art, science, handicraft, and community work, with special focus on their multiple installations of toxic reefs, plastic reefs, plastic ocean species — what I would conceive as plastorgs (perhaps precedent of cyborgs). Lastly, I would bring in the artificial coral reef environmental art project at The Molinere Underwater Sculpture Park created by Jason deCaires Taylor in 2006 to contemplate the human-nonhuman, life-death vicissitudes in ruin aesthetics and ruin ecologies.

 

FOR NEW STRATEGIES TO SAVE OUR PLANET

Sooshilla Gopaul

Unprecedented catastrophes resulting from climatic changes are common. I am Mauritian and my island is in direct line with the Antartic Circle which stands only 3210 miles away, that is about 5 hours flight time calculated at about 506 mph. Every day we see signs of global warming. It is imperative that human beings must change their behaviour.

In this paper I propose the adoption of positive attitudes on a wide spectrum ranging from spirituality to deep respect towards nature, accompanied with activism in order to deal with the human–induced climatic crisis. Amitav Ghosh in The Great Derangement (2016 ) puts forward the idea that writers can look ahead in matters related to public life and he concludes, saying that hope resides in the involvement of religious groups in the politics concerning climate change, for “they transcend nation states” and they involve intergenerational responsibilities. Ghosh also takes Pope Francis as an example. I believe we must care actively for our environment and collaborate with it; we need to react with alacrity to the urgency of the problem. My objective in using literature to address the issue of climate change has been reinforced by Ghosh’s points.

I foreground Stories from a Shona Chilhood (1989) by Charles Murgoshi, The Secret River (2005) by Kate Grenville and Born Again on the Mountain (2014) by Arunima Sinha). These literary texts are respectively from African, British and Indian writers and will allow a global perspective.

The methodology I use to analyse these novels and discuss the issue of environment and literature from the point of ecocriticism, is recommended by Simon C Estok(2008). According to him ecocriticism must diminish its openness and ambivalence and should have a core issue. I also use points made by Daniel G. Anderson and David Harvey about homogeneity of space as this can foster respect towards nature (2014).

My point in recommending positive attitudes starting with spirituality and riding up to deep respect, as strategies is motivated by the fact that spirituality is all- inclusive and encompasses universal values.

 

AUGUSTO DOS ANJOS & A CARTA DA TERRA: XÃMADO POÉTICO PARA MÃE TERRA [AUGUSTO DOS ANJOS POETICS: A CALL FOR MOTHER EARTH]

Sandra S. F. Erickson

Equivocadamente conectada à uma visão mórbida da morte, a visão poética de Augusto dos Anjos (Parahyba 1884-1914) é um manifesto de defesa de Pachamama, Mãe Terra. A crítica ao patriarcado egocentrista que produz sofrimento à todas as formas vivas e ameaça Mãe Terra de morte é a medula de uma visão poÉtica na qual o poeta alerta e educa a humanidade para respeitar e proteger à Terra e todas as outras espécies irmãs. Em suas várias composições o poeta oferece comoventes narrativas que pretendem modificar a relação do humano com Mãe Terra, como no soneto Mater Originallis. A necessidade e urgência de revisar os velhos paradigmas antropocêntricos são claramente colocados pelo poeta. O futuro do Planeta é um tema central do poeta. Sua poÉtica é um marco precursor da Carta da Terra. Enraizada nos princípios ahimsa do budismo, hinduísmo, jainismo e franciscanismo o poeta se coloca como porta-voz de todas as formas vivas (tratadas, inclusive, como subjetividades) sofredoras de Pachamama; irmanada a todos os seres ditos menores, sua voz lírica defende com pungente amor e compaixão, vermes, cães, carneiros e as mães Árvores. Essa relação do eu lírico com os seres de Mãe Terra tem sido considerada grotesca pela crítica antropocêntrica e machista do poeta. Mostraremos neste trabalho como sua poesia produzida até 1914, expressa os princípios de Integridade ecológica, Respeito e cuidado da comunidade de vida, Justiça social e econômica e Democracia, não-violência e paz, que nortearam à Carta da Terra no ano de 2000.

 

O PÓS-HUMANO AMAZÓNICO NA POESIA DE ASTRID CABRAL

Patrícia Vieira, CES, Universidade de Coimbra / Universidade de Georgetown

A literatura amazônica leva-nos a questionar as fronteiras entre seres humanos, animais e plantas, e mesmo entre seres vivos e inanimados, categorias a partir das quais tendemos a organizar a nossa compreensão da realidade. Numa região que tem vindo a ser, ao longo da história, associada a uma natureza luxuriante e intocada, a “terra mais nova do mundo” nas palavras de Euclides da Cunha, os seres não-humanos são figuras centrais tanto da cosmovisão ameríndia como das comunidades de colonos que se foram estabelecendo ao longo do rio. A literatura amazonense expressa essa relação próxima com outros seres que marca a cultura da região, e os laços de continuidade que unem humanos e não-humanos. Nesta apresentação, interpretarei textos da poeta amazonense Astrid Cabral à luz de teorizações recentes sobre a condição pós-humana. O pós-humanismo questiona o posicionamento do ser humano como o pináculo da criação e mostra que capacidades normalmente atribuídas exclusivamente aos humanos — inteligência, linguagem, perceção — podem ser encontradas em todos os seres vivos e mesmo não vivos. A poesia de Cabral ilustra alguns dos pontos centrais do póshumanismo ao dar voz a seres não humanos e ao mostrar que estes têm a sua própria perspetiva do mundo, tão válida quanto a nossa.

 

MINICURSOS

MINICURSO I

A NATUREZA DISNEYZADA

Ministrante: Prof. Dr. Klaus Eggenspeger –Universidade Federal do Paraná

O maior conglomerado de mídia e entretenimento do planeta, a Walt Disney Company, uma verdadeira maquinaria de entretenimento e ensinamento ao mesmo tempo, influencia nossos pensamentos sobre gênero, classe social ou etnia, mas também a maneira como olhamos para a natureza e nos relacionamos com ela. Desde as primeiras animações longas, Branca de Neve (1937) e Bambi (1942), até recentes como Zootopia e Moana (2016), a natureza constitui uma temática central para a empresa norte-americana. Nosso workshop indaga sobre a figuração audiovisual de antropomorfismo e antropocentrismo na tela, destacando três campos de investigação: 1) natureza como paraíso, 2) natureza selvagem vs. domesticada, 3) natureza e gênero na Disney. Finalmente, perguntamos como podemos usar criticamente filmes da Disney em sala de aula para desenvolver uma consciência ecológica nas escolas e universidades brasileiras.

 

MINICURSO II

SOBRE ANIMAIS E NÓS. ÉTICA E POÉTICA ANIMAL NA LITERATURA

Profa. Dra. Evely Libanori (Universidade Estadual do Paraná)

O objetivo do minicurso é discutir questões referentes à identidade humana e identidade animal na Literatura, principalmente, nos textos de Clarice Lispector. A autora questionou a ética antropocêntrica com a qual os humanos se relacionam com os animais e, ainda, os animais são o outro das personagens, aqueles por meio do qual é possível pensar a própria condição existencial. O minicurso mostrará o pensamento ético acerca dos animais e, ao mesmo tempo, o processo artístico na tematização dos animais na obra da autora.